Presente de Natal

Capítulo Único


Esperava em frente à saída do cinema. O clima gelado de um final de tarde de dezembro o fazia repensar se foi uma boa ideia sair de casa. Havia gostado do filme e a companhia não era das piores, porém poderia ter ficado no aconchego de seu apartamento e aproveitado da mesma companhia com qualquer outro filme em streaming.

Queria ter um dia especial, mas não parava que poderia ter outros planos que não incluía sentir frio esperando outra pessoa enrolada. Em sua cabeça apenas pensava como alguém poderia demorar tanto em um banheiro.

Observava as pessoas que chegavam e saiam, sempre em casais. Não muito distante, alguns até trocavam presentes. Era aquela época do ano novamente, a semana do Natal. Não que achasse ruim toda aquela comoção que a data trazia, ele mesmo estava em um “suposto” encontro. Nem era por conta de nervosismo, afinal não era a primeira vez, mas nada o impedia de ficar inquieto ou até meio abalado.

Antes mesmo de pensar em comemorar o natal havia outra data muito significante para si, seu aniversário. Não era algo que lhe trazia boas lembranças, nem ansiava pela data. Apenas queria enterrar recordações ruins com novas realmente boas. Algo que tornava qualquer passeio digno de um elaborado cronograma.

— Mas talvez uma programação com um filme em casa e coberta não fosse tão ruim... – murmurou, suspirando logo em seguida.

— Que cara é essa? – assustou-se, sendo retirado de seus devaneios. – Não posso te deixar sozinho por alguns minutos que já faz cara de choro? – indagou em tom de deboche.

— Quer saber a verdade? Vindo de você, não seria surpresa piadas de mau gosto assim.

— Assim você me ofende. – levou uma das mãos a cintura, fazendo pose de como tivesse realmente se ofendido. – Vamos Marik, melhora essa cara. Eu ainda não fugi.

— Muito engraçado, Bakura, muito engraçado.

— Ok... você está se sentindo bem? – estava realmente preocupado com o loiro. – Não gostou do filme? Quer voltar pra casa? – franziu o cenho. – Sua irmã te falou alguma coisa nesse meio tempo?

— Hã? Não. – pausou – O que minha irmã tem a ver? – indagou desconfiado.

— Tudo bem... – suspirou. – Pra onde quer ir então?

— Primeiro você vai me responder o que minha irmã tem a ver. – insistiu.

Antes de dizer algo, Bakura bufou, depois respirou fundo, escolhendo as melhores palavras possíveis.

— Você não notou mesmo? Sua irmã nos stalkeando desde que fui te encontrar.

— O que? – Marik não escondeu a surpresa.

— Até mesmo na sala de cinema. – pontuou. - Ela sentou bem atrás da gente como se ninguém fosse notar. – prosseguiu percebendo que o outro estava realmente em outra realidade para não ter notado nada. – É sério?

— Acho... Que ontem devo tê-la preocupado demais. – confessou, observando que o albino esperava uma explicação melhor. – Ishizu queria comemorar meu aniversário, mas eu não tava muito no clima. – complementou abraçando o próprio corpo.

Bakura logo entendeu o problema ali. Por mais que já tivesse passado quase cinco anos desde a “Batalha da Cidade” e tudo que custou a liberdade de Marik, os fantasmas daqueles dias ainda atormentavam. O próprio albino também tinha seus traumas para enfrentar.

Cada um dos envolvidos nos acontecimentos, tinham seguido em frente com suas vidas. E ambos também tinham decidido recomeçar, já que lhes foi permitido uma segunda chance.

Ishizu estava grata por ter conseguido resgatar seu irmãozinho e se tornado ainda mais protetora. Não aguentaria vê-lo sofrer ainda mais. Mesmo sendo relutante em voltar a viver em Dominó, acabou por ceder, acreditando que apenas ir esporadicamente a sua terra Natal fosse o suficiente e mais saudável.

Bakura, por outro lado, não entendia como o próprio havia sido perdoado depois de tudo que causou. Muito menos de como foi acabar se envolvendo tanto com Marik. Talvez duas almas machucadas possam se curar juntas, pensava.

— Foi no meu aniversário que ganhei essas cicatrizes… E que também vi o sol pela primeira vez… - Marik puxava as lembranças mais dolorosas e era visível seu desconforto.

— Então o que quer fazer agora? - Bakura queria cortar aquela conversa. - Desculpe, mas não quero falar sobre isso e sinto que nem você. - prosseguiu. - Sei que não devo comparar minhas dores com a suas, mas é pra isso que continuamos dia após dia, não é?

— Você… Tá tentando ser atencioso? Isso sim é uma surpresa.

— Ca… Cala a boca. - foi perceptível o albino corando e isso finalmente conseguiu arrancar um riso do outro. – Em todo caso. – buscou retomar a postura. – Não foi só encontra sua irmã que me atrasou, fui retirar uma encomenda em uma loja. – retirou uma pequena caixa do bolso e entregou a Marik. – Fica como presente de aniversário e natal.

— Você... Comprou isso legalmente, não é? – indagou desconfiado ao abrir a caixinha e encontrar um par de brincos aparentemente de ouro.

— É claro que paguei por isso! – respondeu ofendido. – Eu estou me mantendo na linha.

— Obrigado Bakura. – agradeceu sorrindo. – Então vou cuidar como um tesouro.

— Também não é pra tanto. – desviou o olhar para disfarçar o rubor voltando para seu rosto.

— Ei Bakura. – chamou – Minha irmã ainda ta nos vigiando, não é?

— E ainda tem dúvida? – respondeu olhando sobre o ombro.

— Hm... – deixou escapar entre um sorriso. – Vem aqui. – puxou o albino para si, buscando iniciar um beijo.

Rapidamente foi correspondido, sendo captado a ideia de provocação. Bakura quis aproveitar a iniciativa do outro para realmente constranger Ishizu e, talvez assim, ela deixar de segui-los.

— E depois eu que fico com a fama de terrível. – sussurrou na orelha de Marik antes de se afastar e buscar pela reação de sua staker.

Marik também buscou pela reação de sua irmã, sorrindo ao ter certeza que tinha visto tudo.

— Ishizu! – chamou alto. – Estou indo passar a noite na casa do Bakura. Então feliz natal!

Bakura pensou por um momento em “Como assim se auto convida dessa forma?”, mas no final apenas riu acenando negativamente com a cabeça. Não dava pra ir contra aquela espontaneidade de Marik.

— Vamos logo antes que ela se recupere do choque e tente me convencer do contrário. – disse puxando o albino pelo braço.

— Sabe que depois vai sobrar pra mim a fúria de sua irmã, não é? – o recordar se deixando ser levado.

— Hmm... Então você aproveitar que hoje estou lhe dando todas as cartas.

Bakura apenas sorriu indecentemente, tomando a frente do outro para guia-lo

— Então tomarei a frente antes que certo alguém recupere o juízo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.