Por Amor ao Esporte

Mudança no Segundo Tempo


Cap. 3

Mudança no Segundo Tempo

Aos poucos o inverno começa a mostrar sinais de chegada ao estádio Lune. A neve, retirada pelos zeladores do campo, dificulta as jogadas de Hikaru, treinando sozinho. Alguém então se aproxima dele com cautela, segurando um guarda-chuva e observa-o. Quando ele percebe, para de chutar a bola.

– Ah, desculpe!... Eu não queria atrapalhar o seu treino.

Hikaru – Não... Tudo bem. – sorri de volta para a bela garota – Você não atrapalhou, eu já estava terminando. Cheguei aqui muito cedo e até ajudei os zeladores a tirar um pouco da neve.

– Jyrdan nessa época do ano castiga muito. Mas o estádio é forrado e refrigerado, então assim que toda a neve for tirada as equipes esportivas vão poder competir tranquilamente.

Hikaru – Eu recebi essas informações. É bom saber disso.

– E por que está treinando nesse frio? – põe-se a seu lado – Não está difícil jogar assim, pela neve?

Hikaru – Ah não, eu sou acostumado com o frio!

– Eu nunca vi você por aqui. É da segunda divisão?

Hikaru – Não, é que eu não sou de Jyrdan.

– Então de onde você veio? – ele recolhe a bola.

Hikaru – Eu sou do time da casa de Silja, o Fuji.

– Você é de um time rival?! – ela sorri surpresa – Você deve ser forte.

Hikaru – Não tem problema conversar com alguém do time rival?

– Claro que não! O que importa é ter espírito esportivo.

Hikaru – É sim...! – riem – Eu me chamo Hikaru Matsuyama, e você?

– Sou Yoshiko Fujisawa. – apertam as mãos – Eu preciso ir embora agora, mas não vá se esforçar muito Hikaru. Tenha a certeza de estar bem para o jogo! – sem ela perceber, ele acaba corando – Tchau.

Num aceno, Yoshiko desaparece por detrás das arquibancadas e deixa Hikaru olhando para a bola abaixo do seu pé. Ele a segura nas mãos e sai do estádio, voltando para casa. Os amigos o recebem com chocolate-quente e muitos risos, o que de início assusta em vista da briga tensa no meio do grupo.

Gabriele – Você é que tinha que ter segurado a bola!

Kojiro – Se você jogar com essa atitude, vai vencer os membros do Fórtica sem precisar dela.

Gabriele – Ah, você é detestável! – senta emburrada na cadeira mais próxima.

Hikaru – Qual é o problema? – entra na cozinha.

Pepe – Eles estão brigando deste jeito desde que terminamos o treino de manhã. Está cansando...

Selena – Pois eu até acho engraçado. Vocês parecem um casal!

– Quem aqui é um casal? – ambos reclamam juntos e os outros riem.

Natália – Ei Gabi, não quis dizer que ele é adorável?

Gabriele – Se eu começar a esganar você, não estranhe!

Carlos – Oh gente, por que vocês ficam provocando?

Flora – Está brincando?! Temos muitos passatempos, mas o nosso melhor sempre será perturbar a Gabizinha! – bagunça seu cabelo, então Gabriele levanta e começa a correr atrás delas.

Shingo – A propósito Hikaru – ignora a algazarra -, por que demorou tanto? Pensamos que só ia tentar uns chutes. A neve cobriu seus pés?

Hikaru – Ah é, mas é eu conheci uma garota. – do nada, todo o ambiente fica em silêncio.

Inara – Conheceu uma garota? E como ela é?

Leo – Fala sério; você poderia ter se atrasado um pouco se era por isso!

Camila – Mas se fosse assim ele não nos contaria mais cedo!

Hikaru – Ei, esperem um pouco, eu não disse que ia falar algo!

Karl – Você não vai? Mas esse é um fato inédito! – Hikaru torce o nariz enquanto os outros riem.

Lui – Ah, qual é Hikaru! Diz pelo menos o nome dela, vai!

Benji – Certo, oh pessoal, não o sufoquem! – põe o braço no pescoço dele.

Hikaru – Acho que dizer o nome dela tudo bem... É Yoshiko.

Brigite – Yoshiko, que gracinha! E onde a viu?

Hikaru – Foi no estádio, um pouco antes de ir embora. Ela estava usando um guarda-chuva e um uniforme da cor cinza. – as jovens se calam de uma vez.

Juan – Ei, o que foi meninas? Vocês a conhecem?

Elaine – Não, mas se ela estava usando um uniforme naquele estádio só pode significar que...

Lui – Pelo silêncio deve ser coisa ruim. É assim tão sério?

Inara – Na verdade não. Só quer dizer que ela pode ser de uma equipe feminina de Jyrdan.

Ken – Não pode. Jyrdan não tem times femininos classificados, os que existem dependem da bolsa de estudos das garotas que estudam em Pritt.

Deise – Sabemos disso. Por que acha que nós tivemos de desafiar o Fórtica?

Hannele – Aconteceu o mesmo com a gente, então precisamos ser cortadas. Se aquela garota não é de um time feminino dependente, imagino o que iria querer lá... Podia estar espionando.

Hikaru – Mas ela não parecia estar espionando nem nada do tipo.

Lui – E fez alguma pergunta estranha a você?

Hikaru – Não. Eu acho que vocês estão imaginando demais. O uniforme dela nem era oficial.

Selena – A Emília contou que nem se preocuparam em formar um time feminino oficial. Devem confiar muito no masculino, eu imagino.

Gabriele – O que é um enorme erro! – chama a atenção de todos.

Anastásia – Ai, eu conheço este olhar. No que está pensando?

Gabriele – Já que não vão poder entrar no time comigo, vocês poderiam tentar formar um novo com as garotas de Jyrdan. Convidem novas recrutas para nossa equipe.

Rivaul – O quê? Fala sério?! – os outros tentam abafar risos – Os times não podem se misturar.

Gabriele – Mas nós não somos mais um time oficial, e eu tenho certeza que aquela Yoshiko tem amigas que gostariam de jogar futebol. Além disso, se ela não estava espionando o Hikaru e seu uniforme nem era oficial, a garota só poder ser assistente do Fórtica! Isso quer dizer que ela não tem chance de ser integrante de um time, e se formarmos uma aliança com garotas de Jyrdan todos vão saber que estamos jogando por seu país e não pelo nosso. Embora o objetivo principal aqui seja mostrar nosso valor...

Pierre – De fato. Eu acho uma boa ideia. As garotas poderiam participar do campeonato.

Kojiro – Se eu fosse você não alimentaria as esperanças dela.

Gabriele – E por acaso tem uma ideia melhor, senhor exibido?

Oliver – Oh gente, não comecem a brigar outra vez!

Jun – Façamos o seguinte: eu vou conversar com Roberto e Emília sobre a proposta da Gabriele e, se eles concordarem, nós ajudamos vocês a se prepararem para enfrentar as equipes do campeonato, ok?

Gabriele – Valeu, seria de grande ajuda. Você é demais Jun!

Oliver – Mas também é bom lembrar que teremos pouco tempo para nos preparar.

Misaki – Então só precisamos correr, como sempre. – todos riem.

Após um tempo de conversa e argumentos de Jun, Roberto convence Emília a acatar o plano de Gabriele. Os técnicos procuram se informar sobre o paradeiro de Yoshiko e descobrem que, de fato, ela é assistente do time Fórtica. Na manhã seguinte, o grupo pega um ônibus até a universidade Pritt e entra na quadra de treino da equipe masculina. Yoshiko está sentada num banco, com outras duas jovens ao lado. Emília e Roberto deixam os pupilos para conversar com o técnico em sua sala e somem num corredor.

Yoshiko – Hikaru, oi! – ela acena ao avistá-lo de longe, então as suas amigas se levantam para cumprimentar os recém-chegados – Bom dia! Ah, esses devem ser os seus amigos.

Gisela – É a gente mesmo! Oi, como vai? Ela é mesmo linda, você não mentiu Hikaru!

Molly – Fica quieta Gisela! – sorri sem graça ao tapar a boca da amiga – Desculpe. Ela às vezes perde a noção do ridículo, sabe. – Gisela luta até conseguir se soltar.

Yoshiko – Ah... – ri envergonhada – Estas são minhas amigas, Sanae e Yayoi. – as moças acenam.

Sanae – Muito prazer. Desculpem a surpresa, mas Yoshiko não contou que o rapaz que conheceu era do Fuji. Fomos pegas de guarda baixa.

Yoshiko – Eu posso ter me esquecido de mencionar. – sorri encabulada.

Jamile – Sem problema. A propósito, as garotas aqui são o time feminino de Braja, Fever.

Yayoi – Ei, o time de vocês não foi cortado do campeonato?

Lupita – Os boatos correm rápido heim. – suspira – Pois é... Estão fazendo alguma coisa agora?

Yayoi – Vendo o treino do Fórtica. Por causa da neve, o técnico Max disse pra todos descansarem, mas o capitão mandou todos correrem ao redor da quadra.

Pepe – Nossa, deve estar muito chato isso aqui, não é?!

Yayoi – Um pouquinho. – alguns riem de leve – Mas por que vieram?

Flora – É que estamos a fim de lhes fazer uma proposta.

Sanae – A nós? – as três se entreolham – E o que é?

Hannele – Para ficarem aqui congelando, num campo aberto, e ainda terem coragem de trabalhar como assistentes dum time masculino, isso só quer dizer que vocês são os únicos membros femininos fãs de futebol da universidade, certo?!

Sanae – Somos mesmo. Trabalhamos como assistentes com eles porque Jyrdan não tem um time feminino oficial, então somos obrigadas a ajudar nesses tipos de treinos.

Natália – Ah gente, eu tô sentindo pena delas agora!

Gabriele – Isso porque você não aguenta trabalhar duro, Tatá preguiça pura! – alguns amigos riem.

Brigite – Bem, é por isso mesmo que nós queremos formar uma aliança.

Juan – O que estão tentando fazer está mais para time...

Inara – O nome não importa de qualquer jeito!

Yoshiko – Mas uma aliança, ou time, como assim?

Lupita – A ideia é incluir vocês no time feminino Fever.

Sanae – “Incluir”? Mas por que querem a gente?

Elaine – Digamos que queremos dar uma lição no Filiam, e no Fórtica também.

Lui – Dor de cotovelo. – Elaine bate em seu braço justo com o cotovelo.

Elaine – Agora é uma dor de braço! – sussurra pra ele.

Sanae – Mas os times femininos não podem confrontar os masculinos, é regra.

Gabriele – É, uma besteira sem tamanho... O caso é que não vamos confrontá-los diretamente, só queremos mostrar nosso valor. O Filiam riu de nós e o Fórtica, com quem íamos jogar pela escalação do campeonato, desistiu da competição e nos desmereceu. Agora nós queremos participar do campeonato na condição de lutar por Jyrdan, vocês entendem? E para isso, seria bom ter apoio de garotas deste país.

Sanae – Bom... – entreolha-se com as amigas, que sorriem e acenam em acordo – Se servirmos de alguma ajuda, contem conosco. Será um prazer.

Mais tarde, a convite de Karl, Yoshiko, Sanae e Yayoi são convidadas para sua casa. As garotas se reúnem na biblioteca para explicar toda a situação aos novos membros do novo plano.

Yayoi – Sabendo de tudo isso, a situação ganha outro ângulo.

Sanae – Vamos ver se eu entendi... Vocês não podem jogar no Campeonato Esportivo Mundial e, para dar uma lição no Filiam, o time masculino de futebol de Braja, e no Fórtica, o nosso time masculino, por terem humilhado vocês, decidiram formar um time feminino para competir por Jyrdan?

Inara – Sim, e agora só precisamos do consentimento do presidente Makoto.

Gabriele – Eu vou competir no time Fuji para enfrentar o Fórtica e o Filiam representando todas, enquanto vocês vão enfrentar os times femininos.

Sanae – Estão arriscando muito fazendo uma coisa dessas. Sabem disso, não é?!

Jamile – Claro, mas na vida a gente precisa entrar em campo com a cabeça erguida, sem medo de encarar os adversários até chegar ao gol. Tô errada?

Deise – Não mesmo, assim que se fala! Juntas, vamos acabar com eles!

Gabriele – E eu também estava pensando... Fever é um nome passado. Nós deveríamos usar outro durante o campeonato. – as outras concordam – Que tal... Hotter?

O grito de guerra feminino é escutado do lado de fora da casa, e nisso os garotos param seu treino com a bola no caminho pelo susto. Agora eles sabem que terão de ajudá-las a praticar como o prometido, pois Roberto e Emília também anunciam ter conseguido a aprovação do presidente Makoto graças à boa referência do olheiro Katagiri Munemasa, da empresa Propaganda Mundial Esportiva.

Gabriele – Sabe dizer por que ele resolveu intervir ao nosso favor?

Emília – Não faço a menor ideia! – declara eufórica, rodeada pelos dois times na sala – Mas com a intervenção dele deu tudo certo. Bom... Só tem uma coisa.

Gabriele – Lá vem! Era bom demais pra ser verdade... Qual a condição que impuseram?

Emília – Bem... Agora faltam menos de dois dias para a abertura do campeonato, e isso quer dizer que já precisamos começar a pensar no próximo. Ontem eu recebi uma ligação da minha amiga, que as meninas já conhecem de nome, a Talita Petrovity.

Flora – Ah sim, a coordenadora de eventos!

Carlos – Que coordenadora de eventos? Ela é conhecida?

Anastásia – Talita é líder do Clube de Festas Anuais Esportivas.

Emília – Pois é. Dentre os principais eventos do clube, tem as quermesses, uma anual e outra que acontece a cada quatro anos. A quaternária é só no fim dos anos em que acontece a Copa do Mundo, não precisamos nos preocupar, mas amanhã nós vamos ter a anual.

Alan – Pois sim, e qual é o problema então?

Roberto – Bem... – ri nervosamente, passando a mão sobre o cabelo – Acontece que durante essa conversa que tivemos com o presidente, na qual o Katagiri estava presente, os dois concordaram que seria bom testar o talento de vocês, garotas. Então eles resolveram que seria bom participarem do evento.

Gabriele – Brincou! Não pode, tão curtindo com a minha cara?!

Emília – Olha a boca Gabriele! É só uma quermesse, nada de mais.

Gabriele – Tudo de mais! EU ODEIO QUERMESSE, todo mundo sabe disso!

Shingo – A gente não sabia. – com o olhar penetrante dela, o rapaz recua – E qual o problema?

Gabriele – Não interessa! Por que precisamos participar disso?

Emília – O presidente foi informado que o Fórtica desistiu de competir contra nós, então ele quer testar nossas habilidades. Está certo que uma quermesse parece um tipo de evento inapropriado para isso, mas essa é diferente. Talita me explicou que todos os países devem enviar no máximo dois membros dos seus times femininos de esporte para representa-los, porque durante os trabalhos voluntários para a liga de juniores o grupo que arrecadar mais pontos ao final do evento escala seu país como sede do próximo Campeonato Esportivo Mundial. Isso não se faz com a Copa do Mundo, então é uma chance única!

Gabriele – Mas nós não vamos formar time em Jyrdan, isso é apenas temporário pra enfrentarmos o Filiam e o Fórtica. Também não representamos mais Braja, então o que faremos lá?

Roberto – Tudo isso ficou muito bem claro durante a nossa conversa, então Katagiri nos fez uma proposta: uma de vocês pode ir representando Jyrdan e outra representa Silja.

– “Silja”? – a maioria repete com confusão.

Roberto – Exatamente. Eles acharam que devíamos continuar trabalhando juntos se estamos nos dando bem por enquanto. Se tudo correr nos conformes, a presidenta Kaori consentirá a vocês o título de time feminino de Silja oficialmente depois do campeonato, o que inclui os novos membros.

Gisela – Quer dizer que se participarmos da quermesse vamos competir no campeonato?

Emília – Eles deixaram claro que não precisamos ganhar, basta nos empenharmos.

Yayoi – E depois do campeonato, Sanae, Yoshiko e eu seremos do time Hotter?

Emília – Exa... Um segundo, time Hotter? Que história é essa? – as garotas riem.

Gabriele – Achamos que se abandonamos Braja definitivamente, devíamos mudar o nome do time também. Hotter foi ideia minha e votação unanime.

Emília – Ninguém disse nada sobre abandonar “definitivamente”.

Gabriele – Quer mesmo voltar para aquele lugar que tanto nos fez mal?

Emília – Ah meu Deus!... Depois discutimos isso. O caso é que a proposta da presidenta Kaori de nos mudarmos para Silja como time oficial vai depender do resultado do campeonato.

Camila – Então só precisamos nos esforçar pra vencer o campeonato?!

Emília – Eu também não disse isso. Só porque a quermesse é menos importante não quer dizer que devemos nos emprenhar menos. Então, o que eu quero saber agora é quem se voluntaria para ir. – começa um profundo silêncio que perdura por alguns segundos, enquanto as jovens se entreolham – Muito bem, tenho uma ideia. – dirige-se até a cozinha e pega uns palitinhos, voltando e sentando em seu lugar na sala – Todas vocês vão tirar um palito, e aqueles que tiverem um risco vermelho na ponta são os sorteados. Só mostrem os palitos depois que todas tiverem pegado um. Gabriele...

A garota é a primeira que pega e continua escondendo a parte debaixo com a mão, até o momento. As outras fazem o mesmo e os garotos ficam aos seus lados para conferir se tem a marca ou não em cada um. Ao mesmo tempo, no sinal da técnica, elas abrem as mãos. Um por um eles são verificados.

Gabriele – Ah droga! Eu não acredito! – todos olham para ela.

Natália – É isso aí gente, a Gabizinha pegou o marcado! – tira o palito de suas mãos enquanto se apoia em suas costas, rindo – Vê se me trás um salgadinho no palito na volta.

Jamile – Natália, pelo amor de Deus! – a repreendida revira os olhos e desencosta da amiga.

Gabriele – Mas nem pensar que eu vou lá, nem arrastada!

Molly – Oh Gabi, é o jogo! Você tem que ir representando a gente.

Leo – Qual é o problema com as quermesses afinal?

Selena – Não é a quermesse o problema. Ela tem um trauma...

Oliver – Trauma? – Gabriele olha feio para a amiga – Qual é?

Gabriele – Não vale à pena contar... Mas eu não vou!

Molly – Podemos te forçar a ir! – todas as jovens, exceto Sanae, Yayoi e Yoshiko, pulam sobre ela, cercando-a para não fugir enquanto a moça protesta.

Emília – Ok, pra mim já deu. Deixo Gabriele nas mãos de vocês.

Anastásia – Pode relaxar que vamos aprontá-la logo! – as garotas sobem escada acima.

Gabriele – Querem me soltar, suas loucas?! Eu tenho meus direitos! Vou matar todas vocês! – os gritos cessam com um baque da porta de um quarto.

Gino – Parece que ela foi raptada, que pena. – os rapazes riem.

Misaki – Eu estava pensando... Elas vão ficar bem lá, sozinhas? – Roberto e Emília se entreolham e logo ela vai para a cozinha novamente, trazendo mais palitos.

Emília – Mesmo sistema; tirem os palitos e vejam o ganhador.

Pepe – E pra quê isso? Pensei que estivéssemos falando delas.

Roberto – Misaki levantou uma boa questão: todas as garotas precisam de acompanhantes.

Emília – Exatamente! Eu já marquei dois palitos. Dois de vocês tirarão os marcados e vão escolher sua companhia e ir junto dela à quermesse.

Ken – E por que dois de nós têm que ir junto delas?

Roberto – É pelos vândalos, Ken. Nunca se sabe quem vai nesse tipo de evento, já que é aberto ao público. Elas podem ser atacadas! – esconde um riso.

Rivaul – É uma quermesse pra crianças. Isso é um pouco de exagero, não? – sorri, erguendo uma sobrancelha – Especialmente porque elas parecem saber se virar muito bem.

Pierre – Ora Rivaul, meu amigo, sejamos cavalheiros! Vamos tirar! – entra na brincadeira.

Carlos – Oh bem, está certo. Tentemos a sorte. – os outros concordam aos poucos e pegam cada um o seu palito, mantendo a ponta escondida com as mãos.

Brigite – Gente, nós trouxemos a Gabriele! – anuncia de repente antes das outras a trazerem.

Inara – Ela vem desfilando em um vestido vermelho com corpete e saia rodada, cheia de glamour! – a capitã resmunga – Enfezada, mas linda!

Lupita – Ah sim, se lembre de me devolver os sapatos depois, viu?! – bate de leve no ombro dela.

Karl – Você está uma gracinha Gabi! – alguns dos rapazes assoviam, fazendo os outros rirem.

Gabriele – Eu acho que estou parecendo um peru de Natal.

Yayoi – Bobagem! Eles vão te escolher com certeza.

Gino – Falando nisto, parece que dois de nós vão levar duas de vocês na quermesse. – as garotas encaram logo Emília, tensas.

Deise – Outra vez o truque do palitinho não... Quem é?

Misaki – O Oliver e o Kojiro. – ri enquanto Gabriele fica dura.

Shingo – Pensando bem, não sabemos ainda quem mais tirou o palito marcado.

Sanae – Ah, fui eu. – anuncia – Estou contente de poder participar. Sempre gostei de quermesses!

Gisela – É mesmo! Estávamos tão preocupadas em arrumar a Gabi que nos esquecemos da Sanae! Vamos subir de novo pra preparar ela. Já voltamos!

Logo elas somem outra vez, carregando Gabriele novamente. Karl providencia um carro menos chamativo para levá-los, e quando o chofer está pronto os quatro selecionados são jogados lá dentro. No caminho todo, os únicos que conversam alguma coisa são Sanae e Oliver, enquanto os outros dois só respondem com resmungos ou frases com menos de cinco palavras cada. A quermesse não é muito longe. O chofer os deixa, planejando com Kojiro a hora e o lugar da partida, e vai embora.

Kojiro – E agora? Pra onde temos que ir? – coloca as mãos nos bolsos da calça.

Gabriele – Não sei. A técnica disse que primeiro devíamos nos registrar.

Sanae – Olha só, tem uma barraca ali. Deve ser o lugar.

Realmente é. Assim que dão as suas assinaturas, o quarteto se dispersa. Oliver vai acompanhando Sanae por onde quer que vá, e já Kojiro deixa Gabriele na primeira encruzilhada que encontra. As moças mantem a vista dos olhos broches especiais, que determinam sua participação no evento. Depois de rodar por algumas horas, Kojiro passa pelo ponto de partida e encontra o casal procurando pela capitã para irem embora. Não é necessário andar mais que cinco passos; Gabriele está na barraca do beijo.

Sem nem pensar duas vezes, Kojiro compra um bilhete e espera na fila sem que ela veja. Logo é a sua vez e ele sobe as escadas do palanque onde ela está acomodada sobre uma cadeira, causando surpresa.

Kojiro – Mas o que você pensa que está fazendo aqui?

Gabriele – Trabalhando, o que você acha?! Tenho que arrecadar uns pontos com os juízes. Na real, cheguei já há um tempo. A pobre garota que estava aqui antes de mim me deu uma dica sobre um velho ali na fila. – os dois olham o senhor discretamente – Dica: ele não está mascando chiclete. Eca! E você?

Kojiro – Eu... Eu só vim te tirar daqui! – cora razoavelmente.

Gabriele – Jura? – ergue uma sobrancelha – Mas eu não posso fazer nada até a minha substituta chegar. – endireita-se na cadeira – Não posso sair antes da hora sem todos me verem.

Kojiro – Vamos por ali. – aponta para as costas da barraca.

Gabriele – Não dá, está vedada. Se você ficar muito tempo aí de pé os outros caras vão começar a estranhar, sabe... – suspira, se remexendo no canto.

Kojiro – E o que você espera que eu faça então?

Gabriele – Se pagou, não vai querer me beijar?

Kojiro – Do que está falando? Não podemos perder tempo...!

Antes que ele termine a frase, a substituta aparece e, sem querer, bate nas costas do garoto, que beija Gabriele mesmo! Depois disto, sem dizerem uma única palavra no caminho de volta, eles vão direto para os quartos dormir para o dia seguinte. No fim das contas, o beijo que tanto evitaram acabou sendo melhor do que imaginavam. Pelo menos por Gabriele, ele aconteceria de novo.

Continua...