Por Essa Eu Não Esperava - CIP

Capítulo Único - Por Essa Eu Não Esperava


— Butchy, será que dá pra se acalmar? Eu já conheço seus pais e você os meus, porque tá tão nervoso, amor? — Lela dizia ao passar as mãos pelos ombros do namorado, tentando acalmá-lo enquanto os pais do rapaz estacionavam o carro.

— Tá, mas é diferente. — o motoqueiro revirou os olhos e bufou. — Agora eles vão se conhecer e vai ser o maior mico. sabe como a dona Magnólia é, ela começa a contar as minhas histórias de infância e não para mais, daqui meia hora eu já vou estar querendo me matar.

— Para de ser tão dramático, eles só vão jantar com a gente e vão embora. Pensa que depois dessa tortura, a gente vai pro cinema e não vamos assistir ao filme.

— Você é muito pervertida, sabia?

— Sabia. E você adora. — Lela sorriu maliciosa e puxou Butchy para um beijo intenso e quente, porém curto.

Logo Arthur e Magnólia voltaram e os quatro entraram no restaurante onde os pais de Lela já estavam esperando em uma mesa discreta.

Joseph se levantou ao ver sua filha chegar e Alice imitou o gesto já tomando ar para cumprimentar a todos. Porém ao se virar e cruzar o olhar com o de Arthur, as palavras morreram em sua garganta e a cor sumiu de sua pele.

— Ali? — o homem também parecia em choque. — Por essa eu não esperava.

Butchy, Joseph, Lela e Magnólia se entreolharam confusos.

— O que está fazendo aqui?

— Vim conhecer os pais da Lela, nunca ia imaginar que você era a mãe da namorada do meu filho. Que mundinho pequeno, hein? — Arthur sorriu incrédulo.

— Menor do que imagina, Art. Precisamos conversar. — Alice puxou-o pelo braço até o beco ao lado do restaurante.

— Ei, calma. — o homem de olhos azuis murmurou com ar de riso. — Sei que encontrar o ex não é numa ocasião dessas é estranho, mas o passado passou, não precisa ficar nervosa.

— Sim, preciso sim! Meu marido tem olhos verdes, Art, verdes! E os meus são castanhos.

— Tá. E daí?

— Você já viu os da Lela?

— Sim, são azuis.

— Iguais aos do pai.

— Os do pai? — Arthur franziu o cenho.

— Lela é sua filha.

— Isso não é possível. — ele riu colocando as mãos na cintura e virando de lado. — Como ela poderia ser?

— 18 de Janeiro de 1999. Faltavam duas semanas pro meu casamento com Joe e nós brigamos feio, eu estava surtando, então fui te procurar, lembra?

— É, eu lembro, mas...

— Você pediu pra eu me acalmar, estava casado e com um filhinho de um ano, então eu comecei a chorar e você me levou pra tomar um drink. Te pedi pra beber comigo, eu não queria ficar sozinha e precisava conversar, sabemos como fica quando bebe.

— Ok, mas eu acordei em casa. A Mag disse...

— Que um amigo seu te encontrou desmaiado de bêbado num canto do bar e te levou pra casa, eu sei. — Arthur franziu o cenho e coçou o queixo sentindo a textura da barba curta. — Foi o Simon, meu irmão. Lembra dele?

— Ai meu Deus.

— Pedi pra ele te levar pra casa do motel barato onde estávamos. Eu estava bêbada, você também, não significou nada e era melhor jogar uma pedra em cima disso, fingir que nunca aconteceu. Só que não deu, três meses depois eu descobri que estava grávida.

— Cara, que droga. — Arthur fechou os olhos com força e apertou o topo do nariz com o polegar e o indicador. — O seu marido sabe disso?

— Sim, o Joe sempre soube, mas a Lela não tem ideia.

— Ela tinha o direito! — pela primeira vez na vida Alice viu Arthur se exaltar e levantar o tom de voz. — Eu tinha o direito!

— Shiu. — Alice olhou em volta se certificando que ninguém estava ouvindo mesmo que o beco fosse um deserto aquele horário. — Art, você tinha esposa e um filho. O que queria que eu fizesse? Destruir a sua vida nunca foi um plano pra mim. Me desculpe.

— Bom, agora teremos que contar pra eles não é?

— Sim.

Arthur e Alice voltaram para dentro e explicaram a situação para todos que ficaram calados por um bom tempo, até que Butchy quebrasse o silêncio dizendo. — Preciso de ar. — e se retirou.

— Eu falo com ele. — Lela também se levantou e seguiu o meio-irmão até o lado de fora do restaurante, então o puxou sem dizer nada até o beco onde Alice e Arthur conversaram. — Amor, tá tudo bem.

— Não me chame assim, nós somos irmãos. Meu Deus, como foi acontecer uma coisa dessas com a gente? Namoramos há mais de um ano! — o motoqueiro estava surtando.

— Butchy, calma.

— Como eu vou me acalmar? Meu Deus. Irmãos, nós somos irmãos, irmãos...

— Butchy...

— Seu sangue, meu sangue, o mesmo...

— Butchy...

— Isso é um desastre, nós somos irmãos. Não podemos ser. Somos irmãos...

Lela revirou as íris azuis e prensou Butchy no muro que separava o restaurante do beco, então beijou-o até que ele parasse de se debater.

— O que está fazendo? Nós...

— Ah, cala a boca. Você já sabe de cor o gostinho de cada parte do meu corpo, vamos parar de mimimi, né?

— Mas...

— O que sentimos é muito forte, nem tente negar. Nós vamos nos separar, sofrer, brigar, ficar numa tensão sexual enorme e no fim, não vamos conseguir controlar. A gente pode passar a parte do drama e partir logo pro romance secreto e incestuoso? Até porque, convenhamos, amor proibido é muito mais gostoso.

— Lela, você é tão pervertida. — Butchy tinha os lábios entreabertos em incredulidade.

— E você sabe que gosta.

Lela voltou a beijar o irmão sem nenhum pudor e por um segundo Butchy quis resistir, mas ela tinha razão, o que sentiam era muito forte e não daria para ignorar por muito tempo.

— Vamos manter esse segredinho, ok? — Lela propôs.

— Combinado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.