– Vocês já sabem quando contarão a suas famílias? – Paul pergunta

– Prefiro que os meus pais e os da Helen só fiquem sabendo disso daqui um tempo. – Charlie responde

– Vocês sabem que levarão uma bronca deles não é? – o policial pergunta

–Yes. – o jovem e sua namorada respondem ao mesmo tempo

– Gente, mas por que vocês não aproveitam que estão aqui em Paris e não dão a noticia? Assim eles vão ter mais tempo pra pensar e não se preocuparem tanto. – Nicholas diz

– É verdade. – Helen diz

– De jeito nenhum, ligação internacional é cara e eles vão dar bronca do mesmo jeito. – Charlie diz

– Amor, dinheiro não é problema para mim e bronca você sabe que é melhor pelo telefone do que pessoalmente, que você acontecer outras coisas. – a jovem diz

– Não Helen, isso não vai ser legal.

– Bem, se você não for contar eu conto, eu sou a mãe.

– E eu o pai.

– Vamos ver quem ganha então, o Nicholas mesmo q deu a ideia então é favor e você Paul?

– Também acho que o correto seria contar agora, seria mais honesto. – ele responde

– Viu? Está decidido, nós vamos contar. Eu pros meus pais e você pros seus.

– Eu não vou contar nada.

– Claro que vai.

– Já disse, não vou.

– Se você não contar eu conto, já vi que coragem você tem de sobra. – ela o ironiza

– Gente, se vocês vão ter uma DR vão pro quarto de vocês, ninguém aqui precisa ouvir discussão de vocês. – Nicholas fala sendo curto e grosso

– Tá certo. – Helen diz

Os dois sobem o elevador e vão até o quarto.

– Se você pensa que vai me fazer desistir está muito enganado. – Helen diz

– Como assim? Você sabe ler pensamentos agora?

– Grosso, onde eu tava com a cabeça quando te chamei pra transar naquela noite.

– Vai me dizer que não foi bom?

– Foi, mas não só quando eu te chamei pra transar quando também aceitei seu pedido de namoro.

– Nossa, obrigado hem. – Charlie diz, magoado

Helen começa a pegar suas coisas.

– O que você está fazendo? – Charlie pergunta

– Arrumando minhas coisas vou pra outro quarto, ou melhor pra outro hotel que eu achei que tinha um homem mas só achei um cara que acha que é.

– Amor, seus pais tudo bem, eles são mais de boas, os meus são quanto ao nosso namoro mas quando souberem que você está gravida, ai complica.

– Uma hora ou outra saberão Charlie.

– Isso é verdade, mas está bem, pode falar pros seus pais, mas nada de querer sair deste quarto, me desculpe por não querer contar pros meus pais é que me preocupo muito com a reação deles e por ter sido grosso contigo.

– Eu te entendo, e me desculpe também por ter falado aquilo.

E os dois fazem as pazes com um beijo, Helen começa a tirar a roupa e Charlie faz o mesmo, eles transam. Enquanto isso, Paul e Nicholas conversam.

– Que situação a deles. – Paul diz

– Pois é, inda bem que na nossa época não tinha essas coisas. – Nicholas diz

– Vai me dizer que na idade deles você ainda era virgem?

– Era.

– Caramba, não sei como você conseguiu, a primeira vez que eu transei foi com quinze anos.

– Era 1979 você transou, meus parabéns cara, nessa época as namoradas que eu tive até mesmo pra beijar tinha que as irmãs e os irmãos delas segurarem vela.

– Que sorte que eu tive de não passar por isso.

– Estou achando estranho o Charlie e a Helen não terem descido ainda, será que se reconciliaram?

– Devem sim, e já até imagino o que esta rolando.

– Pura verdade.

– Tá sabendo que hoje vai ter uma apresentação de balé?

– Estou.

– A Alejandra vai estar lá.

– Eu não vou lá não, ela não quer nos ver e ainda disse que se ela vai morrer que morra, por mim ela se fode, nós oferecemos ajuda ela não aceitou.

– Se você não vai eu vou e vou chamar o Charlie e a Helen, tenho certeza de que eles vão querer ir.

– É bom que sobra tempo pra eu e a Alice namorarmos.

Passase um bom tempo e Charlie e Helen descem o elevador e se encontram com Paul e Nicholas.

– Pelo tempo que passou já imaginamos o que fizeram. – Paul diz

– Foi difícil resistir, mas não acontece nada com o bebê que ela está acontecendo por causa da transa não né? – Charlie pergunta.

– Não. – Nicholas e Paul respondem.

Enquanto isso Alejandra se arrumava em sua casa para a apresentação de balé, ela estava triste, mas por outro lado não podia perder a oportunidade de sua vida por causa da morte do seu amor. Ao sair de casa se depara com um carro passando com uma faixa escrita ''Aproveite sua vida ao máximo, a qualquer momento você pode morrer''. Ela decide seguir o que na faixa está escrito, pega um taxi que passou e vai rumo ao teatro.

***

Alejandra estava em seu camarim séria. Ela se olhou no espelho por um longo tempo, observando as olheiras. Havia pouco tempo que ela perdeu Christopher, mas ela reparou em como as suas olheiras ficaram ainda piores. Ela não sabia mais o que era uma vida solitária, e estava com um imenso buraco no seu peito, lugar que pertenceu ao boxeador.

Alejandra respira fundo e abre uma das gavetas de sua penteadeira. De lá, ela retira um pote com pó branco, com qual ela preenche o seu rosto. Ela estava em luto e, queria destaca-lo. Foi quando ela percebeu uma pequena falha de luz e as lâmpadas de seu espelho piscaram algumas vezes e depois se cessaram.

Ela olha ao redor e senti um vento soprar próximo de seu ouvido.

– Christopher... – o vento passa por todo o quarto. Ela o acompanha com os olhos e vê quando ele passa por alguns vestidos e um buque que ganhara mais cedo de um fã. O buque começou a caminhar e encostou em um porta-retratos que caiu com a face para baixo.

Alejandra se aproximou do objeto e viu que era uma foto sua com Christopher. Eles estavam no ginásio e ele a abraçava suado. Ela estava sorrindo, mas com as duas mãos estavam empurrando-o para lado e virava o pescoço para o lado fugindo de um dos seus beijos. Ela se lembrava daquela foto e deixou uma lágrima cai contra si, na foto.

Ela abraçou a foto e respirou fundo para parar o choro.

– Ale, a apresentação vai começar em vinte minutos... – Alejandra se virou e ele se calou por um momento. – Estou de luto pela minha arte, Ray-Ray.

– Entendo... Se quiser, eu posso te ajudar com o seu rosto.

– Obrigada. – Alejandra tenta dá um sorriso, mas não consegue.

Raymon se aproxima da jovem e a puxa para a sua cadeira. Ele a vira para frente do espelho e com as duas mãos, segura o rosto da jovem para enquadra-lo. Ele olhou para ela, depois voltou-se para o espelho abaixando-se para se vê no espelho olhando a ela.

– Você vai parecer um cisne negro!

***

Nicholas e Alice passeavam pelas ruas de Paris, enquanto ele falava um pouco do seu trabalho e como estava cansado. Ela, por sua vez, ficava atenta a todos os lados. Paris era uma cidade bonita e ela, como uma jovem norte-americana, gostava de aprecia-la.

– Nick, veja! – Alice correu na frente do rapaz e subiu no meio fio, se equilibrando. Ela começou a dá pequenos passos na ponta dos pés e abriu bem os braços. Alice parecia uma bela bailarina. – Eu estou voando! – ela ri.

Nicholas acompanha a moça e fica lado a lado, para ela ter algum apoio e não cair.

Ele olhou para Alice e viu como ela parecia estar se divertindo enquanto olhava para o meio fio com receio de virar um pé ou cair, sempre balançando os braços quando dava um passo em falso.

Os dois continuaram a andar e ela falou:

– Sabe... Um sonho meu sempre foi morar em Paris. – Nicholas ergueu a cabeça e olhou para ela. Alice falava sem olhar nos seus olhos, estava atenta ao seu exercício. – Quando mais nova, eu pedi aos meus pais para vim estudar fora. Entretanto, não somos uma família comum se não percebeu. – Nicholas se lembra que ela tinha outros seis irmãos e irmãs. – Eles não tinham condições financeiras para me pagar um intercâmbio, mas não foi por causa de falta de dinheiro que eles desistiram de mim. – ela pareceu sorrir e olhou para o céu. Era uma noite sem estrelas, parecia que ia chover a qualquer hora. – No meu decimo sétimo aniversário, eles me levaram para um terreno baldio onde eles disseram que tinha uma surpresa para mim.

Alice parou de caminhar por um momento e segurou a mão de Nicholas mais forte e se segurou para não chorar.

– Lá, no alto do morro, meus pais tinham colocado uma banheira que acharam no próprio terreno em cima de dois banquinhos e pintaram para parecer um barquinho. Eles me disseram que eu ia ter um passeio de gondola. Como era pequeno, aquilo parecia ser fantástico. Eu teria uma verdadeira experiência francesa. – Alice voltou a caminhar e soltou um risinho – Quando subi na banheira, lá estava o Matthew. Ele vestia uma blusa listrada e uma calça branca, e me entregou um guarda-chuva florido. Ele seria meu gondoleiro. Foi quando ele tentou ser mais realista e pegou um remo e começou a fazer o barco tremer demais. Ainda rimos disso quando comentamos um com o outro no telefone.

Nicholas estava interessado na história. Ela nunca havia contado aquilo para nenhum outro amigo, apenas seus pais e irmãos sabiam.

– Ele mexeu tanto que a banheira tombou e o barco desceu o morro de terra. Ele correu muito e quase atropelamos diversos garotos que jogavam bola no campinho. Assustamos galinhas e amedrontamos cachorros. Foi muito divertido. Porém, nós só paramos quando batemos em uma pedra e voamos pelo ar. – Nicholas se conteve para continuar prestando atenção. Pela sua expressão, ela ainda não havia terminado. – Eu tinha caído em cima de uma poça de lama, mas meu irmão não teve a mesma “sorte” que eu. Ele bateu a testa em uma pedra e eu pensei que ele fosse morrer. – Alice começou a chorar e segurou as duas mãos de Nicholas. Ela saltou do meio-fio para calçada e ficou frente-a-frente ao rapaz. – Nick, eu pensei que ele fosse morrer. Por favor, tente não morrer... Eu... Eu...

Nicholas abraçou forte a garota e ela arregalou os olhos. Foi um ato impensável e ela deixou sua visão embaçar quando algumas lágrimas escorreram. Ela repetiu a ação de Nicholas e apoiou a cabeça contra o ombro do rapaz.

– Eu não vou te deixar. Eu prometo!

Um vento forte soprou e conseguiu levantar os cabelos de Alice. Ela viu quando seu cachecol voou para longe e desapareceu no horizonte. Quando ela olha para o chão, vê quando um pequeno panfleto pousa em seu pé. Ele falava sobre uma apresentação de balé que ia acontecer ali, porém o retrato da moça da foto parecia distorcido. Ela estava com os olhos vermelhos e o panfleto estava um pouco molhado.

– Oh, uma peça! – Alice pega o papel enquanto arruma o cabelo – Que tal?

Nicholas a olhou assustado.

– Você não entendeu?

– O quê? – disse ela, ingênua.

– É um sinal! Vamos! – Nicholas começa a correr e Alice tenta acompanha-lo.

***

– Alo! – diz Paul. Ele estava deitado de bruços em sua cama, frente a um notebook. Ele usava apenas um shorts de dormir.

– Paul, é urgente! – era Nicholas.

Paul se revira na cama e levanta a cabeça para acima da tela do notebook para vê um relógio que estava pregado em sua parede.

–Agora? Não está um pouco tarde para ligar não?

– Eu vi um sinal. Alguém vai morrer essa noite...

Paul estava com a página criminalista e falava abertamente com Grace, foi quando ela mandou um emoticon semelhante a uma bailarina de porcelana, que rodopiava no próprio eixo. Ela tinha o corpo pálido e em sua face, tudo que podia vê era a sua boca vermelha.

– Alejandra... Oh, não! – Paul se levantou da cama e se virou para as janelas, procurando alguma pista do alto do seu apartamento – Onde você está agora, cara?

– Eu estou em Malais, próximo ao rio Senna. Estou com a Alice.

– Certo... – ele deu uma pausa e voltou para o seu notebook – Você tem alguma pista de onde ela poderia está agora? Um teatro? Ela tem apresentação hoje não é?

– Sim. Ela se apresentará no Theatre Saints Lebecque.

– Vocês são os mais próximos dela, vão até lá e tentem contatá-la. Não podemos deixar que mais ninguém morra. – Paul sente um calafrio. Ele ainda tinha em sua tela a imagem da bailarina dançando.

– Cara, eu não posso. – Paul se lembra do ultimo dia em que eles estiveram no apartamento do boxeador – Eu compreendo o seu receio para tentar dialogar com a moça novamente, mas não seria correto deixa-la para morrer. Ela vai ter que entender o seu ponto de vista... Só não exagere, por favor.

Nicholas desliga o celular e deixa Paul em sua cama, aflito. Ele dá um tchau para Grace e volta para o seu guarda-roupa. Ele precisava se vestir o mais rápido que pudesse.

***

Alejandra estava sentada em sua cadeira com as mãos sobre o colo. Ela tinha a expressão firme e a cabeça levantada admirando-se. Seu amigo havia se superado. Seus olhos e sobrancelhas eram ligados por uma grande linha preta que ia até próxima a orelha dando uma volta. Seu rosto era marcado pelo puro branco, como a neve, e seus cílios estavam esticados. Parecia um cisne, graciosa e seria.

– Raymon, você se superou! – ela disse sem demonstra qualquer afeto.

– Obrigado, querida! – ele coloca uma mão em seu ombro – Sabe que ele ficaria orgulhoso se você fosse fazer o show agora e o fizesse como se fosse o último da sua vida.

– Sim... Ele gostava... De dançar...

– Quer um conselho meu? Não fique pensando nele agora, só irá te fazer sofrer. Pense nele enquanto dança. Ofereça-o a ultima dança que não pôde. – ela se lembra do dia em que ele foi a sua casa – Eu sei que você consegue, basta crer apenas em si mesma, porque graça e pratica você já tem. Precisa apenas mais de disciplina, você me parece estar muito rígida.

– Você tem... Razão?!

– Claro que tenho meu bem. – ele se abaixou para olhar ela na frente dos olhos – Se esqueceu de que sou o maquiador das estrelas?

– Ai, Raymon...

***

Uma pequena caminhonete estacionou atrás do teatro e dois homens saíram do veiculo.

O primeiro rapaz era asiático. Tinha os olhos puxados, escondidos atrás de grandes óculos de lentes redondas, e o cabelo tijelinha. Enquanto seu amigo negro, tinha os olhos castanhos e os cabelos encaracolados. Ambos usavam o uniforme da empresa, que era um macacão e um crachá. Eram eles, James e Jeffrey, respectivamente.

Jeffrey pega sua maleta de ferramentas abaixo do banco e entra na edificação após James. Eles caminham por um extenso corredor e se encontram com uma pequena bailarina de coque e uma blusa jeans para se cobrir do frio. Ela estava com os braços cruzados e tremia.

– Mocinha, poderia nos dá uma informação?

– Pois não? – ela se virou e levantou a cabeça afirmativamente.

– Você poderia nos dizer por onde começamos o nosso trabalho? Ligaram para a central pedindo dois encanadores para consertar um vazamento de água... Estou certo?

– Vazamento de água... Ah sim, você deve estar falando do bebedouro no segundo piso. É por aqui. – a jovem bailarina vai na frente guiando os dois rapazes.

***

Paul estava em frente ao seu guarda-roupa passando uma das pernas por uma das partes da calça, quando ele se olhou no espelho, deparou-se com uma pequena sombra no chão atrás de si. Não tinha como aquilo está acontecendo, o rapaz estava em frente a uma lâmpada de teto, e a sua sombra ficava em sua frente.

Quando ele se virou, deparou-se com a janela aberta.

Terminando de colocar as calças, ele fica de frente para a janela e olha para baixo do seu apartamento. Havia uma loja do outro lado da rua. Alex’s Bullets.

Então, um ônibus passou próximo a loja e Paul olhou para os vidros do veículo e se espantou. Por entre os rostos sem face que vira, algumas letras da placa passaram despercebidas no reflexo, formando uma nova frase. Ale’s B*llet.

Sem demora, Paul pegou seu celular e apertou na discagem rápida.

– Charlie? Temos um problema!

***

Estavam todos no segundo piso, quando a bailarina se virou e olhou para os dois e com as mãos indicou o bebedouro

– Está aqui, rapazes! – ela olha para James – Bom trabalho!

A jovem segue em direção aos rapazes e eles dão licença para que ela possa voltar pelo mesmo corredor de onde veio. James sentiu quando ela encosta sua mão e o segura por alguns instantes. Então, ele se vira para trás e vê exatamente quando ela dá uma piscadela.

– James?

– Sim?!

– Vá procurar o registro e feche-o. – Jeffrey solta sua bolsa no chão e olha atrás do bebedouro procurando por algum cano ou alavanca para desligar a água – Não podemos nos descuidar como foi da última vez.

– Certo. – James assentiu com a cabeça e foi pelo mesmo caminho que a bailarina.

Ele desceu as escadas e antes que pudesse notar, ele havia sido puxado para uma das portas de interior escuro. James não se importou. Deixou-se ser conduzido até o lugar e, quando percebeu, estava frente a uma moça. Era a mesma bailarina de antes.

Ela sorriu para o rapaz e passou os braços por entre a cintura dele, desabotoando o cinto de utilidades. Foi quando ela o soltou no chão e o walkie-talkie caiu, desligando-se.

***

Uma música soava no ar.

A peça havia começado.

Assim que as cortinas se abriram, Alejandra surgiu no palco dando um salto. Ela parecia estar voltando, por conta de seus passos ensaiados. Ela tinha sonhado com aquele momento, e agora estava ali, na frente de um milhão de pessoas.

A plateia parecia assustada.

Ela causava cochichos por entre os mais críticos presentes, graças a sua maquiagem. Porém, ela não se importava. Estava dando o seu melhor por Christopher.

Raymon estava atrás das cortinas de braços cruzados observando tudo. Estava com um sorriso no rosto por ver a moça se apresentar. Ela podia estar com uma expressão séria e se mexer com graça, com os olhos baixos, e mexendo as mãos de um lado para o outro, repetindo os movimentos de um mar calmo.

– Raymon, estão te chamando no camarim da Carmen.

– Agora não! Diga que eu estou ocupado...

– Mas...

– Eu disse que estou ocupado. – deu uma pausa – E também, eu não sou o único maquiador neste teatro.

Raymon volta a se recostar onde estava anteriormente e encosta em uma das alavancas que apertam as cordas e faz com que uma se afrouxe. Ela segurava um saco de areia que estava equilibrado no acima da cabeça de Alejandra.

Foi então que o saco caiu.

Ele desceu e rapidamente se encontrou com uma barra de ferro que fazia a ligação dos holofotes e se enroscou no cabo, como uma cobra. Porém, quando caiu, ela atingiu um holofote, deixando-o solto. Um pequeno corte no saco se abriu e uma areia fina começou a se despejar aos poucos sobre o palco.

***

Jeffrey estava esperando James havia alguns minutos e depois de tentar inúmeras vezes contata-lo pelo walkie-talkie, ele concluiu que o rapaz já havia encontrado o registro.

Ele abriu sua caixa de ferramentas e retirou uma chave. Ele a coloca com a boca em um dos canos e começa a desenroscar. Por fim, quando ele estava retirando o enorme objeto de metal do lugar, por força da água, o bebedouro caiu no chão e tombou sobre o rapaz, que ficou preso e os braços imobilizados.

A água começou a percorrer toda a extensão do bebedouro e encharcar o rapaz, encontrando em pequenas quantidades pela sua boca e, também, as narinas. Ele tentou gritar por ajuda, mas tudo que conseguira foi se engasgar.

Enquanto ele se debatia, a água começou a caminhar tomando a forma do corredor.

Ela foi na mesma direção em que James havia ido anteriormente e entrou por um duto de ar fechado. De gota a gota, a água continuou a seguir seu caminho por entre as tubulações.

***

Nicholas continua a sua corrida, quando se depara com um atalho.

Por entre os becos, ele continua a seguir na frente de Alice que, tentando fazer a curva fechada, com os seus sapatos gastos, ela dobra o pé e se desequilibra. Ela estaria caída no chão, se não tivesse se segurado em uma das latas.

Alice olha para a sua frente e percebe que Nicholas estava a metros na sua frente, se distanciando cada vez mais.

– Nicholas, me espere! – Nicholas não a ouve.

Alice se levanta com dificuldade e senti uma pequena dor localizada no pé, quase a jogando no chão. Entretanto, ela se senta em uma caçamba de lixo e retira o sapato. Ela não era uma maratonista, deixara evidente a enorme bolha que tinha estourado a momentos atrás. Pus escorreu da lesão e ela começou a chorar.

Não pela dor, mas por Nicholas. Ela tinha perdido ele, como perdeu o seu irmão.

Foi quando ela começou a ter um pequeno flashback daquele momento. Um vento frio tomou conta do seu corpo e, por instantes, ela se visualizou dentro da banheira que descia o barranco do térreo baldio às pressas. Seu irmão estava na “proa” com um remo, improvisado com uma vara comprida com uma pá que ele tinha amarrado a ela. Ele tentou uma, dois, várias vezes para o barco com o instrumento e ele quebrou em suas mãos.

Alice não parecia temer, porém. Ela sorria enquanto desciam.

Ela olhou para trás e viu quando os seus pais apareceram no alto e acenaram para eles irem mais devagar, mas em sua mente, parecia que eles estavam se despedindo dela. Então, ela acenou para eles também, mecanicamente, e continuou a sorrir.

Foi quando ela sentiu que o barco havia parado... Mas seu corpo não.

Alice viu o momento em que ela voou sobre o seu irmão e viu o corpo dele ainda dentro da banheira rachada. Ele estava com a cabeça baixa e parecia inerte. Em sua imaginação, ela pensou que o rapaz poderia estar atuando para que a experiência da jovem pudesse ser ainda mais realista. Ele estava com a cabeça recostada em uma pedra como se ela fosse um travesseiro. Porém, antes que ela pudesse fazer algo mais, ela caiu.

Era tudo o que ela lembrava.

Depois disso, ela se lembrava de ouvir os passos de pessoas contra a grama.

– Alice? Alice? – a voz ecoava em sua cabeça. – Alice? Você está bem? – Nicholas estava na sua frente e ele a olha preocupado.

– Sim... Eu estou... Meu pé...

Nicholas olha para o machucado na perna da moça e faz uma cara de aflição. Ela logo notou que para o ver do rapaz, aquilo era grave.

– Você podia ter me dito que não estava aguentando o pique. Eu poderia andar mais devagar.

– Não, não. E perdermos a chance de salvarmos uma vida? Ainda não sabemos se ela ainda está viva...

– Alice... Então dela, pense um pouco em você. Como poderia ajuda-la estando você ferida?

– Mas... É só uma bolha.

– É uma bolha, mas ela pode infeccionar! – Nicholas fica de costas para Alice e fica em frente a caçamba. – Vamos! Suba nas minhas costas... Eu vou carregar você!

Alice subiu nas costas do rapaz com dificuldade e ele segurou-a pelas pernas, enquanto ela entrelaçava-o pelo pescoço. Depois de alguns minutos para acomodá-la de um jeito fácil para eles continuarem o caminho, Nicholas e Alice continuaram o percurso.

***

A água agora gotejava pelas frestas do duto.

A primeira gota caiu sobre o holofote danificado e ele soltou algumas faíscas que se apagaram rapidamente no ar.

Então, água continuou a gotejar sobre o holofote e em um dos cantos do palco.

Alejandra estava ocupada demais calculando os espaços entre os seus saltos para notar. Precisava ser exata, do contrário, não se sentiria ela mesma. Ela sorria internamente, enquanto sua consciência a dizia que de algum lugar, Christopher a observava contente com o seu desempenho.

Ela o levou apenas uma vez para o estúdio em que ensaiava e entre os beijos apaixonados e a agarrada que ele deu para aproximá-la de si, ele finalmente se aquietou e se assentou em um dos bancos, enquanto ela se aquecia esticando a perna em algumas barras na parede de vidro. Alejandra adorava se admirar quando fazia os aquecimentos.

Ela podia se ver de outra forma. Suas mãos e pés eram seu instrumento de trabalho e, como tal, a via mais do que uma simples extensão do seu corpo. Ela imagina que eles fossem movidos por vontade própria, movidos pelos seus cérebros. O que tornava o exercício menos tenso e a deixava menos nervosa consigo.

Alejandra executou todos os passos e se imaginou ainda na academia, com Christopher a observando em um banco. Ela a olhava com um olhar de que se ela se aproximava mais dois passos, ele a pegaria como um leão atrás de uma gazela.

Ele tinha uma expressão sexy.

Foi quando, a areia do saco caiu nos olhos da moça.

Alejandra não podia enxergar nada, por isso ficou parada, com medo de cair do palco. Ela sentia a areia escorrer sobre o seu cabelo e deu alguns passos ao lado.

E novamente, um holofote se soltou.

Ele ficou pendurado por um longo cabo e começou a balançar de um lado para o outro. Então, Raymon apareceu no palco para tentar ajudar a moça, mas acabou escorrendo em uma poça de água, caindo de rosto para cima.

Agora, ele estava tremendo.

Se ele tentasse se mexer, ele poderia ser atingido pelo holofote. Raymon fechou os olhos e começou a gritar por ajuda. Entretanto, o homem foi silenciado assim que o saco de areia se soltou do alto e caiu sobre o rosto do homem. O saco estava rasgado e parte da areia que ainda se encontrava dentro dele começou a vazar para dentro da boca do homem, interrompendo a sua respiração.

Ele estava morrendo.

Alejandra ouve os arfas do rapaz e tenta andar de um lado para o outro atordoada. Todos na plateia assistiam atônitos, como se uma força sobrenatural os obrigasse a ficar sentados, imóveis. Por entre os rostos de espantos, haviam curiosos que ligavam os seus celulares e filmavam a cena. Aos poucos, vários pontos do enorme salão eram iluminados por luzes de aparelhos portáteis.

Alejandra continuava a andar, quando foi atingida na cintura pelo holofote.

Ela sentiu quando faltou-lhe o ar e tentou dá alguns passos para trás, quando escorreu em uma segunda poça de água que estava num dos cantos do palco. Ela foi para o chão de imediato e caiu pela escadaria a fora.

A princípio, ela bateu a cabeça e o peso do seu corpo fez com que ela quebrasse o pescoço. Com a língua ainda entre os dentes, ela foi partida ao meio, e sangue começou a aparecer entre os seus lábios e maquiagem.

Seu fim fora rápido e instantâneo.

Quando terminara de descer as escadas, já se encontrava sem vida. Uma das suas mãos estavam viradas para um lado do qual ela jamais havia alcançado, mesmo com sua flexibilidade e anos de treino. Suas pernas estavam viradas para lados opostos e seu rosto, agora, estava com a maquiagem manchada.

De um cisne, agora, sua maquiagem lembrava bastante um crânio.