Prague delicious

Capítulo 27: A Thousand Years.


O coração acelerado

Cores e promessas

Como ser corajoso

Como posso amar quando tenho medo de me apaixonar

Mas ao ver você na solidão

Toda a minha dúvida de repente se vai de alguma maneira

Um passo mais perto...

A Thousand Years - Christina Perri.

***

Eu me deparei com luzes de vela, tudo estava um breu. Só com as luzes das velas iluminando. Me aproximei um pouco.

— Isso é o que gente? Enterro? Magia negra? – perguntei.

Senti um vento passar por mim. E depois alguém tapar os meus olhos. Obviamente era Bryan.

— Bryan?

— Eu tenho uma surpresa pra você, espera um segundo. – ele murmurou no meu ouvido.

Me fazendo arrepiar.

Senti cheiro de comida.

Ele acendeu as luzes.

E eu pude enxergar claramente a mesa de jantar posta com alguns pratos talheres, e um jarro de flor. Bryan logo apareceu na minha frente com um buquê de flores. Enorme. Lindo.

— É pra mim? – perguntei.

Ele sorriu. Um sorriso bobo. Aquele sorriso que só ele sabia dar.

— Não. É pra mim. – ele falou rindo. Bufei de ódio.

— Ah, fala sério. – reclamei, e revirei os olhos.

— Claro que as flores são suas, princesa. – ele disse se aproximando, e me deu um beijo.

— Te amo. – falei, sorrindo.

— Também.

Um silêncio se formou, e nós nos olhávamos. Seus olhos verdes estavam brilhando. Creio que o meu também.

— Bem... – ele continuou. — Podemos dizer que eu sei cozinhar.

— Ótimo. Temos um cozinheiro em casa. E você irá me ensinar à cozinhar. – falei, colocando o meu dedo indicador sobre o seu tórax.

Ele riu.

— Claro. Mas hoje é o seu dia.

— Meu por quê? – perguntei, confusa.

— Você já vai ver. – ele fez um mistério. Me deixando, admito, curiosa.

— Okay.

— Agora assenta essa sua "tcheca" ali. — ele disse apontando para a cadeira.

— Da onde você está aprendendo este vocabulário? – perguntei. E sentei-me na cadeira.

— Com a vida.

Eu ri.

Depois de um tempo. Ele colocou uma travessa de penne na mesa. E tipo. Eu babei.

— Tá. Então hoje é o meu dia por conta da comida? — perguntei.

— Bobinha... Claro que não.

— Ahn. Então beleza. Pode adiantar o assunto?

Ele sabe que eu sou muito curiosa.

E ele ama brincar com a vida.

— Não gostaria de comer primeiro?

— Você está perguntando se eu quero oxigênio?

— Então é sim. — ele murmurou.

E me serviu.

Amo carboidrato.

Carboidrato engorda.

Mas continua sendo bom.

Uma coisa que eu não estava entendendo, Bryan estava vestido totalmente formal. Terno, gravata e tal. Depois que ele serviu o prato dele, e se sentou.

Eu o encarei.

E ele sorriu.

Eu ainda vou dar um soco na boca dele, e arrancar cada dente branco.

— Dá para parar de sorrir e me dizer logo? — perguntei.

— Meu amor, como foi o seu dia?— ele me perguntou.

— Ótimo. Até agora. — respondi.

— Arrãm.

— E o seu? — perguntei. Já que eu percebi que ele não iria me falar nada.

— A mesma coisa.

— A vadia da sua secretária dando em cima de você? — perguntei, sorrindo irônica.

— Não muito.

Sério. Naquela hora eu tive vontade de enfiar a travessa na cara dele.

Ele devia estar chorando de rir por dentro, só pela a minha reação.

— Calma Avery. Calma. — murmurei pra mim mesma.

— O quê? — ele perguntou, rindo.

Gargalhando pra dizer a verdade.

— Nada.

Depois disso, passamos mais de trinta minutos em silêncio.

— Bem... Eu gostaria de te pedir uma coisa.

— Fala.

Ele se levantou da cadeira, e parou do meu lado.

— Se puder se levantar e olhar para mim, eu agradeceria.

Eu me levantei, e o fitei.

Ele colocou um joelho no chão, e a outra perna apoiando. Ele virou o que agora? Santo? Porque parece que vai pagar promessa.

— Você está pagando promessa? — perguntei, e ele riu.

— Avery Medeline Miller Brown...

—Não diga o meu nome todo. — falei entredentes.

— Avery Medeline Miller Brown... — ele repetiu.

E tirou uma caixinha de veludo de dentro do bolso. E pigarreou.

O tempo fica parado

Há beleza em tudo que ela é

Terei coragem

Não deixarei nada levar embora

O que está na minha frente

Cada suspiro

Cada momento trouxe a isso

Um passo mais perto...

Eu torci minha cabeça e bufei. Ele pegou na minha mão.

— A senhorita aceita casar comigo? —ele disse, e abriu a caixinha.

— Não! — falei decidida, balançando a minha cabeça negativamente.

Ele me olhou confuso.

— Quer dizer, sim... Não... — continuei, eu estava super indecisa.

Okay. Sim ou não? Eu ainda não consegui discernir a resposta.

— Não sei. — murmurei.

— Como que você não sabe? — ele me perguntou.

— Não sabendo.

Tipo, como eu sou burra! O anel é de ouro! Não que isso me importe.

Mas assim, ele deve estar indignado.

— Como assim? Avery, nós já namoramos há, praticamente, uma eternidade. — ele disse se levantando.

— Não foi uma eternidade. Foram, até agora, dez meses.

— Mas pra mim foi uma eternidade. — ele deu um suspiro, soltou a minha mão e se levantou. — Mesmo que isso não seja literal. Foram os melhores dez meses da minha vida. Foram os dez meses mais foda. Mais maravilhoso. Mais perfeito.

Ele deixou uma lágrima sair de um de seus olhos. E pressionou o seu próprio lábio. Tentando manter a calma.

AVERY! Como você é burra cara! Muito burra. O homem da sua vida te pedindo em casamento e você não tem uma resposta concreta.

Ele subiu as escadas, e eu fiquei parada. Olhando para o nada. Eu já podia sair dali e me jogar na frente do primeiro carro. Mas eu me atirei mesmo... No sofá. Para esperar um tempo. Tomar vergonha na cara, e subir.

Esperei em torno de vinte minutos. Eu ouvi alguns barulhos vindo do andar de cima. Por isso resolvi subi. Bati na porta do quarto.

— Bryan? — chamei-o.

Como ninguém respondeu resolvi entrar. Vamos supor que metade do quarto estivesse destruído.

Por exemplo: a cama desforrada com todos os lençóis embolados e jogados no chão. Os abajures despedaçados no chão. A cadeira da escrivaninha caída. Os livros da estante no chão. Os espelhos da porta do banheiro totalmente despedaçados.

— Passou um furacão aqui? — perguntei.

Não obtive resposta.

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil...

Eu fui andando até mais perto do banheiro, e pude perceber pétalas de rosas. Cheguei até mais no banheiro e encontrei a banheira cheia de pétalas também.

Ele tinha preparado tudo para mim. E eu, basicamente, dei um, "pé na bunda" nele.

Voltei para o quarto.

— Amor? — chamei-o novamente.

Encontrei ele encostado em um dos puffs do quarto. Com um pouco de sangue nas mãos. Com a cabeça apoiada nas mesmas. Chorando. Baixo. Mas chorando. Ajoelhei-me perto dele. E ele se levantou.

— Só quero que você me deixe em paz. — ele me disse.

Tá bom. Aquilo doeu.

— Por que você destruiu esse quarto? — perguntei.

— Antes era nosso quarto. Agora é 'esse' quarto.

— Você está igual à mulher ciumenta. Para com isso. Assim eu vou embora. — falei.

Ele parou por cinco segundos na porta do quarto. E virou-se pra mim.

— Vai com Deus. — ele disse, e bateu a porta do quarto.

Ele disse isso mesmo? Eu só posso estar sonhando. Não é real isso.

Vamos lá Avery. Não pense negativo.

Pense negativo Avery. Você acabou de destruir a sua vida.

Cala a sua boca Avery. Você só fala/pensa merda.

Obviamente eu não irei deixá-lo aqui. Mas isso é óbvio. Por mais que ele me ignore e tal.

***

Acordei. Domingo. Nublado. Triste. Depressivo. Quer mais algum adjetivo para este dia? Acho que não.

Bryan não havia dormido comigo esta noite. E nem vi sombra dele. E isso me preocupava.

Sim. Ele é doido suficientemente para se atirar de um penhasco. E isso me preocupava.

E então resolvi descer. O jantar da noite anterior estava ali.

O meu erro começou ali também.

E me irrita muito o fato de eu ser uma burra.

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil...

O carro dele não estava na garagem. Eu sentia falta dele. De todos os modos.

E passou uma hora.

E passou duas horas.

E chegou a hora do almoço, nada dele ainda. Me matar já tinha virado opção. Ai eu pensei na coisa mais inteligente. Ligar para ele. Demorou alguns minutos para atender...

— Alô. — ele disse. Com uma voz de cansado. Uma voz fraca.

— Amor? — falei, com uma voz esperançosa.

— Ah é você... — ele disse com um tom de deboche. Aposto que ele revirou os olhos.

Pois é. A conversa acabou aqui. Sabe por quê? ELE DESLIGOU NA MINHA CARA!

Ligue de novo.

E de novo.

Novamente.

Outra vez.

Nada.

Caixa postal.

***

Agora são exatamente três e meia da manhã. E eu não consigo dormir.

Mas para a minha felicidade ouvi o barulho da garagem se abrindo.

Era ele.

Como estava tudo apagado, ele nem desconfia de que eu esteja acordada. (À propósito, passei o dia arrumando o quarto).

Me agachei perto da porta. Ele não demorou muito para abri-lá. Esperei ele andar um pouco. Tapei os seus olhos.

— Me solta! — ele impôs.

— Não. — sussurrei no ouvido dele.

Ele se soltou à força. Chegando à quase me machucar. Tudo bem que ele tem mais força do que eu e tal. Mas tá bom.

Corri de novo, e pulei nos ombros dele. Ai ele se virou e eu desci. Ele me olhou nos olhos. Eu o fitei com a mesma intensidade. Agarrei-o e beijei-o. Pedi passagem para a minha língua. Porém, ele não concedeu.

— Eu te amo. — falei.

O tempo todo eu acreditei que te encontraria

O tempo trouxe o seu coração ao meu

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil...

— Bom pra você. Ahn... — ele fez uma pausa e prosseguiu o caminho até o closet. — Eu vim aqui só pegar algumas roupas. E algumas coisas...

— Você vai dormir fora de novo?

— Pra que este interesse todo Em saber? — ele perguntou.

— Será que é porquê eu estou casada com você!? — perguntei, basicamente, gritando.

Ele riu.

— Casados não. Namorados. Se ainda somos isso né...

— Tá, tá... Namorados ou casados dá no mesmo.

— Ah não dá não. Casamento foi o que eu te pedi ontem e você não aceitou.

Ele calou a minha boca. Sem dúvida.

— Mas para matar a sua curiosidade. Vou dormir em casa sim. — ele disse, e eu assenti.

Ele saiu, me deixando com uma cara de tacho.

Logo depois eu fui deitar. Para ver se eu conseguia morrer em meus sonhos.

***

Acordei. Tentei manter a minha respiração presa durante um minuto. Mas foi impossível, e ridículo, eu tentar me matar dessa maneira.

Desci, e Bryan já não estava mais em casa.

Senti falta do seu beijo. Do seu abraço. Do seu corpo. Da sua presença.

Um passo mais perto

Um passo mais perto

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil...

***

E assim se prosseguiu os outros dois dias. Sem ele em casa. E eu morrendo de preocupação. Liguei para todos os números conhecidos. Mas dai que me deu na cabeça de ligar para a empresa.

— Stacy, boa tarde. Em que posso ajudar? — a escrota da Stacy atendeu.

— Stacy. Me diz uma coisa. — falei, querendo ser direta.

— Avery?

— Sim sou eu. Bryan está ai? Ele foi ai na empresa? — perguntei, à beira do desespero.

— Olha... — ela começou. — Ele não apareceu por aqui desde segunda-feira. E não deu nenhum telefonema. (...)

O tempo todo eu acreditei que te encontraria

O tempo trouxe o seu coração ao meu

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil.