Prioridades

Um Sentimento Inapropriado


Nós desde sempre perseguimos bruxas e geralmente estávamos ocupados demais para que eu pudesse prestar atenção nos meus próprios sentimentos, mas agora que estou deitada nessa cama com João, que dorme calmamente ao meu lado, não posso ignorá-los.

O que eu sinto pelo meu irmão está muito além do que eu deveria sentir, a atração que eu tenho é nítida aos meus olhos agora. Penso sobre as opções que tenho, eu poderia me aproximar mais um pouco, encostar meu corpo no seu, talvez ele sequer note...

A cada pensamento mais louca eu fico. A única coisa que eu quero fazer é me aproximar dele, tocar cada parte do meu corpo no dele e me entregar por completo. Por mais que eu tente dormir não consigo. Sempre que fecho meus olhos a imagem de nós dois transando vem na minha cabeça, eu tento reprimir, sei que é errado pensar nisso, mas nada surti efeito. Nem mesmo pensar em outros homens, quando os faço automaticamente começo a compará-los e como em um ciclo vicioso eu volto as cenas do que eu queria esquecer.
— Que está fazendo acordada, Maria? Já é tarde temos bruxas pra caçar amanhã...- diz João, enquanto ao mesmo tempo encaixa sua cabeça entre meus ombros com uma distância tão mínima dos meus lábios que a única coisa que eu consigo pensar é em quão doce seus lábios devem ser.
— João... Eu...
— Você...?- Ele ri e a minha coragem some. Não posso contar a ele, João não entenderia. Nunca seria recíproco.
— Nada, é melhor eu dormir antes que o sol nasça.
— Está sem sono?
— Sim.
— Eu posso te abraçar e te fazer cafuné, como fazia quando éramos mais novos...- ouvir aquela sugestão apenas aumentou o nível do meu conflito. Meu corpo e coração imploram pelo sim, porém minha mente diz que não, que é errado, que eu não deveria fazer aquilo. E por mais difícil que seja admitir sei que a tal não está errada em me dizer isso.
— Não vai te incomodar? - Que merda eu estou fazendo? Não deveria ter dito isso.
— Claro que não, Maria. Você é minha irmã! Eu te amo... Faria qualquer coisa por você.

Irmã, eu nunca tinha reparado no quanto essa palavra é dolorosa, não quero ser irmã dele, quero ser mais, muito mais do que só isso. Ele me abraça antes que eu diga qualquer outra coisa e nos deita.

Nos braços dele eu vivo o céu, meu coração está acelerado e cada parte que ele toca fica instantaneamente arrepiada, o que eu espero que ele não note.
— Está com frio?- Merda!
— Um pouco...- Eu não estou, nem um pouco na verdade. Meu corpo está pegando fogo pelo desejo. Os calafrios sobem e descem com frequência e o único modo de eu escondê-los é mentindo. Durante todo o tempo permaneço de olhos fechados, tentando evitar os olhos dele, mas quando os abro e o vejo me encarando não posso me conter, o beijo mesmo sabendo das consequências.

Ao contrário do que imagino João me corresponde com tanta ferocidade que uma parte minha tem certeza que eu não era única tendo desejos pecaminosos. Antes que eu possa perceber a mão dele corre por toda parte do meu corpo me acariciando com uma pegada que eu nunca tinha imaginado que ele tinha.

...

— Maria...- sussurra meu irmão ofegante assim que terminamos.
— João...- eu digo risonha, sinceramente eu quero poder sentir isso todos os dias da minha vida. Ele ser meu irmão é um mero detalhe que eu arrumarei um jeito de esquecer.
— Nós não podíamos ter feito isso.
— O quê? João...- Isso não é nem de perto o que eu esperava ouvir.
— Vai dizer que isso foi certo? Eu sou seu irmão... Nós não podemos fazer esse tipo de coisa juntos...- fala ele enquanto se levanta, se vestindo rapidamente.
— Você disse que faria qualquer coisa por mim- digo em pé, bem a sua frente, tentando fazer com que ele me encare.
— Maria, por favor não distorça o que eu disse. Eu faria qualquer coisa por você, mas isso não é bom para nenhum de nós dois. É errado, você sabe disso!- João se aproxima, mas não me agarra como eu quero que ele faça, o moreno apenas acaricia meu rosto enquanto olha fixamente nos meus olhos.
— Não é...- falo, enquanto seguro em seu braço, que continua acariciando meu rosto.
— Eu vou embora.
— O quê? Pra aonde? Por quê?
— Vou perseguir aquelas bruxas que deixamos pra trás.
— Eu vou com você.
— Não vai. Eu quero ficar sozinho... Eu preciso pensar, Maria. Eu não posso continuar aqui depois do que aconteceu.
— Eu prometo que eu não tento mais nada, só não vai embora. Eu preciso de você. Você é minha única família.
— Você não está sozinha, eu nunca te deixaria sozinha. Você tem o Edward e o Ben, eles vão cuidar bem de você!
— João, não é a mesma coisa, por favor! Perdão por eu ter te beijado, eu não devia...
— Eu vou voltar. Eu te prometo, eu só não posso estar aqui agora!
— Você promete?
— Prometo.
— Me beija.
— Maria...
— Só um beijo, é o último. Eu juro!
— Tudo bem- João se aproxima de mim lentamente e nos compartilhamos mais um beijo que por incrível que pareça é ainda melhor que o primeiro. É viciante eu quero parar, mas não consigo o que é pra ser um beijo se transforma em dois,três,quatro...
— Já chega!- Fala ele, enquanto me afasta raivoso, depois de já termos transado.
— Eu realmente preciso ir embora. Se cuida, Maria!- Fala ele enquanto se veste.
— João...
— O quê?
— A sua promessa ainda é válida?
— Claro. Eu vou voltar- dou um meio sorriso, mas a única coisa que quero realmente é chorar. Estou sozinha, sim eu tenho Edward e Ben, porém sem João é assim que eu me sinto. Meu irmão sempre foi meu porto seguro, meu amigo, minha família, meu tudo. E sem ele eu estou perdida.

Volto para a cama tentando dormir no resto de tempo que eu tenho, contudo não consigo. As lágrimas começam e nenhuma das minhas tentativas de distração funciona. Algumas horas depois Ben começa a bater a porta e mesmo sabendo do estado deplorável que devo estar vou abri-la.
— Você ainda não está pronta? ... Você esteve chorando? O que aconteceu?- Fala a segunda frase assim que vê meus olhos.

— João foi embora.
— Por que?
— Nos brigamos e ele disse que precisava pensar.
— Pra aonde ele foi?
— Foi atrás daquelas bruxas que deixamos pra trás.
— Vamos voltar então...
— Não, Ben. Ele disse que precisa de um tempo e eu...Digo nós precisamos respeitar.
— Se é o que quer.
— Vou trocar de roupa e a gente vai.
— Tem certeza que quer ir? Você não está bem... A gente pode esperar até amanhã a bruxa não sabe que estamos aqui, não tem problema esperar mais um dia.
— Eu agradeço a sua preocupação, mas ficar aqui dentro chorando o dia inteiro não é uma opção.
— Vou te esperar aqui fora então.
— Não vou demorar.- Vamos ao encontro de Edward que nos espera no bosque. Como já sabemos aonde ela está devido a busca do dia anterior, encontrá-la não é nossa maior dificuldade.

Depois de confrontar a maldita bruxa eu tento lutar com ela, mas a falta de concentração acaba comigo e se não fosse Ben e Edward eu provavelmente teria morrido. E na verdade talvez eu morra já que se não fosse Edward eu não estaria de volta a cabana deitada na minha cama mal conseguindo me mexer.
— Não ouse tentar se levantar!- Me fala Ben ao perceber minha intenção.
— Você está muito machucada. Nós vamos ficar aqui até que João volte.
— Mas e se ele demorar?
— Melhor que dá tempo de você se recuperar totalmente. - Mesmo contra vontade eu acabo aceitando se lutasse da forma que lutei hoje estaria morta em poucos dias. Menos de um mês depois eu já estou completamente recuperada e exijo que voltemos a caçar bruxas, já que João não retornará tão cedo. E como é de minha vontade isso acontece e por estar mais comprometida do que no dia do acidente não tenho mais problemas.

Pelo menos nenhum que envolva as bruxas. Passaram-se mais de cinco anos e João ainda não retornou, sinceramente nem acredito mais que um dia ele vá aparecer. Nós tivemos um filho, um menino de quatro quase cinco anos extremamente parecido com pai em tudo desde os atrativos físicos até o nome de batismo.

Nem Ben ou Edward, pareceram suspeitar de algo e se o fizeram nunca comentaram sobre isso. Seguimos com nossas vidas de caçadores e meu filho está sendo treinado desde pequeno a como lidar com bruxas.

O pequeno João está brincando com Ben do lado de fora, enquanto eu cozinho, quando eu escuto uma voz que não ouço há anos. Ao sair da casa posso então vê-lo, nada parece ter mudado. João parece o mesmo.

Do seu lado está uma mulher alta e morena que sorri enquanto João conversa com meu filho.

— João?- Tanto meu filho, quanto meu irmão me olham sem saber qual deles eu estava chamando.
— Maria...- Meu irmão me abraça forte e eu soube na hora que meus sentimentos por ele ainda estavam ali apesar de todo o tempo.
— Irmã, essa é minha namorada Gabrielle.
— Prazer - falo enquanto a cumprimento com falsa educação.
— Vocês não me apresentaram esse menininho? É seu filho, Ben?
— É meu.
— Então, quer dizer que você é meu sobrinho? É um prazer te conhecer...

—Desculpe, mas você já me disse seu nome?
— João.
— É o meu também não vou mais esquecer. Quantos anos tem?
— Quatro, mas faço cinco logo, logo.
— Quatro. Que legal!- Falou, enquanto parecia somar as datas em sua cabeça, não demorou muito para que ele deixasse Gabrielle com Ben e me seguisse até a cozinha.
— Maria, quem é o pai desse menino?
— Você já sabe a resposta...
— Não pode ser, foi só uma vez...
— Nunca fiquei com nenhum outro homem, João. Acredite quando digo isso.
— Por que não me disse?
— Porque você foi embora sem deixar rastros. Eu não sabia onde poderia te encontrar.
— Por favor, Maria. Você sabe muito bem que poderia me encontrar no momento que pretendesse.
— Realmente eu poderia, mas não o fiz. Sabe porquê? Porque foi você quem me deixou sozinha por ter medo demais dos seus próprios sentimentos.
— Eu não tinha...
— Por favor, João sem mentiras dessa vez.
— O que faremos a respeito?
— A respeito do que?
— Do João. Como fica essa história?
— Por mim nada vai mudar. Você é tio dele nada mais.
— Você pode até fingir que não tem nada de diferente, mas eu não consigo. Como vou deixar esse menino sem um pai?
— Ele tem um pai. Dois. Na verdade, Ben e Edward tem feito um ótimo trabalho. Ele não precisa de você.
— Maria...
— Maria, o caramba! Foi você quem foi embora, não eu!
— Você não tinha o direito de esconder isso de mim!
— Concordo, mas você também não tinha o direito de ir embora!
— Eu e Gabrielle vamos ficar.
— Vocês não são bem vindos aqui.
— Meu filho precisa de mim e eu vou estar aqui por ele.
— Faça o que bem entender, mas não espere que eu te trate bem.
Os dias passam e aparentemente João não tem a intenção de ir embora. Ele e Gabrielle se instalaram na minha casa, e passaram a trabalhar conosco em nossas caças, desde o início minha relação com João se tornou complicada. Não gostava de vê-lo aos beijos com Gabrielle, contudo o que mais incomoda é sua facilidade em fingir que nada havia acontecido, que eu não era nada mais que uma irmã pra ele.

Fui tão fria quanto pude com os dois, tentando inutilmente fazer com que João desistisse da ideia de ser pai, entretanto por mais mal que eu os tratasse mais João parecia interessado no filho e apesar de não querer sua presença por perto, seu interesse me encantava, me dava a impressão de que talvez, apenas talvez, o irmão que me abandonou a cinco anos atrás ainda existisse.
— Sabe, João, quando eu era criança eu e sua mãe brincávamos o tempo todo de nos embrenhar na floresta.- Fala meu irmão a meu filho quando pensa que eu não estou ouvindo.
— Eu sei, foi assim que se tornaram caçadores de bruxa,né? Mamãe me contou sobre isso.
— O que mais sua mãe te disse?
— Já ouvi todo o tipo de histórias sobre as caças de vocês.
— Ela me odeia, não é?
— Mamãe odeia bruxas, não você, tio.
— É uma boa resposta, mas você não precisa mentir pra mim.
— Não estou mentindo. A única pessoa que ela não gosta aqui é a Gabrielle, e pra falar a verdade, tio eu também não gosto.
— Então, acho que é uma boa notícia a que eu tenho pra dar. Gabrielle vai embora.
— O quê?- Me intrometo no meio da conversa, não queria ter que confessar que estive escutando suas palavras por todo esse tempo, porém a surpresa da notícia foi tanto que simplesmente não consegui me manter calada.
— Maria, eu já ia conversar com você sobre isso.
— Filho, será que você podia ir brincar no seu quarto por enquanto. Preciso conversar com seu tio.- O menino assentiu e foi para o quarto, nervoso e receoso, ele é esperto sabe que há algo de errado ali.
— O QUE SIGNIFICA ISSO, JOÃO? O QUE VOCÊ PRETENDE?
— Não significa nada. Eu e Gabrielle conversamos e percebemos que não nos gostamos o suficiente para manter um relacionamento.
— Vocês decidiram? Ou foi só você?
— Principalmente eu. Não dava pra continuar mentindo.
— Quem está mentindo aqui?
— Você pediu a dias atrás pra que eu fosse sincero, e é isso que eu estou tentando fazer.
— Você acha que é fácil, não é? Voltar, e assumir seu papel como se nada tivesse acontecido, mas saiba que esse não é o seu lugar, você não pertence aqui.
— Pertenço sim e você sabe disso- fala ele se aproximando com tanta rapidez que eu simplesmente não sei o que fazer.
— Nós não podemos mais fazer isso.
— Não? Por que?
— Por que? Posso numerá-los agora mesmo, em primeiro lugar eu me ofereci a você, mas o que você fez agiu como um menino assustado, fugiu, me deixou sozinha por cinco anos sem mandar sequer uma carta. Segundo somos irmãos, isso não deveria estar acontecendo para princípio de conversa, provavelmente nos matariam ao invés das bruxas. Terceiro, posso saber como você pretende contar a Ben e Edward quanto a isso? E o quarto e também o mais importante, João é só uma criança, não deve e não merece crescer com o fardo de ser fruto de um pecado.
— Eu te amo, Maria! Agora sei disso.
— Eu sei, João e não é que eu não te ame, porque eu te amo, João. Te amo demais, mas isso não pode acontecer. Meu filho é minha prioridade agora, se você tivesse agido de modo diferente há cinco anos trás as coisas teriam sido diferentes.
— Eu sei, fui um covarde assumo a responsabilidade, mas eu só quero estar com você. Dar uma família ao nosso filho.
— Você pode estar comigo, só não pode ficar comigo. Daqui em diante a única coisa que podemos ser é irmãos por mais difícil que isso seja para nós dois.
— Eu te amo, Maria, de verdade. Preciso que saiba disso...- João fala e em sequência me beija. Correspondo loucamente sabendo que essa será a última vez, vi em seus olhos a compreensão dos meus medos e receios, por mais agradável que seja ser sua mulher, isso não é algo que poderá durar...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.