Porque Ninguém Precisa De Um Namorado
Garotos. Homens.
Tem pessoas que interpretam isso como atração, mas não sou uma delas. Porque encontrar seu namorado na cama com uma vadia nunca foi confortável. Seria a hora de passar a página? Ou eu apenas iria continuar com aquele masoquismo? As coisas deveriam ter saído daquela maneira? Não poderia ter demorado alguns instantes para visitar Jeremy ou, sei lá, ter visitado-o no dia seguinte? Provavelmente iria salvar-me de muitas lágrimas que insistiam de sair de meus olhos. Era tarde demais. E foi por isso, que minha visão sobre garotos mudou.
Sem chance, nunca, jamais. Não existia esse garoto perfeito idealizado por nós. O jeito era mostrar as cartas do jogo e aceitar que a vida sempre tem uma decaída. Aliás, ela acontece quando nós menos esperamos. Eu não iria mais gastar tempo com o amor. Ele não me merecia. Eu iria me recompor, a ferida iria cicatrizar e logo estaria bem. Rearrumando minha vida turbulenta. Meu coração batia, eu estava bem de saúde, então por que razão continuava com esse desânimo? Eu estava livre e solteira. Não existia pessoa alguma agora para determinar o que eu poderia fazer. Eu ri de leve e dei meia volta. Preferia retornar a minha casa a suportar aquele frio.
{...}
“Amor”, pesquisei no dicionário o real sentido dessa palavra, e me frustrei de uma forma muito grave.
— Sentimento apaixonado por outra pessoa: as mulheres inspiram amor. — disse dando gargalhadas. Poderia até soar muito feminista da minha parte, mas naquela altura eu deveria ser feminista. Desde sempre reclamava da forma que rotulavam as mulheres dizendo seres apaixonados e que ansiavam o amor. Infelizmente eu me benzia para não me apaixonar, eu soltei outra gargalhada. Garotas normais deveriam encarar muita situação de outra maneira. Sorvete, músicas depressivas e um coração partido. Mas eu não.
Obrigada, Jeremy. Concretizei em minha cabeça que nenhum garoto valia à pena. Nenhum, nada de exceção à regra. Talvez você esteja aí curtindo sua vida com aquela biscate. Ou o Will esteja divertindo-se com a Danny conversando sobre filhos. Talvez as meninas estejam saindo com seus respectivos namorados. Talvez esse seja um novo capítulo para minha vida. Porque correr contra o tempo é impossível e eu posso está mais confortável dessa maneira. Nenhum garoto para tirar-me o sono. Olhei ao meu redor. Eu estava feliz daquela maneira?
Sozinha nesse mundo, porém acompanhada nessa situação. Não sou a única assim, disso tenho certeza. Mas cada caso tem sua particularidade. Venham os questionamentos e as pedradas, mas meu conceito ainda irá manter-se firme e forte. Não serei hipócrita como havia sido. Pensar que garotos eram idiotas por causa de Jeremy, e perdoa-lo numa tentativa de não condenar todos os garotos. Enfim, sozinha no mundo seria uma nova descoberta.
Não perdi tempo e fui a buscar de algo que me tirasse o tédio.
{...}
Uma vida boêmia nunca foi interesse meu. Mas a bebida naquele momento era minha leal companheira. Uma garrafa de vodka debaixo do braço e uma aparência horrível eram as únicas coisas que carregava comigo. Foda-se essa vida. Não iria me importar mais com nada, além de mim mesma. Jeremy havia se superado, havia conseguido o que queria, havia feito de mim pedacinhos. E Will havia conseguido me iludir de uma forma inexplicável.
Um bar a esquina.
Tudo que precisava. O solado das botinhas batia contra o carvalho do chão do bar. Cabeças se viravam procurando a dona do barulho. Suspiros altos. Fumaça de cigarros. E o odor de suor e bebida misturado naquele ambiente. Eu merecia tudo aquilo, eu era miserável, eu estava miserável. Em um forte lampejo vi-me em uma vida de hedonismo. Vinho tinto sobre o carpete e um sorriso nos lábios curvos e salientes. Irei dar a voltar por cima e não iria me importar com garoto algum. Eu dançava ao som de alguma música imunda e em meus dedos um cigarro estava acesso.
A cada traga uma nova inspiração para o que fazer.
Arrependimento? Pena? Compaixão? Amor?
Nunca! Havia conseguido dar a volta por cima e ainda estava divertindo-me a beça. Vultos e mais vultos. Fumaça e mais fumaça. Álcool e mais álcool. Drogas e mais drogas. Estava sendo feita naquela vida de pecados, mentiras e más atitudes. Contudo, eu tinha uma desculpa, mesmo que fosse a mais esfarrapada possível.
— Quebraram meu coração. Eu vivo em uma mentira! — gritei de cima do balcão. Já estava descalça fedendo a bebida e a nicotina. Todavia, sentia-me nas nuvens, conseguia controlar todos aqueles imbecis presentes naquele estúpido bar. Iria fazer cada um sentir como me senti após ter meu coração quebrado.
Passaram-se uma, duas, três, quatro horas e eu permanecia naquele embalo. Como era mesmo aquele ditado? A noite é uma criança. Eles puxavam-me e imploravam a mais simplória das caricias, mas não. Negava com o ego saturado de orgulho. ‘A raça de vocês me dá nojo!’, pensei sozinha. ‘Vocês me dão ânsia de vômito!’, eu ria como um bebezinho idiota. Aquela era minha noite. E ela iria continuar repercutindo daquela forma.
Descalça, cabelo armado, botões da camiseta desabotoados, sutiã aparente.
Prostitutas invejosas.
Você se foi e eu irei ficar chapada. Bebi todo meu dinheiro, porém essa é minha maneira de dizer adeus. E quando me perguntarem sobre você apenas irei lhes dar um soco bem no meio da testa. Não! Isso não é equivalente ao que você fez-me passar.
Garotos. Homens. Garotos. Homens. E foi assim que apaguei.
XXX
Minhas vestes estavam ensopadas. Meu cabelo fedia. Porém ao abrir de leve os olhos reconheci o local. Meu banheiro, mais especificamente minha banheira. Estava submersa a água suja. Crostas de gordura formavam-se na superfície. Aonde havia metido-me? Um lampejo surgiu em minha cabeça e um sorriso safado tornou a adornar meus lábios. Discernia uma parte desconhecida de minha alma. Aquela parte boêmia onde garotos nunca foi prioridade. Onde a solidão (e a bebida) era minha eterna companheira.
O amor estava morto. E eu era a prova de tudo aquilo. Não só uma ilusão. Que amar é ser iludido, pois nós não deixávamos de ser seres humanos miseráveis.
CONTINUA...
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