Problemas

Um dia de brigas


— Cala a boca, idiota! — Eu gritei novamente para que todos pudessem ouvir. —Você não tem o direito de falar assim comigo! — Enquanto gritava via o brilho em seu olhar se esvaindo. Da mesma forma que aconteceu com Maria.

— Cebola, já deu! Chega! — Cascão finalmente falou, pois estava calado desde o começo da briga.

— Não sei como alguém pode te aturar por perto, provavelmente nem seus pais te aturam. Não devem conseguir ficar 5min à sós com você. — Cheguei perto de dela e sussurrei : —Garota imprestável! — Até que sinto uma dor forte em meu rosto e sinto-me caindo no chão. Ela tinha me dado um soco?!

Pov Mônica

Senti o ápice do meu nervosismo e dei um forte soco em sua bochecha esquerda. E ele caiu no chão. Cheguei perto dele e o levantei no ar pela gola de sua camisa. Olhei o seu rosto e vi que seus lábios sangravam.

— Como você pôde dizer isso? Você não me conhece. Nunca mais fale assim comigo ou com a minha amiga, otário?! — Desisti de continuar falando e o larguei no chão. — Como eu pude achar que você era uma pessoa boa?

— Eu… — Ele me olhava surpreso e com os olhos arregalados.

— Eu te odeio! — Eu gritei e saí correndo.

Ouvi ele gritando o meu nome como se quisesse pedir desculpas, mas não o fez. Chorando, sentei debaixo de uma árvore e chorei ainda mais. Até sentir meus olhos incharem. Até que sinto alguém sentando ao meu lado.

— Mô?! — Do contra disse me cutucando. — Tudo bem?

— Não! Não está tudo bem! Ele… Ele… — Disse soluçando de tanto chorar.

— Por que você ficou assim? O que ele falou que te magoou tanto?

Ele estava sendo gentil comigo. E por isso eu pensei em desabafar com ele. Eu fiquei algum tempo em silêncio, tentando me lembrar de suas exatas palavras. Mas quando consegui chorei ainda mais.

— Você também ouviu?

— Calma, Mônica. Foi sem querer, eu estava lá perto e não pude evitar. — Pôs um braço em torno de meus ombros e me abraçou. — Você quer falar ?

— Eu não acredito que ele é tão mau assim! Quando o conheci ele parecia tão... — Eu não achei as palavras certas para descrevê-lo.— Não sei! Mas eu não falaria nada disso para ele, afinal, eu o conheci ontem. — Eu olhei novamente para os olhos do garoto que estava ao meu lado e comecei a chorar mais ainda. — É verdade!

—O quê? — Perguntou a mim confuso.

— O que ele disse dos meus pais. Eles realmente não suportam ficar nem 5min comigo. Eles sempre trabalham até tarde! Saem de casa muito cedo e quase sempre trabalham no final de semana. Isso nem é necessário. Nem precisam trabalhar. E quando ele me chamou de imprestável...

— Você é linda. Inteligente e forte também. — Ele afirmou me surpreendendo e fazendo-me fitar seus olhos castanhos escuros. — Não dê ouvidos a ele.

— Sta. Mônica Sousa! — Alguém me chamou ao longe.

— Sim. — Falei vendo Aldení.

— Poderia me acompanhar até a diretoria? — Assenti com a cabeça.

— Obrigada por me deixar desabafar com você. — Me dirigi a Do Contra. — Eu não conversava com alguém sobre isso há tempos.

— Não foi nada! Sempre que quiser conversar, estarei a sua disposição. — Ele fala e eu sorrio.

[…]

Eu havia acabado de entrar na diretoria acompanhada de Aldení. E para minha decepção, quando entro lá vejo Magali e Cascão, juntamente com a pessoa que eu menos queria ver neste momento. Obviamente era o Cebola.

Ele estava com um pequeno curativo no canto de seu lábio inferior. O que me fez achá - lo sexy, irresistível e... O que eu estou pensando? Eu estava decepcionada com ele, mesmo que ele seja um garoto bonito, ele é um babaca.

Aldení deu a volta em sua mesa e se sentou na cadeira.

— Sentem-se! — Ela ordenou, e nós obedecemos. — Bem... Fiquei sabendo que houve uma briga entre vocês. — Altos murmúrios ecoaram pela sala. — Calma gente! Eu só quero saber tudo o que aconteceu.

— Isso é fácil de explicar. A Magali tinha acabado de se levantar para colocar mais gelo no seu refrigerante, ela esbarra no Cebola e pronto. O circo pegou fogo. — Eu explico resumidamente.

— Espera. Me deixe intender. A Magali não fez nada? — Aldení questiona.

— Ela molhou o meu casaco! E a minha barriga. Aquele copo estava cheio de gelo. — Cebola responde como se aquilo fosse a pior coisa do mundo.

— E o que isso tem de mais? — O pergunto já ficando um pouco brava.

— Não te interessa! — Ele responde.

— Já chega! — Aldení já disse em um timbre de voz um pouco mais alto.

— Desculpe! — Eu disse.

— Retomando o assunto… Magali, o que você fez? — Perguntou a olhando nos olhos.

Magali -- Eu fiz exatamente o que a Mônica falou : Nada.

— Então pode se retirar. — Magali obedeceu saindo da sala, e quando o fez ela voltou a falar — E você Cascão? O que fez?

Quando Cascão abriu a boca para falar, o Cebola interrompeu.

— O Cascão apartou a briga quando ela começou a me socar. — Cebola fala antes de Cascão.

— Quê? — Perguntei já gritando.

— É verdade! Ela me socou mais na barriga, que ficou cheia de hematomas.

— Pode se retirar Cascão. — Aldení ordena.

— Mas… — Ele tentou continuar, mas Aldení lhe lançou um olhar amedrontador e ele foi obrigado a concordar.

— Bem, agora que ele saiu eu posso dar os seus devidos castigos. — Ela retorna a falar.

— Como assim? Nós dois vamos ser castigados? — Aldení assentiu. — Isso não é justo!

— Mas é claro que é! A Mônica pode até ter te agredido, mas você a agrediu primeiro.

— Como assim?! Eu não bati nela. Então como eu vou ter a agredido?

— Verbalmente. -- Expliquei. -- Mas eu só dei um soco nele! — Me dirigi a Aldení.

— Isso Não importa. Os dois sofreram agressões um do outro. Por isso durante um mês vocês vão ficar depois da aula e vão limpar o auditório.

— O quê? — Gritei novamente. — O auditório é enorme.

— Por isso os dois vão limpar juntos. Talvez durante as horas que passarem juntos aprendam a ser amigos. — Ela falou com uma certa dureza na voz. — Talvez se quiserem podem ensaiar as músicas de vocês.

— Músicas? Mas que músicas?

— Nas suas aulas de artes, vocês terão alguns trabalhos relacionados a música. E eu falarei com a nova professora para deixá-los algumas vezes em duplas, e vocês dois serão uma delas. E artes se tornará uma matéria obrigatória para os dois este ano, se faltarem...

— Ah, fala sério! — Resmunguei.

— Vocês começarão segunda-feira. Agora podem se retirar.

— Okay!

— Aldení, esse é a primeira briga que eu tenho com ela. Deixa essa passar vai! — Cebola fala antes que eu saia.

— Eu sei que essa é a primeira, e eu estou fazendo isto justamente para que não tenha uma próxima.

Que Eu me levantei e sai, com Cebola logo atrás de mim.

— Idiota! Por que você mentiu? Por que é tão arrogante com as pessoas? — Falei me segurando para não socá-lo novamente.

— Você não sabe nada sobre mim.

— Exatamente! Mas as poucas coisas que eu sei, já não gosto. — Eu disse, dei as costas e sai daquele lugar.

Pov Cebola

Eu sabia que ela estava certa, mas não queria admitir, nem para mim mesmo.

— E aí, cara? O que rolou? — Ele me perguntou assim que me viu sair da sala. -- Eu estava aqui te esperando para saber as notícias.

— Você é um fofoqueiro, isso sim!

— Cebola, nós somos amigos desde a infância. Eu sei dos seus maiores segredos. Sei o porquê de você se sentir tão mal. Sei tudo, simplesmente tudo. E por que eu não estaria aqui para te apoiar?

— Sei! A única coisa que você queria era saber daquela sua namoradinha. — Falo de forma dura.

— Da Mônica? — Me pergunta de forma confusa.

— Não! — Falo com sarcasmo. — Da minha avó.

— Deixa de ser idiota! Eu já disse ela não é para o meu bico. — Como se eu acreditasse. — E também já disse que mais parece que você está com ciúmes. — Nego com a cabeça. — Então me conta o que rolou.

Como eu sabia que ele iria ficar insistindo até que eu contasse, descido contar logo.

— Um mês? Limpando o auditório! — Ele me pergunta surpreso.— Cara, se deu mal em? Se bem que você vai ficar uma semana perto da gostosa da Mônica. — Admito que fiquei com ciúmes.

— Mas nós teremos que fazer vários trabalhos juntos! — Falo com muito desânimo. — Ei, depois fala que ela não é para o seu bico.

— Verdade, mas eu falo isso porque ela é o tipo de garota que gosta de ir no cinema, receber flores... Justamente o tipo que eu não curto. Ela é só uma amiga muito bonita. Agora vamos logo para a aula de literatura. — Ele disse e nós fomos.

[...]

Era de tarde. Eu estava assistindo televisão. Até que ouço a porta de casa se abrindo. Olho na direção da porta, que se localizava atrás do sofá onde eu me sentará.

— Maria? — Digo olhando para ela. — Onde você estava?

— Não te interessa! — Ela diz com um olhar sofredor.

— Ah, fala sério, Maria! — Digo um pouco mais alto que o normal. — Até quando você vai me tratar assim? Quando vai me desculpar?

— Até que volte a ser como era, ou talvez quando você me pedir desculpa. — Ela diz no mesmo timbre de voz que eu.

— Eu nunca vou voltar a ser como era! — Já gritei. — Você quer que eu peça desculpa? Desculpa.

— Por quê? Eu não intendo! — Gritou também. — Você não consegue ser sincero nem mesmo nisso!

— Você nunca vai intender. — Minha garganta começou a doer de tão alto que gritei agora. —Desde que aquele charlatão...

— Ele não tem culpa pelo que aconteceu! Não chame ele assim.

— Você não sabe de nada!

— Mas como eu vou saber? Ninguém me conta nada!

— Eu não iria aguentar ver o estado que você iria ficar depois que eu te contasse.

— Conte de uma vez! — Gritou tão alto que seu rosto chegou a ficar vermelho.

— Não posso! Ainda é cedo para você saber. Eu prometi para aquele otário que você chama da pai.

— Você tem medo!

— Quem tem medo é você!

— Quer saber, Cebola? — Ela me perguntou. — Eu vou desistir de perguntar às pessoas o porquê de você culpar o papai pela morte da mamãe... — Eu não aguentei. Fui forte por muito tempo. E finalmente comecei a chorar. — Eu vou descobrir sozinha. — Ela falou e começou a subir as escadas de nossa casa.

— Maria? — A chamei antes dela ir embora.

— Sim? — Disse olhando para mim.

— Você me odeia?

— Eu não sei mais o que eu sinto por você.

— Se você.

— Olha Cebola, vamos dar um tempo de nos falarmos, um dia a gente se vê. Quando você me contar o que aconteceu naquele dia… Nós conversamos.

— Você não aguentaria.

— Não! Você não aguentaria. — Disse dando ênfase no "você". Depois subiu e foi para seu quarto. E eu fiquei sozinho com meus pensamentos.