Eu nem registrei direito a passagem do tempo até o teste de basquete. Passou-se o final de semana e três dias de aula quase completos. O teste estava marcado para a quarta-feira, no último horário e duraria o quanto tivesse que durar, segundo o treinador Hedge.

Eu me lembro de receber alguns desejos de boa sorte e fiquei nervoso, com medo de ter muita gente concorrendo e muita gente observando.

- Fique calmo - alertou Grover. - Muita gente tenta entrar no time, mas a maioria não é ameaça, acredite. E é bom se acostumar com muita gente olhando, o time de basquete é o mais importante daqui, modéstia a parte.

Grover só me deixou mais nervoso. O meu principal motivo para querer tanto entrar no time parece ser meio supérfluo: ganhar popularidade. Mas, poxa, eu já tinha passado por tantos colégios sem ter nenhum amigo, sem criar grandes laços... Eu sabia o quanto eu merecia entrar naquele time.

Apenas três pessoas conseguiram me tranquilizar moderadamente: o primeiro foi Nico, meu companheiro de quarto, enquanto íamos para o refeitório da Academia Minerva.

- Então, hoje é o grande dia - comentou.

- Nem precisa falar, está até difícil de me concentrar nas aulas.

- Perseu, - disse, e eu fiz um careta. - eu entendo muito pouco de esportes, mas acho que você é bom. O Beckendorf e o Luke falaram bem de você e eles são difíceis de agradar.

- Sério? - perguntei, incrédulo.

- Sério - afirmou, enquanto chegávamos na fila da entrada do refeitório.

A segunda pessoa que me ajudou a ficar mais calmo foi Annabeth, enquanto batíamos papo na aula de Física. Ela tinha resolvido todos os exercícios e eu tinha os copiado integralmente.

- Você está confiante?

- Não sei, acho que não - respondi. - Esses exercícios de Física estão me matando.

- Não, seu bobo - ela disse, dando uma risada. Eu a fitei, ela ficava muito graciosa ao rir. E, droga, minhas bochechas ficaram vermelhas com o pensamento, mas ela não notou: - Eu estou falando do teste pro time de basquete.

- Ah, claro - eu murmurei, constrangido tanto pela bola fora quanto por ficar notando demais o sorriso de Annabeth. - Eu estou bem nervoso, pra falar a verdade.

- Fica tranquilo, Percy - ela disse. - Você joga muito bem, eu te vi jogando. E olha que entendo de basquete, hein?

- Sério?

- Sim, eu assisto todos os jogos por causa do Luke.

- Hã, claro - disse.

- Não conte que eu disse isso, mas Luke me disse que tem grandes esperanças com você. Ele é o atual capitão, sabe?

Eu sorri. Ela era a segunda pessoa que me falava que Luke me achava bom e isso me agradava. Eu sentia que, por algum motivo, a aprovação dele era necessária.

Mas quem mais conseguiu me agradar foi Rachel. Não tive nenhuma aula com ela naquele dia e só a encontrei quando já me dirigia a quadra, com a roupa de ginástica.

- Então, Percy Jackson - chamou.

- Rachel Elizabeth Dare - respondi. Tinha virado uma espécie de piada interna nos chamar pelo nome completo. E eu realmente gostava do nome dela, tanto pela sonoridade quanto pelo fato que a sigla formava a palavra RED, que era vermelho em inglês, a cor dos cabelos dela.

- Então, chegou a hora.

- Você vai assistir o teste? - perguntei, deixando mais implícito do que eu queria a vontade que ela estivesse lá (e corei novamente).

- Vou - respondeu, e eu não consegui reprimir um sorrisinho. - Eu geralmente não gosto muito de basquete, mas vou lá assistir. Por você.

- Você não gosta? - perguntei, fingindo estar incrédulo. - Eu achava que você gostava, inclusive pensei que você poderia tentar entrar nas líderes de torcida.

- Não - ela disse, dando um careta. - Ali é terreno daquela Drew que tem aula de Ecologia com a gente, sabe?

- Sério? Achava que Silena era a líder de torcida.

- Ela é, mas a Drew é tipo a segunda em comando. Então ela manda até por lá.

- Que doideira - murmurei. - Acho que nunca vou entender a escala de poder no mundo feminino, sabia?

- Ah, nem tente - disse Rachel, sorrindo. - Não é que nem com os meninos, que basta ser bonitinho ou atleta ou os dois.

- É muito mais intricado, né? - continuei, mantendo a brincadeira.

- Sim - ela disse, dando uma piscadela: - O segredo é ter as amizades certas.

- E Drew é a amizade certa?

- Isso - ela respondeu. Nesse meio-tempo, chegamos na quadra, que estava com uma quantidade razoável de pessoas para o teste e para assistir também. - Bem, Percy, vou desejar boa sorte porque competência você já tem.

- Obrigado - sorri, sincero. Era incrível como era bom conversar com ela.

Foram cerca de trinta garotos tentar vagas, entre eles Will Solace, Lee Fletcher e os irmãos Stoll. Jacob, que havia me interceptado na aula de Debates. O treinador Hedge, auxiliado por outros três estagiários de universidade, distribuiu números para todo mundo. Eu fiquei com o número 17.

- Número vinte e quatro? - protestou Connor.

- Algum problema, senhor, hã, Stoll? - disse Hedge, consultando a sua ficha.

- Sim, todo mundo sabe que meu irmão é o afeminado da família, ele que deveria ser o vinte e quatro! - reclamou. Todos riram, exceto Travis, que deu um soquinho no braço do irmão.

- Muito bem, vou fazer alguns testes físico e técnicos com vocês e vou separar primeiro dez jovens. Depois, desses dez eu farei outros testes e a gente vê quem entra no time.

O treinador começou mandando todo mundo dar uma corrida rápida de cinquenta metros. Travis Stoll foi o mais rápido, eu fiquei em quinto. Connor ficou em sexto, Will Solace em sétimo e Lee Fletcher ficou em décimo.

Depois, mandou fazer uma corrida mais longa, de não sei quantas voltas na quadra. O pessoal que já fazia parte do time batia bola na quadra e animava a torcida. Eu entendi o que o treinador Hedge queria: aquela segunda corrida não era para ver quem era o mais rápido, mas quem tinha mais fôlego. De fato, os irmãos Stoll dispararam na frente no início, mas cansaram logo e foram ultrapassados. Eu corri com calma e cheguei em terceiro, disputando a liderança justamente com Will Solace (que ganhou) e Lee Fletcher (que ficou em segundo).

No terceiro teste físico, amarraram uma corda na nossa cintura e tivemos que arrastar um peso por uma determinada distância. Eu me saí bem, ganhando a prova dessa vez.

Ainda fizemos mais cinco testes físicos e consegui me sair bem em todos, sempre entre os melhores. Apesar de cansado, ganhei confiança.

Então, o treinador Hedge começou exercícios técnicos, treinando nosso passe, bandeja, marcação, arremesso, domínio e posse. Eram testes mais demorados, pois eram feitos um por um, o que era bom para descansar.

- Muito bem, os seguintes números continuem na quadra. Quem não conseguiu, agradeço pela participação - disse. Hedge olhou em sua prancheta antes de começar. - Número dezessete, número seis, número...

Eu nem prestei mais atenção, tamanha felicidade. Consegui passar da primeira fase, ao menos. Acenei para Rachel na arquibancada e depois para o grupo onde estavam Nico e Annabeth. Grover e Tyson deram sorrisos discretos em minha direção. Também vi Octaviam me olhando com uma cara feia e pensei no prazer de esfregar na cara dele que eu não recebia nenhum favorecimento.

Will Solace e Lee Fletcher conseguiram passar, como esperado. Travis também foi selecionado, mas Connor não. Jacob, da aula de Debates, também saiu cabisbaixo.

Ele chamou o resto do time e passou uma porção de atividades, que me deixaram realmente exaustos Acho que ficamos uma hora e meia jogando (e o interessante é que as arquibancadas da quadra ficavam ainda mais cheias). Finalmente, ele mandou a gente descansar e se reuniu com os estagiários.

- Como fui? - perguntei a Grover.

- Ótimo - respondeu, esbaforido.

- Você mandou muito bem, Percy - elogiou Tyson, de forma tão sinceramente feliz que fiquei emocionado.

- Esse ano os aspirantes estavam em um nível muito melhor que no ano passado - disse Luke, preocupado. - Espero que ninguém saia do time.

- Muito bem, todo mundo aqui na minha frente, por favor - disse Hedge, usando um megafone. Achei que aquilo dava um jeito de espetáculo ao anúncio. - Vou anunciar o nome um por um e farei um comentário se julgar necessário, certo. Lembrando que são treze vagas.

- É agora - murmurou Lee Fletcher, ao meu lado.

- Luke Castellán, o atual capitão - anunciou. A torcida comemorou bastante. - Sempre um poço de segurança, parabéns.

- Obrigado - murmurou o rapaz, tímido. Deu um breve aceno em direção a torcida, onde estavam seus amigos e sua namorada.

- Jason Grace - e a torcida comemorou novamente. - Mas você está meio fora de forma, Grace. Abre o olho, rapaz.

- Claro - respondeu, mostrando uma firmeza admirável.

- Três pilares de força do time: Frank Zhang, Charles Beckendorf e Tyson Smith - disse. A torcida comemorou novamente, com mais empolgação quando o treinador falou o nome do segundo.

- Oba! - disse Tyson, com tamanha força que não foi necessário de um megafone para ser ouvido. Os alunos na arquibancada riram um pouco, o que deixou o grandão meio envergonhado.

- Chris Rodriguez! Jake Mason! Leo Valdez! - disse. Até então, apenas jogadores antigos haviam sido confirmados. Travis soltou um muxoxo de impaciência.

- Anda logo... - murmurei. A espera estava me matando.

- Octaviam Mendez! Parabéns, garoto, mas você foi muito displicente hoje, espero que não se repita nos treinos e nos jogos.

- Sim, treinador - disse, com clara insatisfação no rosto. Acho que ele não julgou seu desempenho como displicente. Eu também notei que quem assistia na arquibancada mal comemorou.

- Grover Underwood! - gritou o treinador. O barulho dos torcedores foi tão ensurdecedor que não entendi o que Hedge comentou.

- Obrigado, treinador - ele agradeceu, educadamente.

- Will Solace! - anunciou, e Will se ajoelhou no chão, exausto. - Parabéns, garoto.

Um dos estagiários cochichou algo no ouvido de Hedge, que olhou na ficha e sorriu, satisfeito. Faltavam mais duas vagas e ainda tinham outros oito garotos que ainda não tinham sido chamados além de mim. Um frio passou pela minha espinha.

- Boa sorte, Castor - murmurou um garoto para seu irmão gêmeo e eu o reconheci como um dos irmãos Wine.

- Obrigado, Pollux - respondeu o outro.

- Lee Fletcher! - disse, e mais uma vez a torcida comemorou. Puta que pariu, ficaria para o último nome, como eu estava nervoso. O treinador Hedge, alheio a isso, comentou: - Só temos que olhar esse seu arremesso, meu jovem. Com treino dá pra chegar longe.

- Certo, certo - respondeu Lee, sorrindo. Provavelmente, nem escutou o que o treinador Hedge disse.

- E, por último, mas não menos importante: Perseu Jackson!

Nunca fiquei tão feliz ao ouvir alguém me chamando de Perseu.

- Eu consegui, porra! - gritei.