"Diário, são 3h horas da manhã da quinta-feira.
Papai acabou de chegar em casa. Ele estava com uma de suas namoradas. Eu tenho quase certeza que era a Ruiva de sotaque engraçado (a Enfermeira de cabelo Chanel está de plantão todas as noites esse mês, e a Garota dos Cachos ficou como nossa "babá" no sábado passado quando mamãe teve que ir ao hospital - por cima alcoólico - então eles não vão se ver até segunda ou final de semana, provavelmente. Papai voltou mais cedo do trabalho naquele dia para "ver se estava tudo bem em casa", mas nem perguntou sobre mamãe. A Garota Cachos cuidou tão bem de mim que eu até podia ouvir a cama ranger enquanto brincava no sótão, mas acho que meu irmão não percebeu, ele devia estar chapado demais enquanto saboreava o segundo ou terceiro cigarro de maconha do dia)
É, com certeza era a Ruiva do sotaque engraçado.
Mamãe não gritou com ele hoje, o que é incomum. Eu aposto que ela chorou até dormir. Ou bebeu até dormir. Ou os dois. Ele apagou a luz da sala, e subiu as escadas. Antigamente ele parava em frente à porta do nosso quartos para ver se eu e meu irmão estávamos dormindo bem. Hoje, ele só passa direto, a passos pesados e cansados após uma noite de "trabalhos" intensos.
Geralmente ele só volta de manhã, a tempo de nos levar a escola, mas hoje ele voltou mais cedo. Eu não tenho sono. Papai chegou, e eu estou sem sono. Papai chegou, e a casa está em silêncio. Papai chegou... Mas eu só tenho que ir para a escola às 6h30. Acho que vou para o sótão com Teddy. Ele disse que está com vontade de comer biscoitos com chá."

Eu tranco a fechadura do pequeno caderno, e boto a chave no bolso escondido nas costas de Teddy, arrumo o laço de fita no pescoço dele e o abraçei. Me levantei da cama, tirei minha camisola de bolinhas azuis e coloquei um vestido amarelo, com meias brancas e uma sapatilha preta. Eu amarei meu cabelo com dois lacinhos e peguei Teddy no colo. Andei silenciosamente até a cozinha é botei uma chaleira com chá de pêssego para esquentar em fogo baixo. Enquanto isso, eu fui até o armário e peguei uma bandeja de madeira, e uma pequena tigela azul. Enchi a tigela com alguns biscoitos que mamãe tinha feito noite passada, daqueles macios por dentro e crocantes nas beiradas, com gotas de chocolate meio derretidas. Meus favoritos, e os de Teddy também. Eu podia ouvir a água começando a ferver atrás de mim, então fui até lá e apaguei o fogo, e passei o chá para uma chaleira bonitinha de porcelana, para que a chaleira quente não queimasse minha bandejinha. Enfiei Teddy embaixo do braço e peguei a bandeja com os biscoitos e o chá, com cuidado para não derramar nada enquanto subia as escadas, por que sei que mamãe iria ouvir, e acordar, e gritar comigo. Eu deixo tudo sobre uma mesinha de madeira e puxo dois banquinhos para perto dela, um para mim e outro para Teddy, sento ele ali e vou até meu baú de brinquedos buscar o conjunto de xícaras.
— Você quer convidar mais alguém para o nosso chá Teddy? - eu pergunto para o ursinho - Ah, deixe de bobagem, nós temos muitos biscoitos aqui. Que tal convidar Mandy? Você sabe, a bonequinha que a Srta. Johnson me deu. - eu boto as xícaras na mesa e reviro os olhos.
— Teddy, não seja rude. A Srta. Johnson é uma boa professora, e Mandy é uma bonequinha tão quietinha... - eu olho para ele, ouvindo - Bom, sim. Sim, ela era bem tagarela antes. Quase insuportável. Mas ela parou. Você fez algo?? - eu cubro a boca, surpresa - Você costurou a boca dela? Por mim?? Oh Teddy, que coisa adorável! Você é tão atencioso!
Eu o abraço apertado e dou um beijo em seu rosto. De qualquer forma, pego mais dois banquinhos e busco Mandy e Donnie (um adorável elefantinho de pelúcia). Afinal, nós temos bastante chá e muitos biscoitos.