Poltrona 10 - CIP

Capítulo Único - Poltrona 10


Era um domingo calmo e seria bem agradável se Brady não estivesse para explodir de tédio sentado na calçada do lado de fora do shopping enquanto esperava o melhor amigo que, como sempre, estava super atrasado.

Quando seu celular tocou, ele puxou imediatamente do bolso e atendeu, não precisava olhar para saber quem era.

— Tanner, sua quenga! — xingou sem poupar no tom irritado. — Você já devia estar aqui há uma hora e meia, viado do caralho.

Putz, migo. Nem vai dar de ir porque rolou umas tretas aqui em casa. Pra ser mais específico, meu pai descobriu sobre meu namoro com o Butch. Eu estou de castigo, tipo assim, pra sempre. — ao ouvir a voz do melhor amigo tão triste e com sinais de choro, Brady se sentiu culpado por ter brigado antes de ouvir a explicação.

Ele sabia o quão difícil era a vida de Tanner, tanto pelo bullying que sofria no colégio só por gostar de dançar e tatuar no clube de teatro quanto pela falta de aceitação que sua família conservadora tinha pelo garoto afeminado desde criança, era uma luta constante travada dia após dia só para poder ser quem era.

— Me desculpa por ter gritado com você, eu não sabia. — murmurou, dando um longo suspiro. — Espero que... Sei lá. Melhore? É isso que se fala pra um amigo gay recém-saído ou, no caso, caído do armário?

— Provavelmente não. — ambos riram. — Mas valeu. Senti a sinceridade.

Tanner logo teve que desligar, e Brady ficou pensando se ia para casa de uma vez ou se ficava para assistir um filme como o planejado, já que já estava lá de qualquer jeito e não havia nada de melhor para fazer em sua humilde residência.

Acabou optando por passar sua tarde de domingo no cinema do shopping mesmo e escolheu uma comédia que estava disponível. Depois de comprar um balde enorme de pipoca e um copo proporcionalmente grande de refrigerante, foi para a sala 4, fileira F, poltrona 8, onde se acomodou e em dois minutos os trailers começaram.

O preço do ingresso valeu muito a pena, com meia hora de filme Brady riu tanto que se engasgou com a pipoca que havia acabado de colocar na boca no exato momento em que uma cena hilária passou no telão.

— Ei, tá tudo bem? — a garota que estava sentada duas poltronas à sua esquerda se inclinou ao máximo e deu algumas batidinhas nas costas do loiro na tentativa de ajuda-lo.

Brady continuou a tossir por alguns segundos antes de virar para o lado para agradecer e acabou travando um instante. Aqueles olhos castanhos da garota tinham algo profundo que o fez se perder neles, foi apenas um momento, mas foi muito intenso.

— É, eu... — ele pigarreou e coçou a nuca. — Tá tudo bem. Obrigado.

— Que bom. — a desconhecida sorriu e voltou a sua posição normal, continuando a assistir o filme.

Brady ficou algum tempo admirando a beleza estonteante daquela garota de cabelo castanho e ondulado, pele bronzeada como de uma surfista e olhos cor de chocolate. Então ela franziu o cenho e olhou em sua direção, fazendo-o ter que virar rápido e disfarçar, de um jeito que acabou ficando ridículo e nada convincente. A garota riu e não disse nada.

Depois do fim da sessão, Brady seguiu para a direção oposta da desconhecida, pois pretendia comprar um sorvete na praça de alimentação antes de sair e ela... Bem, ela estava indo para sabe-se lá onde. Porém, como a fila estava bem grande, o loiro decidiu ir logo para casa e comer alguma coisa por lá.

E em uma das raras ocasiões em que o Senhor Destino decidiu ser um cara legal, Brady viu a garota desconhecida com algumas amigas na saída do shopping, ele nem havia notado que havia pessoas ao redor dela até então. Um sorriso nasceu em seu rosto, fazendo par com o dela, pois ela também o viu e parecia estar feliz por isso.

Mas então, algo estranho aconteceu. O loiro extrovertido e comunicativo, que nunca teve problemas para chegar em uma garota em toda a sua vida, simplesmente não tinha ideia do que dizer. E de seus lábios acabou saindo a coisa mais idiota possível. — Oi, poltrona 10.

— Oi, poltrona... Ahn... 7? — a desconhecida respondeu rindo e franzindo o cenho.

— 8. Eu estava duas antes de você. — Brady coçou a nuca e sorriu meio tímido.

— Ah é.

O loiro piscou fazendo charme e continuou seu caminho, mas assim que seu rosto saiu da visão dela, soltou um muxoxo e fez uma careta com o pensamento “‘Oi, poltrona 10’? De onde tirou isso, idiota?” pairando em sua mente. Mas antes que pudesse se afastar demais, a garota lhe alcançou e colocou algo em sua mão. — Pra você.

— Que é isso? — questionou apertando os dedos em volta do pedaço rasgado de uma folha de caderno.

— É o meu telefone. Pra mandar uma mensagem qualquer hora dessas. — ela piscou, retribuindo o charminho, então começou a se afastar.

“Poltrona 10

*número*”

— Ei. — Brady exclamou desviando os olhos do papel. — Qual é o seu nome?

— Manda mensagem. — a garota gritou de volta. — Prove ser um carinha interessante e aí... Eu penso se te digo o meu nome.

— É sério isso?

Ela apenas riu divertida e deu toda a atenção para as amigas novamente.

Brady revirou os olhos, mas sorriu aceitando desafio. Assim que chegou em casa, foi logo mandando mensagem para a “Poltrona 10”. E foi apenas a primeira de milhares, o que se iniciou com conversinhas engraçadas e cantadas bobas foi evoluindo e evoluindo até se tornar uma amizade realmente forte. Então, um dia o loiro resolveu que chamaria a garota para sair, o pior que poderia acontecer seria levar um não.

Ele digitou a mensagem, respirou bem fundo e enviou o pedido para jantar e cinema.

“Mackenzie” ela respondeu, simplesmente.

“Chutou errado, Poltrona 10”

Tentar adivinhar o nome do outro havia se tornado uma espécie de joguinho de rotina entre os dois, então era bem comum no meio da conversa aparecer uma mensagem aleatória com um nome qualquer e Brady pensou que se tratava disso.

Estava errado.

“Não to chutando, Poltrona 8. Eu não saio com estranhos, então a partir de agora você tem q saber q meu nome é Mackenzie pq a resposta é sim, eu qro sair com vc. Pode me chamar de Mack” a nova mensagem dizia, fazendo um sorriso surpreso e enorme se formar no rosto do loiro ao ler o sms.

“Prazer, Mack. Eu sou o Brady”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.