Eu a tomei em meus braços, evitando que a mesma chorasse. Pobre pequena, não protegia a si própria e tentava proteger a mim.

Ela não queria que eu fosse prejudicado, mas também não queria mais continuar. Não gostava do rumo seco e vazio que minha vida passará a tomar. Porém agora eu tinha outra vida, e esta se resumia apenas nela, na minha Sabrine.

Todos achavam que eu estava ficando louco, mas não, eu não estava louco, apenas completamente apaixonado por aquela mulher a ponto de abandonar toda a minha carreira e amigos para ficar com ela.

Queria viver como sua própria pele, misturar-me a suas entranhas, explorar o seu interior, como a Sabrine me permitia.

Era totalmente louco, como eu poderia sentir tal coisa, tão de repente, à ponto de abandonar tudo. -Relembrei.

Com ansiedade mergulhei no mais louco devaneio, em meu passado profundo, percebendo os sentimentos que me surgiam e o prazer do momento em que a havia visto pela primeira vez.

Como poderia amar alguém de tal forma? Como eu havia mudado tão rápido, a ponto de nem eu me reconhecer e muito menos a reconhecer esse sentimento?

Neste mesmo instante de lembranças, estava vendo estrelas, somente ao lembrar-se da confusão de sentimentos e do rosto da minha pequena. Podia alcançar o mais distante planeta, alcançar outros universos, só de estar com ela.

Era incrível como eu podia fazer amor com ela tantas vezes, mas todas às vezes eram sempre tão diferentes, tão... Melhor, devastador, para ambos. Era perfeito. A força vinha de nossas entranhas, em nossos momentos de clímax, era impossível conter o grito. Mas pensar nisso, somente me fazia doer, por saber que a queria tanto e ela não estava lá. De que adianta manter lembranças dela, se ela não estava lá.

Lembranças - POV Sabrine

Ele caminhava sozinho, perdido em pensamentos.

Eu, presa aqui, sozinha. Podendo apenas observa-lo. Como queria que ele me visse, que se aproximasse de mim. Tenho tanto a ensina-lo, mesmo ele não fazendo ideia disso. Eis me aqui, a rainha da solidão, em um lugar triste, e ainda mais triste me faz a agonia de estar sozinha.

Deus! Será que um dia ele virá? Eu o necessito!

Ele vive tão distante em seu mundo fechado, solitário, como o meu. Mas ele poderia entrar, quando bem entendesse.

-Droga!- Sussurrei. - Por que ele não me vê?

Neste momento levante-me de onde estava e começo a andar em círculos. E quando finalmente paro, vejo os olhos de Joey pairando sobre onde estou.

Sim. Sim! Ele me notou! Uma felicidade descomunal começou a crescer dentro de mim.

-Joey, por que não caminhas até mim? Por quê? -sussurro.

Deus pareceu ouvir minhas preces, o vejo caminhando até mim. Sinto tanta felicidade, quero gritar, quero pular em seu colo e lhe dar um abraço de tal forma que ele nunca havia recebido antes. Só sei que necessito deste homem, como o peixe precisa da agua, e a águia precisa de suas asas.

Estava como uma estátua, com ele à minha frente eu simplesmente não conseguia me mover. Por longos anos o procurei e agora que ele está aqui, simplesmente não sei o que fazer.

A minha frente, ele estava a olhar profundamente os meus olhos, o que me fazia estremecer pelas entranhas. Sua beleza era descomunal, senti me arrepiar completamente só de pensar em toca-lo.

Senti sua mão quente tocando minha pele fria, e juntamente fechei os olhos para senti o toque maravilhoso de seus dedos na minha pele.

POV Joey

Estava caminhando sozinho a noite por uma estrada abandonada, quando observo algo estranho atrás de algumas arvores perto de mim. Para só depois perceber o que via.

Passei a observa-la, tão pequena e delicada. Por que diabos ela estaria sozinha naquele lugar? Era tão perfeita. De uma forma estranha senti uma necessidade de me aproximar daquele anjo em forma de mulher, e assim o fiz.

Caminhei até ela e então a observei me olhando com olhos de lamuria, mas ao mesmo tento tão acolhedor e carinhoso, que fez com que eu quisesse observa-los para sempre.

Não ousei dizer sequer uma palavra, tão belos eram aqueles olhos negros, gélidos como sua pele, que pude perceber assim que toquei os dedos em seu rosto.

Vi lagrimas se formando nos olhos dela. Minha mente começou a vagar tentando imaginar porque ela estava chorando, por que parecia sofrer tanto.

Senti seu corpo se juntando ao meu, seus braços percorrendo o meu pescoço, como se sentisse uma saudade que a mesma não aguentava guarda-lo em seu peito. E como se uma força estranha me tomasse, devolvi o abraço dela e dentro de mim passei a sentir que eu seria eternamente dela. Sim, estranho, no mínimo! Porém, eu, Joey Jordison me sentia completamente tomado por aquela mulher, me sentindo estranho por pensar deste modo, confesso, mas o meu interior falou mais alto do que a minha razão e passei a crer que ela seria a minha vida a partir de agora.

Separei nossos corpos e a segurei pelos ombros. Seus olhos transpareciam tanto medo...

-Vamos pequena. -Falei próximo ao seu ouvido como um sussurro, tentando faze-la se sentir confortável. Em resposta ela assentiu e deu um sorriso contido.

Peguei sua mão e seguimos por dentro das arvores de onde a havia visto.

Ela segurou em minha mão e seguiu me guiando. Deixei-me ser guiado por ela, deixando a alguns metros de distancia a estrada abandonada pela qual caminhava. No momento não me importava com as consequências que gerariam o meu sumiço, só queria ir com ela, como num transe em que eu não consigo obedecer as minhas vontades e fazer o que se espera.

POV Sabrine

Não é possível, ele estava ali! O homem que foi predestinado pra mim e ele seria meu para sempre. Joey... Ainda não sabe o meu nome...

-Sabrine. -Disse baixinho.

Como ele era bonito, tinha um ar de mistério, mas ao mesmo tempo me deixava extremamente confortável e entregue.

Eu o amo perdidamente. É tão estranho um único nome, que acende interruptamente a cada pensamento, que vem das nossas profundezas como os últimos milímetros de agua no fundo de um poço. Aqueles últimos milímetros chamado Joey.

Estava guiando-o até uma pequena casa, onde eu viveria sozinha toda a minha vida.

Era simples, de madeira, repleta de moveis antigos, porém tinha um enorme charme. Acho que o meu amor está a pensar o mesmo que eu.

Nós não precisávamos saber um do outro, não era necessário, fomos predestinados e sabíamos exatamente o que fazer.

Outrora fizemos amor... Foi perfeito, quase angelical.

POV Joey

Nada poderia estragar o que eu sentia, era tudo tão perfeito. Não brigávamos não nos importávamos se não mantínhamos contato com mais ninguém, nós dois éramos suficientes para nos completar, apenas nós dois.

Até que um dia a minha pequena não estava nada bem.

Era dia, como não tínhamos nada a fazer, Sarah decidiu ir tomar banho num lago que havia próximo a nossa casa. Sarah estava demorando demais para voltar, e quando voltou estava completamente abatida e extremamente febril.

A noite ouvia sua tosse impulsiva, e a mesma tentava abafá-la com o travesseiro. Em vão.

- Diga Sarah... O que houve? -Perguntei com o ar um tanto preocupado.

-Não estou bem, Joey... Apenas isso. Não se preocupe querido. -Disse beijando minha testa carinhosamente.

Sabrine tossiu por mais algumas semanas e ficou de cama.

Precisei ligar para os médicos, pois não conseguia de forma alguma fazer com que a mesma melhorasse, e assim o fiz.

Médicos chegavam, receitavam remédios, retiravam-se, traziam outros médicos e nada. Eu a obrigava a toma-los sempre recebendo resmungos de volta.

Sarah tinha as mãos quentes, a testa ardente e úmida, olhos pequenos, envermelhados e tristes. Vê-la daquela fazia eu me sentir um inútil, por não conseguir cura-la.

Depois de algumas semanas só restaram às roupas da minha bela.

Encontrei um padre para lhe proporcionar um enterro digno. Chorei, chorei como nunca havia chorando antes. Uma parte de mim havia ido embora... Para sempre.

Lembro-me muito bem das batidas dos pregos sob a madeira, que encobria o corpo da minha pequena.

Ninguém compareceu em seu enterro, apenas eu e o padre.

Na semana seguinte, regressei a Iowa.

Preferi não contar-lhes por que eu sumi, não importava mais, ela estava morta agora.

Revi a minha casa, meus moveis, minhas roupas... Tudo aquilo que havia me dado alegrias antes dela, agora não são nada. Após ter pensado nisso, o desgosto apoderou-se de mim que senti vontade de fazer uma besteira, sentindo não poder mais viver sem ela.

Peguei um casaco para sair de casa e ao passar pela porta, me deparei com um espelho que trouxe comigo para lembrar-me da minha amada. Aquele era o espelho que ela usava para estar sempre impecável. Para mim.

Fiquei ali, de pé, tremulo com os olhos fixos no vidro liso, vazio. Toquei-o, estava frio como quando ela voltou do seu ultimo passeio ao rio. Recordações e mais recordações brotaram em minha mente. Espelho doloroso, espelho vivo que guarda as lembranças da imagem da minha amada.

Involuntariamente peguei meu carro e dirigir-me onde ela foi enterrada.

Seu tumulo era um dos mais simples do loca, com somente uma cruz de mármore com poucas palavras, escolhidas por mim. “Ela amou, foi amada e morreu."

Sentei ao lado de um tumulo e comecei a chorar, estava apodrecendo lá em baixo. Fiquei por muito tempo daquela forma, quando dei por mim já era noite.

Passei a vagar por entre os túmulos ali, durante muito tempo. Não a encontrava. O medo apoderava-se de mim, me apavorando. Olhava atentamente, lia todos os nomes que via a minha frente, mas não a encontrava.

Não havia estrelas no céu, estava escuro e frio naquela noite. Agora sim o medo me tomava completamente, estava prestes a sair correndo daquele lugar.

Sentei onde havia parado para pensar um pouco, acomode-me em uma lapide qualquer e um tempo depois tive a impressão que a mesma se movia, como se algo estivesse empurrando-a. Levantei-me rapidamente e passei a observar e vi algo que só imaginava que existisse em filmes.

Vi ergue-se a lapide, e sair de lá algo inacreditável, com as costas curvadas e a pele completamente apodrecida. O 'ser' virou-se para sua lapide observando-a, onde havia escrito: “Aqui se faz Jackes Hansfield, morto aos 62 anos de idade. Sentiremos sua falta.”.

Ele curvou-se mais ainda, e com o dedo esquelético indicador, reescreveu: "Aqui se fez, Jackes Hansfield, morto aos 62 anos de idade. Pedófilo assassino.”.

Quando sai do transe e passei a observar ao meu redor, vi que todas as lapides havia se abrido e todos os outros cadáveres faziam o mesmo, inclusive a... Sabrine! Corri desesperadamente até onde estava, e a observei. Ao contrario do que eu pensei, ela não falou comigo, nem sequer me olhou. Portanto, me contentei em ver o que ela escreveria em sua lapide. Meu coração estava prestes a sair pela boca...

Seu vestido e seu longo cabelo comprido dançavam em volta dela. Mesmo morta, ainda sentia todo aquele redemoinho de sentimentos se formando dentro de mim.

Recordei-me do que havia escrito em sua lapide: "Ela amou, foi amada e morreu." E em seguida passei a observa-la escrevendo nela como todos os outros: "Tendo ido encontrar seu amante, resfriou-se sob a chuva e morreu." Quando li aquilo, simplesmente não aguentei e cai ajoelhado esforçando-me para ler o resto "E pobre coitado... Nada sabe."

Depois de ler isto, me senti fraco, conseguia apenas ouvir as fracas batidas do meu coração, a visão ficando embaçada e eu senti que estava apagando... Provavelmente morrendo.

Encontraram-me no dia seguinte, me levaram para Iowa para me enterrarem. E a partir deste dia, vago toda noite para me encontrar com a mulher da minha vida, e da minha morte, Sabrine.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.