Prague delicious

Capítulo 7: I'm a grenade.


Eu nunca falei do meu pai, deve ser porque ele NUNCA foi presente em minha vida. Deve não, é isso mesmo, ele nunca foi presente. Meus pais se separaram quando eu tinha em torno de sete ou oito anos, depois de um período intenso de brigas constantes, eu detestava quando os meus pais brigavam. Meu pai quase não ficava em casa, e quando ficava ele e minha mãe só brigavam, mas ele também era médico, médico cardiologista, por isso eu TINHA muito orgulho dele, porém ele quase não ficava em casa e me dava pouca atenção. A gota d'água que culminou a separação dos meus pais foi, minha mãe sem querer ter pegado o celular do meu pai, e no exato momento que ela pegou o celular, um número ligou para ele, o número se chamava "Kristen". A Kristen é, a amante que o meu pai teve durante anos, durante anos que esteve casado com a minha mãe, porém depois ela passou de amante para esposa. Que eu me lembre eu só fui uma vez na casa do meu pai depois que minha mãe se separou dele, também depois que eles se separam, meu pai e a tal da Kristen foram morar em Londres, nem preciso dizer quem encheu a cabeça do meu pai de merda para ele se mudar para lá. Mas a real intenção da Kristen era de, afastar o meu pai de mim e da minha mãe, de mim porque ela me odiava (que a propósito o sentimento é SUPER recíproco), e da minha mãe para eles NUNCA voltarem, em nenhuma hipótese. E também meu pai nem se preocupa em me visitar, só me envia uma merda de pensão todos os meses, ao ver dele dinheiro compra qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, até o amor, também eu nem procuro ele, por ele nem fazer mais diferença para mim.

–Avery.- senti alguém me cutucando, enquanto eu viajava em um passado distante.

–Oi, oi!- olhei para o lado era Bryan.- O que foi?- perguntei.

–Tem uma visita lá embaixo para você.

–Quem é?

–Pediram para eu não te falar, mas eu vou te adiantar são duas pessoas.- ele disse, como se tivesse me dado grandes dicas, porém fiquei animada. Fiquei animada até eu descer, e ter uma grande surpresa, uma surpresinha de grego para troiano.

–PAI?- gritei do meio da escada logo quando eu vi ele. Mas eu não gritei de surpresa ou de alegria, e sim de ódio, eu estava inconformada com aquela visita. E quando vi-o tive vontade de voltar e me esconder de baixo da cama para o resto da minha vida.

–"Pricesinha" do papai, vem cá dar um abraço no paizão.- disse meu pai, SUPER feliz, o que me irritava ainda mais.

–Paizão?- perguntei ironicamente. "Pricesinha do papai", era assim que ele me denominava quando eu era pequena, deve ser para não confundir o nome dos filhos, porque ele deve ter até uma família na Guatemala.

–Não vai vir dar um abraço no seu pai?- ele expressava insatisfação. Mas isso tudo era showzinho, como se isso me convencesse.

–NÃO!- eu gritei um "NÃO". Enquanto me dirigia à cozinha.

–Ãn, a sua tia vai fazer um almoço especial para a gente.

–"A gente" vírgula, para você e a Kristen. E pra onde a minha tia foi hoje de manhã?

–Teve uma urgência de trabalho, mas ela já já volta.

–Entendi, então... Hm... Cade aquela puta?

–Você está referindo-se à quem Avery Madeline?- ui estressou o meu papaizinho, pensei.

–Oras, à quem? A única puta que eu conheço!- cutuquei onça com vara curta.

–Você refere-se à Kristen?

–Tá vendo, só eu falar que é a única puta que eu conheço, você acerta. Olha que legal!- falei debochando.

–Tem mais de cinco anos que não te vejo, porém, você continua irônica, puxou a sua mãe.- ele tentou ser debochado, foi um chute sem acerto.

–Ainda bem que puxei à minha mãe né! Porque se eu puxasse à você, seria mais um desgosto na vida dela. Bem eu vou ficar trancada no meu quarto, cortando os meus pulsos, e ouvindo as músicas mais depressivas da minha playlist- debochei e fui para o meu quarto.

Cara, impossível a minha tia não saber que eu não falo com o meu pai há anos... IMPOSSÍVEL. Então, como ela marca um almoço com ele, que eu estava incluída. Ainda mais com essa Kristen. Resolvi tomar um banho, me maquiar, e ficar bem bonita. Quando eu fui colocar a minha roupa bateram na porta.

–Estou cortando os meus pulsos, me deixa em paz.

–Ah, larga de idiotice Avery.- era Bryan, ele já foi entrando, nesse momento a minha querida toalha fez um "favor" de cair, e me deixar pelada na frente dele.- Que isso em prima, nunca imaginei que você tivesse esse corpão todo, ai que delicia em.

–SAI DAQUI, SEU OTÁRIO!- se bem que eu tinha gostado do elogio.

–Tá bom, tá bom, estou saindo.- disse, enquanto retirava-se do meu quarto. Depois que me arrumei, tive uma ação involuntária, fui até o quarto do Bryan, nem bati.

–Bryan.

–Oi priminha gostosa.- ele falou, abaixou a cabeça e riu.

–Que bom que me achou gostosa, pena que só quem pode experimentar é o Di né.- provoquei.

–Quem te disse isso?- ele levantou e me agarrou.

–Eu estou dizendo, e me solta, o meu pai está ali embaixo.

–Arrãm, mais tarde então...- depois dessa me fiz até de desentendida.

–Hm.. Me desculpa por ter te chamado de otário.- falei, já na porta do quarto, esperando uma última resposta para eu ir embora.

–Tranquilo, já até me acostumei com as ofenças.

Eu ouvi um barulho de Chaves, era a minha tia, pensei "EBA", exaltei-me em pensamento. Desci de dois em dois degraus. Cheguei lá embaixo e corri em encontro do abraço da minha tia.

–Tia, me salva dessa! Por favor.- sussurrei no ouvido dela.

–Avery, por favor, tente ser um pouco mais dócil.- ela sussurrou de volta.

–Impossível. Ainda mais com aquela Kristen aqui.

–Keep calm Avery, Keep calm.- ela tentou me consolar, acho que não adiantou muito.- Pra onde o seu pai foi Avery?

–Deve ter ido buscar aquela puta, ela já deve ter acabado o programa dela.- debochei da situação.

–Tá bom, vou fazer o almoço.- disse a minha tia, dirigindo-se à cozinha e fechando o blindex, que dividia a copa da cozinha.

Eu subi, e fui abrir os meus emails, conversar um pouco com as minhas amigas, e fazer outras coisas inúteis que os adolescentes fazem na internet. Fiquei lá até Bryan me chamar para almoçar, eu, minha tia e meu primo nos sentamos, meu pai não tinha chegado, ainda, com a Kristen, na real eu estava torcendo para que algo engolisse o carro dele. Para o meu engano, não, não, infelizmente nada, engoliu eles pelo caminho. A Kristen era, alta, ela parecia mais um dinossauro implantado na nossa era. Então imagina, nem preciso dizer mais nada.

–Oi meu amor!- eu creio que ela tenha dito isso para debochar.

–Oi, meu...meu amor, minha flor.- eu disse com um entusiasmo fantástico, quem visse até diria que era de verdade. Ela foi me dar um beijo, o beijo mais falso que eu já recebi.

–Bem...- meu pai limpou a garganta, para dar aquela pausa dramática, bem ele.- Temos ótimas notícias! Eu contou ou você conta amor?- aquela melação me dava enjôo.

–Deixa que eu conto a primeira.- me deu vontade de rir da cara de Bryan, aquela cara tipo, em que mundo estou, o que essas pessoas estão fazendo aqui.- Eu estou...

–Me diz que você tem somente dois dias de vida, e por isso vai nos deixar em paz, por favor!- provoquei, e ela riu ironicamente.

–Não meu amorzinho, melhor... Você vai ser irmã!- vamos rebobinar, IRMÃ? Tipo, ela está com uma pessoinha dentro dela!

–O QUÊ?- gritei- Ai pai, isso é o esforço que ela faz para te dar um golpe, um belo de um golpe!

–Larga de ser debochada garota!- ui ela se exaltou. Ai que medo.

–E você larga de ser... De ser... Você! Morre.

–AVERY.- meu pai irritou-se colocando fim à toda essa confusão.

–Vamos comer, durante o almoço vocês contam o resto das novidades.- disse a minha tia totalmente sem graça. Eu não comi um grão se quer.

–Come minha querida.- minha tia tentou me convencer.

–Não dá tia. Se eu comer, vou vomitar tudo na cara dessa vadia!- UHUL, a vadia me ouviu!

–Garota mais respeito comigo!- nem tentei discutir com ela.

–Acho que já tá na hora de contar a segunda novidade. Avery, vamos nos mudar para cá.

–Pra quê? Perderam alguma coisa aqui?

–Não está feliz minha filha?- ele perguntou, já com a garantia da resposta.

–NÃO!- eu segurei as lágrimas e fui para o meu quarto, me tranquei lá, meu pai foi atrás de mim, até a hora em que ele desistiu. E eu fui fazer uma coisa que havia muito tempo que eu não fazia, me cortar, eu me cortava quando eu tinha quinze anos, que foi a pior época da minha vida. Quando eu vi aquele sangue escorrendo e pingando pelo chão, eu sinceramente, senti um grande alívio, meu coração estava apertado, afogado, enquanto eu ouvia Grenade do Bruno Mars, aquilo era para me fazer chorar mesmo. Fazia uma semana que eu não via Diego, e eu imagino que ele esteja cansando de mim. Que não me queira mais. Essa angústia ainda se estendeu por toda a semana. É como o mundo não me quisesse mais, é como eu estivesse sendo excluída.