6 meses antes

Asahi carregava a sacola com certa animação. Não era para menos, pois sabia que Yuu o receberia quando chegasse em casa. A fada passou três semanas longe realizando suas obrigações, mas voltou dois dias atrás. Isso fez com que Asahi ficasse feliz em voltar para casa.

E foi só abrir a porta para um corpo ser lançado contra o seu. Pernas fortes enlaçaram a cintura, enquanto braços envolveram o pescoço. Tinha sorte de já estar acostumado, mas no início ele caiu algumas vezes. O cheiro de grama e terra molhada tornara-se o seu preferido. Tão bom quanto o sorriso genuíno e o olhar afetuoso que agora lhe encarava.

— Bem-vindo de volta, Asahi-san! — já fazia algum tempo que Yuu era sua visão favorita no mundo.

— Olá, Nishinoya! — sorriu após beijar a testa — Você assistiu os filmes?

— Sim! — respondeu animado enquanto descia do colo do outro — Assisti quase toda a sequência! Então, ele entra numa missão….

Ele escutou pacientemente toda a tagarelice da fada sobre os filmes da saga missão impossível. Yuu contou detalhadamente sobre como o protagonista era genial e, que se ele não fosse uma fada, de certo seria um agente secreto. Yuu era estonteante.

Eles tinham combinado de comer pipocas amanteigadas naquela noite, então enquanto Asahi preparava tudo, Noya lhe ajudava da forma que podia. A noite seguiu assim, com os dois embolados no sofá, aquecidos pelos cobertores felpudos. A asa direita de Yuu cutucou levemente seu rosto, e ele passou a olhar com atenção.

Ela parecia frágil, mas tinha certa imponência. Era macia quando tocava também. Asahi gostava tanto das asas de Noya quanto o outro gostava de seu cabelo. Eles se completavam assim.

— Minhas asas são bonitas, né? — riu convencido.

— Com certeza! — exclamou docemente — Existem muitas variações de cores?

— Sim! A de Ryuu é cinza e de Saeko amarela e laranja!

— Se eu fosse uma fada, qual seria a cor das minhas? — perguntou mais para si mesmo do que para o outro.

— Verde, talvez? Acho que combinaria muito com você, Asahi-san!

— É uma cor que realmente me agrada. — sorriu — Diga-me, Nishinoya — aquela pergunta vinha queimando em sua mente há uns dias — o que existe depois da morte?

Noya ficou em silêncio por um momento. Asahi achou que ele não iria lhe responder, mas a fada suspirou e aproximou-se mais dele.

— Você quer saber se existe vida após a morte?

— Queria saber se existe algo — pontuou — existem crenças que falam de reencarnação, outras de céu e inferno. Eu imagino que exista algo, desde que te conheci levei muito a sério o conceito de "que nada na natureza se perde, tudo se transforma".

— Não posso te dizer o que acontece — murmurou — mas posso te adiantar que a frase não é errada — continuou em voz mais baixa — a natureza dá e pega de volta.

— Você acha que isso seria uma forma de liberdade? — indagou Asahi — Digo, você se desprende dessa vida, não é?

— Asahi-san, você tem medo de morrer ou algo assim? — Yuu tinha a capacidade de fazer perguntas complexas de forma direta.

— Eu só quero saber se não vou ficar num limbo ou algo assim… é errado me preocupar?

— Não, mas você não precisa! Pelo menos não agora… quando sua alma deixar seu corpo, ela volta para onde pertence. Seu corpo volta para a natureza, que lhe deu essa carne… — cutucou seu braço para mostrar do que falava.

— E minha alma?

— Se torna livre para voltar para onde pertence — se levantou de forma abrupta — lembre-se do que eu te disse Asahi-san, a natureza pega de volta o que lhe deu! Agora chega desse assunto! — sorriu animado — Asahi-san, acha que consegue os filmes do 007??

E quem ele era para negar algo para quem se apaixonou? Asahi Azumane tinha um fraco por coisas bonitas.

Asahi não era ingênuo, ele também se perguntava o que aconteceria com Noya quando descobrissem que se mostrou para um humano. A fada desconversava sempre que Asahi insistia no assunto, então não progrediram nesse aspecto.

Todavia Asahi era covarde. Ele queria saber mais sobre certas coisas, entretanto, tinha medo das respostas. O fio de ansiedade enrolou-se em seu estômago, no fundo ele sabia que Noya iria embora em algum momento, ele gostaria apenas de poder aproveitar mais o tempo que tinham juntos.

Ou então ir com ele.