Esfreguei meus olhos cansados enquanto caminhava pelos corredores largos do hospital St. Anna. Na medida em que segui meu caminho cumprimentei alguns médicos e enfermeiros, com um sorriso exausto enquanto segurava um suspiro de alívio.

Logo eu estaria em casa.

Eu já havia passado muitas horas além do meu plantão e tudo o que eu desejava no momento era chegar em minha casa e me jogar na minha cama, fecharia meus olhos e apenas dormiria. Eu realmente estava muito ansioso por isso. A promessa de um banho quente seguido por algumas horas de sono me seduziam ao ponto de sequer me importar em me preocupar com comida, e eu não poderia dizer ao certo quando foi à última vez que tive uma refeição decente nos últimos dias.

Comidas rápidas, compradas de carrinho distribuídos ao longo do hospital, isso era o que meu corpo vinha recebendo. Pensando bem, se eu ainda tivesse alguma energia quando chegasse em meu apartamento eu definitivamente a usaria para preparar algo mais sofisticado do que um sanduiche e frutas para comer. Apenas a ideia de uma refeição, banho e dormir fazia com que eu me sentisse mais como humano, quando isso realmente acontecesse eu tenho certeza que seria maravilhoso, não pude evitar que um sorriso escapasse apenas diante da ideia, tudo o que precisava era de mais alguns passos e eu estaria atravessando a recepção e passando pelas portas automáticas até alcançar o estacionamento direto para o meu carro. E em breve eu estaria em casa.

Na verdade, parece que ainda falta muito.

Senti o gosto da vitória quando já no estacionamento pude enxergar meu carro a poucos metros de onde eu estava.

Mais alguns passos, apenas mais alguns passos.

Parei bruscamente quando vi uma silhueta feminina encostada ao meu carro. Por um momento em meio às sombras pensei se tratar de Laurel, talvez em busca de mais uma longa conversa explicando por que deveríamos morar juntos, nesses breves instantes cogitei correr para dentro do hospital. Continuei a andar enquanto franzia o cenho a observando, a maneira com que estava encostada não era casual, mais parecia que procurava por algo que a mantivesse em pé. Apressei meu passo ao notar que se tratava de uma desconhecida e que na verdade estava passando mal.

— Ei! – Falei em tom alto. Ela ergueu seu rosto encarando-me vagamente. Agora próximo eu podia observar seu rosto melhor. – Você está bem? – Ela piscou seus olhos azuis, sua expressão mostrando que ela não entedia o que eu falava totalmente.

— Por favor... – Murmurou enquanto seu peito subia e descia mostrando claramente que tinha dificuldades em respirar. Segurei seu braço percebendo que ela vacilava. – Ajude-me. – Pediu.

— Eu te peguei. – Murmurei contra seu cabelo quando ela descansou pesadamente contra mim. Meus braços a envolvendo automaticamente. – Eu te peguei. - Procurei em seu rosto por novos sinais que me mostrasse o que estava acontecendo com ela e voltei meu olhar para seu corpo, procurando por quaisquer feridas, qualquer indício que estivesse sangrando. – Eu vou te levar para dentro. Eles vão cuidar de você. Eu vou cuidar de você. – Prometi. Ela me encarou assustada, algo no que eu disse não a animou, se tivesse alguma força eu julgava que ela teria se afastado. – Você precisa confiar em mim. Qual é o seu nome? – Seus olhos fecharam-se rapidamente como se precisasse se concentrar para entender o que eu dizia. Como se precisasse se concentrar para responder.

— Felicity. – Murmurou pesadamente. – Meu nome é Felicity. - Concluiu antes de perder completamente a consciência em meus braços.