Apesar de ter tido um dia cheio, tudo que Amélia queria fazer ao chegar à sua casa era ler o que os seus alunos haviam escrito. Dário, seu marido, até a convidou para ir dormir, mas ela passou boa parte da noite lendo aquelas descrições e procurando estratégias para juntar as melhores duplas. Após fazer um café reforçado, Amélia pegou sua pasta com todo o material, colou uma cartolina com fita adesiva na parede e começou sua tarefa.

Como Daniel era o seu aluno menos interessado, ela preferiu começar por ele. Ganhar dinheiro como jogador de futebol era toda a garantia que Daniel precisava para não se importar com as suas notas, então ele só se esforçava para tirar um seis e passar de ano. As palavras com que os alunos mais o descreveram foram: engraçado, talentoso — ele era um bom atacante num time de futebol sub-20 —, simpático e bonito. Como a professora já o conhecia há algum tempo, sabia que, além disso, Daniel era irresponsável, tinha tirado notas baixas na maioria das matérias e gostava de fazer piadinhas infames sobre alguns colegas. A dupla perfeita para ele deveria ser alguém bastante aplicado nos estudos. Amélia até pensou em Beatriz, mas havia um eventual ar de superioridade nela que lembrava Daniel.

Lendo outros trabalhos, a professora teve um momento eureca. Elisa era tão inteligente quanto Beatriz e se dava bem com todo mundo. Além disso, ela vivia no celular e era péssima em educação física. Dentre as palavras que mais escreveram sobre ela havia termos como companheira, amiga, confiável, inteligente e criativa. Amélia concluiu que Daniel e Elisa seriam a primeira dupla formada e escreveu seus nomes lado a lado naquela cartolina.

Daniel e Elisa

Depois disso, Amélia recolheu os papéis e pensou que estava faltando algum trabalho, mas depois se deu conta que Silas havia faltado a aula. Felizmente, os alunos se lembraram dele e escreveram seus adjetivos na folha. Silas andava para cima e para baixo acompanhado de um grupo de meninas, na maioria das vezes Nina, Rafaela e Bruna. Ele sempre fazia piadas no meio da aula, mas também era um ótimo aluno e tirava boas notas. Tinha um jeito meio extravagante e seus colegas o descreveram como engraçado, entusiasmado, carismático e simpático.

Conseguir uma dupla para Silas foi um pouco complicado para Amélia porque havia muitas possibilidades, para a tristeza dela. Como Silas era homossexual, a professora sabia que poucos meninos ficavam à vontade ao lado dele e poderiam aprender muito ao conhecê-lo melhor. Outra opção era Tainá, uma garota religiosa que Amélia ponderou que provavelmente considerava a homossexualidade um grande pecado. Ela já estava escrevendo o nome dela, quando leu a descrição de Silas que a aluna havia escrito.

“Silas – Apesar de termos ideias e estilos de vida diferentes, ele é um ser iluminado. Ajuda os colegas sempre que pode e faz da sala um lugar muito melhor, quando não está falando pelos cotovelos.”.

Depois de ler isso, Amélia se sentiu mal por ter tido opiniões precipitadas sobre Tainá, que havia escrito uma das descrições mais certeiras de Silas. A professora fez justamente o que ela estava tentando mostrar aos seus alunos que era errado: julgar sem nem olhar direito. Assim, ela resolveu ler cada trabalho novamente. A maioria dizia que Silas era comunicativo e legal. Na hora de acrescentar um defeito, falavam que ele era tagarela ou que gostava de fofoca. No meio de tudo, a professora só chegou a uma conclusão quando leu o trabalho de Janaína. Ela tinha sido a única que havia descrito Silas como gay. Não que estivesse errado, mas ninguém havia descrito ninguém como heterossexual, então aquilo incomodou Amélia.

Olhando para o que haviam escrito sobre Janaína, nada que chamasse atenção. Até a melhor amiga, Vera, não divergiu muito do que os outros achavam sobre ela. Janaína só era legal, gentil, calada e tímida. E aquilo também incomodou Amélia, fazendo-a pegar o lápis para escrever a formação da segunda dupla.

Silas e Janaína

Depois disso, o nome de Tainá ficou sobrando. Também existiam diversas possibilidades para ela, porque poucos compartilhavam concepções religiosas tão tradicionais. Em sua descrição se viam termos como amiga, esforçada e teimosa. Alguns colocaram que ela era religiosa. No papel de Cecília estava escrito: “Estudiosa e simpática, porém antiquada”. Amélia concluiu que Cecília não conhecia Tainá o suficiente para chamá-la de antiquada, mas entendeu por que ela escreveu isso.

No papel de Tainá, Cecília foi descrita como “ousada e moderna, mas sempre se esconde na sala”. Aquilo era verdade. Cecília trocava a cor dos cabelos a cada dois meses, tinha alguns piercings e diversas tatuagens espalhadas pelo corpo. Sempre sentava na última fileira e se dava melhor com os meninos. A única garota que ela parecia gostar era Maia, que também se escondia nos fundos da sala, mas ao contrário dela, não se dava muito bem com os garotos. Tainá e Cecília complementavam-se muito bem, por isso seus nomes também foram escritos lado a lado na cartolina.

Tainá e Cecília

Aos poucos, as duplas foram se formando.

Nina passava a aula fofocando com suas amigas e Mário nunca prestava atenção, vivia no mundo da lua. Rafaela era militante e defendia o amor próprio, a moda plus size e todos os tipos de beleza, enquanto Flávio passava a aula toda fazendo brincadeiras sobre qualquer coisa, inclusive sobre a aparência das pessoas. Bruna só prestava atenção em seu namorado, Thiago, a ponto de Renan só ter escrito características superficiais sobre ela — Bruna é bonita, sorridente, mas muito vaidosa. Vera era a aluna mais empática da sala e Jorge só dormia ou paquerava as meninas. Maia se distanciava de todo mundo e Thiago chamava a atenção de todos enquanto tocava seu violão.

Nos últimos momentos, Amélia recolheu todos os papéis da sua mesa para ver quantas pessoas estavam faltando. Ela não se sentiu bem ao rotular as pessoas tão simplistamente daquele jeito, mas foi a maneira mais pragmática que ela arrumou para dividir a turma em duplas. Por coincidência, só restaram os alunos com as notas mais altas, Beatriz e Felipe. A maioria os descreveu de forma parecida, eles eram inteligentes e estudiosos. A grande diferença estava nos defeitos. Enquanto Beatriz era estressada e mandona, Felipe era isolado e calado.

— Pronto! — Amélia exclamou, ao ver a conformação final das duplas.

Beatriz e Felipe

***

— Cheguei! — disse Silas, enquanto praticamente desfilava com sua jaqueta jeans customizada com uma pintura a mão do quadro “Abaporu”, de Tarsila do Amaral.

Nina e Rafaela correram para abraçá-lo, já que não se viam há semanas. Bruna e Thiago conversavam isolados no fundo da sala. O resto dos alunos conversava entre si.

— Novidades? — Silas perguntou.

— Só o trabalho da professora Amélia. É para escrever a biografia de um colega — explicou Nina.

— Ela gosta de inventar coisa, né? Se for para escrever sobre alguém eu quero falar sobre o Jorge. Imagina uma entrevista lá no meu quarto — brincou Silas, enquanto olhava fixamente para Jorge, fazendo as meninas gargalharem.

— Duvido que ela deixe a gente escolher nossas duplas — Rafaela disse, enquanto tentava entender como seus amigos enxergavam charme em Jorge.

Todos concordaram com o comentário e após colocar a conversa em dia, Silas foi abraçar outros amigos. Amélia chegou um pouco atrasada por causa do trânsito naquele dia. Ela trouxe sua cartolina e estava preparada para dar as orientações sobre o trabalho.

— Já li tudo que vocês escreveram sobre seus colegas. Foi muito interessante conhecê-los um pouco melhor.

Silas levantou a mão.

— Profe, eu tive que faltar, pois ainda estava viajando. Posso entregar depois?

— Claro, Silas. Entregue-me na próxima aula. Pode perguntar aos seus amigos como foi a atividade e venha falar diretamente comigo se restarem dúvidas.

Enquanto falava isso, Amélia desenrolava a cartolina, colando-a no quadro com uma fita adesiva que cortou com auxílio dos dentes. Os alunos esticavam o pescoço, tentando enxergar o que estava escrito, e os poucos que conseguiram ler seus próprios nomes não gostaram muito do que viram.

— Baseada no que vocês escreveram, eu mesma separei as duplas para o trabalho final. Quero que se juntem ainda hoje para começarem a desenvolver ideias iniciais a fim de conhecer melhor a história da sua dupla. Não precisa falar sobre todos os detalhes da vida da pessoa, mas eu quero um bom trabalho de pesquisa. Quero que tragam fotos pessoais, depoimentos de amigos ou familiares e histórias que ninguém da sala conhece.

Quando terminou de colar a cartolina na parede, Amélia deu um sorriso de satisfação ao perceber certo desespero no rosto da maioria dos alunos. Em poucos segundos, barulhos de conversas paralelas tomaram conta da sala.

— Minha dupla é a santa da Tainá. Já estou vendo a santa me dando sermão sobre minhas tatuagens — Cecília cochichou nos ouvidos de Maia.

— Está reclamando do quê? Olha para a cara da Bruna só de saber que vou fazer dupla com o namorado dela — Maia respondeu.

Ao ouvir isso, Cecília olhou para Bruna e pôde perceber o quanto ela estava irritada, voltando-se novamente para Maia com um olhar que dizia “você realmente se ferrou”.

— Eu até que gostei da minha dupla. Janaína é legal — Silas comentou para as meninas.

— Vou ter que escrever uma biografia sobre o Mário. O que é que pode ter de interessante para falar sobre aquele sem noção? — Nina desabafou.

— Só parem. Eu vou escrever sobre o Flávio. Ninguém está pior eu — Rafaela interrompeu.

— Realmente, amiga. Sua situação é a pior de todas — Silas concordou, morrendo de pena de Rafaela só de pensar nas piadas idiotas que ela teria que ouvir.

Como Beatriz e Felipe não sentavam muito distante um do outro, ambos se olharam e deram um sorriso sem graça.

— Eu vou fazer dupla com a Cecília. Acho que a professora escolheu pessoas muito diferentes entre si. Quem são as duplas de vocês? — Tainá perguntou.

— É uma possibilidade. Minha dupla é o Felipe — Beatriz respondeu, pensativa.

— Que sorte. Tenho certeza que vocês vão tirar dez, mas a melhor dupla é a minha! Eu vou com o Daniel — Elisa disse, quase pulando de alegria, para o desagrado de suas amigas.

Há alguns meses, quase tudo que Elisa falava tinha relação com Daniel, mesmo que ela não tivesse intenção. Depois de assistir alguns jogos dele, uma espécie de amor platônico surgiu. Como suas amigas o achavam um completo idiota, Beatriz e Tainá não ficaram muito contentes com a notícia.

— Eu me dei bem. Vou conhecer a Nina melhor — Mário falou, olhando para Jorge, que já tinha ficado com Nina há um tempo, checando para saber se estava tudo bem.

— Eu também — Daniel disse. — A Elisa é maravilhosa e já nos damos muito bem. Vai ser fácil, fácil.

— Alguém quer trocar? — Flávio perguntou.

Sem rejeitar a proposta, os meninos olharam interessados para ele.

— Rafaela — ele continuou.

— Não, obrigado — Daniel respondeu rapidamente.

— Pode ficar com a miss plus size. Vai ser ótimo conhecer melhor a Verinha — debochou Jorge.

Não muito longe dali, Janaína respirou aliviada quando descobriu que Bruna seria a dupla de Renan, já que a mesma tinha namorado e não representava uma ameaça à sua paixonite pelo colega.

— Vai ser legal — Vera se animou.

— Ainda bem que fiquei com o Silas. Seria um pesadelo fazer dupla com o Daniel ou um dos amigos dele — Janaína comemorou.

— Já a Bruna não pareceu muito feliz quando descobriu que seria minha dupla. Acho que ela quer viver grudada no Thiago vinte e quatro horas por dia — Renan estava até com medo dela.

— Relaxa. Ela só deve estar com ciúmes da dupla dele — Felipe acrescentou.

— Bruna é tão bonita. Como pode ser insegura assim? — Janaína comentou, apesar de saber que era uma frase hipócrita no momento em que terminou de falar.

Em seus pensamentos, Janaína desejou que Vera se desse muito bem com Jorge para que Renan a esquecesse de vez. Não era segredo para ninguém que ele gostava de Vera, o que ninguém sabia era que Janaína gostava de Renan desde que o conheceu.

— Essa professora é totalmente injusta — Bruna reclamou, irritada por saber que Maia ficaria próxima de seu namorado.

— Calma, amor. É só um trabalho, não tem para que se estressar com isso — Thiago tentou acalmá-la.

Entretida com a reação de todos, Amélia se distraiu por uns minutos, mas logo pediu silêncio e continuou o que estava falando.

— Vocês devem conhecer bem suas duplas. Conversem durante o intervalo, façam visitas, deem telefonemas, o que quiserem. Como parte da avaliação, quero que documentem o processo de elaboração dessa biografia. Uma boa ideia é escrever um diário. Ah! Outra coisa! Quero o trabalho escrito e uma breve apresentação na frente de todos no final do semestre. Podem fazer a apresentação da forma que desejarem, de preferência usando recursos multimídia.

— Podemos trocar entre as duplas? — Bruna perguntou.

— Não, não podem, Bruna. As duplas foram escolhidas por mim de acordo com o que vocês escreveram e de forma a fazerem vocês se desafiarem. Hoje devolverei o trabalho da aula anterior e quero que vocês conversem com a dupla sobre o que escreveram a respeito dela. Pensem se continuarão com a mesma opinião ou se algo mudará depois desta aula. Podem juntar suas carteiras agora.

Bruna ainda foi até Amélia para explicar seus motivos, mas ela estava irredutível. Após um imenso barulho de cadeiras sendo arrastadas, a sala ficou totalmente bagunçada, para o deleite da professora.

Felipe e Beatriz leram o que um escreveu sobre o outro e concordaram. Ambos não tinham motivos para reclamar da dupla.

— Não sei por que você é minha dupla — ela comentou, enquanto observava os outros conversarem.

— Acho que é aleatório — Felipe não era do tipo que fica remoendo suposições.

— Claro que não. Amélia nunca faz nada sem um motivo por trás. Olhe bem — Beatriz se volta para os outros colegas. — Nina, que gosta de cuidar da vida alheia, com Mário, que não presta atenção em nada. Tainá é super religiosa e Cecília é a pessoa mais liberal da sala. Rafaela luta contra padrões e o Flávio é um clichê ambulante. Já Maia se isola do mundo e o Thiago está sempre rodeado de gente.

— Você tem razão, eu nem tinha me ligado. Mas e o Silas e a Janaína? A Bruna e o Renan? — ele pensa um pouco se deve falar, mas continua. — Eu e você?

— Não sei, mas pode apostar que eles escreveram alguma coisa no papel que a fez escolher desse jeito.

— Deve ser porque você é bem comunicativa e eu sou tímido — Felipe ponderou.

Beatriz assentiu com a cabeça, mas sentiu que havia outros motivos. Ela sempre estava estressada e ele era a pessoa mais tranquila da sala.

“Se ela acha que isso vai me deixar mais calma, está muito enganada”, ela pensou.

Enquanto isso, Silas teve que escrever sua opinião sobre Janaína num papel. Ele pensou um pouco para poder agradá-la, mas não sabia muito sobre ela, então pegou uma caneta e escreveu “Janaína é uma garota muito inteligente, fiel aos seus amigos e está sempre de bom humor, apesar de ser bastante tímida”. Quando se sentaram juntos, ele leu sua descrição num papel que dizia “Gay, inteligente, engraçado, amigável, bem vestido e fala muito nas aulas”.

— Estou sempre de bom humor? — ela perguntou.

— Sou um gay engraçado que fala muito nas aulas? — ele revidou.

— Desculpa. Agora realmente soou superficial. É o que me veio à cabeça, mas é honesto. A mentira é que estou sempre de bom humor, né?

— Não precisa pedir desculpas. Eu sou assim mesmo, não sou? — apesar de tentar manter o sorriso, Silas não conseguiu ser convincente.

Isso a tranquilizou, mas ele ficou chateado. Não por ela ter falado que ele falava muito, mas por que a primeira característica que Janaína escreveu foi a sexualidade dele. Silas sabia que ela não o conhecia bem e que havia muitas outras coisas boas para falar sobre ele, mas seria aquilo o que as pessoas pensavam ao se lembrar dele? Que ele era um gay engraçado que sabia se vestir?

— Mas obrigada por ter dito que pareço uma boa amiga.

Mais uma vez, Janaína achou que soou hipócrita quando falou isso. Quando estava perto de Vera, só pensava em afastá-la de Renan. Janaína os amava, mas não tinha coragem de dizer o que estava sentindo e aquilo a deixava ainda mais aflita.

Dentre as outras duplas, Tainá e Cecília pareciam ser as pessoas mais diferentes.

— Obrigada por me achar estudiosa e simpática, mas eu não sou antiquada — Tainá reclamou.

— E eu não me escondo nos fundos da sala — Cecília respondeu, cheia de ironia. — No final das contas, são só suposições...

Cecília se voltou para Maia e arregalou os olhos, pedindo socorro, mas sua amiga estava preocupada demais em falar com Thiago sem ser atacada pela namorada com ciúmes.

— Por que eu seria uma pessoa antiquada? — Tainá percebeu que Cecília estava tentando falar com Maia.

— Hum... Porque você segue dogmas repressivos, deve ser a favor de sexo só após o casamento e desperdiça seus sábados com uma coisa fantasiosa. Entre outras coisas mais — ela deu um sorriso sarcástico ao terminar.

— Desperdiço? Sério? Escuta bem: se quisermos terminar esse trabalho, você precisa respeitar minhas crenças.

— Eu respeito, só não concordo. Não é assim que vocês falam?

— Vocês quem?

— Vocês, os religiosos. Não é assim que justificam homofobia e machismo? — Cecília continuou com o sorriso sarcástico.

— Não, não é assim que eu falo. Você, que acha que sabe tudo sobre mim, deveria saber que nem todas as pessoas religiosas são iguais. E deveria saber também que eu não sou uma pessoa intolerante. Mas sabe quem está soando intolerante? — Tainá olhou para Cecília, triste, e notou que o sorriso sarcástico da colega estava desaparecendo. — Isso mesmo. Você.

— Ok. Você tem razão nesse ponto. Sinto muito — Cecília admitiu, desviando o olhar para a porta, querendo que tudo acabasse o mais rápido possível.

— Tudo bem. Talvez nós devêssemos nos preocupar em conhecer mais a outra em vez de ficar adivinhando — Tainá sugeriu.

Devido ao gênio forte, Cecília tentou ser direta, mas acabou perdendo a razão e ficou com vergonha do que fizera.

— Não sei por que você fica em silêncio lá atrás. Suas notas são boas e você não parece ser como o Flávio, mas anda com ele e nunca participa das aulas. Por isso que eu falei que você se esconde. Eu não te conheço bem, mas é porque nunca tive a oportunidade — Tainá acrescentou.

— Entendi.

Nem Cecília sabia porque se isolava tanto. Ela só achava muito mais fácil lidar com os meninos, tudo era mais simples com eles. Maia era a única garota com quem conversava porque ela dava todo o espaço que Cecília precisava.

Ao contrário desta última dupla, Elisa e Daniel adoraram quando descobriram que passariam mais tempo juntos. Ela porque estava gostando dele e ele porque sabia disso.

— Então quer dizer que você me acha talentoso? — perguntou Daniel.

— Claro. Você sabe que a qualquer hora vai ser chamado por algum clube grande.

— Obrigado pelo apoio. É importante para mim.

Ela estava tão balançada por ele que nem percebeu que não estava fazendo o que a professora tinha pedido. Falaram tanto sobre futebol que se esqueceram de conversar sobre as características que ele tinha escrito sobre ela. Para Daniel, Elisa era “Nerd, divertida e carente”. O que ele não sabia era que ela tinha um canal na internet e já estava fazendo sucesso.

— Tem alguma ideia de como faremos essas biografias? — ela perguntou.

— Você pode me acompanhar nos jogos, se quiser.

— Mas além de jogar, o que você gosta de fazer?

— Também gosto de assistir os jogos às quartas.

Elisa não soube se ele havia entendido a pergunta, mas o sinal da saída tocou e a conversa foi interrompida.