Polícia - O Início

Corações Ressentidos


Como de costume, Betsy estava esperando pelo filho. Ao ouvir o barulho do carro, foi até a janela, adorava vê-lo entrando com sua farda, olhar sério. Suas vizinhas sempre a elogiavam pelo filho de ouro que ela tinha, e agora ainda mais, o respeitavam muito.

Ao ver que Laurence estava entrando com Bruce, Betsy correu para o quarto, vestiu um penuar bem longo para esconder sua camisola curta e sensual.

_ Mamãe? – eles entraram e Laurence sentou-se no sofá.

Ela ouviu seu filho chamando.

_ Estou indo.

Bruce foi direto para seu quarto e ela encontrou Laurence na sala.

_ Olá, Betsy! – ele disse sem seu sorriso costumeiro.

Mas ela precisava saber desde que ganhou xícaras novas o que ele pretendia. Com seu olhar triste e insistente sentou-se à frente dele.

_ Não me venha com “Olá”! O que houve? Por que não entra mais aqui? Não falou mais comigo...

_ Ainda pergunta? – disse chateado – Estou aqui por Bruce, e nem pretendo ficar. – se levantou e disse em alto tom na direção do corredor – Bruce, eu estou indo, busco você hoje pelas dez da noite.

Bruce já apareceu com um short de surfista, sem camisa e sem calçado. Ainda eram seis e meia da manhã, mas ele sentia muito calor.

_ Ei, Laurence, fique para o café, minha mãe tem reclamado que você nem fala com ela mais! – sorriu para a mãe – Não é, mamãe?

Ambos ficaram envergonhados.

_ Ele disse que está com pressa, filho, tudo bem.

Ela foi para a cozinha e Bruce ficou a encarar o amigo.

_ Eu tenho mesmo que ir...

_ Aconteceu algo entre vocês, eu posso ver. O que foi? – disse preocupado.

_ Pergunte a ela, se ela permitir, eu lhe contarei depois. Bom descanso.

Laurence foi embora. Ao dar a partida no carro ele viu o rosto de Betsy na janela da cozinha, e de longe ele pôde sentir a mágoa de seus olhos.

Na mesa, Bruce se alimentava antes de ir para a cama, enquanto sua mãe, sentada ali em sua frente se distraiu com a lembrança do desprezo com que seu velho e único amigo a estava tratando.

_ Eu matei um homem hoje, mamãe.

Ela voltou ao tempo real.

_ O quê?

_ Matei um homem, era um traficante que atirou contra mim.

_ Que trágico, filho! Ele fez algo a você?

_ Não, eu o acertei com um só tiro, foi rápido.

Ela sempre se preocupou com Willy em sua profissão, mas se acostumou com aqueles relatos, não se intimidava mais.

_ Que perigo, filho. Como foi na administração?

_ Eu chamei por Laurence...

_ Ele não estava com você?

Bruce contou brevemente o que houve. Não quis falar sobre Grace, nem pra ela e nem pra Laurence. Aquilo lhe doeria se falasse.

_ Mas, querido, eles o colocaram em uma situação de risco.

_ A culpa foi minha. Eu só tinha que fazer a ronda e não sair do carro...

_ Como lidou com essa morte?

_ Foi... Muito estranho. – disse lembrando-se de que tudo que queria quando saiu do carro era achar o culpado pela imagem deturpada que viu de Grace, e que quando matou o homem, sentiu alívio.

_ Sabe que vão mandar você a um psicólogo, não sabe?

_ Eu sei.

Ela notou sua tristeza, sabia que não era por ter matado pela primeira vez.

_ O que houve, além disso, meu filho? Quer contar?

Ele olhou para ela. O nome Grace estava em sua boca, mas a vergonha e decepção a tapava, sem deixar que saísse. Então ele se lembrou de Laurence.

_ Mamãe, o que houve entre você e Laurence?

_ Eu... – hesitou.

Betsy não queria dizer que ele tentou beijá-la, muito menos que tiveram um caso anos atrás e que até então ela lutava contra o desejo de substituir Willy. Era ela quem precisava de um psicólogo, pensava.

_ Tudo bem se não quiser contar. Ele contará, se a senhora não se importar.

_ Não. _ Laurence também não contaria, ela achava.

Ele saiu da mesa e deixou sua xícara na pia.

_ Vou pra cama. Mãe, se Pontes me ligar, pode me chamar. – viu seu olhar triste também, voltou e beijou seu rosto com ternura – Eu te amo!

Ela sorriu forçadamente, mas ele não percebeu. Ambos estavam tristes.

Em seu quarto, Bruce rolava pela cama de um lado para o outro. Grace e o bandido que ele matou não saiam de sua cabeça, havia dormido apenas três horas e seus olhos já estavam bem abertos.

De sua cama mesmo ele ligou seu aparelho de som e colocou para tocar uma seleção que fez para ouvir e se lembrar de Grace, sua amada princesa que viu crescer. Desde que eram pequenos eles não se falavam, mas ele a observava por causa de seu jeito de ser, ela era mais esperta, mandava nas brincadeiras. Quando ele tinha 14 anos a acompanhava com os olhos enquanto ela passava com sua mãe, então ela olhou para ele e sorriu. Seu coração registrou aquele sorriso como a maior alegria que um ser humano podia suportar. E ele quase morreu de felicidade ao saber que ela ia sair da escola particular e começar no colégio do bairro, ela já era uma mocinha de 11 anos, tinha seu corpinho quase definido, e era muito popular.

A música “Love me Tender” de Elvis era a que mais lhe doía no peito, ele costumava cantá-la olhando em sua foto. Agora não tinha coragem de tirá-la de debaixo do travesseiro, sentia ódio, e chorava. Num impulso ele bateu no rádio com a mão e o jogou longe. A música parou, e veio o silêncio. Era como seu peito agora, não havia mais som, nem amor, nem Grace. Tudo acabou.

Depois de secar suas lágrimas ele se levantou colocou o rádio de volta no criado mudo, vestiu-se e saiu do quarto.

_ Mãe? – ele quase se chocou com ela no corredor.

_ Bruce, eu ia chamar você. O delegado Pontes está chamando na delegacia para que você possa esclarecer uma ocorrência com uma garota.

Seu corpo esquentou. Ele achava que sabia o que era.

_ Vou me arrumar.

Ele não demorou a chegar com seu carro particular à delegacia. Viu logo o pai de Grace falando com Pontes.

Quando o homem o viu se aproximando queria segurá-lo, estava possesso.

_ Seu desgraçado, filho da p...., eu vou meter um processo em cima de você!

Surpreso com tamanha hostilidade, Bruce apenas passou por ele e foi para a sala de Pontes. Este foi para lá também.

Quando fechou a porta, suspirou e olhou sorrindo para ele.

_ O que eu faço com você? O homem está dizendo que você quase estuprou a menina aqui.

Bruce ficou pálido.

_ Pontes, não brinque com isso!

_ Ok! – sorriu – Ela foi quem disse que você a mandou tirar a roupa. – ficou sério – O pior foi que a atendente confirmou.

Agora ele estava furioso.

_ Eu não a mandei tirar a roupa! Ela estava com drogas embaixo da roupa e eu pedi que me entregasse. O que ela disse e essa atendente de “meia tigela” confirmou não tem nada a ver com o que aconteceu.

_ Agora funciona assim, Bruce. Ela será liberada, por que é menor, e eu não vou querer que aquele pai raivoso lhe processe. Já que ela disse que você estava sozinho... Você sabe como são esses magnatas. O homem é rico, pode te colocar numa prisão administrativa.

Bruce respirava descompassado. Era muita pressão para ele num só dia.

Quando Grace foi liberada, soube que Bruce ainda estava ali e que ia embora. Deixando seu pai de lado ela correu para ele.

Bruce parou repentinamente com aquela mulher desconhecida e repugnante em sua frente. Mas se recusou a olhar em seus olhos o tempo todo.

_ Me desculpe pela mentira, mas você não acha que meu pai ia deixar que me prendessem, não é?

Ele desviou dela e foi para o seu carro. Ouviu quando ela gritou que o veria qualquer dia.

De volta em sua casa, Bruce só queria dormir. Mas nem o silêncio da casa e um banho quente o fizeram dormir. Era sua mente cheia de conflitos.

Nada grande perto do que ele enfrentaria naquela noite, em mais uma ronda.

Mas, onde estava Betsy?