Por você

Capítulo 7 - Fim ♥


Depois da máquina do tempo operacional, as ideias de Okabe pareciam ter voltado a fluírem como água, enquanto ele e Daru reformavam-na esteticamente para deixar parecida com aquela que ainda habitava suas lembranças distantes. O plano para salvar Kurisu, que tinha lhe parecido um mistério por todo aquele tempo, havia se materializado em seu cérebro, como se tivesse estado ali esperando uma oportunidade durante todo aquele tempo.

Ainda usava um jaleco branco, e os cabelos estavam mais bagunçados do que em seus dezoito anos, o rosto ostentava algumas marcas de expressão, além da barba por fazer e as tão usuais olheiras, mas ainda era em todos os aspectos o mesmo Okabe que desejava avidamente salvar a mulher que amara pelos últimos quinze anos.

Ligou a câmera de um celular muito mais avançado do que aquele que tivera quinze anos antes, e baixou a resolução para garantir que fosse capaz de reproduzir no aparelho desatualizado. As palavras ensaiadas e concisas não diziam diretamente a informação que seu cérebro tanto tinha trabalhado para elaborar, mas confiava que seu eu de quinze anos atrás seria muito mais sagaz do que sua versão desgastada.

— El Psy Congroo – despediu-se com o antigo código secreto, há muito não usado, e finalmente desligou a câmera.

— Tem certeza que ele entenderá, tio Okabe? – perguntou uma versão vários anos mais velha da sobrinha adotiva.

— Entenderá, Suzuha, não se preocupe – garantiu com muita confiança – Não se esqueça, ele tem que falhar uma vez antes de acertar – recordou com muita seriedade.

— Pode deixar comigo, tio Okabe! O computador também já está na máquina do tempo, e eu me certificarei de que chegue a você e ao meu pai! – concordou animadamente Suzuha.

— Então boa viagem – desejou sinceramente – Nos veremos essa noite, mas provavelmente você estará mais ocupada brincando – comentou no tom divertido que usava exclusivamente com a sobrinha adotiva naqueles dias sombrios.

— Vejo você e a tia Kurisu mais tarde então – despediu-se ela sorridente, entrando novamente na máquina do tempo.

Ele sorriu, e desejou sinceramente que ela estivesse certa. Com um último aceno, ela desapareceu dentro da máquina do tempo, deixando-o com mais uma vez com as lembranças daquela que só havia conhecido nas memórias vagas de um passado que nunca acontecera.

Desde que a máquina do tempo finalmente funcionara, ele havia desligado o computador onde mantinha o antigo programa que continha apenas um ínfimo de sua verdadeira Kurisu. Quando tinha tão próximo a possibilidade de encontrar a verdadeira, aquela mera imitação sem emoção já não lhe parecia suficiente.

A saudade só havia aumentado naqueles dias, o desejo de vê-la, de tocá-la, de compensar todas as oportunidades desperdiçadas. O foco em reencontrá-la, em recuperar o amor de sua vida, fora até mesmo capaz de cicatrizar as feridas acumuladas naqueles anos torturantes, de restabelecer aquela alma transtornada de todos os pecados cometidos em seu percalço. Ele seria uma nova pessoa para ela.

Outra vez a teoria da relatividade mostrara seus efeitos, e os minutos pareciam correr lentos para o homem de trinta e três anos que ainda vestia um jaleco de laboratório naquele que não era um laboratório legítimo, mas que se assemelhava bem mais com um naqueles anos passados.

Talvez devesse ter se arrumado mais para uma ocasião como aquela, vestido uma roupa digna de um encontro, como ela mesma lhe ensinara uma vez, entretanto sua ansiedade não havia permitido que fizesse nada mais do que esperar atenciosamente por ela. Já andava de um lado para o outro no pequeno espaço quando finalmente reconheceu os efeitos da mudança de linha do tempo, e seu mundo se escureceu por um segundo.

Quando tudo voltou ao foco, havia à sua frente uma versão quinze anos mais velha da mulher tanto amara: corada, respirando e viva. Isso fez com que o coração dele pulasse uma batida depois de todos aqueles anos de tentativas frustradas. Ele jamais imaginaria que alívio e ansiedade poderiam coexistir daquela maneira, contudo seu alívio pelo plano que finalmente funcionara, por finalmente reencontrá-la, e a ansiedade de finalmente realizar todos os desejos impossíveis em todos aqueles anos pareciam preencher toda a sua consciência, enquanto a felicidade parecia se chocar contra as costelas nas batidas de seu desesperado coração.

Ela se voltara a ele, estranhando sua reação, ou mais precisamente, a falta dela. Os cabelos longos e avermelhados haviam sido atados displicentemente com caneta, o rosto dela se mostrava mais adulto, a mesma seriedade e compenetração nos olhos acinzentados afiados, e um dos jalecos que ele achava que caíam tão bem nela. Kurisu havia amadurecido naqueles quinze anos, mas não mudado, exatamente como Okabe sempre imaginara em suas divagações, enquanto convivia com aquela versão simplificada dela.

Por mais que ela parecesse levemente desconfortável com a intensidade com que ele a encarava, não esperava que pudesse passar disso, mas Okabe venceu a pouca distância que os separava, e apertou-a num abraço tão entusiasmado que foi capaz de tirá-la do chão. Felicidade era uma palavra simplória para descrever seu sentimento naquele momento. Não tinha certeza se choraria de felicidade, ou se seria incapaz de gastar sequer mais uma lágrima na vida.

— O que é isso, Okabe?! – protestou, com o rosto corando de vergonha – Você…

As palavras foram abafadas por um beijo apaixonado, ao qual ela correspondeu, apesar da surpresa inicial, pois aos seus olhos, não era estranho que Okabe fosse estranho, apesar de concordar que estivesse especialmente obstinado a superar as expectativas naquele dia.

Tinha esperado demais por ela, e só o que queria era finalmente tê-la o mais próxima possível, reavivar as lembranças de uma tarde distante, e finalmente dizer a ela o sentimento que havia o motivado durante todos aqueles anos de solidão e distância. Havia mudado o mundo, zombado da lógica e passado longos quinze anos criando uma nova ciência apenas por aquele momento com ela. Ela era mais do que a mulher da sua vida, era o seu motivo de existir.

— Eu te amo, Kurisu, te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo! – declarou com toda a paixão expressas nos olhos e nas palavras.

O rosto já corado dela ganhou um novo tom de vermelho. Estava acostumada às excentricidades dele, entretanto não costumava ser tão romântico, apesar de ser obviamente muito apaixonado.

— Bem, eu também amo… – tentou respondeu de uma forma um pouco mais comedida, como sua personalidade impunha, mas outra vez ele lhe interrompeu com um beijo.

Já tinham os lábios vermelhos e a respiração arfante quando finalmente se separaram. Quando Kurisu imaginava que não pudesse piorar, ele a suspendeu nos braços, como se fazia a uma noiva, num passo um tanto desequilibrado por sua falta de prática. Okabe não estava sendo nem um pouco racional naquele dia, e não o seria nem se pudesse, tudo o que queria era se declarar de todas as formas possíveis a ela.

— Okabe, pode me explicar qual seu problema hoje?! – reclamou, com as maçãs do rosto vermelhas, enquanto se segurava firmemente a ele pelo medo de cair – Aquelas ideias de segunda lua de mel da Amane e do Daru andaram te influenciando por acaso? Bem, nós também podemos ter uma, mas me deixe terminar isso primeiro – argumentou decididamente.

Ele não fazia nem ideia do que ela estava falando, mas a menor menção de lua de mel fez com que uma ideia brilhasse em letras garrafais ante seus olhos.

— Eu quero casar com você! – assumiu subitamente, fazendo com que uma expressão de estranhamento perpasse o rosto dela – Você aceitaria se casar comigo, Kurisu? – pediu apaixonadamente.

— Do que você está falando?! Nós já somos casados há dez anos! – replicou confusa – Está me pedindo em casamento de novo para compensar os cinco anos que me deixou esperando daquela vez?! Já estava achando que se quisesse casar, eu mesma teria que te pedir em casamento… – confessou irritadamente, mas outra vez se interrompeu por vergonha, e os olhos se estreitaram num olhar felino ao reconhecer o sintoma que há tantos anos não presenciava – Okabe, qual foi a última coisa que eu disse que queria? – perguntou para certificar-se.

— Um garfo pessoal? – chutou ele imprecisamente, com um sorriso displicente.

— Foi um jantar em Paris! Em um restaurante bem romant… Esquece – interrompeu-se timidamente – Um garfo pessoal?! Isso foi a primeira coisa que eu disse que queria! Há quinze anos! Okabe, você andou mexendo no tempo de novo?! – inqueriu indignadamente, retomando sua bronca, e o silêncio dele lhe soou como uma confirmação – Nós combinamos que não mexeríamos com o tempo mais! Você sabe, a SERN ainda é muito influente, se eles roubarem nossa tecnologia novamente, sabe-se lá o que pode acontecer dessa vez! – ralhou, perscrutando-o com os olhos acinzentados irados.

— Desculpa, é que existe uma coisa mais importante para mim do a terceira guerra mundial – confessou com outro sorriso displicente.

— E o que é? – perguntou indignadamente.

— Você – admitiu abertamente, com o maior dos sorrisos.

A resposta tão sincera e direta a desarmou. As maçãs do rosto dela queimaram outra vez num tom rosado, e as marcas de expressão que demonstravam sua irritação se suavizaram.

— Pelo visto você não se lembra de nada do que viveu nessa linha do tempo, não é? – certificou-se e o olhar chateado dele foi mais do que explicativo – Então acho que uma nova lua de mel não seja uma má ideia, e podemos fazer uma renovação dos votos de casamento também – sugeriu envergonhadamente.

— Achei que fosse impossível eu ser ainda mais feliz do que nesse momento, mas você sempre me surpreende! – confessou apaixonadamente, e outra vez ela mostrou sua habilidade de surpreendê-lo, puxando-o para outro beijo apaixonado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.