Estávamos de novo no ponto onde os barcos para turistas paravam. Harry olhava para o chão, tentando dizer algo.

-Precisamos de um lugar para ficar Katy... Isso vai demorar mais do que eu pensei. - Disse, Harry levantou a cabeça triunfante.

-Vocês poderiam ficar no hotel de meu pai. - Ele olhou para o chão mais uma vez e chutou uma pedrinha. - Não sei se eles deixariam vocês ficarem de graça... Podemos falar com ele. - Harry entrou no barco e gesticulou com a mão para que viessemos. - Vamos só atravessar o rio, o hotel fica do outro lado. - Nós duas entramos e o barco partiu.

Os lugares eram menores. Só haviam duas cadeiras por fileira. E antes que Katy tivesse o infarto de ter que sentar ao lado de Harry, Eu sentei ao seu lado e Katy em uma das cadeiras da frente. (Eu poderia muito bem sentar com Katy e ele sozinho... Mas algo me fez nem pensar nesta idéia).

Ficamos calados em um silencio desconfortável. Katy ria das coisas que se passavam em minha cabeça. Meu braço estava colado com o de Harry. Maldito barco pequeno, pensava.

Pigarreei baixo.

-Conte-nos sobre a sua vida, Harry. - Disse.

-Ahn... Minha vida? Bem...Digamos que não dá uma boa biografia, mas enfim. Tenho 18 anos e me chamo Harry Courier - Ele suspirou desinteressado. - Meu pai é dono de uma rede de hotéis cinco estrelas de Veneza... E minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos.

-Sinto muito... - Disse, e suspirei desanimada.

-Oras! Eu supero... Não por completo, mas supero. Continuando... Eu odeio meu pai, então fugi de minhas tarefas como "balconista" de um dos hotéis e estou dando uma volta por Veneza com duas garotas misteriosas e loucas. Loucas por livros, mas loucas. - Nós três rimos.

Olhei para o poente que se abria no céu. Podia jurar que Katy estava invisível, eu não via mais nada, só Harry e a linda cidade ao fundo. Por um momento eu pensei nas conseqüências de ser guardiã. O povo de Prismodeux não podia ter uma família, já que eles eram totalmente dedicados á família de sua protegida. Os únicos que podiam ter filhos e se casar eram os príncipes, princesas, rainhas e reis.

O pensamento saiu de minha cabeça quando Katy me tocou.

-Você... entende? - sussurrou ela, entristecida. E eu sabia exatamente do que ela estava falando. De meus pensamentos.

Virei a cara aborrecida. Harry nos olhava confuso.

- Vamos para o Hotel de meu pai. Fica a algumas quadras daqui.

Andamos apressadamente. Viramos algumas esquinas, entramos em alguns becos... Até avistarmos uma construção medieval mas elegante. Com detalhes dourados e teto de vidro. Em letras formais estava escrito "Hotel Courier".

Um manobrista de carros acabava de voltar após estacionar o veiculo de uma mulher chique e... estranha. Casaco de couro e cachecol peludo, ao seu lado um pequeno chiuaua com roupas iguais a da madame. Ouvi alguns risos de Katy e não suportei não dar alguns também.

-E ai, Jake? - Harry cumprimentou o manobrista. -Meu pai está? - Disse Harry com um certo tom de piada.

-Essa foi boa, Harry! - Disse, entre risos Jake. Eu e Kate nos entreolhamos, mas ela me sussurrou algo como "Só consigo ler sua mente".

-As moças aqui precisam de um lugar para ficar, Jay. - Jake nos fitou pensativo.

-Hei, cara! Acho que temos um quarto... Três camas ou você vai fugir de novo?

-Como meu pai "não está" - Disse Harry, fazendo aspas no ar - Acho que irei ficar.

-Ah! Então está ok! Acompanhem-me. - Disse ele.

Enquanto seguíamos Jake, eu perguntei a Harry:

-O que quis dizer com "Meu pai está?"

-Ah! Bem... Digamos que isso é o mesmo que você chegar em um atendente de um restaurante e dizer "Hei! Quero falar com os Srs. McDonald". - Mesmo que ele falasse com humor, eu podia ver seu aborrecimento.

Me calei, não iria causar mais problemas.

Chegamos a um quarto espetacular. As paredes tinham desenhos tão delicados com detalhes de ouro. Todas as coisas eram em tons pastéis. Em uma parede haviam três grandes camas arrumadas com muitas almofadas. De um lado das camas havia uma abajour. De outro lado do quarto havia um sofá grande e macio e uma TV de 50 polegadas.

Poderia dar mais descrições se não estivesse tão cansada. Esperei Jake sair do quarto para deitar na cama.

-Isso seria engraçado se eu não estivesse com sono. - Ouvi murmúrios de Harry, depois um barulho estranho de algo recebendo uma grande quantia de peso. Ele havia se deitado.

Katy Havia trocado suas roupas, como ela já havia viajado com as permitidas. Agora vestia seu "uniforme escolar".

-Boa noite, Amy. Eu juro para você que eu irei aparecer de manhã. Nem irei para Prismodeux, para eles não me prenderem lá. - Disse Katy.

-Obrigada, KT. - Disse. e fui levada pelos meus sonhos.