Alex estava do meu lado. Nenhuma chave abria a porta. Ela era feita de uma madeira forte, que provavelmente só o Hulk poderia arromba-la. O meu alto e musculoso amigo soava de preocupação. Ninguém sabia que estávamos ali. Aliás, eramos proibidos de ficar ali, ainda mais esta hora.
04:00 horas da madrugada em Miami.

- Usa seu poder! - Alex falou enquanto fixava seus belos olhos em mim. Pareciam dois diamantes bem brilhantes. Eram tão brilhantes que você conseguia sentir o Alex estava sentindo por dentro, apesar de não ser este o poder dele.

- Você sabe que é proibido usar poderes fora da escola! E aliás, meu poder não funcionaria pra isso. - Nós dois estudávamos em uma escola especial. Todos os alunos tinham poderes. Claro, pode parecer babaca, como estes filmes de ficção da Disney, mas a nossa vida não é nada comparado a histórias para crianças.
Quando completamos 18 anos, nos formamos na escola e vamos para um campo de batalha, assim podemos dizer. Somos selecionados para uma luta de sobrevivência durante 1 ano. Ainda tenho 2 anos para aproveitar a vida antes de morrer. Eu nunca iria vencer.

- É proibido também ficar aqui! Alguma hora alguém vai nos encontrar e...

- Cala a boca! Vai dar tudo certo. - O arco que pendurava as chaves já estava pesando para o lado esquerdo. Sobrava poucas chaves. - OK, falta apenas 3 chaves...

- Tenta logo!

- Tudo bem! Quieto. Vamos ver a chave do meio. - Silenciosamente coloquei a chave na fechadura, dei duas voltas e finalmente ouvi um "CLICK". A porta estava aberta.

- Aleluia. - Alex resmungou enquanto abanava as mãos. Acho que ele não queria que eu ouvisse.

Entramos na cobertura. Senti um arrepio na espinha pelo clima do local. Era silencioso e muito abandonado. Não ouvíamos nada, apenas o barulho do vento nos empurrando um pouquinho de frio. Meu corpo tremia, e eu tentava me aquecer com meus braços. Se Alex não tivesse percebido meu frio e me abraçado com a intenção de me esquentar, acho que eu teria congelado.

- Belle, o que viemos fazer aqui? - Alex perguntou. Eu pude sentir seu hálito de menta percorrer pelo meu pescoço. Sem querer eu estava novamente arrepiada.

Me soltei dos braços daquele homem musculoso e pulei no primeiro caixote que vi pela frente.

- Alexander Ludwig, até parece que você não me conhece. - Coloquei minhas mãos na minha cintura e fiz uma pose bem deselegante.

- Claro que eu conheço. Estou te dando 10 segundos para se esconder.

Alex fechou os olhos e eu aproveitei para correr. Me escondi numa caixa que ficava atrás da saída de ar.

- Já? - Ele gritou para que eu pudesse ouvir.

- Boa sorte! - Respondi, também gritando. Ele era muito ruim neste jogo. Nem parecia que tínhamos 16 anos. Acho que uns 5, no máximo.

A diversão de ficar escondida estava ótima, até eu olhar para o lado e encontrar um líquido. Parecia tinta, mas não era. Passei meu dedo por aquela substância e coloquei perto do meu nariz. Era sangue.
Sai da caixa o mais rápido que pude, correndo desesperadamente e provavelmente soando muito nas mãos. Eu não encontrava meu melhor amigo.

- Alex! - Eu gritava. - Alex! Onde você está?! Responde! - Eu já podia sentir lágrimas enchendo meus olhos, mas eu não pudia parar de correr.

Sem perceber, bati meu corpo contra o de outra pessoa. Pude sentir os músculos que percorriam sua barriga, então logo soube que eu o encontrei.

- Onde você estava?! - Perguntei com uma voz fraca. Se tinha sangue humano ali, aquele lugar não podia ser coisa boa. Tínhamos que sair dali o mais rápido possível.

- Calma, Belle! - Ele me abraçou, e com a boca perto do meu ouvido, continuou falando. - O que aconteceu? Por que você está chorando? - Pude sentir aquele hálito sedutor novamente andar suavemente pela minha nuca. Fechei os olhos bem forte, enquanto o arrepio subia na minha espinha.

- Eu estava escondida na caixa, e encontrei sangue humano. Vamos sair daqui, agora! - Puxei ele pelo braço e o fiz correr ao meu lado. Não pude deixar de observar os cabelos loiros do meu companheiro voarem contra o vento. Parecia uma grande obra de arte. Um desenho profissional. Era perfeito.

Estávamos perto da saída, até dois seguranças nos impedirem de sair parando na nossa frente. Eles nos olhavam sérios e não estavam armados, o que era muito estranho para aquela situação. Minhas mãos voltaram a soar. Serrei os punhos com preocupação.
Passamos uns 2 minutos em silêncio, um olhando para a cara do outro, até Alex não suportar mais aquilo.

- Vocês não vão fazer nada? - Ele esperou uma resposta, mas não houve. - Nos bater? Xingar? Levar para a prisão? Nada? - Novamente não obteve sucesso.

Fixei meus olhos nos dois seguranças. Realmente muito estranho. O olhar deles parecia mortos. Estavam hipnotizados? A primeira coisa que veio na minha mente foi me preparar, porque coisa boa dali não iria sair.
Cheguei perto de Alex e sussurrei perto da sua nuca, pois o ouvido estava longe. Ele era bem mais alto do que eu e tinha ombros largos. Era muito bom de apreciar.

- Prepara seus poderes, Alex.

- Pode deixar. - Ele serrou os punhos, e eu já pude sentir o calor perto do meu corpo. Alex tinha poder de soltar fogo pelas mãos. Você pode achar impressionante e anormal, mas esse não é um poder tão forte, comparado a alguns alunos superiores do colégio.

Os seguranças começaram a se contorcer e chegar um perto do outro. Eles estavam grudando. A cena era bem nojenta. O vomito subiu em minha garganta, mas eu engoli. Eles estavam se transformando em algo.

- Que porra é essa? - Alex perguntou com os olhos arregalados. Ele ia levantando a cabeça, pois ia acompanhando o crescimento da criatura que se formara.

- Eu não sei! Nunca vi algo assim na minha vida! - Meu coração batia contra o peito que chegava a doer.
Nunca treinei na escola para que um dia eu fosse lutar com uma criatura deste tipo. Talvez eu treine futuramente, mas eu ainda não estava preparada.

A criatura se transformou em um monstro. Ela era em forma de cachorro com 4 olhos e 8 patas. Era grande e marrom. Podia pesar toneladas, pois a cada passo que ela dava o chão tremia. Ela rugiu bem alto, o que fez me assustar e me deixar com medo.

- Belle, se esconde! - Alex me empurrou e eu pulei para trás do caixote. Fechei os olhos com bastante força e tentei me concentrar. Finalmente eu podia me sentir transformada. Sai de trás do caixote e levantei meus braços. Um redemoinho chegava perto da cobertura. Meu poder envolvia o ar. Eu podia criar tempestade, raios, ventos fortes e qualquer outra coisa que seja desastrosa.

O redemoinho jogou a criatura pra longe, e a fez ficar pendurada na quina da cobertura.

- Alex, agora! - Ele correu na direção da coisa estranha e a fez queimar até a morte. Ela estava caindo do prédio, mas evaporou no ar.

- Vamos sair daqui, antes que apareça outra coisa. - Ele falou e me puxou pelo braço.

Saímos do prédio e, correndo, chegamos na Praça Principal. Eu e Alex chamávamos ela de "PP". Era um apelido bem tosco, mas o nome da praça era grande e sempre me fazia cuspir quando eu falava.
Sentamos no banco que ficava em baixo da árvore. Ainda estava frio, mas o calor do medo que acabavámos de passar não nos fazia sentir nada.

- Aquilo era um monstro? - Perguntei.

- Sim... Mas é impossível. Monstros não entram na cidade, onde tem mortais. Monstros só existem no campo de batalha.

- Pode ter acontecido algo muito estranho, e a gente tem que descobrir o que é, antes que apareça outro deles pela cidade. - Falei e Alex assentiu.

Ficamos um bom tempo parados, olhando a paisagem. Já era 05:30 horas da manhã. O sol estava pra nascer.

- Quer um sorvete? - Ele perguntou.

- Neste frio?!

- Por favor Isabelle, um sorvete no inverno não se compara com a loucura que passamos hoje. - Ele levantou e estendeu a mão na minha direção. Ficamos nos encarando por um tempo. Aproveitei para perceber que a sua face era perfeita, sem erros. Branco, loiro, olhos brilhantes... Todos na escola sabiam que eu gostava dele, mas eu não gostava de admitir, pois ele não sabia.

- Tudo bem, me convenceu. - Segurei a mão dele e ele me puxou. Caminhamos juntos, um do lado do outro, até a loja de sorvete. Ele estava com o braço em volta do meu pescoço - A mulher vai achar que somos loucos.

- Mas nós somos! - Ele falou, e me fez abrir um sorriso no canto da boca.

- Aliás, eu teria ganhado o jogo lá na cobertura.

- Você tem que ser menos iludida, sabia? - Dei um tapa na sua cabeça, e ele soltou uma risada.

Compramos o sorvete e voltamos para a PP. Sentamos novamente no banco que ficava em baixo da árvore. Ali era nosso ponto de encontro. Era meu lugar favorito, e provavelmente o dele também.

- Minha boca está congelando! - Falei enquanto eu lambia com dificuldade o sorvete.

- Deixa de ser fraca e continua lambendo! - Ele falou, com uma voz que estava pedindo um desafio.

- Falou o cara que pediu um sorvete de chocolate.

- Por acaso é uma coisa anormal pedir sorvete de chocolate? - Perguntou, fixando os olhos em mim e erguendo a sobrancelha.

- Sim, pra você é. Porque todos sabem que você gosta de um negão.

- Adoro. - Ele revirou os olhos e falou com uma voz de bicha.

Ficamos ali, rindo juntos, conversando e se divertindo. Era muito bom ficar perto dele. Eu me sentia acolhida e protegida. Olhei para o relógio e ele marcava 06:00 horas. O Sol estava ali, marcando sua devida presença, sempre muito lindo.

- Alex? - Perguntei. Ele respondeu com carinho um "Oi", mas não tirava os olhos do nascer do Sol. - Você tem medo do que pode acontecer?

- Como assim? - Ele finalmente olhou preocupado para mim.

- No campo de batalha... Se a gente se separar, e eu não conseguir sobreviver... - Suspirei e encarei o chão.

- Shiu. - Ele colocou a mão no meu queixo e levantou minha cabeça, fazendo eu fixar os meus olhos nos dele. - Você vai sobreviver, OK? - Ele completou seu gesto de carinho colando nossas testas uma na outra. - Eu vou te proteger no campo. - Senti o seu cheiroso hálito invadir meu nariz. Meu corpo já estava arrepiado e minha bochecha corada.

- Você é o melhor amigo que alguém pode ter. - Ele me puxou, me fazendo deitar em seu ombro.

- Eu sei. - Falou convencido, abrindo um sorriso no canto da boca.