Assim que adentraram, a porta fechou-se com uma pancada atrás dos garotos.

Frisk pulou, sobressaltada, lançando um olhar escandalizado para trás.

— C-Chara… - gaguejou Asriel.

Chara levou o dedo aos lábios, num pedido mudo de silêncio, apontando da direção do canto da sala com a outra mão.

Endogenia encontrava-se resfolegante, agarrado a uma enorme bola, salivando alegremente ao redor do objeto. Não parecia ter se apercebido da presença das crianças atrás dele, ocupado demais em se estirar ao redor da redoma mágica.

Um pouco à frente, escancarado, encontrava-se o alçapão que haviam visto, na primeira vez em que haviam estado ali.

— Aberto – cochichou Chara – alguém entrou… - voltou o olhar para o amalgamo, cuja gosma continuava a encharcar a bola – a mesma pessoa que conjurou aquela bola ali…

Asriel estremeceu.

— Q-quem? - ofegou – Riverman? Como ele descobriu sobre a…?

Um ruído grotesco, semelhante à de um desentupidor gigante sendo retirado de um buraco, fez os três retornarem a atenção para Endogenia.

O cão corrompido havia erguido as orelhas, ofegante, enquanto a esfera mágica desaparecia repentinamente. Sua cabeça virou-se para os meninos, enquanto uma espuma esverdeada escorria do buraco em seu rosto.

— Frisk… - sussurrou Chara.

Causando um baque surpreendente, o amálgamo bateu a cauda contra a parede, rosnando de modo assustador, retraindo o corpo em posição de ataque.

— CORRAM!

Impulsionando o corpo desesperadamente, Frisk jogou-se rumo ao alçapão, acompanhada pelos dois amigos. Endogenia saltou, quase agarrando Chara com suas patas fantasmagóricas.

— Pulem logo! - apressou-os Frisk, enquanto Chara e Asriel se cocoravam na beirada do alçapão – rápido!

Antes que o amálgamo finalmente os encurralasse, o trio se jogou.

Frisk gritou em sintonia com Chara e Asriel, começando a despencar rapidamente por um longo trajeto rumo ao subsolo do castelo. Seus cabelos esvoaçavam durante a queda - que aparentava ser interminável.

Enfim, após alguns segundos, a menina sentiu pousar, com uma pancada surda, numa superfície estranhamente macia. Mais dois sons de colisão ao seu lado confirmaram que Asriel e Chara também haviam chegado ao fim do alçapão.

— Ahh… - arquejou, apalpando ao redor. A sensação era curiosa, como se estivesse apertando um marshallino gigantesco – onde estamos?

Uma sensação ruim remexeu-se no estômago de Frisk. Aquele aspecto volátil e maleável lhe era terrivelmente familiar.

— Esperem só um minuto…

Alarmados, reconheceram a viscosidade corpórea de outro amálgamo gigantesco, cujo corpo se estendia ao longo daquela sala subterrânea.

Uma longa cabeça ergueu-se em meio às ramificações esbranquiçadas, girando no eixo de um comprido pescoço, lançando um olhar de órbitas vazias para as três crianças, batendo seu bico ameaçadoramente.

Era evidente que o último visitante havia deixado-o encolerizado. E isso definitivamente não era uma boa notícia.

— Um pássaro…?

O pio do amalgamo os fez tapar os ouvidos. Algumas extensões de seu corpo derretido se amarraram no corpo de Frisk, que se viu lentamente imobilizada pela criatura. Igualmente atados, Asriel e Chara se contorceram, soltando exclamações de terror.

— O que vamos fazer? - exclamou Asriel, se retraindo diante do olhar enfurecido da ave,

— Precisamos pensar… - Frisk falou, evitando que um dos segmentos lhe enforcasse o pescoço – o que Alphys… disse sobre… os amálgamos..?

Chara arquejou, erguendo o olhar.

Algo de valor sentimental… algo que gostava quando era vivo… - envergou a cabeça, tentando desviar de outra ramificação – precisamos descobrir…

Frisk observou as características físicas do amálgamo, tentando identificar de que tipo de monstro havia sido criado.

Notou, curiosa, o padrão de marcas que havia nos olhos do amalgamo, recordando-se de um de seus colegas: Whimsun, um monstrinho inseto tímido e inseguro da Lufa-Lufa, que quase não interagia com os demais de sua Casa.

Só havia interagido uma vez com Frisk, quando ela o havia animado um dia, quando estava realmente muito deprimido.

A garota arfou.

— Eu sei que está com medo – ergueu a cabeça para o amálgamo, repetindo as palavras que havia dito naquele dia – mas ninguém vai te fazer mal, se você mostrar que é melhor que essas pessoas – seu se tornou mais gentil – seja forte… sabemos que você pode. Estaremos aqui para ajudar.

O pássaro corrompido a fitou atentamente, perdendo parte da ferocidade de antes. Sua cabeça tombou para o lado, enquanto seu bico abria e fechava lentamente.

Chara e Asriel trocaram olhares significativos.

— É… - o cabritinho disse – estamos aqui. Não precisa ter medo.

— Estamos aqui – acrescentou Chara.

Estremecendo, o amálgamo soltou um choramingo agradecido, balançando suas asas danificadas. Sua cabeça encolheu-se, desaparecendo em meio ao corpo dilatado. As ramificações esmaeceram, até soltarem Frisk, Chara e Asriel completamente.

Os três despencaram um nível abaixo por buracos quadriculados, pousando dolorosamente no ambiente seguinte.

— Ah…. Isso doeu – reclamou Asriel, massageando o quadril.

— Mas deu certo – Chara disse, aliviada – como sabia o que fazer, Frisk?

— Eu… não sei – admitiu – eu vi… Whinsun… dentro dele. E… de repente… sabia que ele só queria ser consolado.

— Isso foi brilhante… - viu Asriel sacudir a cabeça – definitivamente brilhante – tentou enxergar algo na penumbra - acha que Riverman o machucou? Por isso estava irritado?

— Não duvido nada. Se ele for tão perverso quanto Gaster foi… não me surpreenderia – a garota disse, amargurada, relembrando o que havia visto no medalhão – vamos… temos que continuar… antes que seja tarde demais.

Adiantando-se, Frisk, Chara e Asriel seguiram pelo subterrâneo, passando por uma porta de aço que havia ao fim daquele corredor escuro.

E então, viram-se diante de uma nova sala, absurdamente mais clara em comparação com o cômodo anterior.

Espantados, aproximaram-se de um domo alto, a vários metros de altura.

Curiosa, Frisk enxergou alguns pontos brilhantes no teto distante. Franzindo a testa, tentou identificar o que poderiam ser.

— Parecem vaga-lumes – arriscou Asriel.

Voltando a baixar a cabeça, a criança viu outra porta adiante. Evidentemente trancada – literalmente – à sete chaves, dadas as fechaduras em seu batente.

Haviam exatamente sete pontos brilhantes flutuando na redoma.

— Frisk…?

A garota vincou a testa.

— É isso aí – fez uma careta. Aquela é a próxima sala – reergueu a cabeça para cima – e precisamos descobrir…. como apanhar aquelas chaves.