Mike esperou a porta escura se abrir. Subiu as escadas até a sala onde Muriel o aguardava impacientemente, ele sabia que a velha estaria extremamente zangada por ter gastado um mês naquele lugar, sem ao menos dar inicio ao seu treinamento contra os pecados. Fora uma total perda de tempo.

— E como foi? — perguntou Muriel dando a partida no carro, estavam fora do mosteiro e o dia era cinzento.

Mike suspirou.

— Não foi muito produtivo... Desculpe, eu sei que fiquei tempo demais, mas eu tinha esperanças que me treinariam em algum momento.

— Não seja tolo, você ficou o tempo combinado — Muriel o olhou de canto — Uma semana.

O rapaz a encarou sem entender o que ela disse, pois o que ele pensara ter ouvido seria algo absurdo já que Mike passara um longo mês dentro do mosteiro.

— Do que você esta falando? — disse — Eu fiquei um mês, não uma semana, esta ficando senil?

Ele levou um tapa doloroso na cabeça, intensificado com os anéis pesados da mulher.

— Olhe no maldito relógio seu moleque mal criado! — rosnou.

Foi assombroso constatar que Muriel estava certa, e que ainda estavam a alguns dias desde que partira. Mas como aquilo era possível?

De repente Mike se lembrou de algo que disseram sobre o tempo no mosteiro, mas ele não dera importância, na verdade nem tinha muita certeza se alguém realmente comentara qualquer coisa sobre isso. Sua mente e corpo estavam exaustos, ele sonhava com sua cama aconchegante novamente.

— Impossível... — disse antes de mergulhar no silencio.

Ao chegarem em casa, Luca o recebeu com um abraço bem apertado, foi como se pela primeira vez em dias Mike retornara a realidade.

— Pensei que não fosse voltar nunca mais! — disse o pequenino, como sempre repleto de desenhos de tinta pelo corpo — A bruxa velha disse que iria me assar pro jantar!

Mike sorriu, enquanto Muriel disparou para dentro da casa resmungando. Não precisou entrar na cozinha naquele dia, quando ele passou pela porta de entrada sentiu um cheiro forte de comida e temperos, Sophia colocava pratos e talheres na mesa.

Luca trouxera consigo vários amiguinhos de sua escola, era alunos de sua sala e de outras salas também, alguns pais também estavam lá, o que irritou muito Muriel a principio, mas ela adorou jogar conversa fora. Mike ajudou a colocar uma segunda mesa do lado de fora da casa, assim as crianças sentaram para almoçar.

— Gostou da sua estadia em “lugar nenhum”? — perguntou Sophie, ajudando-o a por a mesa ao ar livre.

— Foi bem frustrante — admitiu.

Sophie usava um delicado rabo de cavalo e roupas leves como um dia especifico de verão, aqueles em que fazem muito calor, mas mesmo assim tem aquele especifico momento que uma brisa mágica acalma os nervos. Assim era a garota, a calmaria.

Ela beijou o couro de Luca, que arremessava pedaços de comida nas outras crianças, que obviamente resolveram fazer o mesmo. Os adultos preferiram comer dentro da casa, e admirar as particularidades dela. Mike e Sophie ficaram com a mesa das crianças.

­— Foi você quem fez? —perguntou Mike apontando para comida, mal se agüentou e já deu uma garfada, se arrependeu imediatamente.

— Sim, esta bom? — perguntou a garota inocente.

Mike engoliu dolorosamente o bolo de comida em sua boca, seus olhos arderam e seu sorriso fingido saiu bem engraçado.

— Muito bom — falou sem graça, ele olhou pra Luca, a criança fazia uma careta horrível enquanto mastigava e ele lançou-lhe um olhar de alerta.

Sophie ficou satisfeita com o fingimentos de todos da mesa. As crianças não demoraram muito para sair correndo para brincar, e Mike imediatamente levou os pratos e talheres para cozinha, enquanto a garota falava ao telefone.

Muriel também estava na cozinha, Mike resolveu brincar com ela.

­— O que achou do almoço?

A velha bufou.

— Se pensa que eu comi aquela gororoba que aquela garota preparou esta louco. Aqui foi servido outro tipo de refeição, feita por mim é claro.

Muriel acendeu um de seus cigarros e apoiou-se na parede olhando a janela que dava para o imenso quintal onde as crianças corriam em círculos.

— Há anos que essa casa não recebe tanta gente — falou baixinho.

— Não são tantas assim — falou Mike lavando a louça.

— As crianças tem a capacidade de encher a casa só com as sua presenças — ela soltou uma risadinha seca — Eu nunca tive netos, seria isso um castigo?

— Eu vejo de outra forma — disse ele jogando o pano de prato nos ombros e deixando a cozinha, o seu sorriso não foi visto pela velha senhora.

Sophie fora seqüestrada pelas crianças e estava amarrada ao tronco de uma arvore enquanto Luca estava ao seu lado como líder da tribo. Mike gostaria de sentar na varanda e dormir durante toda a tarde, mas ele não conseguiu e procurou qualquer problema na casa a ser concertado.

— As crianças são divertidas — comentou Sophie chegando de surpresa na sala. Muriel não estava na casa e sim do lado de fora conversando com os pais das crianças.

Mike martelava um prego na parede, concertando o quadro irregular na parede. A garota colocou sua mão no ombro do rapaz, ele estremeceu imediatamente.

— Desculpe — falou a garota levemente envergonhada — O seus ombros, nessa posição... São muito parecidos com os de Richard.

Mike não sabia o que comentar, somente continuou a martelar o prego. Os braços de Sophie envolveram o peito do jovem, e ele pode sentir o rosto repousar em suas costas, o corpo da garota era caloroso de uma maneira incrível.

—Posso ficar assim um pouco? — perguntou ela de olhos fechados — Eu sempre fazia isso no Richard pra me relaxar, mas ele anda tão nervoso e agitado... É como se o corpo de vocês fosse uma cama de músculos agradável.

Mike estava paralisado na mesma posição, sua boca completamente seca e seu rosto em chamas. Seu corpo pulsou com violência e ele perdera rapidamente o fôlego, diferente da calmaria que Sophie sentia naquele momento. Ele pôde sentir os dedos delicados da garota massagear devagar seu peitoral, até finalmente cederem junto aos braços, a garota se distanciou.

— Mike, só um conselho — disse a garota com a cabeça encostada na janela — Quando você retornar ao Mosteiro vai dar inicio ao treinamento que você tanto deseja...

Ele ficou imediatamente surpreso com o assunto que surgiu de repente.

— Por mais que alguém seja sábio, ou que o lugar seja repleto de sabedoria, é sempre bom guardarmos nossas próprias opiniões, preservar nossos valores, porque são eles que nos diferem uns dos outros.

A cara do jovem não poderia ser mais repleta de incompreensão, Sophie sorriu e continuou.

— Podem te ensinar um montão de coisas, mas no final você terá que discernir o que é certo e errado e se vale realmente a pena abrir mão das coisas que você acredita.

— Mas porque esta dizendo isso? — perguntou ele.

— É um conselho amigo, que você pode levar em consideração — ela caminhou até ele com seu olhar sorridente — Ou não.

Ela circulou para fora da sala cantarolando alguma musica baixinho. Os dias seguintes foram intensos com aulas nada agradáveis que Mike teve que suportar com bastante esforço.

— Claire — disse a garota ao seu lado — É a quinta vez que me apresento desde que as aulas começaram.

A garota era magra e um tanto pálida, tinha cabelos negros ondulados e olhos azuis, parecia ser uma pessoa totalmente desinibida de tudo. Mike se lembrou de Sophie.

— Vamos fazer esse trabalho ou não? — perguntou ela, Mike reparou que a sua mesa e da garota estavam juntas e havia um complexo exercício de física para resolver no quadro.

— Desculpe...

— É você disse isso nas ultimas vezes — falou ela meio impaciente, buscou a calculadora e começou a tentar resolver por contra própria — Eu sei que esse colégio é um saco, assim como todo o conceito de escola, mas precisamos resolver isso.

— Porque você não faz dupla com alguém que se importa então?

As palavras saíram da boca de Mike involuntariamente, ele se arrependeu imediatamente, mas era tarde demais. Claire o olhou com certa surpresa e sorriu.

­— Ao menos eu sei que você não é um zumbi e tem emoções — ela suspirou — Olha Mike, nós dois somos claramente os deslocados dessa turma, quer dizer, olha só pra essa gente, parece ter saído de algum série babaca americana, aquelas que não passam da segunda temporada, sabe?

Mike sorriu, ou ao menos tentou.

— É uma fase que precisamos suportar, lá fora não precisaremos de nenhuma dessas pessoas — Mike reparou que ela usava um estilo de cabelo muito parecido com o de Sophie, não era exatamente parecido, mas haveria alguma coisa semelhante. A verdade é que ele não conseguia tirar a garota de sua cabeça.

— Ah não, por favor, não me diga que vou te perder de novo — falou ela nervosa — Volte pra terra Mike!

— Desculpe.

O professor ficou bastante insatisfeito com o desempenhos dos dois. Claire afundou em sua mesa, exausta por ter tentado resolver o trabalho por conta própria.

— Quando? — começou a dizer, o som de sua voz abafado por seus braços mergulhados na mesa junto ao seu rosto — Quando na minha vida eu vou precisar usar isso? Eu não preciso da física e ela não precisa de mim!

Mike rabiscava um desenho em uma pagina perdida do seu caderno, como sempre já havia finalizado, mas reforçava o traço dando um destaque na figura. Claire apanhou o caderno e dele uma olhada no desenho, enquanto o rapaz ficou imóvel.

— Então você desenha bem, mas quem diria, são sempre os mais quietinhos. — ele deu de ombros, mas ela folheou as outras paginas — Eu não sei quem é essa garota, mas você parece bem obcecado por ela.

Ele apanhou seu caderno e o guardou.

— E como vai sua irmã? Cherry White. — perguntou a garota de repente.

— Você conhece a Cherry? — perguntou surpreso.

— Digamos que sim. Ela continua com aquele cabeça de vento?

— Alphonse? — ela confirmou.

— Sim — respondeu insatisfeito — Mas como diabos... Quer dizer, ela nunca falou de você.

— Não somos amigas, e acho que sua irmã não gostaria de me ver de novo tão cedo.

Mike revirou os olhos, afinal sua irmã não era uma pessoa muito sociável e se irritava facilmente com os outros, não seria difícil encontrar alguma vitima dessa personalidade. Claire mexia em seu celular, tocando a tela e conferindo uma lista enorme, parecia uma lista de contato enorme.

— Uau, e aquela papo sobre ser deslocada?

Ela o encarou sem compreender, mas viu que ele observava seu aparelho celular.

— Ah isso, é meu trabalho... São pessoas, que são, por assim dizer, o meu trabalho — falou, se esforçando para explicar.

— Uau, não tem um lugarzinho nessa lista pra mim não?

Claire soltou uma risadinha.

— Acredite, você não iria gostar de estar na minha lista.

Passadas as horas, Mike ficou sozinho na escadaria da escola. Desenhava enquanto o intervalo não terminava, David e seus antigos amigos já não conversavam mais com ele há muito tempo. Seu primo tem agido estranhamente desde que Mike resolvera ir ao Mosteiro, Muriel lhe contou que ele ficou bastante chateado por ser o ultimo a sabre o treinamento, ou seja lá o que a velha teria inventado para David.

Ao final da aula ele apanhou Luca, como sempre montado nos ombros de Mike.

— Luca, não quero que desobedeça Muriel em minha ausência — falou Mike, tentando parecer sério — Você sabe que ela não pode ficar correndo atrás de você por ai!

— Porque você tem que viajar de novo? — perguntou Lucas com um beicinho — Não gosto quando você não volta pra casa.

Aquele comentário derrubou Mike por completo, mas ele respirou fundo.

— Não vou demorar, eu já te expliquei que é algo importante que tenho que fazer.

— A velha me contou que você tem uma irmã... Cherry — falou a criança de repente.

— Porque isso agora?

Luca deu de ombros.

— Se eu tivesse uma irmã, não iria ficar longe dela nunca! — tagarelou o pequenino — Eu gostaria de conhecê-la.

— Quem sabe um dia você a conhece — falou Mike sério.

— E como ela é?

— Teimosa — falou ele impaciente — Impaciente, estressada, desligada...

— Ela é bonita? — perguntou Luca, interrompendo o desabafo de Mike.

O rapaz suspirou.

— Sim, muito — não conseguia lembrar-se da ultima vez que a viu. Seus pais telefonaram várias vezes naquela semana, mas foi uma conversa rasa, Mike mentia demais sobre tudo.

O final de semana demorou muito para chegar. Mike fora surpreendido com uma prova na quarta que ele tinha bastante certeza de ter errado até seu nome. Muriel lhe deu mais algumas ordens ates que ele voltasse ao mosteiro, não era nada de incomum, mas levou o dia inteiro para terminar as tarefas.

— Tente se acostumar com o tempo do mosteiro e o tempo daqui, chegará um tempo que exigirá a sua ausência por mais de uma semana.

— Ou seja, meses naquele lugar...

— Exato — Muriel soltava fumaça pela boca, olhando para seu quintal — Que deus nos proteja.

Essa tem sido uma frase bastante usada pela mulher ultimamente, como se esperasse algo muito ruim por vir. Mike recebera conselhos de procurar as “virtudes” novamente, para que pedisse o seu verdadeiro treinamento, o que nem precisava ser dito já que ele queria muito treinar.

Antes de ir ao mosteiro, já que Muriel não mais o levaria uma vez que mostrara o caminho, ele resolveu passar no hospital onde Sophie trabalhava. Era bem simples, a maioria dos funcionários eram alunos de alguma faculdade.

— Sinto sua falta Sophie — Mike imediatamente parou de andar pelos corredores quando escutou a voz conhecida.

Dando passos cautelosos ele confirmou a suspeita.

— Richard, é meu trabalho — falou Sophie com carinho, sua mãe confortando o rosto cansado do jovem gigante.

— Eu sinto tanta a sua falta, não tenho mais ninguém — falou Richard. Mike escondido observava o jovem pecado que era capaz de se transformar em um demônio em chamas, mas que agora parecia um adolescente qualquer com problemas.

— Preciso trabalhar — ela lhe deu um beijo — Quero que vá pra casa e estude para as provas, não quero que se dê mal, ok?

Richard se recompôs e lhe retribuiu o beijo.

— Você é a única coisa boa nessa minha vida — e ficaram se beijando por alguns minutos, até que Richard se retirou por outro caminho.

— Cara eu pensei que ele nunca fosse sair — disse Mike chegando de fininho, trazia um embrulho.

Sophie parecia distraída, mas seus olhos repousaram no embrulho extremamente cheiroso. Ela fez um cara bastante satisfeita e apanhou o almoço que Mike fizera, lembrando que hoje a jovem ficaria o dia inteiro no hospital e não teria tempo para passar na casa de Muriel. Não precisaram trocar palavra alguma.

Mike sentou-se ao lado de Sophie observando a garota comer tudo o que ele havia preparado se satisfazendo com os sorrisos satisfeitos que ela lançava no intervalo de cada garfada. No final, Sophie lhe deu um beijo na face e saiu apressada para atender os pacientes, mal notando que Mike permanecera ali sentado observando sua silhueta angelical cruzar o corredor do hospital.

Pegou a estrada e só chegou ao mosteiro no final da tarde. Os monges circulavam por todo o canto, não deixaram ele entrar em um primeiro momento, mas depois que explicou tudo conseguiu passe para dentro. Percorreu o mesmo caminho de escadas até a sala onde teve a reunião com as velhas senhoras. Ficou se perguntando se aqueles monges tinha a noção que havia um outro lugar por de trás da porta escura daquela sala. Um lugar onde o tempo se perdia, o que lhe fez pensar quanto tempo passou desde que deixou esse lugar.

Ele girou a maçaneta e entrou na porta escura. Havia mais escadas o esperando, dessa vez ele teria que esperar até que alguém abrisse a segunda porta. Mike não bateu, alguma coisa o dizia que uma hora o outra alguém iria abrir aquela porta.

Demorou duas horas. Um jovem monge raquítico abriu a porta e se desculpou pela demora, Mike não se importou nem um pouco. Era dia do outro lado, mas o movimento agitado era exatamente o mesmo.

Ele deu uma olhada para o campo, já haviam várias coisas construídas, pareciam cabanas. De repente ele avistou Lena de longe, e não pensou duas vezes correndo ao seu encontro.

— Lena! — chamou, a garota parou surpresa.

— Mike? — disse encantada — Pensei que tivesse desistido desse lugar!

Ele não compreendeu a reação de Lena.

— Eu esperei por um mês, vocês desapareceram!

A garota de cabelos alaranjados levou a mão à boca com total surpresa.

— Você esperou esse tempo todo? — perguntou ela.

— Sim! — estava nervoso, pois concluiu que sua espera não tivera sentido algum.

— Meu deus Mike, achamos que você tinha se mandado na primeira semana, ou do contrario teria vindo nos procurar...

— Pensei que fosse algum tipo de teste de paciência ou sei lá! — disse aborrecido.

Lena tentou conter a risada.

— Não seu tonto! — ela riu — Era só pra você passar uns dias com os monges, não um mês inteiro!

Um rapaz de cabelos cacheados dourados descia as escadas, carregava um sorriso perpetuo no rosto.

— Mike White, você ainda por aqui? — disse o rapaz. Lena lançou-lhe um olhar perplexo.

— Sebastian, você disse que Mike tinha desistido! — falou a garota.

— Mil perdões, mas ele não nos procurou mais, eu simplesmente achei que...

— Quer saber, isso não importa! — falou Mike de repente — o importante é que estou aqui agora, e quero treinar com vocês!

Lena e Sebastian ficaram surpresos com reação de Mike, e sorriram.

— Eu acho justo — falou ela — Ande conosco, vamos achar o restante de nós...

— E decidir o que fazer — falou Sebastian alegre.

Caminharam até o campo, lá estava o restante do grupo de virtudes. Todos demonstraram surpresa ao ver que Mike ainda estava naquele lugar, como se nenhum deles esperasse por isso.

— Olha só, pensei que já tinha se mandado! — falou o rapaz de cabelos arrepiados, Felix.

— Não vão se livrar de mim assim tão fácil — falou Mike, e todos riram.

— Isso é um desafio? — riu Sebastian.

— O importante é que você esta aqui agora — disse Lena colocando a mão no ombro de Mike — E deve estar louco para começar.

Edgar, o gordo que usava um pano amarrado a cabeça. Abriu um largo sorriso. Caleb, o negro gigantesco e calado, e Gaspar, o jovem se um dos braços, trocaram olhares preocupados. Sebastian começou a caminhar em uma direção, como se estivesse liderando uma caminhada.

— Mike — começou a dizer — Você sabe que muitos aqui vieram para receber treinamento, o que chamamos de conhecimento na verdade, de como combater os pecados desse mundo.

Sebastian usava roupas claras e leves. Era tão a vontade com aquilo tudo que estava descalço, caminhando na grama com tranqüilidade. Mike andava bem ao seu lado, tentando ficar atento as palavras do jovem.

— Leva anos para que a preparação seja completa, mas nós somos um caso especial é claro...

— Somos prodígios! — completou Lena, alcançando os dois.

Sebastian sorriu.

— Sim. Em toda Inglaterra não grupo de virtudes melhor que o nosso, e por isso temos certo credito e vantagens — Mike que saber a onde aquela conversa iria chegar — Veja bem Mike, as pessoas com quem você conviveu por um mês provavelmente nunca irão receber o verdadeiro treinamento.

Mike olhou para o campo, e consegui ver Apple e seus amigos, no mesmo lugar, fazendo as mesmas tarefas. Sentiu um estranho remorso, ou um sentimento de culpa, deixaram o lugar e seus amigos ficaram para trás. Caminhavam em direção a uma enorme floresta.

— Não temos tempo para o básico Mike, então você vai ter que fazer o curso intensivo — disse Sebastiam, enquanto os outros trocavam olhares.

Nunca tinha visto floresta igual. As árvores eram gigantescas, mas não de uma maneira comum, pareciam não ter fim. Havia barulho intenso de criaturas, e tudo era banhado com um verde menta escuro, era possível sentir que não era uma floresta qualquer.

— Um ser humano comum não é capaz de enxergar essa floresta Mike — disse Sebastian quando percebeu que Mike se impressionara.

— Não sei como nem porque, mas no mundo existem esses lugares particulares, que não são disponíveis a todos, e eu não estou falando de clubes ou praias privativas. São ambientes invisíveis ao olho humano, e possuem uma energia diferente, e um formato diferente, como você podem bem ver.

— Mas isso é impo... — começou dizendo, mas parou para pensar bem no que iria dizer.

— Você sabe que não é, se tentar se lembrar vai descobrir que já esteve em um desses lugares.

Mike parou de andar quando o pensamento saltou em sua mente.

— O castelo... — seus olhos arregalaram — O castelo da minha avó!

— Sim — confirmou Sebastian — O castelo de sua avó e o castelo daquele pecado da Luxúria, são exemplos.

Mike ainda não se moveu.

— Mas como? — disse — Já vi várias pessoas naquele lugar!

— Não viram o que você viu, Mike. A mente humana não sabe enxergar a verdade, então aceita uma mentira. Provavelmente o que viram foi um castelo de tamanho reduzido, ou até uma mansão.

Lena entrou na conversa.

— Eles não conseguem enxergar a estrutura por completo, ficam faltando partes enormes, e quando sem querer a descobrem, acham que são “passagens secreta”, ou simplesmente nada.

Mike lembrou do quarto de Muriel, escondido no castelo de sua avó. Mas então ele teria achado por mero acaso? Apesar de que as circunstâncias que o levaram até lá foi bem estranha. Uma coisa era certa, o tamanho era absurdo, ele mal conseguira visitar a metade daquele lugar, o que tornava estranhíssimo o fato de um lugar assim jamais ter aparecido em noticiário algum.

— Quando terminarmos, você nunca mais vai conseguir ver as coisas da mesma maneira — disse Sebastian — Alguns enlouquecem.

— Vou correr o risco — e finalmente voltou a andar.

— Você tem a capacidade de enxergar esse lugar, mas isso não é o bastante para nós. É preciso que desperte o que é que há de especial em você, para que possa usar em nosso favor.

Quando todos pararam de andar, Mike soltou uma exclamação ao ver o que estava em sua frente.

— Deus do céu! — falou impressionado.

Tratava-se de uma gigantesca árvore. Era alta como as outras, so que parecia uma montanha pela espessura colossal, com raízes gigantes do tamanho das arvores comuns que faziam ondulações no solo da floresta.

— Mas que mer...

— É impressionante mesmo — falou Sebastian — Mas vamos entrando, estou louco para começar.

Todos caminharam em direção a enorme abertura que havia na arvore, como um buraco em uma caverna. Mike olhava para a gigantesca arvore, como se fosse uma criatura fantástica bem ali em sua frente, viva é claro, mas o observando, respirando e cheia de energia.

Por dentro, o lugar era repleto de uma luz que atravessava o seu interior. Vinha de muito alto, como um ponto brilhante, uma estrela no céu de folhagens. Cada virtude se acomodou em algum canto, como se fosse o seu clube secreto e cada qual tivesse seu espaço. Mike contentou-se em permanecer no meio, enquanto era observados pelos demais do alto.

— Então, é isso? — disse atordoado — Todo mundo vive em um mundo de mentiras?

— Não é uma mentira completa... Talvez a maneira certa de encarar, é que a verdade não está disponível para todos ­— falou Lena.

— E por um bom motivo! — disse Gaspar, o jovem de um braço só estava encostado na parede da arvore, o troco firme e escuro — Não imagino o que fariam com um lugar desses... As pessoas não conseguem lidar com o que não conhecem, é estranho como a rejeição é o seu primeiro pensamento.

Edgar concordou com um “uhum”.

— Mike, deve haver algum motivo especial para que um lugar assim não seja visível para o restante, acho que Deus não quer que descubram... Não temos certeza.

— E os pecados? — disse Mike, querendo trazer o assunto.

— Os pecados, Mike, não tem interesse em um lugar assim — falou Sebastian parecendo entediado, mas sorridente — Não é isso que os atraem. O que querem é o mundo do homem, porque é onde o seu poder pode atuar livremente.

— Mas um lugar assim... — falou ele, ainda maravilhado.

— Dizem que é o que sobrou do Éden — falou Felix, de pé apoiado em alguma coisa da arvore — Essas florestas incomuns, são pedaços do Éden... Mas é só o que dizem..

— Mas e os castelos? — Mike fez uma careta — É tudo tão confuso.

— Você precisa sempre ter em mente que existem dois lados — falou Edgar massageando sua barriga — O lado das virtudes e o lado dos pecados.

— Nós pertencemos a natureza, é assim que deus nos criou — falou Sebastian — É onde viemos, mas os pecados não.

Felix arrepiou os cabelos.

— Não é a natureza que atrai os pecados, e sim o mundo que o homem criou. Nesse lugar o pecado tem a liberdade de agir e influenciar o que quiser, e por inveja do que temos os pecados não se contentam com uma única arvore de pé, precisam derrubá-la, destruir florestas...

— Resumindo, as cidades com todos os seus shoppings, industrias, menções pertencem aos pecados. As florestas, mares e o próprio céu, pertencem a nós, as virtudes — disse Lena.

— Mas o que nos leva a um enigma curioso — disse Sebastian de olhos fechados e sorrindo — Já que nós, as virtudes, pertencemos a natureza, porque os pecados originais como o da Luxúria, Ira e Avareza utilizam elementos da natureza. Não existe uma curiosa contradição nisso tudo? Seria uma tentativa de fazer o homem sentir ódio pela natureza?

— Quem sabe — falou Lena.

Sebastiam esticou o braço para o tronco da arvore, e seus dedos deslizaram em algo que parecia uma garrafa de conteúdo escuro. Ele a ergueu e a luz de dentro da arvore permitiu que o liquido mostrasse sua cor vermelha negra. O jovem jogou a garrafa para Mike, que a apanhou em um movimento confuso.

— Para tornar-se um de nós Mike, você bebera isso — ele suspirou — Confesso que ninguém teve que passar por isso, porque normalmente todos passam pelo período de treinamento, mas você não tem tempo para isso.

— O que é? — perguntou ele.

— Veneno — disse Sebastian com simplicidade — Uma combinação de vários tipos de venenos.

Mike ficou paralisado, esperando que ele risse e revelasse ser uma brincadeira, mas todos permaneceram em silencio.

— E eu preciso beber veneno porque...

— Porque você precisa se livrar da sua parte humana — explicou Sebastian — O corpo não é importante para uma virtude, e sim o seu espírito. Esses músculos que você cultivou com tanto empenho são só uma casca para o que você realmente é.

— Mas é veneno! — falou entrando em desespero — Você quer que eu morra?

— Mike — chamou Lena — Acreditamos que o veneno irá apenas destruir o seu corpo, o seu espírito irá prevalecer. Existe algo de especial dentro de você, mas precisa se livrar da casca humana.

— Isso é loucura! — disse Mike — Se nenhum de vocês passou por isso, então como diabos são considerados virtudes?

— Todos nós morremos Mike — disse Edgar — Em nossos treinamentos, o corpo desprendeu-se de nossas almas, mas isso levou muito tempo.

— Tempo que não temos para te esperar — Falou Sebastian.

Mike não piscava.

— Para ser sincero Mike, eu sou uma pessoa que lida com estatísticas, possibilidades e estratégias. Não vou mentir para você, existe uma enorme possibilidade que você simplesmente morra com isso, mas como sua tia avó, e Lena em particular, foram bastante insistentes que você teria sucesso, então aqui estamos.

Ele olhou para Lena, que retribuiu com um sorriso.

— Eu sei que você vai conseguir Mike, eu sempre senti isso em você. Não sei o que é, mas tem algo de extremamente especial.

— Não faça isso.

De repente todos levaram um susto, pois Caleb o jovem calado resolvera pronunciar algumas poucas palavras. Seu rosto talhado de chocolate fitava Mike com seus enormes olhos. Sebastian riu e encarou Mike.

— É claro, que a decisão é sua. Você não foi obrigado a atravessar aquela porta, mas aqui esta você... Então creio que a pergunta é: O quão profundo você tem coragem ir nessa assustadora toca de coelho, pequena Alice?

Mike olhou a garrafa que cheirava morte, e todos os seus sentidos diziam que era uma péssima idéia. Pensou nas vezes que sobrevivera da morte, e que em todos ele lutara por sua vida, mas agora ele se entregava completamente, sem luta ou qualquer coisa. Era um suicídio.

— Pensei que suicídio fosse errado... Como um pecado, sabe? — falou ele segurando a garrafa firme.

Sebastian sorriu.

— Um outro fato curioso, não? — disse o jovem, e então Mike virou a garrafa em sua boca.

O liquido desceu rápido por sua garganta, em brasa ele sentia a “bebida” rasgar o seu interior. Imediatamente ele sentiu-se mal, era possível perceber o veneno invadir o seu corpo, sua posição de beber a garrafa permanecia. Tudo dentro de Mike gritava em desespero, rejeitando o liquido estranho.

Seus olhos estavam fechados, seus estomago revirava varias vezes, como se estivesse contraindo-se em uma pequena bola. Suas pernas cederam ao chão, e quando ele abriu os olhos tudo estava branco, seu ouvindo tremendo com um zumbido irritante, a boca de repente secara em chamas. Deixou a garrafa cair no chão, mas nada ouviu.

Sua boca abriu e dela um berro assombroso saiu. Mike sentia intensamente o seu corpo gritar de dor, uma corrente pulsante e dolorosa passava por todas as suas partes até a ponta dos dedos. Não sabia dizer se estava de olhos abertos ou fechados, tudo girava sem existir o que girar, não sabia onde estava. O seu interior explodia em pânico, de repente veio uma terrível sensação de que estava derretendo em brasa. Finalmente caiu no chão, e o branco escureceu.

— Mike — chamava alguém, mas pareciam milhares de vozes femininas.

Sua visão revelou o rosto de Lena, seus cabelos loiros sem o laranja habitual. Estava em cima do jovem, seu corpo colado ao de Mike e completamente nu.

— O que foi — respondeu, sem controle da própria voz.

— Fala alguma coisa, isso me deixa louca — falou ela bagunçando os próprios cabelos — Foi bom? Foi uma droga? Só diga alguma coisa!

— Não sei... — falou ele, novamente contra a sua vontade.

— Droga Mike, você perdeu a porcaria da virgindade, não tem nada pra dizer? — ela sentou na cama, estava escuro e não era possível ver o bastante de Lena.

— Eu não sei o que dizer...

A garota levantou e começou a procurar as roupas.

— Lena — chamou ele.

— O que foi? — falou ela se vestindo.

— Eu te amo — e dizendo isso Lena parou de se vestir e ficou de costas por um segundo ou dois, e depois continuou a se vestir normalmente.

— E você... não vai dizer nada? — perguntou confuso.

— Não — falou seca.

— Mas Lena, eu disse que te amo! — falou Mike desesperado.

— Eu sei que disse.

— E então?

Lena terminou de se vestir e começou a procurar por sua bolsa, ela não demorou nem um segundo para achá-la.

— Não há o que dizer — flou ela meio aborrecida — Droga Mike, nós fizemos sexo! Não precisa dizer que me ama, isso é uma droga!

— Eu não estou brincando Lena, eu disse a verdade!

— Bem, isso não importa — ela foi até a porta, o quarto era escuro e estranho — Olha Mike, foi bom... mas não quero nada além disso, então, sei lá, é melhor agente dá um tempo. Tenta sair com outras garotas, e sei lá, não se apaixonar por elas, pra variar.

Lena dizia aquelas palavras com total deboche.

— Te vejo por ai — falou ela batendo a porta, e em um estante Mike estava no corredor de sua antiga escola em Batimore, acabara de fechar o seu armário e um de seus antigos amigos tagarelava com ele.

— Cara eu to te dizendo, eu não consigo entender aquela vadia — disse seu amigo.

Mike olhou para as pessoas que passavam conversando lá fundo, sua irmã estava com sua amiga Rebecca. Ambas usavam roupas esquisitíssimas, com gravatas amarradas na testa e meias colorida nos pulsos. Seu amigo reparou que ele se distraiu com presença de Cherry.

— Conhece aquelas malucas? — perguntou o amigo.

Mike ficou ali olhando para a irmã e depois voltou-se para seu amigo.

— Não — Mas dizendo isso uma fumaça envolveu sua visão, e tudo o que consegui ver era seus pequeninos pés.

Um belo gato branco roçava suas pernas provocando uma cócegas gostosa. O gato tinha gigantescos olhos azuis, brincava tranqüilo com os dedos da criança. Havia um armário a sua frente, a poucos centímetros, Mike abriu a porta lentamente e o pequeno gatinho não hesitou em entrar alegre.

Ele ficou ali olhando o bichano brincar com as roupas penduradas no armário, e com um movimento assustadoramente rápido ele bateu a porta com força. O gato começou a miar loucamente tentando sair, mas Mike permaneceu ali parado escutando o seu choro. Ficou ali por vários minutos até resolver ir embora.

Mike chorava por dentro, sentia sua tristeza, sua angustia, de assistir tais cenas de sua a vida, que ele não lembrava nem um pouco. Tentava gritar em desespero, mas a voz não saía, tudo girava em borrões negros e vermelhos como uma pintura bizarra, circulavam sem parar formando um túnel, ou uma espécie de caverna. Ele sentiu suas pernas firmarem com força em um chão.

Podia sentir que sua existência se apagava aos poucos, como uma pintura fraca de aquarela. De alguma forma ele sabia que seu corpo estaria coberto em chamas a qualquer momento, até que ele se apagasse para sempre. Resolveu dar passos para frente e descobrir o final daquela caverna, que ele mesmo já visitara outras vezes.

Era como se alguma coisa estivesse puxando com toda força o seu corpo de tinta, drenando, sugando para frente em algum ponto especifico. Ele caminhou contra a ventania espiritual que lhe puxava, o pânico lhe fazia manter a boca aberta o tempo todo, em desespero completo, como se alguém tivesse apunhalado suas costas com uma agulha fina gigante.

— Quantas vezes mais você virá á mim, seu moleque? — dizia a voz do jovem sentado ao trono, o mesmo de sempre que o aguardava no final da caverna.

Lá estava Richard, a ira, com seu corpo ocultado por trevas, mas Mike sabia que era ele. O observava com olhos vermelhos intensos.

— Você permite que os humanos abusem da sua existência! — Mike não conseguia compreender porque Richard passava aquele sermão para ele.

Era nele o ponto final, onde o corpo de Mike era puxado, alongado como uma fita, se desfazendo como areia e fumaça.

— Como é tolo! Então esse é seu fim, moleque? — disse a voz monstruosa — Acabou?

Mike de repente visualizou a si mesmo, sem vida na floresta, os vermes comendo sua carne, porque as virtudes eram abandonado ele, e ninguém nunca o encontraria ali. Cherry estava morta também, algum pecado teria a matado e Muriel estava muito desapontada, e Luca estava sozinho.

— ACABOU? — repetiu a voz.

Mike firmou os pés, e de repente o seu pulmão se encheu de uma maneira anormal, e a existência que se perdia agora retrocedia com violência, como se o rapaz estivesse sugando-a de volta, ele inchava como um sapo, e suas bochechas pareciam explodir em um enorme...

— NÃO! — respondeu em uma explosão, e imediatamente Mike acordou em fôlego, como se estivesse afogando.

Estava em um quarto bastante iluminado, e Lena estava lá sentada espantada com o despertar do jovem. Sentia um calor incomum circulando por seu corpo, dando viva as suar pernas e braços, em poucos segundos conseguiu ficar sentado na cama.

— O que houve? — perguntou.

— Você ficou algumas horas deitado, parecia morto. Sebastian disse que você não conseguiu agüentar, mas nós concordamos em esperar já que não sabíamos o que esperar de uma situação dessas.

Lena parecia bastante aliviada, como se tivesse aceitado a idéia de que Mike realmente estava morto.

— Bem, acho que deu certo, não? — falou Mike, sentia sua garganta seca. Sentiu algo estranho, como se um soluço estivesse vindo, era como algo incomodo que crescesse gradualmente. Ele olhou para porta fechada do quarto.

— Sebastian — disse ele, e na mesma hora o jovem loiro abriu a porta.

Mike ficou ali de olhos arregalados com o que acabara de fazer, e Sebastian retribuiu aquilo com um olhar confuso. Lena sorria.

— O que foi? — perguntou Sebastian, estranhamente não parecendo surpreso com o fato de Mike estar vivo.

— Mike sentiu a sua presença agora pouco — falou Lena totalmente satisfeita — Disse o seu nome antes de você abrir a porta.

— Como eu fiz isso? — falou Mike assustado — Funcionou o veneno? Eu morri?

— Não morreu — disse Sebastian entrando no quarto — Seu corpo, em uma reação esquisitíssima, rejeitou o veneno e o expeliu minutos depois de você desmaiar.

— Expeliu? — perguntou totalmente confuso.

— Você se mijou todinho — Explicou Lena sorrindo.

— Ah.

— Isso é bastante incomum — falou Sebastian.

— Então não deu certo?

— De certo modo sim — falou Lena — Seu corpo não foi destruído pelo veneno, isso tem que significar algo!

Ela olhou para Sebastian buscando apoio, mas o jovem ficou observando Mike por um tempo.

— Você expeliu o veneno, mas estava morto. Carregamos o seu corpo para esse lugar, e você ficou aqui por exatas quatro horas.

Lena sentou ao lado de Mike e com uma das mãos massageou as costas do jovem.

— Pra mim só haviam duas possibilidades, ou você morreria com o veneno, ou somente o seu corpo morreria com o veneno — falou Sebastian divagando — Você não morreu de nem um jeito nem de outro, e ainda expeliu o veneno. Curioso, mas o que se pode concluir com isso?

— Que Mike é alguém muito especial — falou Lena beijando sua bochecha.

— Posso levar em conta que nunca experimentamos aquele teste em ninguém, ou seja, não há resultado certo ou errado... só o que era esperado.

— Foi como se vocês implantassem um vírus no meu computador para destruir-lo, mas tudo o que houve foi que ele se desligou por algum tempo e ligou normalmente depois — Mike falou o seu raciocínio com naturalidade e Lena e Sebastian o encararam por alguns segundos.

— Isso não tem muito sentindo, a comparação não tem muita relação do que foi feito.

Mike murchou onde estava, acreditava ter sido feliz na teoria. Ele realmente não se importou, afinal estava vivo e ainda com seu corpo intacto, não sentia a mínima vontade de repetir a dose.

— Você se sente diferente? — perguntou Lena.

— Sim — respondeu ele com sinceridade — Mas não sei explicar o que é.

Ele não se sentia mais intimidado por Lena ou por Sebastian. De alguma forma ele tinha a idéia que era inferior e precisava ser submisso para que aceitassem treiná-lo, mas agora isso mudou. Não importava mais se aquelas pessoas não fossem treiná-lo, ele se sentia capaz de fazer as coisas por conta própria.

Sebastian o olhava fixamente, e finalmente sorriu.

— Bem vindo ao nosso mundo Mike — falou com uma voz suave.