A noite a partir desse primeiro instante correu bem. Quando terminamos de comer, ele se ajoelhou e me pediu em casamento. Eu obviamente aceitei e demos um selinho. Não sei por que, mas isso foi estranho.

Depois disso decidimos sair para algum lugar “comemorar” o final feliz do casal. Na verdade, nossos pais só queriam que ficássemos sozinhos para nos conhecermos melhor.

Fomos para uma casa da família de Miguel, sentamos em um banco no jardim e um silêncio se instalou. Depois de um longo tempo ele decidiu começar a falar:

–As únicas coisas que eu sei sobre você é que você tem 15 anos e eu achei que você fosse feia. Então porque não me conta sobre você?

–Eu tenho 16 e obrigada pela informação, ganhei meu dia. – Disse sarcasticamente.

–Não, desculpe você entendeu errado. Eu quis dizer que eu estava enganado. –Ele coçou a nuca. –Te achei linda. Agora me fale sobre você. Não quero me casar com alguém que não sei nada. Eu ouvi a minha vida toda que me casaria com você quando chegasse a hora, mas eu só sei sobre seu pai, a empresa dele e o quanto isso vai ajudar ambos no futuro.

–Eu também não ouvi muito sobre você. Eu só sei que você tem 19 anos e é com quem eu devo me casar, tento entender o propósito disso desde os dois anos. Não existe um contrato pra isso.

–Existe. Divisão igualitária de bens. Com isso, se nos separarmos os dois ficam com cinquenta por cento das duas empresas. Agora pare de me enrolar!

–Vai me dizer que você é a favor disso? Esse casamento arranjado com pessoas que nem se conhecem. Parece que voltamos à era medieval onde as princesas eram prometidas em casamento

–Mas tecnicamente você é uma princesa. Você veio ao mundo para herdar o reino industrial. Esse foi seu propósito. É tudo uma questão de sangue. E a realeza não deve se misturar com os plebeus. Pelo menos de acordo com a crença deles. A única coisa que não sou a favor nesse negocio é casar com alguém que não conhecemos. Se tivéssemos crescido juntos, seria outra historia.

Assenti e um silêncio quase palpável se instalou no ar por um longo tempo, até que eu decidi falar:

–Meu nome é Milena Marie. Tenho 16 anos. Gosto de fotografia e musica, mas não sei tocar nenhum instrumento. Leio bastante no meu pouco tempo que tenho livre. Ah... Terminei com meu namorado hoje, para que você corno. Achava que você ia me livrar dessa. Odeio academia, mas gosto de esportes de quadra, menos futebol. Minha matéria preferida é biologia.

–Meu nome é Miguel. Tenho 19 anos. Toco guitarra e tenho uma banda. Gosto de ficção. Nunca namorei sério por sua causa e admiro sua sinceridade. Achei que você quisesse isso. Ando de moto e minha matéria preferida é história.

–Você é o sonho de consumo de qualquer menina. – Disse com um sorriso brincalhão.

–O seu também, eu suponho.

–Talvez... Metido! –E dei um tapa em seu ombro. Ele sorriu.

–Eu sou o que? – Ele começou a fazer cócegas- Repita. – Eu não parava de rir. –Vamos, repita. –Dizia brincalhão.

–Paraa... Por...Favor... –Pedia sem fôlego.

Ele parou e me olhou. Um olhar profundo e hipnótico. Fomos nos aproximando cada vez mais e do nada chega um dos empregados com duas caixas na mão. Miguel pega a menor e me entrega meio sem jeito.

–Presentes de noivado, seus pais já sabem. – Abri lentamente a caixinha e vi uma chave.

–O que é isso? – Olhei para ele com a chave na mão.

–Presente dos meus pais. Essa casa. Agora é só nossa. – Sorri meio torto. Aquela situação era estranha. Eu dividia uma casa com um quase estranho. – Ainda faltam dois anos para o casamento, mas teremos que nos ver todos os finais de semana até lá, regras de contrato.

–Muito obrigada, nem sei o que dizer. – disse olhando para baixo.

–Mas esse você vai saber. Agora que tem uma casa, já tem onde guardar. Esse é meu. – Disse me entregando uma caixa bem maior e pesada. – Abra rápido.

Abri a caixa devagar e quase não acreditei no que vi. Um filhote de huski siberiano pulou no meu colo e me lambeu. Eu sempre quis um cachorro.

–É lindo, obrigada. Eu sempre pedi um desses. Como eu te agradeço?

–Não precisa. Quero ver quem quer que esteja comigo feliz.