Ao conversar com a Carla, eu e a Alice conversamos sobre o fim da banda, e nenhum de nós quer que ela acabe, ainda mais assim. Então marcamos de fazer uma visita a clínica do Diego, pra tentar conversar e ver o estado em que ele se encontra.

O motorista nos levou até lá, é um pouco afastado da cidade, e é um lugar muito bonito. É enorme, tem muito campo, flores, e até algumas árvores acompanhadas por bancos.

Andamos até a recepção onde tinha uma secretária alta e bastante magra.

Alice: Viemos visitar Diego Maldonado, fazendo tratamento de álcoolismo.

Recepcionista: Houve um engano, aqui temos um Diego Maldonado, mas não oferecemos tratamento para alcóolatras, tratamos apenas de dependentes químicos.

Eu e Alice nos entreolhamos assustados.

Alice: Não é possível, acho que esse é outro Diego, não deve ser quem estamos procurando. – Alice negava de uma forma que me pareceu um pouco assustadora, ela se negava a acreditar que o Diego passou de alcóolatra para dependente químico. Mas eu não duvido.

Tomás: Alice, fica calma. O Diego que conhecemos não é mais o mesmo, mas ele ainda está lá, e esse lugar vai trazé-lo de volta. Eu não duvido que esse seja o Diego. Não duvido que a família Maldonado queira esconder um dependente químico.

Alice: Faz sentido pra mim. – deu um suspiro triste. –

Tomás: Onde ele está nesse momento ?

Recepcionista: Vou levar vocês até o quarto dele.

Ela nos acompanhou até chegarmos em frente a uma porta, a porta do quarto dele.

Dei um longo suspiro, e bati na porta de leve.

Diego: Quem é ?

Antes que eu pudesse abrir a boca, Alice a tapou.

Alice: Sou eu, Alice. Vim te visitar Di, tô com saudades.

Pude ouvir ele se aproximando até a porta, e destrancando a porta.

Assim que a porta abriu, Alice o abraçou com força, sem perceber que ele poderia se machucar. Ele estava bastante magro e com a aparência cansada.

Ele parecia feliz em vê-la. Tanto que foi logo a chamando pra entrar. Me senti invisível, até porque até então ele ainda não tinha percebido a minha presença.

Tomás: E eu, posso entrar irmão ?

Diego: Eu não te quero aqui ! Alice, porque o trouxe ?

Alice: Ele também estava com saudades e queria muito te ver.

Diego: Mas eu não quero ver ele, ele não entra.

Alice: Se ele não entrar, eu também não entro !

Eles se encararam por um tempo, foi até meio assustador, mas ele se rendeu.

Diego: Pode entrar, mas você é um móvel.

O ‘’quarto’’ na verdade era uma grande suíte, e algo me diz que a família Maldonado está bancando esse lugar. E com esse algo eu quero dizer a tv á cabo, o frigobar, o ar-condicionado, a jacuzzi e todo o resto do luxo que só o dinheiro pode proporcionar.

Nos sentamos na sala, Alice e Diego em frente á tv, e eu um pouco mais afastado, encostado na parede.

Alice: Então Di, nós...

Diego: Nós não, você. Não tem mais ninguém aqui além de nós dois. – disse me lançando um olhar frio -

Alice: Eu achava que aqui era um centro de reabilitação para alcóolatras. O que aconteceu Diego ? Sei que o que aconteceu pegou todo mundo de surpresa, mas sei que não precisa disso.

Diego: Eu não sou um viciado Alice, eu posso parar quando eu quiser sem ter que me internar, isso é coisa do meu pai.

Alice: Se pode parar quando quiser, por que não para então ?

Diego: Porque eu não quero ! É muito bom Alice, eu me sinto no comando, me sinto... o maioral, é como se eu não tivesse problema algum.

Alice: Mas você não precisa disso pra esquecer, ou fugir dos problemas. Você tem a mim, eu vou te ajudar a superar. E você tem a música. Quer que eu te traga algum instrumento da próxima vez que eu vir ?

Diego: Na verdade...

Alice: Eu sei, mal cheguei e já estou falando na próxima vez.

Diego: Na verdade não é isso, é que eu já tenho alguns instrumentos aqui, quer ver ?

Alice: Quero ! Será que se a gente tocar vai incomodar os outros pacientes ?

Diego: Pode até incomodar, mas ninguém vai nos impedir. Meu pai está bancando esse lugar agora, tratamento especial baby.

Eles entraram em uma sala pequena, com alguns instrumentos: violão, baixo, guitarra, bateria, cavaquinho...

Diego pegou o violão e eles se sentaram. Eu me encostei na parede os observando.

Diego: Essa eu compus a pouco tempo.

Fama, eu ainda não tenho. Olha que situação ! Dia e noite na batalha... Traição não tem perdão !

Posso ser ‘’invisível’’ mas não sou burro, entendi perfeitamente o recado. Ele não está pronto para me perdoar ainda.

Alice: Éeerr... Eu gostei ! Bem explícita, não ? haha – Alice não conseguiu contar a risada. –

Diego: Eu posso trocar o ‘’traição’’ por ‘’armação’’.

Alice: O que tem feito por aqui ? Tem te ajudado ?

Diego: Só umas reuniões chatas em grupo, sobre como cada um chegou aqui. A maioria se internou por vontade própria, dá pra acreditar ?

Alice: Dá. Todo mundo sabe que isso vicia pra caramba, e pode destruir a vida de qualquer um.

Diego: Não a minha, como eu já disse, não sou um viciado.

Alice: *suspiro* Ainda assim... Só toma cuidado viu ? Por mim, por você, pela sua família, e... pela sua carreira. – deu um sorriso tímido, e o abraçou. –

Pude ver algumas lágrimas deslizando pelo rosto dela, mas o Diego parecia... frio, como se ele estivesse distante. Só pude sentir o mínimo de emoção vindo dele quando eles se abraçaram.

Diego: Não vai me contar as novidades sobre o Elite Way ?

Alice: Bem, vou te contar primeiro a ruim. Até porque não tem uma boa. É sobre a Carla, ela... Mudou muito, está diferente. Não é mais a mesma. Não é a Carla que conhecemos.

Diego: Pode parar de dar voltas e me dizer o que mudou ?

Alice: Ela está se cortando. – disse com a cabeça baixa, e a voz triste –

Diego ficou boquiaberto, parecia não acreditar no que acabara de ouvir.

Diego: Eu ouvi bem, a Carla está se cortando ?

Alice: Sim, ela está se cortando, e não quer aceitar ajuda.

Diego: Traz ela aqui. – pude ver as lágrimas escorrendo do rosto dele. –

Alice, traz ela aqui, por favor. Dá um jeito, faça o que for, mas traga ela aqui. Eu posso ajudá-la e você sabe. – disse com a voz um pouco embargada, para a minha surpresa. Não imaginei que ele iria sentir tanto essa ‘’mudança’’ dela. –

Alice: Tudo bem, vou traze-la. Acho que você vai ajudá-la. – ela sorriu, e eu fiquei sem entender.Como assim ele pode ajudar ? -