Por ele

Você já me destruiu, Chuck Bass


As luzes do Upper East Side a iluminavam em uma dança de luz e sombra, enquanto o carro avançava pela rua. No banco traseiro, sentada em silêncio, Blair Waldorf se preparava para a mais difícil batalha que já enfrentara. Suas mãos estavam repousadas em seu colo, dedos entrelaçados e braços relaxados. Qualquer pessoa alheia que a visse ali, aproveitando o sinal vermelho para observar o interior do carro, diria que a garota estava indo a caminho de um evento particularmente entediante. Mas qualquer um que estivesse na rua, fazendo proveito da noite quente, não conseguiria imaginar o que se passava em sua mente, muito menos em seu coração.

O carro parou na frente do Empire e o motorista apressou-se a abrir a porta. Blair hesitou por um momento, permanecendo imóvel, como se não tivesse percebido o barulho e o ar quente que se esgueiraram para dentro do automóvel quando a porta foi aberta. Ela sabia que assim que entrasse no hotel, não teria mais como voltar atrás. Com um suspiro pesado, ela saiu do carro e pisou na calçada, encarando o seu campo de batalha.

⸺ Devo voltar para buscá-la, senhorita Waldorf? – perguntou o motorista, sem olhar para ela. Ele não queria ser o alvo do olhar de Blair, não naquele momento. A garota emanava algo que não era desejável.

⸺ Não será necessário, pode esperar aqui. Isso será rápido. – Blair respondeu, nenhuma emoção em sua voz.

O porteiro abriu a porta com agilidade, pois Blair adentrava o saguão com passos centrados e uma atitude tão decidida que parecia não se importar de atravessar a porta caso necessário. Ela nem mesmo pareceu notar o gesto, apenas seguiu até os elevadores, ignorando a recepcionista que abriu a boca, mas não se deu ao trabalho de formular uma frase. Contudo, quando a porta se fechou, ela hesitou em apertar o botão que a levaria até a cobertura. Sabia muito bem que estava adiando o inevitável e repreendeu-se pela hesitação, finalmente pressionando o botão que fez o elevador se mover.

Blair Waldorf era uma exímia guerreira. Sua vida inteira fora forjada por batalhas e ela costumava olhar para cada um ao seu redor como reles oponentes que não representavam uma luta de verdade. Agora, ela finalmente encontrara uma oponente à altura, que a levara para a mais difícil de todas batalhas: Blair Waldorf duelava consigo mesma.

As portas se abriram e revelaram um ambiente mergulhado em trevas. As luzes estavam quase todas apagadas, a pouca claridade ali vinha das luzes noturnas da cidade entrando pela janela. Antes mesmo de sair do elevador, Blair já o vira. Sua silhueta lançava uma sombra no chão, apenas mais uma na penumbra da cobertura do Empire. O copo em sua mão reluzia com o uísque e o movimento suave de sua mão, enquanto ele olhava para a cidade aos seus pés como se a dominasse.

⸺ Blair – disse Chuck Bass, sem olhar para ela.

⸺ Vejo que a recepcionista o avisou – disse ela, caminhando pela curta distância entre o elevador e o sofá, ciente de estar pisando no seu campo de batalha.

⸺ Não realmente. Mas você é a única pessoa que entra aqui como se fosse sua própria casa. Não foi difícil de adivinhar. – Blair não deixou de notar a raiva que tingia sua voz, mas não foi isso que a machucou. “Você não é mais bem vinda aqui”, é o que se lia nas entrelinhas.

⸺ Então suponho que você não vai se importar se eu me sentar sem convite – ela disse, logo lamentando o tom de sua voz. Não viera até ali para isso.

⸺ Suponho que não – Chuck disse, bebendo o restante do uísque em seu copo, finalmente virando-se para olhá-la. – O que está fazendo aqui, Blair?

⸺ Eu preciso falar com você.

⸺ Nós não temos nada para conversar. – raiva em sua voz novamente, atingindo-a como pedras. – Não depois do que você fez.

⸺ Note que eu disse falar e não conversar. – “Controle-se”, pensou ela consigo mesma, adicionando suavidade à sua voz. – Não pretendo tomar muito do seu tempo, Chuck. Você pode só sentar-se ali e me ouvir, se quiser. Não precisa dizer nada.

Na verdade, ela preferia que ele não falasse nada. Aquela situação já era difícil o suficiente como era e ela bem sabia que Chuck não possuía nenhuma palavra gentil para ela neste momento. Suspirou quando ele se sentou, irritado, mas curioso. Chuck Bass, um guerreiro tão talentoso quanto Blair Waldorf, não perderia uma oportunidade de conquistar vantagens.

Blair despiu sua armadura e enfrentou os ataques de peito aberto.

⸺ Eu fui para Paris na esperança de te esquecer. Depois de tudo o que acontecera entre nós, pensei que finalmente havíamos chegado no fim. Pensei que não haveria volta, não mais. – sua voz estava baixa, contida. Ela não ensaiara aquelas palavras, mas soube que precisavam ser ditas, exatamente daquela forma. O fato de que esta também era a forma mais dolorosa para ela era apenas uma maligna coincidência. – Mas quando eu cheguei lá, me vi tendo conversas com você, em minha mente. Toda vez que eu encontrava algo interessante, me imaginava conversando com você a respeito, imaginando o que você diria sobre aquilo. Eu não podia estar com você, então criei uma versão alternativa, um eco, quase um fantasma. Uma mulher na cafeteria olhou para mim como se eu realmente fosse maluca quando me viu falando sozinha.

⸺ Qualquer um teria pensado isso.

⸺ Acredito que sim. Eu mesma pensei nisso, para ser sincera. – ela riu, um riso tão fraco que mal poderia ser chamado de riso, que desapareceu rapidamente. – Eu menti para você ontem à noite.

⸺ Eu sei – ele disse, com uma nova dose de raiva. – É por causa de sua mentira que Eva não está aqui agora.

⸺ Eu não me referi a isso – ela se apressou em corrigi-lo. – Sim, eu menti sobre o passaporte. Mas eu também menti quando disse que não o amava mais. Menti em Paris e menti ontem novamente. Eu nunca deixei de te amar, Chuck. Sempre pensei que eu poderia fazer o que quisesse, que poderia ter qualquer coisa que desejasse, mas deixar de te amar é a única coisa que eu não desejo e não consigo fazer.

Um silêncio tranquilo caiu entre eles. Aquelas palavras não o surpreendiam, ela sabia. Não a surpreenderam tampouco. Na verdade, era um alívio dizê-las em voz alta. Quando o assunto era Chuck Bass, Blair Waldorf era fraca e, mesmo que ela odiasse fraqueza, precisava aprender a reconhecê-la em si mesma.

⸺ Eu não sei que esquema você está tramando agora, Blair, mas eu garanto que não vou acreditar nas suas mentiras nunca mais.

“Você não é bem vinda aqui”, “não acredito em você”. Cada palavra era mais uma pedra que Blair carregava em seus braços, destinadas a afundá-la.

⸺ Sabe, sempre pensei em você como o vilão da história. Assim como pensava que eu era a heroína, uma boa pessoa. Acho que isso me trazia segurança. – a voz dela estava impregnada com arrependimento. – Pensava que, se assim fosse, você sempre precisaria de mim para lembrar-se de como era ser bom, para mantê-lo na linha. Agora percebo que fui injusta.

⸺ Injusta? – a raiva na voz de Chuck fora substituída por pura curiosidade.

⸺ Eu sou a vilã. Tentei mantê-lo longe da escuridão sem perceber que eu era a escuridão. – Blair sentiu sua voz falhar com o choro contido, mas não se permitiu derramar nenhuma lágrima. Não demonstraria mais nenhuma fraqueza além do necessário. – O que eu fiz... Nem sei como me desculpar por aquilo. Não me importei com Eva, apenas a vi como uma peça a ser eliminada.

⸺ Você sempre viveu a vida como se tudo fosse um grande tabuleiro de xadrez – ele disse, sem surpresa. – Isso é seu comportamento clássico, Blair.

⸺ Você disse que eu não conseguia lidar com o fato de que alguém finalmente o mudara e que este alguém não fora eu – disse ela, relembrando da festa.

⸺ E eu estava certo – Chuck falou, levantando-se do sofá e postando-se com raiva e classe como só ele conseguia – Eva trouxe o melhor de mim, algo que você sempre tentou fazer e nunca conseguiu. Então admita, Blair. Admita que eu estava certo.

⸺ Na verdade, nós dois estávamos errados – ela disse, calma. – Eva simplesmente o viu como você realmente é. Esta foi sua glória e também foi minha derrota. Ela não o transformou, não mais do que eu fiz, porque ninguém vai conseguir transformá-lo em algo que você já é, Chuck. Toda a bondade, carinho e benevolência que você tem demonstrado é quem você é. Quem você sempre foi. Eu só lamento que tenha levado tanto tempo para que eu percebesse isso com clareza.

⸺ O que você está dizendo? – ele perguntou, desconcertado. O coração de Blair apertou-se um pouco mais. Esta sempre fora a reação natural de Chuck quando ouvia elogios, quando alguém apontava o bem nele. Chuck se retraía, recuava, tão acostumado a ser definido quando adjetivos terríveis que não conseguia aceitar delicadeza quando destinada a ele. Blair repreendeu-se ainda mais por sua parcela de culpa naquele comportamento.

⸺ Eu amo você, Chuck Bass – ela disse, levantando-se. Precisava encará-lo de igual para igual. – Eu amo você como nunca amei ninguém. Como suspeito que jamais amarei alguém. E ontem, quando o vi com Eva, percebi que nunca o tinha visto tão feliz antes. Nem mesmo quando você está comigo.

Então ela perdeu uma pequena batalha. Uma única lágrima venceu suas barreiras e escorreu pelo seu rosto, uma pequena fraqueza à mostra. Contudo, Blair não se importou com isso. Já estava tão exposta e vulnerável quanto poderia estar, o que era uma lágrima a mais naquela batalha?

⸺ E mesmo que pareça impossível depois de tudo, eu o amo ainda mais agora. E acredito que, finalmente, eu o amo o suficiente para fazer isso.

⸺ Do que você está falando, Blair? – ela desejou estar enganada, mas pensou ter visto um toque de medo em seus olhos.

⸺ Eu vou trazer Eva de volta, se assim você desejar. Vou procurá-la, revirar Praga e Paris até descobrir onde ela está e então vou trazê-la de volta para você. – Blair precisou parar para respirar. Sabia que aquelas palavras iriam machucá-las, mas não pensava que sentiria como se estivesse morrendo, bem ali na frente de Chuck. – Basta dizer e eu estarei em um avião logo em seguida. Vou me desculpar, explicar o que aconteceu. Vou implorar ou sequestrá-la se necessário. Mas eu vou trazê-la de volta, eu prometo.

⸺ Por que você faria isso? – a voz de Chuck falhou. A surpresa o impedia de pensar direito. Ele mesmo havia declarado guerra contra Blair na noite anterior, por isso esperava armas e bombas quando ela chegará ali. Esperava qualquer coisa, menos isto.

⸺ Porque sua felicidade é com Eva. – “e não comigo”, ela completou em sua mente. De repente, entendeu o que os poetas queriam dizer com a expressão “coração que sangra”. Temeu sangrar até morrer. – Eu quero que você seja feliz, Chuck. Tudo o que eu fiz até hoje foi uma tentativa de fazê-lo feliz. Admito que falhei inúmeras vezes, mas sempre tive as melhores intenções em meu coração, acredite. Mas eu amo o suficiente para aceitar que não sou eu quem vai fazê-lo feliz, não importa o quanto eu tente.

E ali estava, seu pior medo se tornando realidade. Blair Waldorf estava fazendo algo que pensou que jamais faria: ela estava desistindo.

⸺ E é por isso que eu vou fazer mais uma promessa para você – ela disse, suspirando. – Prometo ficar longe. Quando Eva voltar...

Se Eva voltar – ele a interrompeu.

Quando Eva voltar – ela insistiu, determinada a manter sua promessa. Não falharia com Chuck. Não mais. – Prometo ficar longe de vocês. Não vou interferir, não vou me intrometer. Prometo deixá-los em paz.

Por alguns minutos, eles só ficaram ali: oponentes em um jogo de xadrez, analisando o adversário e tentando descobrir o próximo movimento. Até que uma peça se moveu.

⸺ Você quase me enganou, Blair – Chuck disse. – Fique aí, eu quero aproveitar mais este momento. Afinal, não é todo dia que vemos Blair Waldorf com medo.

⸺ Medo? – Blair sentia muitas coisas no momento, mas medo era a menor delas.

⸺ Você sabe que eu posso destruí-la como mais ninguém pode e está com medo disso. Eu disse que isso era uma guerra, eu e você, sem limites. – ele sorria. Blair conhecia tão bem aquele sorriso, reservado para vitórias. – Você só está dizendo isso porque tem medo desta guerra, admita. Blair Waldorf está com medo de ser destruída por Chuck Bass.

Blair ficou em silêncio por alguns minutos, olhando para o homem que amava como se não mais o reconhecesse. Na verdade, talvez pela primeira vez, estava se vendo através dos olhos dele e era como se olhar no mais limpo espelho. Ela não mais se reconhecia.

⸺ O jeito como você olhou para mim ontem à noite, quando veio até minha casa. Eu já vi tamanha raiva e desprezo em seus olhos antes, mas nunca em minha direção – Blair disse, aproximando-se dele. Temia que esta seria a última vez que estaria tão perto de Chuck, e mesmo estando tão próxima, já se sentia tão distante. Seu corpo doía de saudades mesmo que ele estivesse bem à sua frente. Então olhou no fundo dos olhos dele e disse o que viera até ali para dizer: – Você já me destruiu, Chuck Bass.

Chuck retraiu-se. Mesmo depois de tudo, mesmo com toda a raiva que sentia, a ideia de machucar Blair ainda o atormentava. Vê-la tão vulnerável, ver tanta dor em seus olhos, ainda o machucava. Aquela não era a Blair que ele conhecia, mas mesmo assim, ainda era Blair. Uma parte dela que quase nunca via a luz do sol, mas que ele sabia que existia. Uma pontada de dor atingiu seu coração ao perceber que era o responsável por trazê-lo à tona.

Blair recuou, pegou sua bolsa e sua armadura esquecida no chão e dirigiu-se ao elevador com passos lentos.

⸺ Blair – Chuck disse, sua voz ecoando pelo espaço vazio.

Uma pequena chama de esperança se acendeu no coração da garota. Sempre pensara que a voz de Chuck assumia um tom secreto quando chamava o nome dela. Um tom doce e delicado, que ele não usava com mais ninguém. Às vezes pensava que o nome dela fora feito especialmente para ser pronunciado pela voz dele. Talvez, pensou ela, esta batalha não esteja perdida.

⸺ Traga Eva de volta.

Blair não se virou. Sentiu as lágrimas rolarem pelo seu rosto, como se tivesse acabado de receber um soco no estômago. Resistiu a vontade de se contorcer. Usou alguns segundos para se vestir uma máscara, secou as lágrimas e vestiu um sorriso fraco que não alcançava seus olhos, e então virou-se para encarar seu pior oponente.

⸺ Pode deixar.

E então partiu. Assistiu as portas do elevador se fecharem, como se estivessem se fechando para sempre, enquanto Chuck voltava a observar a cidade. Sentia-se destruída, despedaçada e sem esperança.

Aquela fora uma batalha contra ela mesma. Blair era o ataque e a defesa, atirando flechas contra si mesma. Lutou para salvar aquele que ama, mesmo que isso a tenha destruído. Era uma guerra perdida desde o começo e ela sabia. Jamais sairia vencedora daquele campo de batalha.

Quando o elevador chegou no lobby do hotel, ela já havia enviado uma mensagem para Cyrus, pedindo ajuda para encontrar uma pessoa. Ela ainda tinha mais algumas flechas para atirar antes de finalmente desmoronar, mas estava decidida.

Blair Waldorf já quebrara inúmeras promessas, mas nunca com Chuck Bass. Ela cumpriria sua promessa, por ele, pois seu mundo não era o mesmo sem Chuck nele. De um jeito ou de outro.

Ela o assistiria nos braços de Eva, por ele.

Ela morreria um pouco a cada dia, por ele.

Só por ele.

Blair esperou pacientemente, sentada à mesa de um restaurante qualquer. Não se atreveria a tocar na comida daquele lugar mesmo que estivesse faminta, mas, em todos os casos, não estava ali para comer.

Eva entrou no restaurante e varreu o lugar à procura de Blair. A garota não acenou, não se levantou ou deu qualquer indicação de que estava ali. Ainda assim, sua presença se destacava e Eva a localizou facilmente.

⸺ Adoraria dizer que é um prazer vê-la, Blair, mas não gosto de mentir – disse Eva, sentando-se frente a frente com Blair.

Ela resolveu ignorar o comentário, mesmo que isso tenho tomado uma incrível energia. Pensou em Chuck e em sua promessa, respirou fundo e disse:

⸺ Eu sei que o que fiz foi errado e peço desculpas por isso.

Ambas ficaram em silêncio por um minuto.

⸺ Só isso? Você acha que seria fácil assim?

⸺ Não estou interessada em seu perdão, Eva. Não estou aqui por você. Estou aqui para dizer que você deve voltar para New York. – ela suspirou, juntando suas forças. – Você deve voltar para Chuck.

⸺ Depois de tudo o que você fez?

⸺ Mesmo depois de tudo o que eu fiz. – a dor voltou a acompanhá-la. – Chuck a ama e tenho certeza que você o ama também. Não deixe que eu destrua isso.

Eva demonstrava desconfiança.

⸺ New York não é para mim. Já vi o suficiente do seu mundo para saber que não quero nada dele.

⸺ Em meu mundo existe Chuck Bass. Isso deveria ser o suficiente para você – Blair disse, sentindo uma pontada de raiva. Aquela garota tinha tudo o que Blair queria e estava dispensando como se fosse nada.

⸺ Vocês mentem, manipulam, não se importam com...

⸺ Ok, escute – Blair a interrompeu – Eu não vim até Praga para analisar o Upper East Side. Se eu quisesse isso, poderia ter ficado em casa lendo Gossip Girl. Não me importo com o que você pensa sobre o meu mundo e garanto que já tivemos toda esta conversa com o Humphrey, então poupe meu tempo. Só vim até aqui para garantir que você vai voltar.

⸺ Eu não posso voltar, não depois...

⸺ Aqui está sua passagem – Blair a interrompeu novamente, jogando a passagem na frente de Eva, mudando sua estratégia. As peças estavam se movendo novamente. – Só de ida para New York, você parte amanhã bem cedo. Vá para casa e arrume suas malas.

⸺ Por que está fazendo, Blair? Você claramente ainda se importa com ele, então por que?

Blair parou por um instante, olhando para Eva como se o universo fosse óbvio e todas as perguntas fossem desnecessárias.

⸺ Porque Chuck Bass é a melhor coisa na minha vida e, provavelmente, também é na sua. Mas ele quer você e não a mim. Então eu sugiro que você acorde e perceba a sorte que tem, e então pegue esta maldita passagem e volte para ele. Eu fiz esta promessa a ele e farei para você também: vou ficar longe de vocês. Não vou interferir ou me intrometer. Mas pode ter certeza de que se você o machucar, eu ficarei sabendo. E então, querida Eva, você descobrirá que o que eu fiz não é nada comparado ao que eu ainda posso fazer.

⸺ Você é inacreditável, Blair – Eva riu, com uma pontada de raiva.

⸺ Aceite a passagem, Eva. Também prometi sequestrá-la se necessário, e Blair Waldorf não quebra promessas – ela disse, levantando-se e preparando-se para ir embora.

⸺ Como você conseguiu voltar para cá? – perguntou Eva, fazendo Blair parar. – Esta cidade quase o tirou de você.

Blair suspirou e então voltou-se para Eva, com um misto de tristeza e alívio ao perceber que ela segurava a passagem em suas mãos.

⸺ Esta cidade o tirou de mim, de um jeito ou de outro. – ela falou, com uma voz baixa. – Se Chuck tivesse morrido aqui eu jamais colocaria meus pés nesta cidade novamente, pode ter certeza. Mas enquanto ele estiver bem e feliz em algum lugar, mesmo que não esteja comigo, eu encontrarei um jeito de ficar bem com isso. E esta é sua resposta, Eva: eu estou fazendo isso por ele. Só por ele.

Quando Blair deixou o restaurante, prometeu a si mesma nunca mais voltar para Praga.

Blair buscou sua cafeteria favorita, esperando que um chocolate quente ajudaria a sentir seus dedos novamente. O frio que se instalara no Upper East Side congelara tudo ao seu redor e, por mais que ela gostasse da estação, não estava confortável. Fugiu do vento e recebeu com alegria o conforto da cafeteria, procurando atendimento. Já estava recebendo seu chocolate quente quando ouviu seu nome ser chamado pela voz que seu corpo reconhecera prontamente. Chuck Bass entrava na cafeteria com elegância, parecendo relaxado. Blair notou as pequenas coisas, como sempre costumava fazer, comparando-o com a última lembrança que tinha dele. Chuck cortara o cabelo, seu rosto parecia saudável, não haviam olheiras debaixo de seus olhos, sua gravata estava perfeita e um sorriso tranquilo estampava seu rosto. Tão diferente da última vez que o vira.

⸺ Olá, Chuck – ela disse, procurando uma mesa, mas não o convidando para se sentar.

⸺ Gossip Girl anunciou que você estava de volta de Paris, e eu precisei ver com meus próprios olhos. – ele sentou com ela, mesmo sem convite. – Você nunca voltou de Praga.

Blair estivera em Praga há três meses. Decidira partir para Paris ao invés de voltar para New York, certa de que não conseguiria estar próxima de Chuck e Eva tão cedo. Ela sofrera, sim, mas sofrera em Paris.

⸺ Mudança de planos – ela disse, simplesmente, bebendo seu chocolate quente e segurando o copo com as duas mãos, aproveitando o calor.

⸺ Blair, eu nunca a agradeci por ter trazido Eva de volta...

⸺ Não é necessário – ela o interrompeu, incapaz de ouvir aquelas palavras.

⸺ Mas o que você fez foi...

⸺ Chuck, de verdade, não é necessário – ela o interrompeu, novamente, e então acrescentou – Por favor.

Blair levantou-se, esquecendo-se de seu chocolate quente na mesa. Chuck pareceu assustado e levantou-se também. Aquilo obviamente não estava acontecendo como ele planejara.

⸺ Eu já vou indo – ela disse, indo em direção à porta.

⸺ Blair, espere – Chuck segurou o braço dela. Depois de tanto tempo, ela se sentiu boba por apreciar até aquele pequeno toque. – É assim que vai ser daqui pra frente? Você me vê e sai correndo? Ou foge para Paris?

⸺ Eu fiz uma promessa, Chuck. Não vou falhar com você, não de novo. – a voz dela falhou e ela desejou que ele a deixasse ir. Precisava sair dali. Era fácil lidar com a falta de Chuck com o Oceano Atlântico entre eles. Aquela cafeteria era muito pequena para comportar os dois e seus sentimentos. – Mas saiba que eu estou fazendo isso por você.

Decidida, Blair partiu, deixando Chuck sozinho e frustrado. Ele esperava poder dizer que as coisas nunca mais foram as mesmas desde que Eva voltara. Que mesmo sentindo o que ele julgava ser felicidade, algo sempre parecia faltar. Como se seu coração tivesse um buraco que Eva jamais conseguiria preencher. Lamentou o fato de Blair não perceber como seus olhos andavam cansados de tanto olhar ao seu redor, procurando alguém que não estava ali, ou o quão falso aquele sorriso era. Blair sempre notava este tipo de coisa nele.

Ele vencera a guerra contra Blair Waldorf. Por ele, ela abrira mão de seu orgulho e fizera algo que jamais teria feito por mais ninguém. Mas, finalmente, ele percebera que aquela nunca fora uma guerra justa.

No final, os dois perderam mais do que conseguiam admitir. Ambos estavam destruídos. E foi naquele momento, observando Blair atravessar a rua e desaparecer dentro de seu carro, que Chuck percebeu que precisava buscar redenção para os dois. Prometeu que consertaria tudo, de um jeito ou de outro.

Ele precisava fazer isso.

Por ela.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.