— Prontinho! — Doralice desligou a máquina, abrindo a tampa.

— Magia! — disse Marlene, boquiaberta.

Doralice gargalhou, assim que viu a cara da filha e suas amigas.

— Bem, pelo menos, vocês não tentaram sozinhas! — ela disse, pegando as roupas lá de dentro — Primeiro dia que fui morar com seu pai, e inundei a cozinha de sabão e água.

— Eu já quase coloquei fogo na cozinha — Marlene deu de ombros.

— Qualquer acidente que possa ocorrer, podemos dizer que é a genética — brincou Alice.

— Deus nos livre e guarde! — Doralice disse, fazendo o sinal da cruz — Espero que Lily tenha mais cuidado do que eu. Vocês tem maior acessibilidade do que eu jamais tive! É só procurar algum desses tutoriais na internet, e está tudo resolvido!

— Ouviu, Lily! Você é filha da dona Doralice, está nomeada como nossa cozinheira oficial — disse Marlene, com seriedade.

— Vai sonhando, McKinnon — retrucou Lily — Vamos estabelecer algumas regras por aqui... Chega de trabalhar duro, enquanto você está no sofá, flertando pelo WhatsApp.

— É... Você não mudou nada! — Doralice disse, divertida — Hoje, eu vou facilitar para vocês! Vamos fazer esse almoço... Alice, fique aqui comigo, vou te ensinar uns truques.

— Temos que ir até a caixa postal — lembrou Lily, puxando Marlene pelo braço — É aqui perto! Já voltamos, mãe! Beijo!

E, antes que Marlene pudesse protestar, foi arrastada para fora da cozinha.

— Para quem fica desesperada em perder peso, você é muito preguiçosa, Marlene McKinnon! — disse Lily, quando já estavam no corredor.

— Você sabe como sou bipolar... No colégio, tinham vezes em que eu não estava a fim de suar na Educação Física, mas tinham vezes em que eu estava louca para correr — ela disse, dando de ombros.

— Sim, você é estranha — concordou Lily, abrindo a porta do elevador — Ou vai ver... É o efeito Sirius na sua vida.

— Homens não mexem na minha vida! No máximo, mexem na minha agenda! — ela disse, entrando.

— Claro! Diga o que te ajudar a dormir tranquila durante a noite — debochou Lily, indo atrás dela.

— Durante o dia é que não vai ser! Você quem vai escolher trocar o dia pela noite — disse Marlene, dando de ombros.

— Você é a rainha em mudar de assunto. Deve ter aprendido com Hagrid!

A castanha segurou o braço dela, no mesmo instante.

— Como ele está? — perguntou, ansiosa — Era o melhor daquele colégio!

— Claro! Ele deixava a gente mexer no celular à vontade — retrucou Lily, rindo.

O elevador parou no andar da portaria, e elas caminharam para fora, sem sequer dar “boa tarde” ao porteiro rabugento.

— É pra hoje, filho! — gritou Marlene, segurando a porta da frente.

Ouviram o “click”, e saíram, antes que o homem começasse a reclamar.

— Ele e madame Pince fariam um belo casal — disse Marlene, enquanto elas caminhavam na direção do empório.

— Não! Pobres crianças! — disse Lily, tendo um calafrio.

— Que crianças o quê! — exclamou a outra, horrorizada — Eles nem tem idade para isso.

— Pelo menos assim, a Pince teria melhor humor!

— Aquela ali tenta me meter medo desde o colegial.

— O que fez para a pobre mulher?

— Pobre sou eu...

Lily levantou uma sobrancelha, não convencida.

— Devo ter dados uns pegas por ali — disse Marlene, sem dar importância — Ou levado alguma comida...

— Céus! Você não tem jeito! — exclamou a ruiva, chocada.

— Não entendi o choque! Sou assim desde sempre — ela deu de ombros.

Atravessaram a rua, e chegaram ao empório.

— Isso é tão desnecessário... — murmurou Lily, olhando para a fachada.

— Espere até vir a primeira reunião de condomínio! Minha mãe vai quebrar o pau! — disse Marlene, dando uma risada sinistra.

Ao entrar lá, descobriram que tinham três cartas para elas. Cartas de Hogwarts, com as listas de materiais e irmandades.

— Queria viver naquele apartamento, sem preocupações, pelo resto da minha vida — suspirou Marlene, olhando desgostosa para o envelope, enquanto Lily assinava alguns papéis.

— Pare de reclamar! — disse Lily, puxando-a para saírem dali.

— Pare de me puxar! — retrucou Marlene.

Quando voltaram para o apartamento, o cheiro do almoço dava para se sentir através da porta.

— Eu amo a sua mãe! — disse Marlene, divertida.

Essa foi a última frase dita por ela, pois, quando entraram, voltou para o seu mundo no WhatsApp, digitando coisas que elas não queriam nem imaginar o que seriam.

— Ela não liga para nada! — sussurrou Alice, enquanto elas enchiam os copos com suco.

— Às vezes, eu gostaria de ter essa habilidade. Só às vezes — acrescentou Lily.

— Gostei do apartamento de vocês! — comentou a mãe da ruiva — Bem confortável...

— Sim, é perfeito! — disse Lily, e acrescentou, em voz baixa — E caro...

— Com motivos — defendeu Alice — Vamos! Não se preocupe! Eu e Marlene damos conta, você só ajuda no que puder.

— Obrigada, Lice — ela sorriu, agradecida.

— Escute que Ian está morando aí em cima, não é? — perguntou Doralice a Marlene — Por que não o convida?

— Ah! Não! — murmurou Marlene, erguendo-se no sofá.

— Lene, é só por hoje! Não seja má! — bronqueou, como se fosse a tia dela, realmente.

— Não é isso! Ele tem um companheiro de apartamento! Vai ficar muita gente! — Marlene tentou convencê-la.

— Oras! Convide a ele também! — insistiu — Não se preocupe! Eu vou cuidar de tudo, para que tenham comida por hoje. E, dependendo da lombriga de vocês, amanhã.

— Lombriga da Marlene — Alice defendeu a ela e Lily, abraçando-a de lado.

— Tudo bem! Eu vou chama-lo! — Marlene revirou os olhos, derrotada.

— Tiramos Marlene do apartamento duas vezes no mesmo dia — disse Alice, virando-se para Lily — Isso é um milagre!

— De nada! — brincou Doralice, que escutou o que a menina disse.

— Estranho... Ian mora só com mais um garoto? — perguntou Lily, franzindo o cenho.

— Sim... Sabe como ele é! — disse Alice — Não confia rápido nas pessoas!

— Imagine o estrago que seria aqueles garotos com Ian? — perguntou Lily, esquecendo da presença da mãe, por alguns segundos.

— Que garotos? — perguntou, curiosa como toda mãe.

— Ah! Uns vizinhos! — Lily deu de ombros, dando um gole em seu suco.

— O novo ficante da Marlene, e os amigos dele — Alice foi mais específica.

— Não sei... Acho que as coisas estão ficando sérias — disse Lily, olhando indecisa para a porta.

— Sempre parece que estão — disse Alice — Sabe como ela é! Não consegue manter-se em relacionamento por muito tempo.

— Sempre pensei que ela tinha algum tipo de trauma, mas sua família parece ser perfeita! — comentou Doralice.

— Não dá para entender a cabeça dela... Ela, simplesmente, é assim! Sem motivos — disse Lily.

— Será que o Ian vai tentar dar em cima de você de novo? — provocou Alice.

— Ele quem tente! — disse Lily, passando o dedo no cabo de uma faca.

— Você me dá medo! — disse Alice, olhando para a faca.

A porta abriu-se, e Marlene entrou, “calma” como sempre.

— Ele não vai se incomodar. Se aquieta, Longbottom! — disse, como se tivesse repetido aquilo diversas vezes.

Alice revirou os olhos, sorrindo, e foi até a sala, com Lily, para receber os convidados.

— Essas são Alice e Lily, a mãe da Lily quem resolveu lhes convidar — apresentou Marlene.

— Olhe só quem voltou! — Ian sorriu, sedutoramente.

— Nem tente! — alertou Marlene, antes que Lily pudesse abrir a boca.

Ele levantou os braços, como que se rendendo.

Lily virou-se, para dizer algo a Alice, e percebeu-a abobada, olhando para o amigo de Ian.

“Ih! Alguém gamou!” pensou, virando-se novamente para Marlene, sorrindo com cumplicidade.