Paul não parecia maligno, ao menos à distância. Na realidade, tendo em vista o que ele estava fazendo, chegava a ser patético. Ele estava sentado em frente à tv-extemamente-grande, vestindo moletons (!), e jogando videogame.

Jogando não... Morrendo.

Na segunda fase de Super Mário.

Como assim?! EU jogava isso, e definitivamente não empacava na Yoshi Island! Como alguém que não consegue se manter em cima de um dinossauro e comer tartarugas vai conseguir me mediar? Adeus, aproximação cuidadosa. Essa eu não posso deixar passar.

Flutuei o mais lentamente possível, da árvore para a janela, da janela para trás do sofá onde ele estava, e exclamei:

- Você é péssimo nesse jogo, sabia?

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P.O.V. Paul

- Você é péssimo nesse jogo, sabia?

Sabe, existem momentos em que eu me arrependo profundamente de estar tentando ser legal com fantasmas. Estou lá, sentado, tranquilo, tentando fazer aquele maldito encanador encontrar a vad... Digo, princesa dele, e o que me aparece. Fantasma. Pior, uma do tipo engraçadinho! Será que quando você morre o conceito de "privacidade" se apaga totalmente da memória?

É óbvio que ficar bravo não foi minha primeira reação. Não, a primeira foi pular do sofá, com um grito bastante indigno, jogando o controle longe, e virando para trás. Só então entendi, e fiquei puto.

Recuperando o pouco que me restava de dignidade, não fiz questão nenhuma de esconder a irritação ao dizer:

- O que você quer que eu faça pra te tirar desse mundo de uma vez por todas?

A filha da mãe riu, e disse a frase:

- Comme c'est mignon, entendeu rápido! Esse é dos meus! Ma chérie, é muito pra explicar hoje, mas amanhã conversamos, oui?

E saiu. Simplesmente deu a volta, e atravessou minha janela.

Fantasma doida...

P.O.V. Noelle

Me controlei até estar novamente escondida, com muito esforço, e então gargalhei. O famoso Paul! Estava me divertindo tanto que sequer consegui controlar o francês, e misturei os idiomas... Coitado, não sei se ficou mais confuso ou irritado. Vagou pela sala, resmungando, durante algum tempo, e então atravessou uma porta ao lado, indo para o quarto.

Apesar de tudo, gostei: ele é rápido, e vai querer se livrar de mim logo, de modo que talvez tenha sido, afinal, uma boa escolha. Jesse é fofo, mas tem um defeito imperdoável, na forma odiosa de sua noiva; portanto, que seja Paul.

Flutuei de volta à cidade (já anoitecera há um bom tempo, e as ruas estavam mais calmas), e invadi a biblioteca. Encontrei, na seção de literatura estrangeira, um volume d' "Os Três Mosqueteiros" no idioma original. Com muita saudade de casa, abri na primeira página, e comecei a ler novamente as aventuras escritas por meu conterrâneo.

Acho que há muito tempo não me sentia tão sozinha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.