Sebastian Rodrigues, supervisor da Companhia de Proteção Ambiental, não conseguia acreditar na informação dada por seu subordinado Anthony Morrison. Suava profusamente e não era porque faltava ventilação em seu gabinete. Pelo contrário o ambiente era perfeitamente climatizado.

O suor em excesso se devia ao seu estado de nervosismo. Afrouxou um pouco o nó da gravata preta, a qual complementava sua vestimenta de típico homem de escritório. Usava uma camisa branca, uma calça preta e um sapato mocassim também preto, além de um cinto.

Como podia acreditar naquele disparate? Principalmente quando a pessoa a qual lhe passou a informação era conhecida por suas brincadeiras e trotes? Onde já se viu encontrar um corpo em meio ao Lago Mead? Em seus trinta anos de trabalho – e cinquenta de idade – nunca ouvira falar em uma baboseira como aquela. Devia ser brincadeira. E uma de muito mau gosto.

Recostado em sua poltrona preferida – uma velha poltrona de couro preta que sustentava com perfeição seu corpo obeso, resultado de vinte maravilhosos anos de casamento – atrás da mesa de seu elegante e diminuto escritório, Sebastian batia a ponta de seu lápis de escrever, o qual usava para fazer algumas anotações, diversas vezes contra a mesa, sinal inequívoco de sua inquietação, tentava decidir se ligava ou não para a polícia e reportava o referido achado.

― Ao inferno! – praguejou ele em voz alta sem se importar se alguém o ouvia.

Odiava sentir-se daquela maneira, indeciso. Faria a ligação. Estava decidido. Se fosse uma brincadeira de Tonny, ele que arcasse com as consequências de seus atos.

Tirou o telefone fixo do gancho, discou o conhecido número da polícia. Depois de três toques que lhe pareceram eternos, escutou a atendente dizer com voz monótona:

― Polícia de Las Vegas, em que posso ajudar?

Ao ouvir aquela voz fastidiosa, Sebastian teve certeza de que a noite para aquela garota não estava nada animada. Isso porque ela não fazia ideia da bomba que ele iria lançar naquele momento. Ele suspirou profundamente antes de relatar o que precisava, por fim se viu dizendo:

―Gostaria de reportar o achado de um corpo no Lago Mead. Meu funcionário estava fazendo a patrulha na região e o achou – ele explicou quase sem respirar.

Passou o endereço de onde Tonny se encontrava. Estava feito! Agora bastava esperar para saber se se tratava de uma brincadeira ou se era verdade. Qualquer que fosse o resultado, ele tinha certeza de que logo teria conhecimento.

*****

James Brass, capitão da Polícia de Las Vegas, mais conhecido por Jim – seus amigos lhe chamavam assim – homem de estatura baixa, calvo, de rosto rechonchudo, tinha cara de poucos amigos, porém aqueles que o conheciam verdadeiramente sabia que se tratava apenas de pura fachada.

Chegou ao local indicado juntamente com sua equipe. Ao avistar o que sobrou do corpo, sentiu seu estômago revirar, ainda que estivesse acostumado com aquele tipo de cena – já vira de quase tudo em seus vastos anos de trabalho – entretanto aquilo era demais. Arrependeu-se de ter tomado seu café da manhã antes de ir aquela cena de crime. Corria o risco de pôr tudo para fora e seria um imenso desperdício.

Pegou seu telefone celular do bolso, uso o recurso de discagem automática e esperou que a ligação fosse completada e que a pessoa que lhe interessava atendesse a chamada.

― Grissom – ele ouviu a apresentação do outro lado da linha. Era exatamente a pessoa com quem ele queria falar.

― Tenho um caso que você vai gostar – ele comunicou e passou os detalhes ao supervisor do turno noturno do Laboratório de Criminalística de Las Vegas. Assim que concluiu, desligou o aparelho.