Porto Seguro

I. Quando mais perto, mais forte


Itachi suspirou enquanto afrouxava a gravata. Apoiado contra o braço do sofá, tentava fazer com que seus músculos relaxassem; contudo, quanto mais se esforçava, mais difícil era de esquecer. Com a mente trabalhando incansavelmente, não viu outra opção senão buscar um cigarro no bolso traseiro, em um maço quase inexistente. Acendeu e tragou profundamente, expelindo a fumaça mal-cheirosa enquanto saboreava a inércia proporcionada pela nicotina.

Imaginou o que ela diria se o visse fumando; odiava o cheiro ocre da substância.

Pensar nela fez seu coração falhar mais uma batida. Os últimos dias foram inescrupulosamente torturantes. O tempo era um carrasco severo, e ele sentia-se como o mais odiado dos prisioneiros.

Como chefe da equipe de segurança do magnata Hyuuga, não tinha como negar realizar quaisquer serviços para o patriarca, ainda que significasse se instalar em uma pensão barata, escura o suficiente para disfarçar sua presente, mas não o bastante para fazer com que as luzes da cidade o deixassem dormir.

Em um bairro afastado e esquecido por Deus, Itachi tentava descansar depois de cumprir sua missão, mas sentia-se fraco. Estava longe há três dias, agora; era como se cada uma de suas células clamasse por ela.

Sentir a maciez de sua pele. O aroma adocicado do perfume quase infantil que ela insistia em usar depois do banho. O sabonete de frésias que inebriava seu nariz. Vê-la corar nas bochechas a cada brincadeira maliciosa e sorriso torto que ele deixava escapar.

Itachi sentia-se perdido quando estava longe. Quando mais perto, mais forte. Era por isso que era o melhor. Porque estava próximo a ela.

Como chefe da segurança de Hiashi Hyuuga, Itachi era pessoalmente encarregada de cuidar da herdeira do império de ações multibilionárias, empresas fantasmas, corretoras imobiliárias e negócios obscuros que ela saberia da existência quando chegasse a hora. Hiashi era um homem implacável, e foi dessa maneira que se tornou tão poderoso; e homens poderosos atraíam inimigos poderosos.

Desde muito nova, ela sempre esteve sob seus cuidados. Agora, mais velha, Hiashi não tinha problemas em deixá-la sob a proteção de seguranças estritamente treinados e confiáveis, e mandar Itachi terminar seus serviços sujos.

Mas ele estava errado. Itachi jamais conseguiria ser o melhor, o mais forte ou o mais eficiente se não estivesse perto dela.

Sua princesa. Sua hime.

Era um amor proibido, sabia. Se, porventura do destino ou acaso dos deuses, alguém da família principal viesse a descobrir, ele seria executado da forma mais cruel e fria possível; bem como fez com tantos funcionários que traíram a confiança do Hyuuga.

Contudo, quando percebeu, já era tarde demais. Estava atado. Permanentemente ligado a ela.

Voltou a se levantar do braço do sofá, derrubando cinzas sobre o chão de madeira apodrecida. Embora fisicamente exausto, não conseguiria fazer sua mente descansar. Voltaria naquela mesma noite. Chegaria pela madrugada, e não perderia sequer mais um minuto.

Só havia uma maneira de recuperar suas forças, e era através dos braços delicados e do torso quente da primogênita dos Hyuuga.

Itachi precisava apenas de Hinata.