Capítulo Único

Sentiu todo o mundo ao seu redor dissolver à medida que Kent enlaçava seu corpo em um abraço apertado. O quarto mal iluminado, com apenas a luz da lua adentrando pela janela sem pedir licença e a porta entreaberta espirrando um pouco de luz do corredor, ficava difícil de entender o que acontecia. Ela apenas percebeu que universo girava muitas vezes mais rápido ao derramar uma única lágrima, que traçava um rastro úmido por sua delicada face até encontrar a boca, e deixar ali um gosto salgado de tristeza.

“Você não precisa chorar.” – Sua voz sempre tão firme fraquejou por uma vez, deixando a insegurança que preenchia suas cordas vocais timidamente aparecer no meio das sílabas.

A jovem não prestou atenção em nada além dos olhos verdes de Kent, os quais mesmo escondidos sob as lentes dos óculos, brilhavam como uma estrela cadente. Um vento fresco bateu a porta do cômodo, fazendo-a estremecer; e pingos grossos de chuva batiam na janela com uma intensidade avassaladora, tão incomum para o mês de agosto. O rapaz alto gentilmente sentou-a no sofá, cobrindo seus frágeis membros com um cobertor grosso de lã, e acomodou-se do lado dela, sentando sobre o joelho direito enquanto pendia a perna esquerda para fora do mesmo, e carinhosamente levou a cabeça de sua amada ao seu peito, invadindo seus cabelos castanho-claros com os dedos enquanto fazia delicadas carícias nele.

“Eu te quero tanto que te prometi a coisa mais importante que tenho em mim...” – Um breve sorriso escapou-lhe, e ele pressionou a bochecha da pequena ainda mais contra si, como se quisesse que ela escutasse o forte bater de seu coração debaixo da longa roupa preta. E de fato queria; parecia que, naquele momento, queria que ela soubesse o quanto ele a desejava, o quanto a amava, o quanto seu peito crepitava com o sentimento forte estalando por si.

O cheiro floral de seu perfume causava-lhe um conforto nostálgico. Kent afogou o rosto nos cabelos da moça, tranquilizando-a com suspiros e embalando-a até que se acalmasse. De seus olhos transbordavam mais lágrimas, e uma sensação de perda, como se esquecesse algo muito importante, que se tornara tão presente em tão pouco tempo.

“Eu te prometi meu coração.”

As palavras do homem a pegaram de surpresa, cessando seu pranto e trazendo-a de volta à realidade. Ela passou os ombros ao redor do pescoço dele, e deixou seus lábios perigosamente perto de seu pescoço, respirando brandamente sobre a pele clara que revestia sua garganta. Kent corou, e cuidadosamente plantou um beijo em sua testa.

“Você... Não vai me deixar?”

As orbes esverdeadas da bela borraram com o excesso das lágrimas, e por um instante, experimentou o fundo do poço, como se todas as esperanças palpáveis de sua alma fossem sugadas e ela caísse em um vácuo infinito.

Porém, ali estava ele, segurando suas bochechas com os dedos, e levantando sua face até que o encarasse. Era difícil vê-lo com clareza, mas sorriu quando ele encostou sua testa na dele, e lentamente aproximou, beijando seus lábios com a nitidez de um dia ensolarado.

Toda a ilusão que previu foi substituída pelo amor mais puro que sentira desde que renascera, e tudo pareceu tão perfeitamente claro que ofuscara seus olhos. Aquele afeto aflorava por sua essência, e transbordava emoção na forma de sorrisos compartilhados entre o casal.

“Como eu posso realizar minhas funções vitais sem meu coração?”

O que teria esquecido? Acalentados pela tempestade do lado de fora, tão distante da atualidade, aquilo já não importava mais.

Aquele momento era único; era a confirmação de sua promessa para o mundo.