— Então, Lily, como foi a entrevista em Beauxbatons? — perguntou seu pai.

Antes mesmo que ela pudesse responder, sua mãe largou os talheres, para não pôr comida alguma em sua boca.

— Lily recebeu algumas cartas das faculdades que tentou — comentou, tentando não parecer animada demais — Ela recebeu uma carta de Hogwarts.

Carver parou o garfo no meio do caminho para a boca.

— Hogwarts? — perguntou, surpreso.

Lily não disse nada, fixou seu olhar no prato, repassando cada fala do último episódio de Teen Wolf que ela viu, não poderia não notar o clima entre Stiles e Lydia. Aquele episódio rendeu uma boa discussão Stalia e Stydia com Petúnia.

— Meu Deus! Meus parabéns, filha — o seu pai parecia ainda surpreso pela notícia.

— Obrigada, pai — murmurou Lily, sentindo o rosto queimar.

Ouviu Petúnia segurando o riso, mas tentou ignorar.

— Se tudo der certo, só teremos que nos preocupar com o aluguel — disse Doralice.

— Aluguel? — perguntou Lily, levantando o rosto, confusa.

— A faculdade é um pouco distante — sua mãe estava um pouco hesitante — Mas, claro, você pode ir para alguma república, dividir aluguel com colegas da mesma faculdade.

— Eu não esperava que fosse dar tanto trabalho — disse Lily.

— Lil, aluguel de apartamento seria bem menor do que pagar a mensalidade de uma faculdade — observou seu pai.

Ela precisou concordar.

— Ainda nem fui aprovada, e já estão pensando em onde vou morar — Lily riu.

— Se eles mandaram a carta, é porque tem o interesse de te aprovar — disse Petúnia.

— Mas eu não... — começou.

— Eles viram o seu histórico. Sabem que não faz ginástica olímpica desde o começo do ensino médio — interrompeu Petúnia.

— Talvez eles tenham o curso na faculdade — disse Doralice.

— Eu estou enferrujada já, mamãe — disse Lily, soltando uma risada seca.

— É como nadar: nunca se esquece — disse Petúnia.

Lily olhou irritada para a loira, que segurou o riso.

— Tuney — Doralice olhou séria para a filha mais velha.

— Desculpe, Lil — murmurou a loira.

— Certo... Será no dia 15. Precisamos nos organizar! — a mãe disse, ativa.

— Mãe, falta uma semana — disse Lily.

— Pouquíssimo tempo! — retrucou.

— Amor, não exagere! — Carver segurou a mão da esposa, calmamente.

Ele aproximou-se para sussurrar algo no ouvido dela, que logo acalmou-se, com uma expressão preocupada.

— O quê? — exigiu Lily.

— Não preocupe-se, querida! — ela sorriu-lhe, pegando o talher, e voltando a comer.

Durante o resto da refeição, teve pouca conversação. Até o final...

— Quando trará seu namorado para jantar aqui, querida? — perguntou Doralice.

Carver e Petúnia soltaram os talheres ao mesmo tempo, fazendo um estrondo enorme da batida da prataria com a porcelana do prato.

— O que disse? — o homem virou-se para a esposa, que parecia arrependida de tocar no assunto.

— O namorado de Tuney — disse, tentando aparentar tranquilidade.

— Eu... — Petúnia parecia nervosa.

Lily franziu o cenho, ela nunca ficava nervosa com namorado. Será que ele era tão importante para ela a ponto de que ficasse dessa maneira?

— Exatamente! Quando o trará aqui, filha? — seu pai virou-se para ela.

— Ele está viajando — respondeu Petúnia — A negócios, com o pai.

— Quantos anos ele tem? — perguntou seu pai, enquanto Doralice saía, sob o pretexto de ir pegar a sobremesa.

— Ele é dois anos mais velho que eu — respondeu Petúnia, apertando a toalha da mesa com força entre seus dedos.

— Por que, quando ele vier aqui, não pergunte a ele? — Doralice ofereceu, voltando com os pratos.

— Excelente ideia — disse Carver, olhando fixamente para a filha mais velha, que se negava a retribuir o olhar — Avise-o, quando voltar da viagem.

— Avisarei — prometeu.

Lily percebeu o clima estranho que ficou.

— Acho que nunca vou ter um namorado, se for para passar por isso — tentou brincar.

— É claro! Vocês são as minhas filhas! — a expressão do homem relaxou-se consideravelmente, sorrindo para a filha caçula.

Petúnia levantou-se da mesa rapidamente.

— Filha? Aonde vai? — perguntou a mãe, preocupada.

— Estou sem fome! — disse, antes de limpar a boca com o pano, e sair da cozinha.

Assim que ela sumiu do campo de vista, Doralice deu um tapa no ombro do marido.

— O que foi isso? — reclamou o marido.

— O que foi isso? — repetiu — Eu quem deveria perguntar-lhe!

Lily encheu a boca com o pudim, antes de levantar-se também, e sair.

Entrou no quarto da irmã, sem avisar, deitando-se do lado dela, na cama.

— Papai vai odiá-lo — desabafou Petúnia — É tudo o que ele mais odeia.

Lily engoliu o pudim, que ainda restava, e virou-se para ela.

— Você não parece apaixonada por ele. Por que não termina? — perguntou.

— Eu não posso! — Petúnia parecia horrorizada com a ideia.

— E por que não? — insistiu Lily.

— Porque... — ela parou de falar — Oras! Ele gosta de mim! Eu não quero ficar solteira! Tem festas da faculdade que só entra quem tem namorado.

— Mas ele está viajando! — lembrou-lhe.

— Mas não viajará para sempre!

Lily não parecia conforme com aquela explicação, mas resolveu não estender o assunto.

— Mamãe começará a contagem regressiva Hogwarts. O que está achando disso? — perguntou Petúnia.

— Inacreditável! — confessou Lily — Hogwarts é melhor do que qualquer faculdade que eu poderia esperar. Já estava conformada em entrar em Uagadou.

— Se eles te aceitassem... — disse Petúnia.

A ruiva alcançou a almofada, que estava por trás de sua cabeça, e bateu com força no rosto dela.

— Ei! — reclamou Petúnia, tomando fôlego.

A irmã levantou-se, correndo para a porta do banheiro, e trancando logo em seguida.

— Está cercada! Renda-se! — Petúnia gritava do outro lado.

— Nunca! — gritou Lily, correndo para o seu quarto, e trancando as duas portas, que davam caminho para lá.

Quando foi para a cama, quase sentou-se em cima do notebook, mas conseguiu recuperar-se a tempo.

Tinha um curtir e retweet do seu tweet sobre as faculdades não irem com sua cara, o que foi uma grande surpresa.

Lily Evans @LilyMaryEvans • agora

Quem precisa de psicólogo quando se tem o Twitter?

Mal pôde prever quando a porta do banheiro abriu-se, e Petúnia jogou-lhe um grande travesseiro.

— Espera! Espera! — gritou, protegendo o notebook, agora fechado, com o corpo.

A loira pulou em cima dela, batendo o travesseiro nela, enquanto ela tentava se proteger. Quando cansou-se, forçou os braços da irmã, para liberar o notebook.

— Sai! Você está com ele há um tempão! — reclamou Petúnia.

— Espere! Deixe-me desconectar do site! — pediu Lily, desesperada.

Petúnia olhou-lhe desconfiada, mas sentou-se ao seu lado. Lily virou a tela, para que ela não visse, e saiu, fechando o navegador.

— Pronto — fechou o notebook e entregou-lhe.

— Valeu! — ela levantou-se, e foi sentar-se na escrivaninha de Lily.

“Vocês são irmãs, precisam aprender a dividir” foi o que seus pais disseram sobre o notebook, quando conseguiram compra-lo. Elas não tinham problemas com isso, somente algumas vezes.

— Você poderia...? — Petúnia pareceu constrangida.

— Esse é o meu quarto! Se quiser conversar de webcam, vai para o seu! — disse Lily.

— Certo! Certo! — Petúnia levantou-se, a contragosto, e atravessou a porta do banheiro, fechando-a no caminho.

— Abusada... — murmurou Lily.

Tirou o celular do bolso, que ela conseguiu pegar enquanto punha a mesa com Petúnia, e acessou o seu e-mail, vendo vídeos novos nos canais que seguia no Youtube.

— Vou esperar Tuney devolver — ela suspirou — No celular, é horrível.

Começou a mexer pelo celular, mas ficou entediada rapidamente. Levantou-se, e foi até a estante de livros, todos lidos, pegando um que falava de segunda guerra mundial, o seu vício. Toda série, documentário, livro ou filme que fosse lançado sobre esse assunto, Lily veria e teria. Não sabia o motivo para gostar tanto, mas gostava, e muito.

Uma vez, brigou com Petúnia pelo controle remoto. Ela queria ver Gossip Girl, mas estava passando documentário de segunda guerra no History, dizendo todos os detalhes recentemente descobertos sobre o assunto.

Leu por horas a fio, até que as “necessidades fisiológicas” falaram mais alto.

Estava lavando as mãos, quando escutou Petúnia falando alto, de seu quarto, mais alto que o comum, parecia irritada. Ela desligou a torneira, e encostou o rosto na porta.

Ouvia a voz de um homem. Vernon, talvez.

— Cale-se! — pedia Petúnia, desesperada.

— Não mande que eu me cale! — reclamou Vernon, irritado.

— Alguém pode nos ouvir. Por favor, conversemos sobre isto outra hora, sim?

— Não tente me enganar, Petúnia!

— Eu não estou. Juro!

Percebeu que ia ser descoberta, então voltou para seu quarto, antes que eles pudessem terminar de se despedir.

Deitou-se novamente na cama, pegando seu livro. Logo depois, a porta do quarto de Petúnia abriu-se, e ela entrou no dela.

— Olá — disse a loira, desconfiada.

Lily apenas acenou com a cabeça, não falava com as pessoas quando estava lendo.

— Vou deixar aqui, o notebook — disse Petúnia, novamente, colocando-o em cima da escrivaninha.

— Pode ficar, sem problemas — respondeu Lily.

— Não! Eu não preciso mais!

Ela saiu do quarto, antes que houvesse uma resposta.

Lily esperou, e logo foi para perto do notebook, tentando ver se tinha algo no histórico, mas a última notificação era de 2 horas antes.

— Droga — murmurou Lily.

Abriu no Skype, mas a conta já tinha sido, cuidadosamente, fechada.

— Está me escondendo algo, Tuney, e descobrirei o que é — murmurou Lily, para si, olhando para a porta do banheiro.