Restava alguns poucos minutos para o toque do sino que levaria todos os alunos da Angel Grove High School apressadamente para suas salas de aula dada a proibição de permanecer nos corredores e imediações da escola após o sinal. Enquanto o toque de recolher não era ordenado, Zoe arrumava oa pertences no seu armário repleto de adesivos coloridos e papéis colados na porta. Mas a organização teve de ser interrompida pela aproximação do diretor Brewster que ziguezagueava entre os alunos trazendo um envelope branco nas mãos.

A Ranger Rosa logo percebeu que a maior autoridade do colégio vinha ao seu encontro e lhe sorriu simpática e educada.

— Diretor Brewster, bom dia.

— Bom dia pra você também, Zoe. Mas devo ressaltar que isso não é apenas mais um cumprimento, também é um desejo de sorte. — disse o homem calvo de bigode grisalho.

— O que o senhor quer dizer? Tem algo sério a me contar?

— Prefiro que saiba por si mesma. Foi achada na caixa do correio da biblioteca municipal. — disse Brewster entregando o envelope a ela que o pegou relutante — É sério o bastante para que se preocupe pelo resto do dia, além das obrigações escolares. Espero que reaja forte a essa notícia. Até mais.

— Até. — disse ela com a voz retraída, logo visualizando o envelope cujo remetente dizia respeito a alguém filiado à prefeitura — Da prefeitura da Alameda dos Anjos. O que será? — indagou, removendo o lacre de cera vermelha com sinete e puxando a carta. A leitura foi tortuosa emocionalmente pela breve mensagem destacada — Não... Não é possível... — disse, balançando a cabeça em negação expressando surpresa e tristeza.

— E aí, Zoe, bom dia. — disse Jessie vindo até a amiga com sua mochila azul claro nas costas — Dá pra me emprestar sua escova de cabelo depois da aula? A minha quebrou todas as cerdas e não quero gastar o pouco da minha mesada comprando outra tão cedo. — contou, abrindo seu armário, mas logo virou-se notando o abalo emocional de Zoe — Ué, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa grave?

— O diretor Brewster me deu essa carta agora há pouco, foi enviada pra biblioteca municipal. — disse Zoe, o tom choroso, encostada no armário — Lembra que eu sou presidente do clube de leitura juvenil? Pois é, já era.

— Já era como? O que diz aí?

— O prefeito aprovou uma emenda sobre o projeto de financiamento da cultura e lazer. — disse Zoe, enxugando uma lágrima — Com isso, ele acha que é uma ótima ideia se livrar de lugares pouco frequentados ou que não geram renda pros cofres públicos.

— Melhor você ser mais direta ao ponto, desses assuntos políticos eu não entendo nada. — disse Jessie, extremamente curiosa.

— Querem demolir a biblioteca. — disse Zoe rasgando a carta com raiva — Tudo pra construir um aquário que vai atrair um monte de turistas e ao mesmo tempo desrespeitar a vida marinha.

Austin, Damian e Tim vinham conversando animados em direção às meninas.

— Vocês tem que ir, vai ser demais. — disse Tim entre os outros dois — Vai rolar a semifinal do campeonato regional! Eu não quero perder essa.

— Olha, nunca fui muito ligado em boliche, mas sempre via meu pai jogando com os amigos dele nesse lugar. — disse Austin — Faz tempo que eu não vejo uma competição.

— Ah, Austin, tudo bem que você prefere esportes com mais agitação, mas não custa dar uma chance. — disse Tim — Por favorzinho!

— Tá, tá legal, eu vou. Não sei o Damian...

— Nada de chantagem hein. — disse Damian.

— E desde quando uso de uma tática tão suja com meu melhor amigo? — perguntou Tim estreitando os olhos.

— Desde que recusei um convite de matar aula pra assistir o filme que eu mais esperava no ano. E você venceu com aquele atestado médico que forjou pra mim. — recordou o Ranger Preto — Mas como você tem se comportado recentemente... Eu topo.

— É! Vamos nos divertir pra valer essa noite! — disse o Ranger Azul tocando nos ombros dos amigos. O trio se aproximou das garotas.

— Marcaram a demolição pra amanhã, justo no dia da bienal. — disse Zoe para Jessie — Eu não sei o que faço, aquele lugar significa tanto pra mim e os clubistas.

— Que lugar é esse? — indagou Austin — Espero que não seja o ponto do boliche. O Tim quer que o passeio hoje a noite seja só pra garotos. O que houve?

— A Zoe tá arrasada porque o prefeito decidiu derrubar a biblioteca municipal. E vocês vão jogar boliche? Eu até que gosto.

— Desculpe madame, evento reservado para meninos. — disse Tim.

— Acorda, esse lance de dividir eventos entre meninos e meninas tá totalmente fora de aplicação hoje em dia. — disse Damian — Tirando a noite das garotas, claro.

— Galera, a Zoe precisa de ajuda. Ela não tá nada bem com esse negócio do prefeito. — disse Austin, compadecido — Não tem como transferir o clube pra biblioteca da escola assim como a bienal?

— A bienal é um evento financiado pela prefeitura, é a principal patrocinadora. — informou Zoe, entristecida — Além disso, não sei se a direção da escola ou o conselho iria aprovar um clube de leitura que não envolve só estudantes. Não quero arriscar dar esperanças pros membros e receber não como resposta.

— Verdade, o conselho escolar é duro de convencer. — disse Damian.

— Meu sonho de transformar vidas através da leitura acabou, pessoal. Tudo que eu sempre quis foi isso, ajudar as pessoas e fundar esse clube foi um passo muito importante. — disse Zoe, abalada — Agora tudo vai desmoronar.

— Não vai, não. — disse Jessie firmemente — E se a gente montasse um abaixo-assinado pra fazer o prefeito mudar de ideia?

— Tipo sair por aí pedindo pra galera assinar o nome numa lista? Cara, isso pode dar muito bom. — disse Tim, motivado — Quanto mais nomes tivermos, mais fácil pro prefeito cancelar essa derrubada. Jessie, mandou bem.

— Mas isso é o suficiente? — perguntou Austin.

— Receio que não. — disse Damian — Já vi diversos casos de listas de assinaturas serem rejeitadas pra impedir projetos de avançarem. Se valendo somente disso, o mesmo pode ocorrer com a biblioteca.

— Então de que outro jeito podemos salvar o clube? — questionou Jessie.

— Talvez um mutirão de protestos. — sugeriu o Ranger Preto — Reunir gente do clube e outros estudantes que apoiem a literatura como uma fonte cultural que não pode ser retirada do seu povo. Somos cidadãos também, temos o direito de exercer nossa liberdade de escolha.

— Cara, devia escrever isso num livro. — disse Tim ao amigo.

— Vocês acham que pode funcionar? — indagou Zoe.

— É uma coisa que só se descobre tentando. — disse Austin — E então, concorda?

Uma feição de felicidade voltou a se desenhar na face de Zoe.

— Vocês são os melhores. Obrigada.

— Ótimo, a gente começa a pegar os nomes no recreio. — disse Jessie — Cuido de organizar a lista já que a ideia foi minha.

— Nossa, ela tá se achando a heroína. — disse Tim, brincalhão. Os Rangers riram juntos. A conversa toda estimulou Mudok a montar um plano nefasto para prejudicar a empreitada dos heróis. O androide assistia tudo escondido num arbusto com sua visão de longo alcance que focalizava a janela dando para enxergar os Rangers caminhando entusiasmados com a iniciativa de impedir a demolição da biblioteca.

— Tenho certeza que o mestre adorará essa ideia também. — disse ele atrás de uma árvore, dando uma risadinha. Se teleportou para a nave de Lokknon a fim de partilhar as informações que obteve.

— Alguém pode me dizer aonde se meteu aquele insolente do Mudok? — indagou Lokknon que vinha retornando de um corredor — O procurei em boa parte da nave, mas nenhum vestígio dele. É melhor um de vocês começar a falar. — cravou os olhos em Aracna e Barooma.

— O que insinua, mestre? Que estamos acobertando o Mudok numa ação particular que ele tá executando? — indagou Aracna sentada em seu banquinho que era um bloco quadrado de metal preto lendo uma revista de moda roubada da Terra — O senhor me conhece muito bem, longe de mim fazer algo desse tipo.

— Barooma... Tem algo a dizer? — perguntou Lokknon virando-se para o chefe operacional.

— Os sensores não captaram nenhum rastro deixado por Mudok na Terra, senhor. Provavelmente ele se encontra num outro planeta, talvez fora deste sistema...

— Não foi isso que eu perguntei, seu energúmeno! — disse Lokknon empurrando seu serviçal até o painel de controle do bio-modelador. Aracna ergueu o olhar e dera um sorrisinho maldoso de canto, se agradando em ver o colega levar um baita sermão pelo erro. A princesa aracnídea tocou a ponta da língua com um dedo e virou uma página de sua revista.

— Me-mestre, por favor, não faça nada precipitado contra mim! O painel está bem aqui atrás e precisamos dele...

— Ah, já chega, eu perdi o interesse de saber pra onde aquela sucata ambulante se enfiou! Não me importa, ele vai aparecer, nem que seja daqui a 100 anos, porque não iremos abandonar a Terra facilmente como os Power Rangers esperam tão ingenuamente! — declarou o imperador andando até seu trono, a capa negra balançando imponente.

— Me alegra ouvir isto, mestre. — dissera Mudok, surpreendendo com sua volta — Menos a parte da sucata ambulante.

— Mudok! Que prazer revê-lo! — disse Lokknon tentando contornar sua postura anterior com uma falsa alegria nada sutil — Estávamos ansiosos em descobrir onde havia estado.

— Eu não. — contrariou Aracna para ela mesma, seguindo a ler tranquilamente a revista.

— Me perdoe ter saído sem avisar, pretendia fazer uma surpresa ao senhor. — revelou o androide se aproximando — Pedi a Barooma que guardasse segredo, alguém confiável tinha que saber.

— E quanto a mim? Sou sua parceira número um em quase todas as missões! — reclamou Aracna.

— Eu disse alguém confiável. — reafirmou Mudok. Aracna mostro a língua com uma cara feia em resposta, voltando a focar na leitura.

— Pois bem, Mudok, diga-me o que levou você a ir até o planeta insignificante dos Rangers sem que eu emitisse uma ordem direta.

— Estive os observando na escola em que frequentam e descobri uma meta para ajudar a Ranger Rosa quanto a um lugar que está prestes a ser destruído. Eles precisam coletar assinaturas de quem é contra a derrubada da biblioteca onde ela possui uma espécie de clube.

— Hum... Não minto ao julgar que agiu sabiamente, assim não precisamos ficar esperando algo acontecer pelo visualizador. — disse Lokknon, a mão esquerda no queixo e o cotovelo apoiado no braço do trono — Me parece uma ideia estimulante dificultar o plano pessoal desses pentelhos.

— A Ranger Rosa é a mais emotiva e frágil do grupo. Imaginem só a carinha de choro dela quando ver todo o seu sonho desmoronar bem diante dos seus olhos, literalmente. — disse Aracna.

— Além disso, os garotos planejam ir a um jogo de boliche, um esporte praticado entre os terráqueos em que se usa uma bola arremessada numa pista para atingir pinos.

— Que esporte não utiliza uma bola? — indagou Aracna revirando os olhos.

— Em relação a esse tal boliche, não requer nossa intervenção. Mas... — disse Lokknon esfregando as mãos em excitação — O conceito me soa bastante palatável ao meu plano.

Barooma chamou a atenção do imperador para a tela do visualizador.

— Veja, mestre: os terráqueos fazem uso de maquinários automotivos para derrubarem construções de grande porte! Mais precisamente, uma esfera de aço presa a um cabo forte o bastante para suporta-la! — disse ele passando um vídeo de demolições de prédios. Lokknon não deixara de sorrir animado — E aqui é a biblioteca da Alameda dos Anjos!

— Exato! Podemos nos aproveitar de uma junção perfeita entre esses aparatos de destruição e o objetivo do boliche! Barooma, prepare o bio-modelador!

— O boneco já se encontra dentro, senhor! E... já baixando e combinando as informações que farão parte da composição atômica! — falou Barooma mexendo nos controles com rapidez e excelência. Moveu a alavanca — Que venha com muita saúde!

O bio-modelador artificial piscava suas luzes como relâmpagos numa tempestade, exalando fumaça branca que fez Aracna tossir e sair de perto. A porta enfim deslizou para dar passagem ao monstro que era uma mescla de máquinas operadoras em demolição e boliche. Seus primeiros passos de som metálico foram dados.

— Seja bem-vindo a nosso império galático. — disse Lokknon — Parabéns, Barooma. Ele é robusto, forte e uma combinação inteligente das duas coisas. Prevejo um bom desafio aos Rangers.

— Preciso esticar as pernas! Onde me recomendam ir? — disse o monstro.

— O mandaremos ao planeta logo abaixo de nós para que cause a destruição que, suponho eu, você tanto deseja. — determinou Lokknon.

— Vou poder soltar minhas esferas demolidoras por lá?! Pode contar comigo se me permitir destruir tudo pelo caminho! Não vou deixar nada intacto, nada além de escombros e poeira!

— Esse jeitinho bruto dele até me dá esperanças. Vamos chama-lo de Boliche Demolidor. — decretou Aracna, otimista — Ah, mestre, eu me encarrego de trocar a lista de assinaturas com uma boa distração.

— Boa ideia, Aracna. Substituir por uma lista vazia será o trunfo certeiro para enterrar de vez o sonho da Ranger Rosa em manter esse lugarzinho entediante como está. — aprovou Lokknon — Atacaremos no mais propício momento.

***

O recreio nunca antes foi tão aguardado pelos Rangers até aquele dia no qual se engajaram em colher o máximo de assinaturas possível para salvar um local culturalmente relevante para o crescimento da cidade. Os membros do clube literário se reuniram com os heróis para uma discussão quanto aos procedimentos.

— E aí, como vão? Somos amigos da Zoe, a gente tá super afim de impedir a biblioteca de ser derrubada, nos importamos com essa causa de verdade, não apenas pra levantar o astral da Zoe. — disse Austin com total garantia.

— Toda ajuda é bem-vinda, não importa quem ou de onde seja. Fico feliz da Zoe ter pessoas como vocês por perto pra dar essa força. — disse Rob, um garoto negro de óculos que usava um suéter verde-musgo.

— Pois é, eu espero que possamos passar por cima dessa lei que quer o fim do nosso valor cultural. — disse Meg, uma garota de cabelos ruivos alaranjados e meio cacheados.

— Pessoal, esses são Rob e Meg, sócios majoritários do clube. — disse Zoe apresentando-os — É graças a eles que pessoas em condições ruins ganham uma oportunidade de serem alfabetizadas.

— Então o projeto é basicamente um curso preparatório pra escolaridade. Bacana. — disse Damian.

— Nossa, se a biblioteca sumir, muita gente pobre vai continuar em situação de rua sem nenhuma chance de mudar de vida. — disse Jessie tomando dimensão do problema — Eu não sabia direito que era tão grave.

— Vamos mover nosso grupo pra manifestação em frente a biblioteca hoje a tarde. Vocês vêm, não vêm? — sugeriu Rob.

— É claro, nossa participação tá confirmada. — disse Tim.

— Mas primeiro vamos pegar os nomes pro abaixo-assinado. O que a gente tá esperando? Devíamos ter começado, o recreio vai acabar em dez minutos. — disse Austin, disposto, olhando para seu relógio de pulso.

— Isso aí, peguem os nomes que puderem. — disse Rob — Mesmo se não forem tantos, eu vou agradecer cada um de vocês. — apertou a mão direita de Austin — Valeu desde já.

Grande parte da turma da 5ª série-A saiu pelo refeitório, se estendendo também ao pátio de recreação abordavando aleatoriamente quem estivesse próximo e falando acerca da problemática e as implicações advindas.

Jessie agradeceu uma dupla de garotos que assinaram seus nomes e ao virar-se acabou esbarrando em Cindy Harper e suas fiéis escudeiras, Kate e Lidnsey.

— Desculpa, é que eu tô com pressa.

— Olha por onde anda, sua distraída! — resmungou Cindy — Quase me fez derramar meu milk-shake em cima da minha blusa nova!

— Aí, eu pedi desculpas, tá legal? Não precisa ser tão grossa! – rebateu Jessie, a testa franzida.

— Não sou de pegar leve com gente desatenta e apressada. — disse Cindy a medindo da cabeça aos pés — Vamos andando, meninas.

— Ei, espera aí! — chamou Jessie com má vontade. O trio parou e virou-se para ela com expressões azedas — Eu preciso de assinaturas pra um abaixo-assinado. É pela biblioteca municipal que tá ameaçada de ser demolida.

— E daí? Até parece que é o único lugar na cidade onde se pode conseguir livros. — desdenhou Cindy numa atitude que ferveu o sangue de Jessie.

— Não fazem ideia das consequências que vão acontecer se a biblioteca for derrubada. Pessoas muito pobres vão sair perdendo.

— E eu com isso? Tenho cara de quem liga pro que acontece com a ralé dessa cidade? — disparou Cindy — Além do mais, qualquer um com celular pode acessar livros digitais, o que, na minha opinião, é muito melhor.

— Quer saber? Nem sei porque tô perdendo meu tempo! Você é uma garota egoísta, medíocre e sem coração! Não vai fazer diferença sem os nomes de vocês, suas cobras!

— Quando isso acabar, prometo te dar um ingresso pra visitar o aquário que vão inaugurar. Ah, lembrei, é no mesmo ponto onde fica a biblioteca! Não vai dar pra você ir, que pena, porque vai custar bem caro. — insultou Cindy.

— Não me provoca, sua... — disse Jessie andando até a patricinha com postura agressiva. Se Austin não chegasse para barra-la a tempo, uma briga de atrair toda a escola era certa.

— Opa, algum problema por aqui? — indagou o Ranger Vermelho.

— Nada não, Austin, eu tô legal. Só ia pegar os nomes delas, mas tá um pouco difícil...

Austin voltou-se para Cindy serenamente a fim de facilitar as coisas.

— É muito importante que a biblioteca exista, ela ajuda as pessoas mais carentes da cidade a entrarem na escola já alfabetizadas. Então... Por favor, seria de grande ajuda vocês assinarem. O nome da sua família, Cindy, é tão influente, só vai dar mais força pra lista.

Cindy suavizou mais sua expressão ao ver o garoto dos seus sonhos pedir encarecidamente.

— Tudo bem, Austin. Por você, eu daria sim meu sobrenome. — disse ela pegando a caneta e assinando na folha. Kate e Lindsey também o fizeram, entusiasmadas com o pedido.

— Obrigado as três. — disse Austin, educado. O trio se afastou com risos contidos e falando sobre o quão garboso Austin era — E é assim que se ganha a confiança de alguém pra uma causa social.

— Nossa, que lindo, o príncipe encantado fazendo a princesa se compadecer dos mais pobres. Me poupe, eu odeio essa garota. Só assinou porque você pediu. — criticou Jessie, ainda zangada.

— Eu já sabia disso, não teria outro jeito. — disse Austin caminhando ao lado dela – Devia me agradecer por ter evitado uma briga daquelas.

— Tá, valeu. Depressa, faltam quase dois minutos pro intervalo acabar. Cadê o Tim e o Damian?

— Logo ali. Toda uma galera cercando eles, assim vamos longe. — disse Austin se contentando em ver a dupla rodeada de pessoas dispostas a assinar — Eu já peguei doze nomes. E você?

— Míseros cinco. — disse Jessie, insatisfeita, mostrando seu papel — Eu queria ter pego o maior número pra mostrar a Zoe que me importo, ela é minha melhor amiga. Vai ficar chateada com meu resultado.

— Ela sabe que você se importa. Não precisa superar todo mundo pra provar isso. — aconselhou Austin tocando-a no ombro.

Ao final do intervalo, os cinco reuniram-se na arquibancada para o somatório dos nomes.

— Prontinho. — disse Damian — Coletamos, ao todo, trinta e dois nomes.

— Ótimo, podemos ir ainda hoje ao gabinete do prefeito pra mostrar a ele. — disse Zoe. Mas Damian não retribuiu o mesmo otimismo.

— Não é tão simples, Zoe. Essa lista é meramente parcial.

— Mas você falou que tava pronto. — contestou Tim.

— Mas não é o suficiente pra mais da metade do necessário. — justificou o Ranger Preto — Se formos apresentar isso aqui ao prefeito, ele vai rir da nossa cara.

— Então resta sair pelas ruas e de porta em porta pra aumentar a lista. — disse Austin.

— Não sei, tô com pressentimento ruim. Fui ingênua demais achando que só daqui do colégio iria bastar. — lamentou Zoe, sua tristeza voltando.

— Não desanima, Zoe. Somos os Power Rangers, nada pode abalar nossa esperança. — disse Jessie ao lado dela.

— E se os Power Rangers fossem lá entregar a lista? — idealizou Tim — Só a nossa presença já ia deixar ele tremendo na base.

— Parece eficaz na teoria, mas na prática seria incerto. — disse Damian — O prefeito já deixou bem claro sua posição sobre nós. Aliás, contra nós.

— Fora que não podemos usar nossos poderes em benefício próprio, lembrem-se que eu criei o clube. — acrescentou Zoe — E mesmo que funcionasse, eu quero ganhar de modo limpo, sem tirar vantagem de nada.

Uma colega de Zoe do clube literário chamada Deanna vinha até eles.

— Deanna, o que foi? — indagou Zoe levantando-se.

— Más notícias: o prefeito... — estava nervosa ao dizer — O prefeito adiantou a demolição. O diretor Brewster acabou de contar.

— Ah não! Pra quando? — perguntou Zoe, alarmada.

— Hoje à tarde. — disse Deanna, partilhando o desespero — Mas a manifestação ainda vai acontecer, não vamos desistir. Até mais.

Após Deanna ir embora, Zoe tornou a sentar com lágrimas nos olhos e pôs as mãos no rosto caindo num choro. Em sua nave, Lokknon festejava o esforço dos Rangers amargando.

— Isso, seus Power Patetas, o choro é livre! É melhor se prepararem porque só vai piorar!

Boliche Demolidor fora enviado à Terra em teletransporte, surgindo numa rua larga e movimentada. Em poucos segundos, o pânico estava instaurado e o corre-corre desenfreado.

— Incrível! Quanta coisa grandiosa tem pra destruir por aqui que eu nem sei por onde começar! Eu já sou fã desse planeta!

Após o término da aula, os Rangers foram apressadamente saindo pelas ruas parando pessoas para conscientiza-las, assim como batendo nas portas. Porém, Dickerson interrompeu o processo ao se comunicar para o alerta de ataque na cidade.

— Anda, abre, por favor... — disse Austin tocando insistente a campainha de uma residência. Seu comunicador tocara — Péssima hora... — foi afastando-se indo para os fundos da casa. Nesse instante, uma senhora abriu a porta.

— Esses moleques atrevidos... — disse ela, logo voltando, imaginando que fosse alguém tirando onda ao tocar a campainha e sair correndo.

— Fala, Sr. Dickerson. — disse Austin.

— Rangers, reúnam-se imediatamente. Um monstro está atacando o centro da cidade com... bolas de boliche gigantes, provocando muita destruição. Apressem-se.

Os cinco acabaram se teleportando a Central de Comando para avisarem o mentor do entrave com a biblioteca.

— O que houve? Por que vieram? — questionou Karen.

— Já deveriam estar no local do ataque. Alguma coisa a me dizer? — quis saber Dickerson.

— A gente tá com uma missão alternativa. — disse Damian.

— Sr. Dickerson, a Zoe precisa de nós nesse momento, o tempo tá apertado. — disse Jessie.

— Mas a cidade e o mundo vêm em primeiro lugar. — ressaltou Dickerson — O que tá havendo?

— Precisamos entregar um abaixo-assinado ao prefeito ainda hoje, senão ele vai demolir a biblioteca municipal onde eu comando um clube de leitura. — disse Zoe colocando à frente — Se puder abrir uma exceção pra que pelo menos eu vá na manifestação...

— É verdade, um protesto tá ocorrendo em frente a biblioteca. — disse Karen conferindo pelo monitor direito — Não só estudantes, professores e pedagogos também estão envolvidos.

— Eles já começaram, que ótimo. — disse Zoe — Mas a equipe da prefeitura logo vai chegar e precisamos ampliar mais nossa lista.

— Zoe, entendo que a biblioteca significa muito pra você, mas desta vez a ameaça que Lokknon enviou à Terra pode gerar danos críticos e até perdas fatais. — disse Dickerson aproximando-se dela — O dever que vocês tem como Rangers às vezes vai obriga-los a sacrificar objetivos pessoais que entram em conflito direto com emergências. Esse é o caso agora, infelizmente.

Os Rangers se entreolharam tensos e depois o foco virou para Zoe como se ela tivesse um poder decisório.

— Eu vou com vocês. — disse ela — Mas assim que a prefeitura chegar, posso ser liberada pra entregar a lista?

— Depende de como irão se sair na batalha. Boa sorte. — falou o explorador, dando um joinha e uma piscadela aos heróis.

— É isso aí, galera. — disse Austin já com seu morfador e célula de morfagem — Hora de morfar! — bradou, os braços esticados encaixando a célula abaixo do morfador tal qual os demais.

— Touro Ônix!

— Tubarão Cobalto!

— Arraia Rósea

— Águia Flavescente!

— Leão Escarlate!

Os Rangers chegavam em saltos acrobáticos à rua que se tornou um caos de gritaria e correria. O desordeiro monstro logo mirou sua atenção periculosa nos heróis.

— Olha isso gente. Quanto estrago! — disse Zoe visualizando ao redor a bagunça deixada.

— Nem a estátua do fundador esse maldito poupou. — comentou Damian notando a escultura do fundador da Alameda dos Anjos despedaçada.

— Seu joguinho de boliche está acabado! É melhor se render enquanto tem a chance! — bradou Austin ao monstro apontando em posição de ordem.

— Logo eu, o Boliche Demolidor? Nunca! Não agora que apareceram mais cinco pinos pra derrubar! A diversão só tem a crescer! — disse o monstro criando duas bolas de boliche com as mãos e as jogando na direção dos Rangers. As mesmas aumentaram de tamanho instantaneamente, bem como aceleraram.

Os cinco foram empurrados e jogados ao chão tais quais pinos.

— Cuidado, desviem das bolas! — avisou Austin levantando-se e sacando sua pistola Z.

— Querem mais? Aqui vai! Uma pra cada!

Boliche Demolidor lançou mais cinco bolas que cresceram descomunalmente ao ganharem velocidade. Os Rangers avançaram, esquivando das bolas e atirando com as pistolas Z. Exceto Jessie que tentou correr sobre a bola, mas escorregou e caíra.

— Jessie! — disse Austin, preocupado. Resistente aos tiros de laser, Boliche Demolidor lançou seu gancho como segunda arma sem o auxílio das mãos. Atingiu cada um dos heróis, um por vez, movendo o gancho de um lado para o outro. Austin foi o último a ser golpeado, seu peito estourando faísca com o ataque.

— É tudo o que sabem fazer? Por que não ficam paradinhos pra eu mostrar minha jogada perfeita hein?

— A única coisa que será parada aqui é você, ô cabeça de pedra! — disse Tim levantando.

— Detonador Max! — disse Austin invocando sua pistola exclusiva e inserindo um cartucho — Fogo!

Os disparos fizeram nada mais que estouros de faíscas próximos do monstro que pouco demonstrou fragilidade.

— Não dá, ele é grande, forte e resistente. Um peso-pesado de verdade! — disse o Ranger Vermelho, frustrado.

— E se usarmos o Abatedor Selvagem pra um tiro definitivo? — sugeriu Damian — A Zoe tem que estar na manifestação, estão esperando por ela lá!

Zoe olhou no relógio do comunicador e arquejou de susto.

— Caramba! Já são cinco para as três! A demolição vai começar daqui há pouco!

— O Abatedor Selvagem tá fora de questão, por enquanto. — decidiu Austin — Esse miserável pode jogar mais dessas bolas pra se defender e atacar ao mesmo tempo. E temos que continuar todos juntos. Zoe, eu sinto muito.

— Não, Austin. — disse ela, a cabeça baixa, pensativa — A gente não chegou tão perto pra entregar os pontos. Preciso ir. — ligou o comunicador e o aproximou a boca do capacete — Sr. Dickerson, eu posso?

— Está bem. Mas não demore, Zoe. O prefeito está lá acompanhando o processo. Já estão prestes a começar o trabalho, os operadores se aprontaram. E Rangers, sejam estratégicos, a força que vocês detém é capaz de rachar essas bolas, mas optem por suas armas particulares.

— Pode deixar, Sr. Dikcerson! — concordou Austin — Zoe, vai lá. A gente te deseja toda a sorte do mundo.

— Valeu gente. Eu volto logo, prometo! — disse a Ranger Rosa que em seguida se teleportou.

— Menos um pino! Ah não, isso me chateia! Mas não faz mal, ainda posso fazer mais um strike!

— Pois tá na hora de virarmos esse jogo! — disse Austin já equipado com os punhos da selva e seus canhões ativados — Rangers, atacar!

A poucos metros de onde ocorria o protesto, mais precisamente atrás de uma árvore do outro lado da rua, Zoe chegava em teleporte.

— Desativar! — disse ela tocando no morfador preso ao cinto. Após a desmorfagem, foi atravessando a pista correndo. Nesse instante, uma repórter e um estranho cameraman usando uma máscara teatral de rosto inteiro abordavam o prefeito em meio aos gritos da população.

— Estamos aqui ao vivo com o prefeito da Alameda dos Anjos para uma cobertura exclusiva e completa da demolição da biblioteca municipal! Um dia histórico para os cidadãos, mas de duas perspectivas diferentes. — disse a repórter que não passava de Aracna disfarçada. O prefeito, um homem caucasiano, calvo e gordinho, se virou para ela e sorriu simpático para a câmera e acenando — Vamos entrevista-lo rapidinho. Qual sua expectativa acerca da futura obra que ocupará este terreno?

Enquanto isso, Zoe procurava por Deanna no meio da multidão. Porém, bem atrás do povaréu, despercebidamente, um Psycho-Bot aparecia perto da mesinha onde estavam papéis, dentre eles a lista do abaixo-assinado. Trocara por uma vazia, conforme planejado, depois teleportou-se.

— Deanna! — chamava Zoe passando entre as pessoas. Ela se expôs finalmente — Aí tá você!

— "Aí tá você" digo eu! Por que demorou?

— Tive um contratempo. Cadê a lista?

Deanna correu para pegar a folha que estava virada para baixo deixada no mesmo ponto e na mesma posição da oficial. A entregou para Zoe que rapidamente foi até o prefeito.

— Desculpem interromper, mas é urgente que o senhor veja isso!

— Queridinha, estamos no meio de uma entrevista, não tá vendo? Chispa daqui. — disse a falsa repórter com expressão de nojo.

— Quem é você, afinal? — indagou Zoe, estranhando-a.

— Sou Carinna Lokk, repórter do canal de notícias. Que deselegância minha não me apresentar. Me desculpe, prefeito, eu sou meio novata nesse ramo.

— Acompanho o canal diariamente e nunca vi você em nenhuma reportagem até hoje.

— Por isso mesmo falei que sou novata. Agora saia, está obstruindo meu trabalho.

— Tudo bem, é só uma criança, não deve ter nada demais a falar. Toda essa manifestação é irrelevante, não posso voltar atrás. — disse o prefeito.

— Peraí, eu sinto que... — falou Zoe estreitando os olhos ao analisar o perfil da repórter — Tenho a impressão de que conheço você...

Uma van da equipe jornalística oficial estacionava no outro lado. Olhando de soslaio, Aracna resolveu que era sua deixa para sair de cena.

— Oh, meu chefe está falando comigo pelo ponto eletrônico! Há uma ocorrência de... de... de um assalto a banco nesse instante! Situação com reféns, que horror! Temos que ir, obrigada prefeito! — finalizou ela, correndo junto ao cameraman em fuga.

— Senhor prefeito, essa é uma lista de assinaturas de todos que são contra, não só a demolição, mas a emenda aprovada. Esse projeto do aquário é uma ameaça a vida marinha, o senhor tem que compreender.

O prefeito levantou uma sobrancelha e olhou os dois lados da folha.

— Isso é algum tipo de brincadeira? Não tem nada escrito aqui.

— Não tô entendendo... Como assim? Eu juro que... tinha nomes sim na lista! Vários nomes! Não pode ser...

— Lamento, querida. O plenário não vai revogar a emenda, foi uma aprovação unânime. Uma petição a essa altura não terá efeito algum. — disse o político que voltou-se ao gestor de obras — Já podem começar.

— Não! — disse Zoe, desolada, seus olhos marejando. A máquina demolidora posicionou-se próxima ao prédio, pronta para mover a bola destruidora.

— Zoe, na escuta? — perguntou Dickerson pelo comunicador. A Ranger Rosa afastou-se dali para falar.

— Na escuta. Nós perdemos.

— Sim, perderam... a lista original. — disse Karen.

— O quê? Sabem quem roubou a lista?

— Um Psycho-Bot apareceu enquanto todos estavam distraídos. — informou Dickerson — E surrupiou a lista. Sentimos muito, Zoe.

— Por que não me avisaram?

— Desculpa, estávamos totalmente focados na luta dos Rangers, só agora há pouco que vimos a filmagem da câmera de segurança da rua. — justificou Karen, sentindo-se mal por aquilo – Melhor voltar depressa, a situação não está nada boa pros outros.

— Tô indo. — disse Zoe tristemente. Antes de sair, deu uma olhada para a biblioteca que tomava os primeiros baques da demolição, como uma despedida. Corria sem se preocupar com o fôlego gasto. Porém, a repórter ressurgiu com seu cinegrafista — Vocês de novo?! — falou, parando bruscamente — O que querem?

— Dar uma péssima notícia: sua listinha já era. — disse Aracna desfazendo a farsa, o disfarce sumindo com luzes púrpuras e revelando a real aparência. A raiva despertou em Zoe, a impulsionando ao confronto direto com Aracna. Mas a vilã tinha a luta ao seu favor, defendendo-se e esquivando tranquila dos chutes de Zoe, logo atacando-a efetivamente com um golpe só. Zoe caiu empurrada, mas reergueu-se para um novo round em posição de combate com os punhos cerrados — Não tenho medo de você!

— Ah, eu acho que devia. — rebateu Aracna — Psycho-bots, ataquem! — jogou as esferas das quais os soldados robóticos saíram para agarra-la. A princesa aracnídea soltará uma risada infame, mostrando o papel com as assinaturas. O jogou para cima, lançando um fino raio do dedo indicador que incinerou.

— Não! — gritou Zoe vendo a folha cair em labaredas no solo — Me larguem!

— Já chega! Outro dia brincamos de novo, só nós duas. — disse Aracna, com uma piscadela, logo teletransportando-se junto aos soldados. Zoe largou-se ajoelhada, chorando pela lista incinerada.

— Não... Não é tempo pra se lamentar. Vou voltar pelos meus amigos! — disse ela sacando sua célula e o morfador — Hora de morfar! — encaixou a célula no aparelho — Arraia Rósea!

No campo de batalha, Austin recorria a sua Beast Cycle Vermelha, desviando de mais bolas de boliche tamanho família e atirando em Boliche Demolidor em simultâneo. Os tiros a laser atingiam o monstro que finalmente sofria uma queda.

— Continuem desviando! — mandou Austin — Acelerar! — elevou a velocidade da moto ao máximo se envolvendo numa aura de fogo que logo tomou a forma de um leão rugindo. Passou pelo monstro avassaladora, causando uma explosão que o jogou para cima girando lento no ar, a moto também saindo do chão numa manobra radical.

Zoe retornava, alegrando os demais.

— É a Zoe! Finalmente! — disse Tim.

Austin correu até ela, os demais também vindo.

— E então, deu tudo certo?

— Infelizmente não. Aracna estragou tudo, a lista foi trocada por uma vazia e passei a maior vergonha com o prefeito. Como se não bastasse, ela destruiu a lista original. O clube já era, a bienal... tudo acabou!

— Cuidado! — disse Damian sobre as cinco bolas que vinham depressa. Mas dessa vez foram capturados. Os heróis estavam presos nas esferas gigantes controladas mentalmente pelo monstro que as movimentava para bater em prédios de lojas ou em carros. No interior delas, os Rangers rodopiavam para cima e para baixo.

Boliche Demolidor as reuniu.

— Correndo pro abraço! — as fez colidirem umas com as outras num impacto destruidor — E é Strike trezentos!

Os Rangers sentiam-se tontos, cambaleando desorientados.

— O mundo é que tá girando ou sou eu que não parei ainda? — se perguntou Tim.

— Droga! Ele vai nos atacar pior do que antes com a gente desse jeito! — disse Jessie com uma mão na cabeça.

— Eu tô vendo três dele e não sei qual é o certo! — reclamou Damian.

— Rangers, se reorientem! — disse Dickerson — Talvez o segredo para vence-lo esteja num ataque em cerco. Ou até mesmo por trás.

— Verdade! Se não estivermos na frente dele, não é possível sermos atacados! — disse Austin — Ideia genial, Sr. Dickerson! Rangers, se espalhem!

Os heróis saltaram para direções distintas por trás do monstro. A medida que ele os procurava pelos cantos, o quinteto se mantinha atrás dele numa distância segura acompanhando o movimento dele.

— Viram só? Ele tem dificuldade de virar para trás por conta do peso de seu corpo. — disse Austin — É agora ou nunca!

Invocaram suas armas, em seguida fundindo-as para moldar o decisivo Abatedor Selvagem.

— Estão aqui atrás! Crianças medrosas! Venham lutar frente a frente!

Os Rangers andavam de lado para se manterem atrás de Boliche Demolidor que se frustrava por não conseguir virar-se para novamente estar defronte aos heróis. O tiro duplo dos canhões foi disparado, atravessando fatalmente. Boliche Demolidor sucumbiu à explosão potente.

— Yeah, foi demais, galera! Bom trabalho! — disse Austin, parabenizando-os.

— Zoe, tem uma coisa pra te contar. — disse Damian aproximando-se dela — A salvação da biblioteca não tá perdida.

— Como não? Eu disse que a Aracna destruiu a lista oficial. Além disso, o prefeito não volta atrás.

— Ele vai reconsiderar... se mostrarmos a cópia-reserva que eu fiz em caso de perda.

— O quê? Tá falando sério? Damian... Você acabou de salvar o meu dia!

— Esse é o nosso Damian! — disse Austin o tocando nos ombros — Você é um gênio.

— Sou um homem precavido, vocês sabem. — disse o Ranger Preto.

Na rua da biblioteca, o mutirão se efervescia com a demolição em pleno curso, sendo necessário bloqueio policial para contenção. Os Rangers chegaram ao local já desmorfados, furando o bloqueio impetuosamente.

— Ei, voltem aqui, não podem passar! — advertiu um policial.

— Senhor prefeito! — chamaram eles. O político virou o rosto, não se agradando nem um pouco.

— Aquela menina inconveniente outra vez. Agora trazendo seus amiguinhos ativistas. Muito bem, muito bem... O que me trazem? Você não desiste fácil, hein garota.

— Não mesmo. Por isso.. — disse Zoe, arfando — ... que eu trouxe a lista. Essa sim com nomes reais.

O prefeito relutantemente pegara o papel e conferiu os nomes assinados em duas colunas na frente e no verso. Os Rangers o encaravam nervosos, a espera do veredito se alongando.

— Mais da metade da população é contra o fim da biblioteca. — salientou Zoe — Construam esse aquário em um terreno baldio ou transformem outro lugar nele, mas não aqui onde é como se fosse um lar para quem vive em situação de rua e busca aprender o valor da leitura e da escrita. Eu nem mesmo penso no meu clube em primeiro lugar, mas nessas pessoas que merecem a escolaridade e a alfabetização. A biblioteca sempre serviu pra esse objetivo, isso nunca devia mudar.

O prefeito a fitou com serenidade inesperada pelos Rangers. Ele sorriu fechado com um olhar condescendente.

— Me fez lembrar do pilar da minha campanha eleitoral que... sempre foi a educação. Eu tinha esquecido das minhas origens, acho que... ter subido a esse cargo e me filiado a quem só pensa no lucro fácil me deixou cego. Obrigado por me lembrar do homem que eu era.

— Nós que agradecemos. — disse Zoe olhando para os amigos atrás dela que lhe acenaram positivamente com a cabeça.

— Parem tudo o que estão fazendo! A demolição está cancelada! Cancelada! — berrava o prefeito — O aquário será realocado! Parem!

Em clima de comemoração, os Rangers deram um apertado abraço coletivo em Zoe, bradando a vitória. Os sócios do clube vieram parabenizar, animados pela conquista célebre.

Todos os membros do clube gritavam o nome de Zoe em festa enquanto os operadores de máquinas pesadas iam embora insatisfeitos pela perda de tempo.

Lokknon gemia de perturbação em seu trono diante do fracasso de mais uma artimanha malévola.

— Mestre, o que há com o senhor hoje? Não ordenou o disparo do laser regenerador até agora! Os resíduos do Boliche Demolidor estão se consumindo no fogo!

— Hoje não, Barooma. Estou com tanta dor de cabeça que se eu ver mais uma falha é possível que eu sofra um ataque cardíaco ou um derrame. — disse Lokkon, as mãos pressionadas na cabeça — Mas na próxima... os Rangers serão esmagados naquela lata gigante que chamam de Megazord. Mudok!

— Pois não, mestre. — disse o androide dando um passo a frente e prestando reverência.

— Traga minha aspirina agora!

— Si-sim, mestre, é pra já. — garantiu Mudok saindo rápido a passos largos. Aracna soltara um grunhido de raiva ao sair da sala após ver na tela o sorriso de orelha a orelha de Zoe ovacionada pelos amigos.

***

A aguardada noite do boliche foi tratada como uma extensão da confraternização pelo cancelamento da derrubada da biblioteca. O local contava com as presenças não só dos Rangers como dos membros do clube literário. Em círculo, todos brindaram com copos de refrigerante.

— Às novas amizades. — disse Austin, logo o grupo inteiro fazendo seus copos baterem de leve. Tim terminou rápido de beber para ir pegar uma bola de boliche e começar seu jogo.

— Galera, foi mal interromper, mas é que não tô me aguentando de ansiedade.

— Sem problema, você quem deu a ideia de virmos pra cá, então vai primeiro. — disse Damian.

— E ainda teve o bom senso de permitir as garotas de participarem. — disse Jessie com Zoe ao seu lado fazendo que sim com a cabeça.

— Nem pense em nos deixar de fora. — reforçou Zoe — Senão usaremos a sua cabeça como bola.

A piada gerou boas risadas entre todos. Mas as gargalhadas pararam quando Tim foi empurrado por Brock vindo com Stuart.

— Sai daí, cabeça de bola! A gente que vai primeiro, me passa aqui. — disse o valentão meio gorducho tomando a bola de Tim.

— Ei, qual é? Estão querendo encrenca? Pois então venham...

Damian conteve o amigo.

— Não deixa eles estragarem a noite.

— É, vamos ver se eles são bons nisso. — disse Austin, desdenhando deles.

— Olha aí, esses otários duvidam do nosso talento, Brock! — disse Stuart, rindo.

— Digam o que quiser, minha jogada vai ser de profissional! — disse Brock focando na pista e nos pinos — Só vou me aquecer um pouquinho.

Austin e os outros Rangers se entreolhavam descrentes da dupla. Mas a demora de Brock em lançar a bola estava inquietando Stuart. O garoto de franja estilo emo perdera a paciência, indo até o amigo.

— Brock, vê se para de enrolar, anda logo com isso! — disse Stuart dando um belo empurrão no parceiro que escorregou e saiu deslizando pela pista. Brock bateu nos pinos, derrubando todos, mas restou sua cabeça para levar uma batida da bola de boliche que escapou dos dedos. Pensou ver passarinhos voando em círculo com a pancada, os olhos zonzos.

— Stuart, você estragou tudo, vou te pegar...

— E ele foi a Strike trezentos! — bramiu Tim numa pose com os dedos apontando para Brock. A risadaria voltou em cheio e com a adição de Stuart caçoando do amigo devido a jogada acidental.

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