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Aquela gente parecia bem animada em ver um lugar como aquele. Tenho que admitir, me deu um pouco de medo. Era um pouco escuro e tinha vários restos de construção, e com certeza não deveríamos estar lá. Um deles achou que seria legar entrar lá, eu não achei que era uma boa ideia. Andou mais um pouco e ultrapassou o limite marcado para não ultrapassar, e continuou. Parou e disse:

–Aposto que vocês não vem até aqui!

A garota aceitou seu desafio e foi até lá, andou mais três passos além dele e desafiou o outro, o mesmo andou mais três passos além dela.

–E você Nemo, não vem?

–E...eu acho que não é uma boa ideia. Meu pai não gosta de zoológico e eu acho que ele não ia gostar que entrássemos ai.

Eles insistiram e até me chamaram de medroso, e quando finalmente aceitei e caminhei ate lá, senti algo agarrando minha mão e me puxando para traz. Quando olhei, era o meu pai.

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As três crianças passaram do limite permitiram e entraram na construção, e quando cheguei mais perto vi que o Nemo estava caminhando em direção deles. Corri até ele e o agarrei, impedindo de dar mais um passo.

–Ficou maluco? –Digo, com a voz firme. Ele se espantou com a minha presença.

–Pai?

–O que você tinha na cabeça em ir até lá?

–Mas eu não ia, eu juro.

As outras crianças vieram ate nós e o defenderam, repetindo que ele não ia fazer nada e que estava com medo demais para entrar. Aquilo me enfureceu, e a preocupação tomou o lugar da raiva e atrás de mim estava o professor e sua turma.

–Achei que a sua função era tomar conta deles.

–Sim, eu sei, mas acho que...

–Você tem uma turma bem grande aqui e não é de se espantar que perca um. Se eu não estivesse aqui, quando ia notar que eles sumiram?

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Meu pai e o Tio Raia começaram a discutir, o professor se mantendo calmo e meu pai tentando manter a educação, mas falhou algumas vezes.

–Pai. –Eu disse. –Eu já disse que não ia entrar lá.

–Não importa. –Ele começou a falar. –Você saiu do grupo e desobedeceu o professor, e como se isso não bastasse se meteu onde não deveria. Sabe que não consegue andar direito e fica se metend...

–EU SEI ANDAR MUITO BEM, PAI!

–NÃO, NÃO SABE. E MESMO SE SOUBECE NÃO VAI VOLTAR MAIS, NEM NESSE LUGAR E NEM NA ESCOLA.

Eu estava com raiva, nunca que ele tinha esse direito de falar de mim assim, e nem na frente dessa gente toda. Eu não me contive, as palavras saíram da minha boca antes que eu percebesse.

–Eu te odeio!

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Aquelas três palavrinhas partiram o meu coração, estava mal demais até mesmo para repreendê-lo. Antes que eu falasse alguma coisa que o machucasse, virei para o professor e voltei a falar com ele, tentando ao máximo me manter calmo.

–Olha, sei que você não tem culpa, mas não quero que isso se repita.

–Eu te prometo, paizão, isso não vai acontecer de novo.

–Não, não vai. Vou voltar na escola e conversar com o diretor, a partir de amanhã ele vai ter aulas particulares.

Alguém gritou no meio das crianças.

–Olha! O Nemo entrou naquele lugar.

Quando me virei, ele estava menos de dois metros da jaula escura e inacabada, mais um pouco e ele estrava lá.