Problem

Capítulo 08


FELICITY SMOAK

Encarei os irmãos a minha frente, o rosto alegre de Thea em um contraste significante com o de Oliver, que sem dúvida nenhuma desejava estar em qualquer outro lugar que não fosse na frente da minha porta, ainda mais acompanhado de sua irmã que sem dúvida nenhuma desejava nos juntar em uma espécie de arranjo conspiratório, o que podemos chamar carinhosamente de ironia do destino.

Por que quanto mais eu me policiava para não encontrá-lo, quanto mais eu o evitava, não só da sua forma física, mas como também em meus pensamentos, alguma força o puxava de volta. Nesse caso essa força podia e deveria ser chamada de Thea Queen.

As palavras de Diggle entraram em minha mente, assim como qualquer conselho seu sempre fazia, e eu não pude deixar de pensar no quanto ele estava certo. Eu já sabia disso. Tudo o que Oliver poderia querer de mim era sexo, e apenas sexo. E não por sua escolha, essa atração que sentíamos um pelo outro ia além do que podíamos dominar ou apenas controlar, apenas acontecia, apesar do quanto eu odiava a frase “É mais forte do que nós...” era exatamente o que acontecia quando estávamos juntos, mas era apenas físico. Não havia sequer base para ter algo além disso, nunca fui completamente sincera com ele. Como poderia? Mal nos conhecíamos, e como Diggle destacou, ele não queria me conhecer.

E por mais que quisesse afirmar o contrário, se havia uma parte que ia sair machucada por ter se apaixonado, essa seria eu. O que significava que eu devia evitar que isso acontecesse em primeiro lugar. Então se era atração sexual, se acontecia quando estávamos em frente um ao outro, tudo o que eu precisava fazer era evitar estar perto dele, ao menos até ter certeza de que eu poderia oferecer cada parte do meu corpo a ele, exceto meu coração.

Eu tinha que estar no controle do quer que fosse acontecer.

Então eu o evitei.

Por que eu ainda não tinha certeza se estava no controle. Eu mudei meus horários de corridas, algumas vezes sequer compareci, fiquei mais tempo na faculdade, esperando o momento em que Thea fosse embora, fugindo de vê-lo no estacionamento em uma possível carona para a irmã, e quando a própria Thea falava no irmão, eu rapidamente desviava sua atenção, o que se tornou óbvio, mas que teve certo sucesso, já que mesmo me lançando um olhar de que sabia o que eu estava fazendo, ela aceitava a mudança e participava do tema que surgia. Evitar o passeio não foi tão difícil, na verdade foi mais fácil do que eu imaginei. O que sem dúvida nenhuma foi um grande alívio para mim, tivemos algumas semanas de provas e trabalhos, e eu deixei claro para Thea que não estaria livre para qualquer programa que não estivesse relacionado a estar cercada de livros dentro de uma sala privada na biblioteca da faculdade.

Oh ela não gostou disso.

Na verdade, ela odiou isso, e tentou argumentar contra, mas quando eu perguntei se seu irmão gostaria de interferir assim nos estudos entre uma prova e outra sua, ela cedeu. Não por que visse alguma verdade no que eu dizia ou concordava, mas por que pelo o que eu suspeito, ela não queria que “Ollie” soubesse sobre as provas e não fizesse perguntas inconvenientes que apenas seus parentes poderiam fazer sobre os estudos. Ou por que Thea assim como eu, sabia o quão rápido Oliver era em julgar e desaprovar alguém.

Eu me pergunto se Oliver sabe que sua irmã caçula não é muito fã de estudar.

Então, já fazia quase um mês desde nossa “conversa” no carro e que eu decidi evita-lo, até estar 100% certa de que não me apaixonaria por ele, o que não deveria ser tão difícil, já que analisando direito, Oliver era bem estúpido quando queria ser, e comigo era quase sempre. Quase um mês em que eu me parabenizava internamente pelo sucesso que estava sendo evita-lo, quase um mês em que eu já pensava em novas desculpas para usar caso Thea viesse novamente com o tema: Passeio e biquínis. Quase um mês... E eu me deparo com Oliver em frente a minha porta.

Totalmente fora do lugar e desconfortável.

E insuportavelmente lindo.

Obrigada, por jogar quase um mês fora.

Idiota.

Eu estava muito surpresa, perplexa, mas acima de tudo estava furiosa.

Não com Oliver que seguia me encarando sem jeito, não com Thea que tinha um sorriso enorme em seu rosto. Cheia de si.

Eu estava furiosa comigo mesma, por que no momento em que entendi o que significava ele estar em minha frente agora, meu coração que já seguia um ritmo anormal desde que abri a porta, acelerou dando-me a impressão que eu logo estaria visitando seu hospital novamente, e tudo por que o traidor reagia contra minha vontade apenas por estar diante do Dr. Delícia.

— Seja qual for à desculpa que você está procurando... – Thea murmurou cansada de esperar um convite meu e entrando em minha casa com tranquilidade, mostrando o quanto estava familiarizada com o ambiente, embora fosse essa a primeira vez que ela viesse a minha casa. Thea conseguia ser bastante inconveniente quando o queria, o problema era que eu gostava disso nela, que ela se sentisse tão à vontade assim comigo. A observei ainda colada à porta, enquanto ela andava por minha sala, a analisando sem nunca deixar de falar. – Esqueça. Nós vamos sair hoje, Roy já está a caminho, e ele vem nos encontrar aqui, teremos um dia livre, para não fazer nada a não ser relaxar, então, você pode mexer seu traseiro agora mesmo e juntar suas coisas, trocar de roupar, tirar esse visual nerd... – Murmurou fazendo um gesto abrangendo minha figura, só então me lembrei de que não estava usando lentes como de costume, usava meus óculos, e meu cabelo estava arrumado em um coque frouxo, uma camisa folgada e moletom, bem, agora eu acho que eu não tinha mais que me preocupar com alguma atração avassaladora de Oliver por mim, eu tinha acabado de matar isso. – Hum... Felicity? – Murmurou interrompendo meus pensamentos. Eu sacudi minha cabeça como se o ato também pudesse sacudir meus pensamentos idiotas fora, e encarei Thea que exibia aquele sorriso tão característico dela, de quem acabava de provar algo.

— Sim? – Murmurei.

— Eu acho que Oliver está esperando por um convite. –Constrangida deixei meus olhos encontrarem os de Oliver, com a boca seca notei que ele me encarava fixamente, enquanto a todo custo eu havia tentando evitar justamente isso. Ele seguia parado, no mesmo local, hesitante, sua irmã não havia demorado a ficar a vontade, ele por sua vez mostrava-se totalmente o contrário. O pobre desejava fugir. – Ele não é vampiro ou algo do tipo, apenas muito educado e o orgulho da mamãe, ele jamais forçaria sua entrada... Então...

— Você ao menos tem ideia do quanto você é irritante? – Oliver murmurou para ela, aborrecimento impregnado em sua voz. De alguma forma, eu sabia que essa era meio que uma pergunta diária entre os dois. Em vez de ficar envergonhada, ela apenas encolheu os ombros. Deixando seu olhar cair novamente cair em mim, seus olhos me acompanharam com interesse, trazendo aquela já conhecida pontada de desejo em meu ventre. – Felicity. – Eu não sabia dizer se sua intenção era de dizer algo mais, mas foi ali que ele parou. Disse apenas meu nome, sua voz soando firme e o que deveria ser apenas um cumprimento parecendo mais uma ordem. Engolindo em seco e ajustando os malditos óculos balancei minha cabeça na minha própria versão de cumprimento.

— Olá, Oliver, digo Sr. Qu... Dr. Queen. – Corrigi. Eu odiava que ele estivesse me pegado nesse momento, quando eu parecia mais a versão feminina do Clark Kent, em vez do meu alter ego, que era confiante e sabia desafia-lo com apenas um olhar, decidida acabar com esse desconforto que havia me dominado e ditado minhas ações ao ponto de me fazer gaguejar, eu acenei para que ele entrasse. Ele passou por mim ainda lançando um olhar intrigado e preencheu minha sala, seu olhar caindo diretamente sobre meu piano, o ato me deixando alerta, me fazendo agir. – Eu vou subir. Trocar essas roupas. – Murmurei para Thea que tinha se tornado apenas uma observadora. – Fiquem a vontade, quando eu descer, você vai me dizer exatamente o que planejou e por que imagina que eu não poderei fugir. – Sorri sentindo-me um pouco mais como eu. – John está em algum lugar da casa. – Os informei. Temendo que ele surgisse os deixasse desconfortável com seu olhar sério, mais precisamente Oliver na verdade, não havia dúvida que esse aviso era para Oliver, ao menos não havia dúvida para nós dois, Thea era alheia a tudo isso. – Mas duvido que ele desça, caso Roy chegue você se ocupam de abrir a porta, certo?

— Deus, odeio essa versão anfitriã sua... – Thea meneou a cabeça com um sorriso. – Suba logo, pegue suas coisas e deixe que cuidemos de Roy, isso é claro se você ainda não for nos oferecer um suco. – Provocou-me. Suspirei com esse seu humor tão irritante e ao mesmo tempo contagiante e lançando um olhar cauteloso a Oliver, me virei para subir.

— Você toca? – A pergunta me fez parar bruscamente, virei-me para ele e notei que seu olhar seguia no instrumento clássico. Seu olhar voltou-se para o meu, seu cenho franzido, Oliver me encarava como se tentasse desvendar uma charada, montar um quebra cabeça, ele me encarava como se não me compreende-se, e como se tivesse em busca disso.

Exceto que pelo o que havia lido de suas ações até então, ele nunca quis me conhecer, certo?

De todas as perguntas que ele fez, essa mesmo não parecendo, mesmo não sabendo, foi a mais íntima. E por mais que eu quisesse ignorar tal pergunta, por mais que devesse responder com naturalidade, por mais que a resposta devesse ter vindo rápida e leve, não foi assim.

— Não mais. – Murmurei antes de lhe dar as costas novamente. Eu queria poder dizer que escondi a tensão que uma pergunta tão simples havia me ocasionado, que havia caminhado normalmente, despreocupada. Que havia conseguido disfarçar o peso que havia me trazido, mas eu não podia afirmar com certeza, como poderia se minha voz saiu tão grave quando o respondi, se eu fui incapaz de formar um sorriso educado antes de lhe dar as costas, pois os músculos do meu rosto se recusaram a me obedecer, se minhas pernas pareciam tão pesadas a cada passo que eu dava, tudo por conta de uma pergunta tão pequena, tão simples. Tudo por que havia sido feita por ele.

OLIVER QUEEN

Agora, isso sim era interessante.

Observei Felicity subir as escadas, visivelmente alterada com minha pergunta. Eu queria ir mais a fundo sobre isso, se fosse em outra ocasião, se tivéssemos sozinhos, por mais que eu quisesse afirmar o contrário, o mais provável é que eu a teria seguido, mesmo contra minha consciência gritando para fazer o contrário, eu teria a seguido, e teria a provocado até tirar algo, mas não estávamos sozinhos, Thea estava bem a minha frente, seu olhar não deixando meu rosto enquanto eu observava sua amiga se afastar.

Sua amiga que no momento parecia tão diferente da garota que eu já havia encontrado outras vezes, da mulher com quem estive semanas atrás. Ela parecia... Vulnerável, não era a forma como estava vestida, não exatamente, vestida dessa forma ela realmente parecia mais nova, tal como o dia em que a encontrei em frente ao hospital, ela parecia mais nova, e a forma com que reagiu diante nossa presença, minha presença... Havia certa insegurança na forma com que ajustou seus óculos, timidez em sua voz quando gaguejou ao me cumprimentar, vulnerabilidade quando respondeu a minha pergunta.

Outra Felicity.

Era assim que eu estava vendo, mas isso também me fazia questionar o quanto dela era real.

Era esse um jogo?

Por que nada podia ser simples no que se referia a ela? Por que eu tinha que questionar cada pequeno gesto seu? Por que estar com ela era como jogar o jogo dos setes erros, tentar ver o que estava fora do lugar, encontrar o que estava faltando.

— Ela já subiu, sabe? – A voz de Thea me puxou de meus inquietantes pensamentos. A encarei aborrecido ao perceber que mesmo sabendo que ela me observava, eu fui incapaz de tirar meus olhos de Felicity. Um costume idiota que eu devia interromper, ou minha irmã não me deixaria em paz. – Você pode parar de encarar as escadas.

— Eu não estou encarando as escadas. – Neguei. – Eu estou encarando você. – Dei de ombros, caminhei com passos pesados até chegar ao sofá e me sentar. – E quer saber? Eu não gosto do que vejo. Qual o seu problema? - Soltei. – Você está nos empurrando até nos sentimos desconfortáveis na presença um do outro. – A acusei. Ela me encarou sem se alterar com o que eu disse.

— Eu os estou deixando desconfortáveis? – Perguntou com fingida surpresa. – Ollie, eu tenho a impressão de que eu não preciso fazer muito para que vocês fiquem desconfortáveis na presença um do outro, a questão aqui é por quê?

— Por quê? – Repeti incrédulo. – Você sabe muito bem o que está tentando fazer.

— Eu sei muito bem o que eu estou fazendo. – Frisou. – Mas eu não entendo por que isso deveria deixa-los tão desconfortáveis. Oliver eu estou tentando juntar uma amiga, quem em tão pouco tempo, eu considero muito, com meu irmão. Sim, eu assumo que uma vez que eu seja tão óbvia e obstinada com relação a isso, haja certo constrangimento, mas se não há interesse por nenhuma das partes, eu não vejo por que tem que haver desconforto, você poderia muito bem dar de ombros e se limitar a ser educado com a amiga em questão, não é por que eu quero que haja algo entre vocês, que você tenha que dar em cima dela. – Murmurou gesticulando com as mãos. - Bastava apenas ignorar. Mas você parece que está pronto para sair correndo a primeira oportunidade, assim como ela. É como se vocês soubessem o que vai acontecer, mas querem evitar que aconteça, o que me faz perguntar novamente o porquê. No que pode dar errado um envolvimento saudável entre duas pessoas que obviamente se atraem?

Muita coisa pode dar errada. Eu não sabia nem por onde começar, mas de todas as razões eu escolhi a mais estúpida.

— Ela não faz meu tipo. – Murmurei por fim, fazendo com Thea me encarasse incrédula e descrente.

— Linda, inteligente e independente. Ela não faz seu tipo. – Murmurou cruzando os braços e deixando-me saber que a frase em sua mente era algo do tipo “Que desculpa de merda, essa que você deu.”. Ela tinha razão eu poderia ter feito melhor.

— Por que ela usa óculos, ela é inteligente? – Limitei-me a provoca-la. Procurando uma fuga, mesmo que fosse cômica e soasse falsa demais aos meus ouvidos.

— Ollie... – Murmurou em tom de censura.

— Ela é nova demais. – Falei. – Ela tem quase sua idade, ela ainda está na faculdade. – Murmurei pontuando em meus dedos. - Ela obviamente se preocupa mais em beber e sair com os amigos, do que com algo realmente sério. – Dei de ombros, me lembrando de tudo o que eu sabia de Felicity até o momento. – Eu li e escutei rumores sobre ela. Ela adora uma confusão, ela faz parte de confusões. E pelo o que eu soube ela adora brincar com os homens. – Expliquei me lembrando do noivo em questão, mas por alguma razão eu me neguei a revelar sobre o fato de que ela era noiva, eu duvidava que Thea soubesse dele, ou não estaria tentando nos aproximar, então continuei. - Ela é irresponsável, ela é festeira e arrogante, acha que por ser filha de uma figura política está acima das regras, ela é apenas uma garota que gosta de se divertir. Se você se deu o trabalho de pesquisar sobre sua amiga, você sabe que ela não é confiável, ela é problema. Eu sei disso e você já devia saber. E tudo bem ser assim se tudo o que quiser é uma companhia para a próxima festa, mas eu não a quero para ter um relacionamento, então, por favor, pare de tentar fazer com que haja algo entre nós, quando nós dois, que são os que importam nisso tudo, não queremos.

Thea me observou por um longo momento, e pela primeira vez eu vi algo diferente de admiração em seus olhos, eu costumava ser seu herói. Eu sou seu irmão mais velho, sempre procurei protegê-la, e estar por perto, não apenas presencialmente, mas emocionalmente, sempre tivemos uma relação boa, e ela sempre me encarou com orgulho. Eu estava acostumado com isso.

Exceto agora.

Nesse exato momento, Thea parecia decepcionada.

— Você tem razão. – Assentiu por fim. – Eu estava errada. – Suspirei agradecendo internamente por ela ter chegado a essa conclusão junto comigo. – Eu achei que você a merecia. Eu me enganei. – Concluiu fazendo com que eu reagisse surpreso ao seu comentário, e me sentisse pequeno. – Eu vou atrás dela, abra a porta para Roy caso ele chegue, e, por favor, tente não julgar meu namorado e expulsa-lo nos breves minutos que fiquem a sós. – Ela me encarou ainda parecendo ter algo a dizer, mas meneou a cabeça em negativa. – Você a viu apenas uma vez, alguns minutos em meu apartamento, algumas histórias que lhe contaram, e você acha que a conhece?

— Thea... – Chamei seu nome em um pedido. Estava arrependido de ter deixado escapar o que realmente achava de sua amiga, quando ela sabia tão pouco sobre o que na realidade havia se passado entre nós dois. Eu sei que o que havia dito parecia um pouco infundado e injusto, mas de algo ela estava certa, eu não conhecia Felicity Smoak, não realmente, e não gostava exatamente do pouco que sabia. Thea não me deu ouvidos, ela subiu as escadas sem me dirigir nenhum outro olhar.

Sozinho tudo o que pude fazer foi encarar o grande piano. Eu não conseguia imagina-la sentada ali, nem seus dedos longos e finos sobre as teclas, era uma imagem serena demais, muito contraditória ao que havia presenciado até o momento. Como por vontade própria me vi indo até o instrumento, sentei diante dele e deixei minhas mãos alcançar as teclas, sem toca-las. Tentei criar em minha mente a imagem de Felicity nessa mesma posição e falhei.

“Não mais.”

O que havia sido responsável por fazê-la parar? Talvez o uso das drogas, talvez ela não fosse boa o bastante, ou tenha apenas se entediado. Havia sido um passatempo até que algo novo surgiu?

Não.

Não era profundo o suficiente, e a maneira com que ela se retesou quando eu fiz a pergunta, sua parada brusca, sua resposta vaga, mas cheia de informações escondidas, dizia que não foi algo tão supérfluo, tão fácil. Algo ou alguém a fez parar, e por mais que eu quisesse negar qualquer interesse em relação a ela. Eu queria saber o que foi, ou talvez, quem foi.

— Você toca. – A frase dita não foi uma pergunta, como eu fiz apenas minutos antes, foi uma afirmação, dita com certa convicção. Virei meu rosto em direção à voz masculina que havia dito em tom firme à frase que havia me tirado de meus pensamentos e encarei John Diggle. Eu mais uma vez havia sido flagrado por ele.

Pelo menos agora eu não estava tentando tirar as roupas de sua protegida.

— Não. – Murmurei sincero. Respondendo a sua não pergunta. – Eu tive aulas, junto com minha irmã, mas eu tinha pouco talento, e pouca vontade de aprender. E Thea não conseguia ficar mais do que cinco minutos sentada diante o piano antes que outra coisa chamasse sua atenção. – Falei lembrando-me de quando minha mãe finalmente desistiu de fazer sua garotinha aprender uma arte tão singela. – Felicity toca. – Murmurei atraindo sua atenção, é claro que ele sabia que Felicity tocava, eu não era idiota, e é claro que ele sabia que eu havia descoberto essa informação há pouco tempo, mas a razão pela qual eu trouxe isso , era por que eu estava intrigado demais para abandonar o assunto, e John Diggle parecia ser próximo o bastante para saber sobre. Infelizmente para mim, próximo o bastante também significava leal o bastante para não deixar o tema fugir muito, mas hoje eu estava recolhendo migalhas. – Ela disse que não toca mais... Ela era boa? – Sondei. Ele sorriu sabendo que eu estava pescando informações.

— Temo que apenas você vá poder julgar. – Deu de ombros. – Se você tiver a sorte de escuta-la um dia, você mesmo me dirá se ela é boa.

Meus ouvidos não ignoraram a palavra “sorte”, talvez fosse exagero de um amigo super protetor, ou ela realmente fosse boa. A questão é que o “sorte” também me dizia que isso nunca iria acontecer. E o sentimento inquietante de decepção me dominou.

Eu sentia-me cada vez mais intrigado com ela, quando na verdade não deveria estar.

O silêncio prolongado me fez perceber mais um motivo pelo qual eu deveria me sentir desconfortável naquela casa. Eu não podia deixar de lembrar as circunstâncias em que estávamos na última vez em que encarei o homem a minha frente.

Desconfortável realmente era a palavra do dia.

— John...

— Sr. Diggle. – Corrigiu-me.

— Ok. – Assenti. – Sr. Diggle, sobre o outro dia...

— Eu não quero falar sobre o outro dia, doutor. – Murmurou com os braços cruzados diante de si. Dizer que eu não me sentia intimidado era tolice. A maneira com que ele disse “doutor” poderia muito bem ser um novo xingamento. – Eu quero saber dos dias que estão por vir...

— Nada está por vir. – Falei rapidamente.

— Sim, está. – Falou sem se abalar. – Mas já que você parece tão alheio a isso, eu vou lhe dar um resumo do que está por vir, por que mesmo que eu faça alguma ameaça sobre você machucando-a e as consequências disso, eu sei que ainda assim vai acontecer. – Nada em seu rosto se alterou, nem sua voz se elevou, mas ainda assim eu sabia que o homem já me odiava. - Então não é uma ameaça, é apenas um resumo do que vai acontecer. Vocês dois mais cedo ou mais tarde vão voltar a se envolver, não importa o tipo de relacionamento, apenas sexo ou não, você vão ficar juntos, ela vai ficar feliz por um tempo, então você vai fazer alguma merda, então você vai machuca-la, e quando isso acontecer o fato de já estar familiarizado com o ambiente de um hospital será a única parte boa para você. – Ele tinha certeza de que isso não é uma ameaça? – Esse foi o cenário bom. O outro é que tudo vai mal desde o começo, que você vai magoa-la e que não haverá nenhum momento feliz, mas que ainda assim por um tempo vocês vão insistir nisso, e você continuará a magoando até que um dos dois, eu ainda não sei qual, dê um basta nisso, então mais uma vez você se encontrará no seu ambiente natural, entendeu doutor?

— Perfeitamente. – Murmurei entredentes. Ele poderia ter usado apenas a frase “Se machuca-la eu o mato” teria o mesmo efeito, mas acho que não haveria tanto drama. Estava prestes a lhe dizer isso quando escutei passos apressados nas escadas, também com pressa me levantei e me afastei do piano. Diggle deixou um sorriso educado cair em seu rosto quando encarou as escadas.

Era Thea que descia, mas logo atrás veio Felicity. A Felicity que eu conhecia e que estava acostumado, a forma com que ergueu o queixo me disse isso, e me deu certo alívio. Eu a preferia assim, me enfrentando, me encurralando. Não queria me sensibilizar, nem querer questiona-la. Preferia a vontade de retrucar.

— Nada de Roy. – Murmurei para Thea que se aproximou. Ela cumprimentou Diggle com um sorriso e me encarou.

— Eu sei. – Exibiu um suspiro impaciente. – O idiota ligou me dizendo que desistiu. Eu não vejo sentindo em velejarmos apenas nós três.

— Vamos cancelar? – Eu não deveria ter soado tão aliviado. Eu sabia que não devia, mas o olhar de Thea fez questão de destacar isso.

— Não será bem um cancelamento. – Falou dando de ombros. – Mudanças de planos. Não vamos mais velejar, isso é certo, mas definitivamente estarei dando um mergulho hoje.

— Para onde vamos? – Perguntei vencido, era melhor arrancar o Band-Aid de vez, invés de ficar tentando lutar contra, querendo ou não eu ia passar o dia na companhia de Felicity Smoak.

— Casa. – Sorriu fazendo com que eu franzisse o cenho.

— Casa. – Repeti incerto. Qual casa exatamente? A dela? Seu apartamento ficava não muito longe daqui e sim tinha uma piscina no terraço que explicava o por que dizia que ainda iria dar um mergulho hoje, o meu seguia esse padrão também, mas era isso que ela queria fazer? Tirar sua amiga para meu apartamento ou o seu? Não parecia bem algo que Thea faria, ainda mais depois de nossa conversa, a não ser... A encarei considerando uma outra opção, uma que me deixaria ainda mais desconfortável na presença de sua amiga, que serviria como vingança para nossa pequena discussão e que irritaria não só a mim, mas também a outra pessoa. Com casa ela não queria dizer casa, queria?

— Sim, Olllie. –Assentiu percebendo o momento em que cheguei à conclusão e respondendo a uma pergunta que eu sequer havia feito em voz alta. – Estamos indo para a mansão.

— Thea eu não sei se essa é uma boa ideia. – Falei sincero.

— Eu acho perfeita. – Falou sem se preocupar. – Na verdade, eu acho que já está na hora de Felicity Smoak conhecer Moira Queen.

FELICITY SMOAK

Como eu terminei nessa situação?

Essa era uma das perguntas que martelavam constantemente em minha mente, junto a ela vinha também “Como eu saio desta situação...” Até o momento eu não tinha a resposta para nenhuma delas e como consequência eu lamentavelmente era obrigada a encarar coisas do tipo Oliver Queen se despindo de sua camisa antes de jogar na piscina da casa de seus pais.

Talvez eu não tenha lamentado tanto assim, mas eu provavelmente deveria ter feito. Como supostamente eu tenho que afastar do homem, quando eu era tentada dessa forma? Eu não era idiota, eu sabia que a tensão entre os irmãos haviam aumentado consideravelmente desde que eu os havia deixado a sós, e eu seria estúpida se não pensasse imediatamente que eu era a razão de tanta tensão, e somando o fato de que Thea havia claramente recuado em suas tentativas de nos aproximar, meu palpite era de que Oliver havia deixado muito claro o quanto ele me queria longe de si e Thea não havia gostado nada disso. Para completar Roy não havia aparecido e sua tentativa de vingança em forçar seu irmão ter que conviver com sua mãe por algumas horas havia falhado. Ou ao menos havia sido adiado. Ela me confessou que se tratava de uma vingança quando Oliver sorriu diante a notícia de que sua mãe havia saído, pelo o que eu havia entendido nenhum dos dois eram muitos próximos a mãe, e me apresentar como uma amiga dos dois era sua forma de provocação. Eu provavelmente deveria me sentir ofendida com tudo isso, mas eu sabia que Thea se divertia com tudo isso e não dava a mínima do que sua mãe poderia achar de mim.

Eu suspeitava que Oliver não pensava da mesma forma.

Ele não queria ser ligado a mim de qualquer maneira que fosse.

— Você não vai entrar? – Thea perguntou deitada na cadeira ao meu lado, desviei meus olhos da figura solitária nadando e a encarei através dos meus óculos escuros.

— Devo me preocupar por você está me usando para envergonhar seu irmão diante sua mãe? – Perguntei direta. Ela me dirigiu um olhar culpado. – Qual era exatamente seu plano?

— Ollie me irritou hoje. – Confessou. – Eu queria apresenta-la a minha mãe, por que queria que ele visse quão mesquinha ela é, e perceber o quão perto ele está de se tornar ela. – Deu de ombros. – Algo que ele teme e repudia.

— Você deixaria sua mãe me humilhar apenas para seu irmão perceber que é errado ele fazer o mesmo? – Perguntei incrédula. Ela abriu a boca percebendo como a coisa toda soava.

— Ela não te humilharia Felicity. – Falou. – Ela a desaprovaria de forma fria, mas educada, entende? Eu sei que como se parece, e que é errado, mas eu não ligo para as bobagens da minha mãe, há muito tempo não faço, o divórcio com meu pai piorou essa parte nela, mas Oliver sempre foi o filho perfeito, sempre almejou a aprovação de nossa mãe, mesmo odiando a forma com que ela agia. Ele disse hoje que estava se sentindo desconfortável, eu queria aumentar isso, por que ele me irritou, não vou entrar em detalhes de como ou por que, mas ele me irritou o bastante para eu querer deixar sua imagem menos perfeita e em troco lhe ensinar uma lição. Eu ia apresenta-la como amiga de Oliver.

— Eu não preciso que você me diga a razão. – Sorri meneando a cabeça. – É claro que eu sou a razão, seu irmão não gosta de mim, ele falou algo sobre mim que a desagradou. Mas está tudo bem, é bom, só assim você deixa de lado o projeto Felicity como cunhada. – Brinquei. Durante as várias horas que passávamos estudando para as provas, ela sempre foi a que quebrou nossa concentração, falando sobre seu irmão e dizendo que agora tinha um novo projeto, que nele eu me transformava sua cunhada. A ideia me divertia, pois eu sabia que não era algo a ser levado a sério. Eu sequer estava aborrecida por Thea está me usando de alguma forma, ou por saber que sua mãe jamais me aprovaria, não como sua amiga, nem como “amiga” de seu irmão, fazia muito tempo que eu havia deixado de esperar a aprovação de alguém, talvez fosse algo que eu compartilhasse com Thea. Então, talvez por essa razão eu me peguei meneando a cabeça mais uma vez, e dessa vez era um sorriso de diversão que vinha aos meus lábios. – Apenas me avise quando quiser causar uma má impressão em alguém, talvez eu faça algo que os impressionem e mereça se julgada. – Pisquei. Ela sorriu aliviada com minha brincadeira, mas de repente seu rosto se voltou em direção à piscina, esclarecimento dominando sua expressão.

— Ele já viu seus seios. – Falou alegre.

— O QUÊ?!! – Falei deixando meu tom subir sem ao menos perceber, de onde ela havia tirado isso, como ela soube? E como ela chegou a essa conclusão? E por que tinha esse sorriso estúpido no rosto?

— Oliver realmente falou coisas sobre você. – Esclareceu. – Rumores, e desde então eu fico pensando o quê exatamente ele viu para deixa-lo tão agitado. Você acha que ele viu aquela sua foto de topless? – Engoli um suspiro de alívio ao chegar à conclusão de que ela falava sobre a foto que Alex havia exibido na primeira semana de aula a quem quisesse ver. O que infelizmente para mim, foram muitos. – Ainda assim aquela foto não deveria tê-lo feito chegar a tantas conclusões erradas sobre você. – Meditou.

— Não importa, Thea. – Encostei minhas costas na cadeira novamente, e só então percebi que havia parcialmente me erguido quando ela havia feito a tal pergunta. Com um olhar de relance percebi que Oliver nos observava da outra extremidade da longa piscina. Talvez eu não devesse ter feito minha pergunta em um tom tão alto. – Como eu disse é algo bom.

— Por que você deduziu que eu desisti. – Assentiu.

— Você não desistiu? – Perguntei temerosa.

— Claro que não. – Sorriu. – Só estou fazendo uso da psicologia reversa.

— Eu não acho que funcione você me alertando sobre. – Retruquei. Ela deu de ombros e se ergueu.

— Eu nunca fui chamada de discreta. – Sorriu. – Eu vou pedir para fazerem um lanche. – Falou. – Tire essa roupa e caia na piscina, antes que eu a empurre dentro.

— E se eu não souber nadar? – A lembrei.

— Seria ótimo. – Piscou. – Oliver irá te salvar. Talvez role uma respiração boca-a-boca. – A encarei com um olhar de repreensão. – Está bem! – Suspirou. - Eu vou diminuir o ritmo, como já estou diminuindo, mas eu estou falando sério Felicity, eu quero que se divirta, entre na piscina e ignore meu irmão se assim preferir, mas entre. – Ordenou antes de se afastar. Por alguns longos segundos me recusei ao fazer o que dizia, mas então percebi o que eu estava fazendo. O que Oliver estava fazendo desde o momento em que ele entrou em minha casa. Eu estava me deixando intimidar, eu recuei quando deveria estar o enfrentando de frente, eu estava fugindo, quando eu não havia feito nada de errado. Nós transamos, e tentei fazer com que acontecesse novamente, ele recuou, ele não quis. Então ele deveria se afastar, não eu. Eu sei muito bem lidar com uma rejeição, eu não ia ficar nos cantos e corredores da escola após o capitão do time me rejeitar. Decidida me ergui e percebi imediatamente que ele havia parado de nadar outra vez, seus olhos estavam em mim, e com ar desafiante ergui meu queixo enquanto minhas mãos alcançavam a barra da minha blusa, eu a ergui deixando-me exposta ao seu olhar, sem perder a compostura me desfiz do meu short e logo deixei a roupa recém tirada em cima da cadeira junto com meus óculos escuros, sem sequer cogitar em me arrepender caminhei sem hesitação até a borda da piscina, com um mergulho nadei até onde ele se encontrava.

Quando parei em sua frente e seus olhos encontraram os meus, haviam um misto de interesse, cautela e desaprovação.

— Onde está Thea? – Perguntou-me de forma direta.

Contive uma careta em resposta.

Ele já estava se esquivando.

— Ela foi atrás de comida. – Respondi. – Foi o que ela disse ao menos, mas eu imagino que foi apenas uma desculpa, e que esteja tentando nos deixar a sós. – Dei de ombros. Ele sim não conteve uma careta em resposta, sua mão empurrou seus cabelos molhados e respirou fundo com se procurasse por algo que não tinha no momento. Procurasse por paciência.

— Eu pensei que ela havia deixado isso para lá. – Falou indo até a borda com intenção de sair, o segui e segurando seu braço o impedi de seguir em frente.

— Eu sei. – Assenti. – Qualquer coisa que você tenha dito ao meu respeito serviu para irrita-la e adiar os planos do nosso casamento, mas não para cancelar. – Ele franziu o cenho quando escutou a palavra com “C”. – Relaxe Dr. Delícia. Eu estou apenas brincando.

— Por que tudo precisa ser brincadeira com você? – Questionou-me com brusquidão.

— Por que tudo precisa ser tão sério com você? – Retrucou.

— Felicity...

— Não. – O cortei. – Agora vai me escutar. – Aproximei-me mais dele. Eu estava determinada a ter essa pequena conversa. Precisava na verdade. - Nós transamos. – Murmurei fazendo com que ele me encarasse surpreso e olhasse em volta, provavelmente preocupado com que sua irmã surgisse do nada e escutasse. – Nós fizemos sexo, Oliver. É o que duas pessoas fazem quando se sentem atraídos um pelo outro, e o fato de você ser médico me deixa muito irritada por ter que te explicar isso. Foi consensual, de ambas as partes, aconteceu, tiramos bastante proveito disso, e eu sugeri que continuássemos, mas você recuou. Ok. Eu entendo, por alguma razão você me vê como a escória da sociedade e você é o Sr. Perfeito, com seus dentes perfeitos, sorriso encantador e charme, você se acha melhor do que eu. Que seja, não vai mais acontecer, eu entendo, o que não precisamos é agir como gato e rato sempre que nos encontramos, o que me parece que de alguma forma sempre vai acontecer, sua irmã é minha amiga, eu gosto dela, e não preciso de você agindo como um idiota sempre que eu estou por perto.

Ele me encarou por longos segundos. Parecia surpreso com o que eu disse.

— Eu não que sou melhor do que você. – Falou por fim.

— Eu nunca pensei que você fosse hipócrita. – Falei com um sorriso irônico. – Você acha que eu não sou boa o suficiente para você, Oliver. Você me olha e vê uma loira, estúpida, com o corpo bom o suficiente para prendê-lo por algumas horas, mas que não sustentaria uma conversa inteligente por mais do que alguns segundos.

— Você age como se eu a tivesse condenado por ser que você é. – Murmurou deixando-me inquieta com a intensidade em seus olhos. – Quando na verdade é por que eu não sei quem diabos você é. – Virou-se completamente para mim, soltei seu braço no ato. O contato de repente me deixando pouco a vontade. - Quem é você? Até mesmo como chama-la me confunde. Smoak? Darhk? – Deu de ombros. – Eu não tenho nada. Nada que realmente tenha vindo de você, se eu faço perguntas você as contorna, se eu deduzo, estando errado ou não, você apenas acena e as aceita como se fosse a sua verdade. Até em que ponto estou enganado? Estou completamente enganado? - Tentei a todo custo não desviar meus olhos dos seus, não queria demostrar fraqueza, não queria demostrar fragilidade. - Quem é você? – Repetiu. – A garota que desmaiou em meus braços era frágil, a garota que acordou era debochada, irritante e fútil. Uma drogada. – Seu tom me disse o quanto essa parte realmente odiava. - Na arrecadação de fundos, eu estava diante de uma garota troféu, braços dados com um completo idiota, que falava apenas sobre a bunda da sua garota. – Estremeci diante a menção a Cooper. Como ele me fazia parecer. - Ela fugiu. Comigo. E então naquela mesma noite, um pouco mais tarde e em meus braços não era mais aquela garota, era uma mulher. – Engoli em seco. Minha respiração se acelerando, meu corpo notando a proximidade do seu, apensa por citar a noite em questão. - E naquele momento eu não me importei quem era ela, eu apenas a queria. Todas elas, uma só, você. – Eu queria interrompê-lo, mas suas palavras me prendiam, deixando-me incapaz de fazê-lo. - Mas no dia seguinte, eu já não sabia quem era você novamente, por que agora você era a amiga da minha irmã, você é a amiga da minha irmã. Hoje de manhã? Outra Felicity, insegura, adorável, mas apenas por alguns breves instantes antes de você subir e então descer as escadas, então tem essa Felicity, que eu reconheço bem, direta, nem um pouco tímida, desafiante. Eu sei, nós transamos, eu sei somos adultos e temos que agir como tais. “Bastava ignorar” eu sei disso, mas eu não consigo, por que embora eu saiba que foi apenas sexo, que não deve repetir, eu sinto que ainda há muitas outras Felicitys que eu ainda não conheci, e eu não posso deixar de me perguntar qual delas realmente é você.

— Por que você não pode aceitar que eu posso ser todas elas?- Perguntei por fim. – Ninguém é linear, constante, nem mesmo você. Eu posso ser frágil, eu posso ser forte, eu posso ser adorável e sexy. Eu não preciso seguir um padrão, seu padrão. E eu definitivamente não vou mudar por você.

—Talvez seja sua inconsistência que me deixe tão na defensiva. – Deu de ombros. – São tantas facetas que por mais que eu queria, eu não consigo realmente conhecer você. – Concluiu. – É por isso que qualquer coisa entre nós dois, mesmo apenas sexo, não daria certo.

Talvez meus pensamentos estivessem indo pelo caminho errado, mas de tudo o que ele havia dito até o momento, tudo o que vinha em minha mente, era que contrariando tudo o que eu havia pensando dele até o momento... Oliver queria me conhecer.

— Faça-me uma pergunta. – Murmurei por fim. – Você disse que eu contornava, eu não vou. – Prometi. – Seja qual for sua pergunta, dessa vez eu serei 100% sincera com você. E eu não estou lhe dando isso por que eu quero transar com você, ou qualquer outra coisa do tipo, eu quero lhe dar isso pela mesma razão que me fez me aproximar de você agora, eu não quero fugir, eu não quero rodear ou gaguejar em sua presença, eu não fiz nada de errado. Eu transei com você, você transou comigo, eu não serei julgada por você, por algo que você também participou.

— Uma pergunta. – Repetiu.

— Qualquer uma. – Assenti. – Então podemos fingir que nada disso aconteceu, e quando Thea nos empurrar um para o outro vamos dar de ombros e sorrir, comentar o quanto engraçada é a ideia de sua irmã caçula, e essa atração que existe entre nós dois? Vamos tranca-la. Então, vamos lá, sua irmã logo vai voltar, você tem pouco tempo, qual sua pergunta?

O encarei aguardando pela tal pergunta. Por fora eu estava calma, paciente, mas dentro de mim havia uma verdadeira bagunça. Eu não gostava de me desnudar, eu resistia a isso, eu não confiava muito nas pessoas desde o meu término com Cooper, o real e desastroso término, onde todos ficaram do lado dele e eu fiquei afastada da minha família, dos meus amigos e por alguns meses, de mim mesma. Tentei me concentrar no rosto a minha frente, pegar por sua expressão alguma dica do que ele diria, queria me preparar. Só que Oliver estava sério, nada dele me indicava por onde andava seus pensamentos, e meus medos se aprofundaram, quando soltou um suspiro exaustivo eu fiquei tensa.

— Eu sou um idiota. – Murmurou. – Por que você me deu algo que me ajudaria a conhecê-la um pouco mais e eu vou desperdiçar. Eu poderia fazer milhares de perguntas diferentes, mas apenas esta, que não me dirá nada de você a não ser que a resposta seja sim, a única que não saí de meus pensamentos.

Franzi o cenho diante do que disse. Eu estava mais do que confusa. Ele iria jogar sua oportunidade fora? Pelo quê?

— Qual sua pergunta?

Ele sorriu diante minha expressão de medo e confusão. E agora mais do que isso, eu estava surpresa, o que eu havia feito para ganhar isso?

Um sorriso genuíno de Oliver Queen.

Quando sua boca se abriu, as palavras que vieram a seguir tiveram o poder de trazer várias emoções, nenhuma delas que eu pudesse nomear no momento. Eu conseguia escutar minha pulsação extremamente alta, eu podia sentir minha respiração falhar, e mesmo diante seu sorriso quente, eu pude sentir frio. Ecos trazendo sua voz uma vez e outra, repetindo a pergunta uma e outra vez, fazendo com que tudo isso fosse sentindo de uma vez, uma e outra vez, de forma prolongada e apenas em poucos segundos. Segundos desde que ele havia dito:

— Você tocaria piano para mim?

Então depois do que pareceu ser um longo tempo de espera eu respondi.