Nunca tive coragem de perguntar para meus pais, mas provavelmente devem pensar que sou sedentária. Sabe por que? Eu não tenho certeza, mas tenho lá minhas teorias. Depois de toda aula eu poderia, como a maioria do pessoal, ligar para meus pais virem me buscar. Todavia, o que acontece é que minha mãe coloca o telefone no gancho ou diz que está com diarreia e não pode vir me buscar. Já quando meu pai atende ao telefone, ele é das antigas, faz qualquer onomatopeia fingindo que o telefone não funciona. Mas não funciona.

Isso significa que eu tenho que ir a pé para casa/4320, pelo menos eu tenho minhas esperanças de emagrecer. Eu não sou obesa, graças a Deus, ainda nunca quebrei uma balança. Isso é um sinal mal, né?

Enquanto procurava alguma música dos Beatles em minha playlist de caminhada, sou surpreendida com uma Cathie chorando.

— Por que? Por que? — Cathie gritou e eu não duvidaria que os pássaros na calçada tivessem voado assustados.

Que Cathie era dramática isso não era novidade, mas isso não vinha o caso. Minha preocupação estava totalmente centrada em, como iria ficar o Lonely Hearts Club. Pois, sabia que Cathie seria convidada, sim. Já em meu caso, não tinha tanta certeza, ser vista como uma feminista que tem ódio de homens tem lados ruins e bons. Como uma boa parte de garotos acham que sou lésbica ou coisas desse gênero!! Embora eu não goste de ser incomodada, às vezes sinto falta de ser convidada para alguma coisa. O lado bom é que aquela minha tia velha chata que sempre pergunta sobre namorados calou a boca.

— E como anda os namoradinhos, minha filha?!

— Sou lésbica, tia.

A história pode ter saído com um final feliz, até minha própria tia ter tido uma conversinha com meus pais sobre minha escolha sexual. Acho que ainda não conquistei a confiança total de meus pais por esse ocorrido. Todavia acho que ganhei pelo menos 30% de confiança.

E isso foi bem no dia que Jeremy Brandshaw me dera um fora que fizera-me chorar por noites consecutivas, minha mãe perguntava-me porque estava assim.

— Foi um garoto!!

Acho que foi bastante esclarecedor, senão ter sido...

Enquanto fazia minhas pequenas recordações sobre meu passado, deparei-me com uma Cathie chorosa.

— Eu sou uma forever alone, Marni. Ninguém me ama!! — ela disse revoltada. — E ainda mais tem um ladrão me perseguindo!

PS: Estávamos na calçada do colégio. Fiz uma careta de mal entendida.

— Olhe lá para trás e verá.

Uma simples olhadela de soslaio que o meu equilibro emocional foi embora.

— Onde você se meteu, Cathie!?

— Eu não fiz nada, eu juro.

O pior sujeito do colégio inteiro estava nos seguindo. Andrew Fitzgerald tinha sua fama de badboy, que deixava uma boa parte das calouras suspirando.

Caso ele não tivesse nos notado, ele deveria ser doente, pois corremos como maratonista. Não iria ficar surpresa se ele começasse nos olhar estranhamente.

— Deveríamos ter parecerido mais sorrateiras, né? — Cathie perguntou depois de estarmos à frente da lanchonete 4320, mas conhecida como a sede do Lonely Hearts Club. Meus pais são donos da lanchonete, é.

— Deveríamos?! — perguntei. — Você deveria ter me dito isso antes, não acha?

Minha relação com o meu cabelo nunca fora boa e não melhorava quando eu corria como uma louca.

— Eu estou toda descabelada por causa dessa corrida e depois vem dizer que deveríamos ser sorrateiras? — indaguei adentrando no restaurante e cumprimentando as garotas já presentes com um aceno de cabeça.

— Foi mal. — ela disse tomando assento em algum lugar se quer.

Questão de alguns minutos para o relógio bater indicando 17h em ponto.

— Olá gente! — eu fiquei vermelha e comecei a rir.

What the fuck?! — Cathie disse e logo tomou meu lugar na frente da mesa onde as garotas estavam sentadas.

— Oi Marni e Cathie. — as garotas nos saudaram em coro.

— Com aproximação do dia dos namorados, já não é novidade esperar corações quebrados, então iremos...

— Licença, mas gostaria de falar com a Cathie... em particular. — fui interrompiada por Andrew Fitzgerald. Eu agradeci por está próxima a uma cadeira, que logo cai em cima dela.

— Volto já. — Cathie sussurrou sorridente. Apenas assenti já imaginando o que iria acontecer. Assim, decepcionada voltei minha atenção as meninas.

— Estão percebendo como esse dia dos namorados também nos afeta?! — reclamei revirando os olhos. — Portanto vamos aprender a ser uma.. — levantei-me em um solavanco e escrevi "destruidora de corações" em uma folha solta sobre a mesa.

Percebi uma certa vibração nas garotas ao perceber o que havia escrito.

— Mas pra que isso? — perguntou Ivy arqueando uma sobrancelha.

— Ninguém gostaria de ser convidada para o baile e em seguida ter seu coração destroçado como um Andrew Fitzgerald da vida poderia fazer...