Power Rangers: Esquadrão Z

É Hora da Geração Z! (Parte 1)


Numa região árida e repleta de cânions dignos de fotografias contemplativas, um avião sobrevoava em meio ao calor que se elevava da terra. A porta da aeronave foi aberta, revelando a figura de um homem de cabelo loiro curto num tom dourado equipado com cordas, âncoras e para-quedas que olhava diretamente para a montanha rochosa a poucos metros abaixo por trás dos óculos escuros de proteção.

— Tem certeza de que quer fazer isso sozinho? — indagou o piloto, Terry, amigo de longa data do passageiro aventureiro.

— Se eu não fizer... ninguém mais fará! — respondeu ele em voz alta pelo barulho ensurdecedor do avião, seus cabelos loiros balançando com a ventania natural e as turbinas.

— Vai nessa, irmão, boa sorte! Vê se não morre!

— Obrigado, Terry, te devo essa! Farei isso funcionar do início ao fim ou não me chamo Thomas L. Dickerson!

Dickerson vinha de uma família de certa importância na Califórnia, tendo membros considerados expoentes no setor tecnológico em diversos segmentos. Estava ali para realizar um dos maiores feitos de sua vida, algo que o faria se destacar na árvore genealógica. Pulara do avião com os braços abertos sem o menor temor diante do perigo.

Ao acionar o paraquedas, sua descida foi tranquilamente desacelerada até firmar os pés sobre o topo da enorme rocha cujo interior se assemelhava a uma caverna. A preocupação de Terry dizia respeito ao rapel que seu passageiro realizava, tanto é que o piloto permaneceu sobrevoando a área para conferir se tudo correria nos conformes. Dickerson tinha uma corda firmemente presa ao seu cinto especial, descendo a rocha com total segurança. Ao pisar no ponto defronte a entrada da caverna, retirou tudo que foi necessário para a ação ter êxito e voltou-se ao avião, dando um joinha para Terry que logo fora embora.

Através de um cartão de acesso passado num leitor digital na lateral direita da entrada, Dickerson tivera acesso ao que lhe foi reservado dentro daquele ambiente. A porta robusta de metal deslizou para cima, conferindo passagem. O explorador correu passando por baixo da porta praticamente deitado pois a mesma fecharia em questão de segundos. Com isso, o corredor mergulhou-se na escuridão. Dickerson acendeu sua lanterna, posteriormente encontrando a chave geral que ligava a energia.

Ao baixar a alavanca, as luzes instaladas no teto iluminaram o corredor. Seguiu confiante em direção ao destino, uma expectativa alta demais para ser correspondida sem nenhum transtorno. Entrou numa sala por meio do cartão passado no leitor e seus olhos brilharam ao ver o que estava bem no centro.

— Foi mais fácil do que pensei. — disse Dickerson se aproximando contente da maleta cinza sobre uma pedra do tamanho de uma mesa — Muito bem... Abra-te Césamo. — abriu-a, meio nervoso. Porém, ao levantar a tampa, sentiu a decepção lhe embrulhar o estômago, o brilho no semblante desaparecendo — Ah não...

— Saudações, meu caro explorador terráqueo! — disse um homem com traje preto e cinza usando um capacete tecnológico preto com ameaçadores olhos amarelos que cobria metade do rosto, surgindo numa gravação em holograma ativada por um dispositivo dentro da maleta — É surpresa que vejo nos seus olhos? Não me admira que estivesse tão ansioso para tão repentinamente se frustrar.

— Você... É o Lokknon. — disse Dickerson num misto de seriedade e inquietação.

— É Imperador Lokknon pra você. Ou também queira chamar de o temido e lendário Imperador Lokknon, conquistador supremo do universo. Assim é melhor, não acha? — disse o pérfido bandido intergalático, dando uma risadinha.

— Onde estão as células de morfagem?

— Suas figurinhas coloridas que estavam aqui? Eu lamento profundamente, mas... Eu as achei primeiro! — respondeu Lokknon, logo rindo.

— Está se vangloriando cedo demais por ter chegado antes de mim.

— Acha mesmo? Porque se depender dos meus soldados, você não me ultrapassa nem um quilômetro hoje. Adeuzinho.

A projeção holográfica foi desligada e rapidamente surgiram em teleporte robôs humanoides e pretos com um único olho vermelho. Todos cercaram Dickerson que se posicionou para enfrenta-los.

— Nunca imaginei que fosse encarar esses zumbis cibernéticos um dia.

O explorador tomou a iniciativa e já começava derrubando uns dois numa rasteira, depois chutando outros dois contra a parede. Mas foi agarrado por um que logo foi afastado com uma cotovelada. Dickerson sacou sua pistola a laser, tanto derrubando aqueles soldados robóticos com golpes de lutas precisos quanto com disparos da arma que lhes provocava danos fatais. Os robôs eram eliminados com os tiros, salpicando faíscas ao serem atingidos.

— Ele chama isso de distração? — questionou ele vendo que havia derrotado a todos. Tirou do bolso um aparelho similar a um celular com tela sensível ao toque que indicava um sinal de rastreamento — As células ainda estão aqui, ele não deixou o planeta. Sorte minha que... — retirou um pequeno objeto circular com fios cortados — ... não saio de casa sem um desses.

Pegou um dos robôs danificados e o virou de bruços, instalando o aparelho e conectando os fios ao sistema operacional ao remover as costas do soldado. Uma maneira astuta de hackear as configurações de um autômato.

— Prontinho. Agora é só você agir como um bom menino.

Esse mesmo soldado hackeado juntou-se aos seus pares que se reagrupavam para voltar a nave deixada em modo invisível até a chegada de Dickerson. Lokknon sentia o poder da ostentação ao tocar na real maleta onde se encontravam as células de morfagem.

— Eu poderia ter plantado umas falsas pra aquele terráqueo imbecil sair com um ilusório gosto de vitória, mas pra um humano deste planeta ele não vale um plano mais elaborado. — disse o imperador, fazendo seus asseclas de maior patente rirem maldosamente, estes eram Mudok, Aracna e Barooma — Eu alcancei o pináculo da minha conquista! — bradou, erguendo a maleta, sendo ovacionado pelos soldados robóticos que erguiam suas armas — A Intercorp irá testemunhar o seu fim junto com toda esta galáxia que agora pertence a mim por direito!

Entretanto, um laser foi disparado contra a maleta que caiu das mãos de Lokknon. O soldado manipulado feito uma marionete por Dickerson rolou no chão e pegara a maleta com grande agilidade. Levantou-se diante de Lokknon que fervilhava de raiva.

— O que pensa que está fazendo? Me devolva isto agora!

— Acho que não vai dar, Lokknon. — disse a voz de Dickerson através do robô cujo único olho passou de vermelho para azul — Não esperava ser traído por um dos seus fiéis subordinados, né? Que pena pra você. As células vem comigo ao lugar que elas pertencem.

— Não! Peguem-no, destruam-no! Depressa!

— Tchauzinho! — falou Dickerson que telertransportou o robô de volta a caverna com a maleta em mãos. Lokknon dera um urro estridente de fúria com a perda das células, assustando seus aliados. Na caverna, Dickerson comemorava pegando a maleta do robô.

— Muito obrigado pela sua cooperação, amigo. — disse ele, logo depois girando com um chute direto na cabeça do soldado, arrancando-a. A cabeça saiu quicando em faíscas.

Lokknon não se conformava com a derrota fácil. Aracna tentou amenizar sua frustração.

— Mestre, talvez tenhamos subestimado o potencial evolutivo dos terráqueos, afinal já faz muito tempo que...

— Não importa! Passe o tempo que passar... eles continuarão a minha mercê, independente do quanto avancem com suas tecnologias. Faço um juramento aqui e agora: destruirei qualquer um que se interpor no meu caminho! — declarou ferozmente — Ninguém vai sobreviver à minha ira! Ninguém!

***

Alameda dos Anjos

Era chegado o momento de iniciar um novo ano letivo na Angel Grove Hogh School que aguardava um considerável número de alunos novatos tendo batido um recorde de matrículas. Dentre esses novos rostos estava um um garoto de 12 anos, atrasado e desesperado ao correr desviando de pessoas pelo caminho pedindo licença e desculpa por esbarrões. Ele era Austin Graham, garoto de certa popularidade na antiga escola em que estudou. Tinha cabelo castanho claro curto, face arredondada e olhos verdes, além de usar um casaco vermelho que adorava por cima de uma camisa preta e tênis que das duas cores. Carregava uma pilha de livros, embora estivesse mais ansioso para rever seus melhores amigos do que pelos novos conteúdos escolares.

Ouvir o sino tocando o apressou mais, acabando por esbarrar num homem usando um casaco azul por cima de uma camisa vermelha parado olhando para a fachada do colégio. Austin caiu para trás, os livros espalhando-se.

— Opa, foi mal, eu tô super atrasado e...

— Não, tudo bem, fica tranquilo. — disse o gentil moço que o ajudou a recolher os livros — Pra quê todos esses livros? É só o primeiro dia de aula.

— Ahn, como sabe que sou novato? — indagou Austin, empilhando os livros.

— Intuição. — disse o homem que lhe entregou o último livro.

— Valeu. — agradeceu Austin, levantando — É que meu pai... esqueceu de comprar uma mochila nova. Aliás, ele não tinha muito dinheiro sobrando, até porque ele anda desempregado...

— Tenha sempre fé de que as coisas entrarão nos eixos, toda fase ruim uma hora acaba.

— É, é isso que tento falar pra ele todo dia. — Austin o fitou por um instante — Você tava aí, parado, olhando pro colégio... Já estudou aqui?

— Há exatamente 20 anos. — respondeu o gentil homem — Os melhores anos colegiais da minha vida foram aí. Passa um filme na cabeça, principalmente quando lembro dos amigos que eu tinha e estavam comigo sempre, seja nos bons ou maus momentos.

— Sabe, eu também fiz amigos especiais, desde que eu comecei a estudar. Eles estão me esperando agorinha mesmo.

— Então vai lá. Como se chama?

— Austin. — disse ele olhando por cima do ombro de forma simpática.

— Austin, prometa a si mesmo que manterá seus amigos por perto, haja o que houver. Pelo jeito que você falou... sinto que eles são bem importantes pra você e você é o elo mais forte dessa corrente.

— Pois é, a gente se entende como uma família.

— Assim era também entre mim e os meus. Boa sorte, Austin. Sei que vai se sair muito bem.

— Valeu mesmo, tchau. — disse Austin, virando as costas correndo, mas voltou-se para onde o prestativo rapaz estava — Ah, esqueci de... — mas não o viu mais em parte alguma — ... perguntar o seu nome — olhou em volta, confuso — OK, a gente se vê... um dia, talvez.

Entrando na sala, Austin dera bom dia a professora, porém recebeu um olhar atravessado daquela mulher branca e gorducha e de cabelo chanel meio ruivo.

— Me desculpa pelo atraso, foi só hoje. — disse ele levando sua pilha de livro ao andar para sua carteira.

— Me disseram que você tinha isso por hábito, rapaz. — disse a professora — Bem, contanto que não desaponte nas notas, atrasos como esse podem ser relevados. Não falta mais ninguém, certo? Vamos começar.

— Ela já fez a chamada? — indagou Austin para Damian, um dos seus amigos e colegas de classe de longa data, um garoto com aspecto tipicamente nerd usando óculos de grau e postura um tanto introvertida.

— Há cinco minutos, aproximadamente. — disse Damian que tinha cabelo preto em corte social espetado e trajava uma jaqueta negra por baixo de uma blusa amarela de mangas longas. Sentava-se na cadeira a frente de Austin — Aonde você tava?

— Me enrolei todo, perdi a hora, acordei tarde... Mas pelo menos acho que fiz um amigo novo. Só não sei se vou vê-lo outra vez.

— Hum... E ele é gatinho? — perguntou Jessie atrás de Austin, quase que no pé do ouvido.

— Tá perguntando pra pessoa errada. — respondeu Austin, descontraído — E olá pra você também, Jessie.

— Austin, o que houve com sua mochila? — perguntou Zoe a direita dele — Não é muito pesado pra você ficar carregando esses livros?

— É que... — disse ele que foi interrompido por um pigarro severo da professora. Austin virou-se temeroso e desconfortável — Sim, senhora?

— Será que poderia complementar minha explanação sobre a época em que a Alameda dos Anjos foi fundada? Faria essa gentileza como punição por conversar durante a aula? — pediu ela, erguendo uma sobrancelha.

Alguns colegas riram baixinho ao redor. Brock e Stuart, a dupla de encrenqueiros da 5ª série-A, debochavam contidos.

— O atrasadinho se ferrou. — disse Brock, garoto meio gordo, de jeito truculento e rude, que tinha cabelo preto bem curto.

— Ele não vai sair dessa. — disse Stuart, o amigo magrelo, bobalhão e facilmente influenciável que sempre acompanhava Brock nas travessuras, sentado atrás dele no fundo da sala. Os dois riam maldosamente.

— Silêncio. — ordenou a professora que voltou sua atenção para Austin. Fez um gesto de cabeça para que ele começasse.

— Ahn... A Alameda dos Anjos foi criada... quer dizer, foi fundada em... deixa eu ver, hum... em 1947?

— Eu não perguntei o ano, afinal isso eu já havia dito, mas obviamente não estava prestando atenção. Sendo assim, me resta uma coisa a fazer.

— Me suspender da aula?

— Não, quero que faça uma redação sobre a fundação da Alameda dos Anjos a ser entregue na minha mesa na semana que vem. Terá bastante tempo pra pesquisar, a nossa biblioteca está aberta até o início da noite. Valendo ponto na sua média.

— Se você quiser eu te dou uma força. — disse Damian.

— Ou deixa ele escrever por você. — disse Tim, sentado a esquerda de Jessie — Vai por mim, ela não vai nem desconfiar que não é sua letra.

— E aí, Tim, beleza? — disse Austin, dando um toque na mão do amigo — Isso funcionou com você? O Damian fez esse favor?

— Foi na terceira série e eu precisei simular a péssima caligrafia dele, assim como a escrita. — disse Damian.

— Mas ela aceitou, isso que vale. Ah, mas você não lembra, né, Austin? Tinha faltado nesse dia.

— Olha, tudo bem, eu vou saber me virar.

— Tem certeza? A história da fundação da cidade tem mais de 50 livros publicados, todos com detalhes exclusivos de cada um. — disse Zoe.

— Vai, deixa o Damian cuidar disso. Digo, te ajudar com a pesquisa, claro. — disse Jessie que recebeu um olhar reprovador de Damian e logo dando um sorriso nervoso.

— Tá legal. Mas como é só pra semana que vem, podemos começar amanhã. — sugeriu Austin.

— Vou logo avisando que será uma pesquisa bem densa. — falou Damian, preparando-o de antemão — Mas te ajudo a formular um resumo.

— Damian, você é o cara. — disse Austin.

— Foi o que eu disse quando ganhei meu dez. — revelou Tim.

— Será que vou ter de estender a punição de Austin a vocês quatro? — questionou a professora que escrevia no quadro negro.

— Não, senhora. — disseram os cinco em uníssono.

***

O observatório da cidade era um dos pontos mais reclamados pela população sobre a vista grossa feita pelo governo em reformá-lo para fins de visitação turística e estudos astronômicos. O impasse financeiro com a NASADA era uma pedra a mais no caminho. Abaixo de sua superfície escondia uma certa localização, secreta no mais alto nível.

Como dirigente principal das operações terráqueas da Intercorp, Dickerson possuía acesso irrestrito àquela base tecnologicamente avançada dispondo de grande arsenal. O carro luxuoso preto em que vinha parou uns metros do observatório e sua cúpula cinzenta. O explorador saiu do veículo.

Dickerson se dirigiu ao local, digitando sua senha de acesso no painel no subinível em que se adentrava por um alçapão no lado de fora. A porta dupla automática abriu-se e ele seguiu por um corredor de paredes metálicas sendo focalizado pelas câmeras de segurança. Logo, entrou na sala de monitoramento, tendo uma surpresa.

— Mas veja só... — disse ele, parando com a porta fechando atrás — Já é a segunda vez que chego atrasado num lugar em um único dia.

— Como foi a caça ao tesouro? — quis saber uma mulher sentada frente ao longo painel numa cadeira giratória, virando-se para ele.

— Melhor Impossível. — disse Dickerson pondo a maleta sobre uma mesa. Abriu-a, olhando as células de morfagem.

— Então conseguiu as células, que ótimo. — disse Karen, levantando. Assistente tecnóloga de Dickerson, Karen era uma mulher em seus trinta e poucos anos com uma aparência jovial que consistia num corpo de modelo vestido com casaco feminino bege e saia marrom, além de um rosto de feições delicadas e cabelos loiros que ficavam presos num rabo de cavalo.

— Não sem uma péssima notícia. — disse Dickerson, sério — Lokknon.

— O imperador intergalático do mal? Não vai me dizer que... — disse ela ajeitando seus pequenos óculos de grau.

— Sim, ele voltou. Quase saiu do planeta com as células, me pregou uma peça bem sacana, mas fui mais esperto e as peguei de volta com um dos meus truques. Há quanto tempo está aqui?

— Desde bem cedo. Os sensores não detectaram nenhum objeto invasor cruzando a atmosfera.

— Ele deve ter ativado o modo invisível da nave que é imune a radares. Do contrário, eu teria visto aquela coisa medonha de longe.

— Agora que tem as células... — disse Karen fitando-as.

— Chegou a hora mais crucial numa situação emergente como essa. — disse ele indo até o painel de controle. Mexeu nuns botões, abrindo um banco de dados numa busca por nomes específicos. Apareceram fotos de cinco pessoas adultas, três homens e duas mulheres.

— Mas estes são os membros do antigo Esquadrão Aviário. Não creio que estejam disponíveis, quanto menos em forma. — declarou Karen, cética.

— Não eles. — contrariou Dickerson, clicando nas fichas pessoais. Logo fotos de crianças ligadas aos ex-membros do Esquadrão Aviário surgiram na tela — Mas estes daqui. Herdeiros do legado.

— Agora acho uma boa ideia trazer os antigos membros. — opinou Karen — Ao menos eles tem alguma experiência.

— Mas fracassaram. Além disso, a Intercorp não aceita readmissão de velhos membros. Vou solicitar uma reabertura da Força-Tarefa XYZ.

— Depois de duas iterações fracassadas nesse projeto, não acho que vão...

— Eles terão que aprovar, pode ser a nossa última chance! — falou Dickerson, irritando-se.

— Mas são apenas crianças! Não é uma medida desesperada demais?

— São tempos de desespero. — disse Dickerson olhando as imagens dos cinco contemplados — Teremos que arriscar.

***

Já retornado a sua nave de interior com iluminação que combinava tons luminosos de azul e roxo nas paredes de metal negro, Lokknon sentou-se no seu trono, engolindo seu orgulho após a humilhação de ser passado para trás por um terráqueo.

— Aquele Dickerson me paga. O farei sofrer da mesma forma que fiz com seu destemido pai.

— Alegre-se, milorde. — disse Mudok, um assecla de alta patente cujo corpo parecia inteiramente maquinário, o qual criou o exército de soldados a sua imagem e semelhança, exceto pelos olhos que tinha dois — Trago boas novas sobre meu experimento.

— Nosso experimento! — rebateu Aracna, uma subordinada nativa de um planeta em que a vida insectoide e aracnídea era altamente evoluída, mas continha vários traços humanos, físicos e comportamentais. Seu cabelo ruivo e cheio chamava atenção com seu belo rosto e corpo de pele laranja. Empurrou Mudok com o qual vivia uma relação competitiva — Eu quem idealizei o projeto, só pra constar.

— O quanto já progrediram? — perguntou Lokknon.

— As aranhas robóticas alcançaram o pico máximo de energia necessário para operar, senhor. — disse Mudok.

— Nesse caso... — disse Lokknon que voltou-se para um técnico da Intercorp que fora sequestrado para fornecer a exata localização das células de morfagem. O alienígena com aparência de peixe e uniforme azul da corporação tremia de medo ajoelhado, amordaçado e amarrado — Podemos nos livrar dele.

— Vocês ouviram! — disse Mudok aos robôs — Joguem o lixo pra fora!

Os soldados levaram o técnico à cabine de despacho da nave. O jogaram nela e um deles apertou o botão vermelho que acionou a abertura da porta, expondo o prisioneiro ao vácuo do espaço. Com seus gritos abafados, o técnico foi expulso da nave para ficar à deriva no espaço.

A nave que parecia um disco de hóquei gigante mantinha-se orbitando a Terra.

***

O ponto de encontro mais badalado entre os estudantes da Alameda dos Anjos após as aulas era a famosa Cantina do Earl, antigamente o Bar de Sucos e Ginásio empreendido por Ernie que transferiu a propriedade para seu sobrinho, um homem pardo e tão gordo quanto o tio.

O quinteto já estava a caminho.

— Será que o Earl não inventou uma daquelas promoções tentadoras? — perguntou Damian.

— A pergunta que não quer calar é: será que o Tim vai rachar a conta hoje? — disse Austin.

— Ah, disso eu duvido muito. — disse Zoe franzindo o cenho com sorriso irônico.

— Quem sabe no dia de São Nunca. — disse Jessie.

— E se eu disser que... — disse Tim cuja fala foi interrompida por uma súbita manifestação que os fez desaparecerem na entrada da cantina como se tivessem sido teletransportados.

Os cinco foram parar na sala de monitoramento onde Dickerson e Karen estavam. Perplexos e confusos, olhavam em torno.

— OK, será que não ficamos com tanta fome que erramos o endereço? — teorizou Jessie, nervosa.

— A Cantina do Earl passou por muitas reformas... — disse Tim esquadrinhando o lugar.

— Galera, a gente tá num lugar totalmente desconhecido... — disse Austin — Quem são vocês?

— Sou Thomas L. Dickerson. — disse o explorador ao lado de Karen em pé — E esta é minha assistente especialista em tecnologia, Karen. Sejam muito bem-vindos à Central de Comando.

— Nos dar boas-vindas depois de ter nos tirado de onde estávamos daquele jeito é bem estranho. — disse Zoe.

— Impressão minha ou... você usou algum tipo de tecnologia que desafia as leis do tempo e espaço transportando matéria física a uma velocidade de nanosegundo? — perguntou Damian.

— Exato. É mais do que vocês conseguiriam compreender. Não vem ao caso discutir como os trouxe, mas o porquê. — disse Dickerson.

— É melhor explicar mesmo que negócio é esse além de um sequestro. — disse Jessie.

Dickerson exibiu na tela imagens do Esquadrão Aviário em ação.

— Estes são os heróis que um dia defenderam a Terra de um ataque alienígena orquestrado por Lokknon, um imperador galático que segue conquistando planetas para se tornar uma força de domínio insuperável. Esses valentes heróis... são seus pais quando jovens.

A informação os pegou desprevenidos, gerando entreolhares desconfiados.

— O quê?! Nossos pais?! — disse Austin — O que é que tá acontecendo? Por que estamos aqui?

— É simples: vocês são legados. Com talentos excepcionais adormecidos por anos para despertarem hoje. — disse Dickerson num tom motivador — Os pais de vocês quase sacrificaram suas vidas para deterem a ambição de Lokknon. Se o pior tivesse acontecido, tudo estaria perdido, a Terra agora já não teria mais nenhuma linha de defesa.

— Então... nossos pais guardaram esse segredo... — disse Jessie, surpresa — Pra que um dia, na hora certa, a gente descobrisse.

— E essa hora é agora. — disse Dickerson trazendo a maleta com as células e os morfadores.

— Irado. — disse Tim olhando para as células — Que brinquedinhos são esses?

— À direita de vocês são as células de morfagem, fontes de energia necessárias para se transformarem. A esquerda são os morfadores, objetos que canalizam a energia da rede de transformação, uma força existente em todo o universo, mas invisível aos nossos olhos.

— De início, fui contra a ideia de reuni-los pra esse destino. — disse Karen — Por receio de que a carga de energia da rede fosse forte demais pra suportarem em vista da idade de vocês.

— Trabalhamos pra uma organização espacial chamada Intercorp que desenvolveu uma operação chamada Força-Tarefa XYZ. — disse Dickerson passando vídeos na tela dos antigos esquadrões — As equipes X e Y não tiveram êxito por maiores que fossem seus esforços contra a Aliança Imperial. Lokknon é apenas uma peça desse grupo que adquiriu maior poder de dominação planetária, ele se sobressaiu e está de volta para provar isso novamente.

— De volta? Mas o que aconteceu depois que nossos pais foram derrotados? — perguntou Damian — Não houve mais heróis?

— Sim, houve, mas sob outras direções. — revelou Dickerson — Os Power Rangers, é como ficaram conhecidos pela população.

— Já ouvi falar nesses Power Rangers. — disse Tim — Meu pai contou histórias deles pra mim. Caramba, nem imaginava que ele tinha sido um. Só uma pena que ele não teve sorte.

— Lokknon destruiu a fonte de poder do Esquadrão Aviário, mas o embate final contra eles ocorreu em outro quadrante galático. — informou Dickerson — O batalhão de guardiões da Intercorp os resgatou são e salvos antes que uma tragédia acontecesse. Depois, Lokknon perdeu o interesse no Sistema Solar por um tempo até hoje quando retornou para roubar as células de morfagem. Por concentrarem muito poder, podem ser usadas para inúmeros fins.

— Como ele ficou sabendo que elas existiam? — indagou Zoe.

— As notícias correm na velocidade da luz pelos recantos do universo. — disse Dickerson — Foi isso que o trouxe de volta a Via Láctea. Está nas mãos de vocês a partir de agora a proteção da Terra.

Um momento de silêncio depois, Tim foi o primeiro a dar um passo adiante.

— Se for pra honrar o meu pai... Eu topo! Ele foi um grande herói. Todos eles foram. Não sei quanto a vocês, mas quero muito entrar nessa.

— Tim, você será o Ranger Azul. Sua máquina de combate, ou zord, como costumamos chamar, é o Tubarão.

Tim pegou a célula azul e um morfador.

— Zoe, você atuará como a Ranger Rosa, cujo zord é a Arraia. Pode pegar.

Zoe o fizera, confiante de seu propósito.

— Pela minha mãe. — disse ela.

— Jessie, você é a Ranger Amarela, seu animal zord é a Águia.

— Hum, gostei da cor, combina com meu cabelo. — disse ela dando uma risada — Minha mãe ficaria orgulhosa. Vou fazê-la ficar.

— Damian, você é o Ranger Preto. O zord que controla é o Touro.

— Bem, se é pra ser assim... que seja. Meu pai pode ter seus problemas como pessoa, mas nunca o decepcionaria sabendo que ele quase deu sua vida pela Terra.

— E Austin...

— Não. — disse ele, categoricamente, surpreendendo os demais — E se eu não for forte o bastante pra usar desse poder? Meu pai era o líder, né? Eu não sei se herdei esse talento.

— Mas Austin, entenda que...

— A minha resposta é não e ponto final. É uma responsabilidade grande demais, não acho que tô pronto pra isso. Encontre outra pessoa, com certeza não sou eu. — disse Austin que virou-se para ir embora — Desculpa, amigos.

— Austin... — disse Jessie, triste pela recusa do amigo.

— Vou mostrar onde fica a saída. — disse Karen seguindo-o.

Na praça central, num espaço de alimentação mais precisamente, havia um grande número de pessoas naquele início de tarde. Cenário ideal para engatar o plano maléfico que colocaria à prova a combinação de forças entre Aracna e Mudok. A subalterna aracnídea de Lokknon observava as inocentes vítimas com malícia. Tinha um controle e apertou o botão principal.

— Que o show comece.

Diversas aranhas robóticas do tamanho de um carro esportivo apareceram em teleporte, cercando as pessoas que se alvoroçaram em pânico correndo.

O alerta soou na Central de Comando, levando Dickerson a rastrear a origem do perigo. Na tela foi mostrado o ataque caótico na praça.

— Como esperado, Lokknon começou a botar em prática suas artimanhas. — disse ele — Estão atacando a praça central. — virou-se aos quatro recém-formados heróis — Vocês devem ir, sem perder tempo.

— Mas e o Austin? — indagou Zoe — Sem ele, não é a mesma coisa, mesmo que seja uma experiência nova pra todos nós.

— Por favor, não desiste dele. — disse Jessie com olhos suplicantes.

— E eu disse que vou desistir? É claro que irei convence-lo de que ele foi destinado a ser um Ranger. Enquanto isso, vocês seguram as pontas por lá. Acreditam serem fortes o bastante pra isso?

Jessie deu um passo determinado à frente.

— Acredito, de corpo e alma.

— Acredito também. — disse Zoe.

— E eu também. — disse Tim.

— E eu, claro. — disse Damian.

— Pois então vão. E boa sorte. — disse Dickerson, no fundo preocupado com sua tentativa de engajar Austin ao propósito heroico.

Longe dali, Austin saía de casa em sua bicicleta.

— Pai, vou dar um passeio. Volto antes do jantar, tá legal?

Saiu pedalando acelerado pela rua naquela tarde ensolarada.

Na Central de Comando, Dickerson recebeu uma mensagem enviada ao computador.

— A Intercorp finalmente respondeu.

— O que decidiram? — perguntou Karen.

— Aprovaram a solicitação. Temos o aval do comandante geral. A força-tarefa XYZ foi reativada. O Esquadrão Z está oficialmente formado. — disse Dickerson que logo lembrou de Austin — Ou quase. Preciso encontrar o Austin. — pegou o morfador e a célula de morfagem vermelha — Conto com você?

— Sabe que aqui é meu paraíso, né? Tudo ficará sob controle. Você vai conseguir. — disse Karen.

Dickerson dera um sorriso fraco, logo saindo. Karen foi ao monitor principal e o painel abaixo dele, contatando os novos heróis.

— Crianças, ouçam, aqui é a Karen. Dickerson foi procurar Austin.

O quarteto corria frenético em direção a praça.

— Ela nos chamou de crianças?! — disse Tim.

— Vai demorar pra eu me acostumar com esse ponto eletrônico! — disse Damian.

— São comunicadores provisórios, os definitivos ficarão prontos em breve. — informou Karen — Uma dica valiosa: não enfrentem as aranhas diretamente, concentrem-se em libertar os reféns e ajuda-los a procurar refúgio até Austin chegar.

Os quatro Rangers pararam na praça vendo as aranhas robóticas arrastando as vítimas presas em redes de teias.

— Caramba, o que vão fazer com toda essa gente? — questionou Tim.

— Nada de bom. — disse Zoe — Pessoal, temos que agir rápido, o Sr. Dickerson tá depositando toda a confiança na gente.

— Ora, ora, ora, se não são as criancinhas enxeridas que vieram bancar os salvadores do mundo. — disse Aracna ao lado de Mudok acima de um prédio — Desculpem, mas o parque de diversões fica do outro lado da cidade.

— Você! É aliada do Lokknon, né? — indagou Jessie.

— Aracna, muito prazer. Mas... que estranho. — disse a mercenária, contando-os — Não seriam cinco? Onde está o último?

— Suponho que seja o vermelho. Deve ter ido se esconder embaixo da cama com medo. — zombou Mudok.

— Ele vai vir, seus idiotas! — disse Tim.

— É só uma questão de tempo! — disse Damian.

— Sabem o que também é uma questão de tempo? — perguntou Aracna, sacando três pequenas esferas pretas metálicas — A completa destruição de vocês! — jogou-as ao alto — Psycho-Bots, atacar!

Daquelas bolinhas saiu um exército de soldados robôs pousando no chão movendo seus braços direitos que seguravam suas armas a laser para cima e para baixo de uma forma padronizada. Os quatro amigos partiram ao combate, arriscando uma luta sem estarem transformados. Zoe dava cambalhotas escapando dos tiros de laser que causavam explosões de faíscas.

— Hora de praticar minha flexibilidade! — disse ela que saltou para trás, chutando um robô nas costas com os dois pés.

Tim empurrou uma cadeira com o pé direito, derrubando um soldado, logo travando um confronto com outros que vinham, chutando-os e dando golpes de karatê.

— Acho que tô pensando em aprender kung-fu! Eu levo jeito pra coisa!

Damian e Jessie estavam mais próximos, o primeiro ficando mais na defensiva, mas chegando a aplicar alguns chutes. Jessie usou uma mesa redonda para se defender de um tiro, logo pulando sobre um robô e o chutando na cara.

— Mandou bem. — elogiou Damian, costa a costa com Jessie.

— Valeu. — disse ela — Eles não parecem ser tão fortes. São uns molengas.

— É uma tática pra nos atrasar. Temos que morfar depressa!

— Sem o Austin?

— Não tem outra saída.

As duas duplas logo se reuniram.

— Galera, precisamos nos transformar! — disse Jessie, assumindo uma certa postura de líder — Não dá pra esperar o Austin... se é que ele vai aparecer.

Zoe e Tim encaravam com desapontamento a possibilidade, mas resolveram acatar a ideia não havendo outro modo. Sacaram seus morfadores e células.

— Prontos? — perguntou Jessie.

— Prontos! — disseram Zoe, Tim e Danny.

— É hora de morfar! — disseram os quatro em uníssono, encaixando as células nos morfadores em horizontal na parte de baixo. O quarteto enfim transformava--se nos heróis coloridos, ainda mais dispostos e capacitados para a batalha.

— Que maneiro! — disse Tim, maravilhado ao se ver trajado de azul — Tô até me sentindo um pouquinho mais alto.

— Eu sinto um tipo de energia incrível correndo em cada centímetro dessa roupa! Não é só um mero tecido de lycra. — disse Damian — Sensacional!

— Eu mal posso acreditar! Me sinto tão mais leve e ao mesmo tempo mais forte. — disse Zoe.

— Gente, tô adorando isso também, mas temos que salvar os reféns. — disse Jessie, a Ranger Amarela — Vamos nessa, turma.

A equipe se mobilizou para retirar as vítimas das redes de teias usando os lasers das pistolas Z cuidadosamente para não ferir ninguém. Aracna e Mudok se amargaram em raiva.

— Os seus robôs palermas não deram conta! Veja, estão soltando os prisioneiros!

— Por pouco tempo. — disse Mudok retirando um objeto semelhante a um pen-drive que se remodelou em uma arma que remetia a um lança-foguetes. O ciborgue disparou um tiro na forma de uma esfera laranja de fogo com raios. Atingidos em cheio, os Rangers voaram com explosões, depois caindo frágeis.

— Que ataque foi esse? — perguntou Tim — Essa doeu!

— Parece algum tipo de arma baseada em nanotecnologia. — apontou Damian, tentando se levantar. As aranhas robóticas os cercaram sem brechas, logo expelindo suas teias para prende-los nas redes. Os Rangers tiveram os braços e pernas imobilizados. Aracna e Mudok comemoravam a virada.

— Bem, o que fazemos primeiro? Pegamos as células ou... destruímos seus donos? — sugeriu Aracna dando uma risada maldosa.

De seu trono, Lokknon assistia pelo seu monitor a provável derrota dos Rangers ante ao trabalho em conjunto de seus mais leais servos. O imperador sorriu malicioso com expectativa pelo fim precoce dos Power Rangers.

CONTINUA...