Playing Dangerous

The Beginning of the End Began


— Uma semana! – exclamei exasperada e me joguei na cama.

Até que as coisas não iam tão más assim, era mais a saudade que sentia de Nova York. Do tempo nublado, os prédios, o movimento incessante, até mesmo do ar poluído da metrópole eu sentia falta.

Claro que sentia falta de meus amigos que lá deixei e até mesmo sentia falta de meu pai, por mais que não trocássemos muitas palavras, o simples saber de que ele estava na mesma casa que eu fazia-me sentir bem. Estranho não?

Na semana que aqui estou fiz colegas, mas digamos que ainda estou de corpo fechado para essa cidade, ninguém a vista que merecesse que eu deixasse entrar em meu círculo social. Não pense que sou uma mimada da cidade grande, claro que não, é somente a raiva que ainda borbulha em meu ser.

Raiva de saber que meu pai achou um jeito digno de se livrar de mim. Aposto que agora ele tem toda a liberdade para levar aquelas vadias interesseiras ao nosso apartamento. Isso soa infame!

Milagrosamente na segunda-feira cheguei cedo ao colégio, quinze minutos adiantada. Eu não sei o porquê mais sentia-me animada, talvez houvesse a ver com a aura harmoniosa de meus avós, algo que parecia irradiar deles e nos acertar em cheio, nos enchendo de alegria.

Era assim que eu me sentia aqui nessa cidade, em paz, porém um tanto desfocada.

Desci de meu carro, caminhei pelo largo estacionamento do colégio e adentrei o local já cheio. Fui em direção a meu armário, lá peguei os livros que usaria nas aulas seguintes, então um estrondo ecoou pelo corredor, mais outro e depois um xingamento:

— Máquina idiota! Roubou meu dinheiro! – uma loira de cabelos um tanto encaracolados brigava com uma máquina de refrigerantes – Argh!

Fechei meu armário e fui em direção da mesma.

— Acho que você esqueceu de apertar esse botão aqui – estiquei meu braço e cliquei o botão, logo ouvimos o som da lata do refrigerante rolar – Pronto – sorri para a garota.

Ela se abaixou e pegou a lata de Pepsi.

— Ah, valeu! – ela abriu a lata e tomou o líquido – Não pense que sou uma idiota, ok?

— Isso nem se passou pela minha mente.

— Hum, sei – ela tomou outro gole da bebida.

Reprimi um sorriso.

— Você é nova aqui – ela afirmou.

— Sim.

— Estamos na mesma sala em algumas matérias.

Franzi o cenho, não havia a notado. Pra falar a verdade, não havia me dado o trabalho de focar o rosto dos seres deste colégio.

— Ah, é?

Ela assentiu piscando exageradamente.

— Aham. Ah, me chamo Rose. Tá! Eu sei, nossa que nome esquisito, mas é meu nome – dei risada. Começamos a andar pelo corredor em direção a sala.

— Me chamo Carmen – botei a língua pra fora enrugando o nariz – Nome de velho – ela gargalhou.

— Parece clássico pra mim. Mas e aí, a quanto tempo está aqui? – adentramos a sala e sentamos lado a lado. Rose era a primeira pessoa desconhecida com quem eu mantinha uma conversa por mais de cinco minutos, ela parecia agradável e extrovertida.

— Uma semana apenas, vim de Nova York. Estou morando com meus avós.

Ela levantou as sobrancelhas.

— Isso é péssimo. Por que trocaria Nova York por esse lugar?

Rimos juntas.

— Digamos que… meti-me em encrencas em Nova York. Agora estou aqui, fim.

Ela assentiu me encarando.

Agora podia descrevê-la melhor: Olhos verdes, sardas leves nas bochechas e piercing no nariz, vestia uma camiseta dos Estados Unidos e um shorts minúsculo, parecia a típica garota problema e isso fez-me querer conhecê-la ainda mais. Já disse que o errado me atrai?

— Hum, encrencas… entendi – ela sorriu dizendo – Me meto em encrencas o tempo todo.

— Já comigo, elas me seguem, o tempo todo, a verdade é que nem tento fugir delas.

Ela riu.

— Você é legal, sabia? Acho que nos daremos bem, Carmen.

Pensei por um segundo. Sim, eu sabia que começar uma amizade com Rose me traria problemas futuros, bom, ela não me obrigaria a nada, não?

— Sim, nos daremos muito bem.

(*)

— Acalmem-se todos! – quase arrebentava sua garganta a diretora ao falar – Silêncio!

Estavam todos os alunos reunidos no auditório, haveria um tipo de palestra… Algo assim, sobre o quê, eu ainda não sabia, estava alheia ao que acontecia. Haviam alguns cartazes lá na frente, logo notei que seria a mesma baboseira de sempre: Tentar nos advertir sobre as tentações do mundo.

Logo após o silêncio tomou conta do ambiente quando três policiais entraram e adivinhem quem era um deles? Sim. Isso mesmo! O tal Sheriff que quase me multou.

Mordi o lábio inferior e fiquei a observar tudo. As garotas pareciam hipnotizadas, porque obviamente ninguém aqui era cego, ele era muito atraente. Cochichavam e o nome dele podia ser ouvido. Jake. Jake Gyllenhaal.

Levo um susto quando Rose aparece atrás de mim falando:

— Ele é um gostoso, não acha?

Somente sorri meneando a cabeça.

— Ah, vai me dizer que não acha? Olha como ele fica sexy com aquele uniforme – ela revirou os olhos teatralmente.

— Ele é muito bonito, não nego – dei de ombros, ela sentou-se ao meu lado.

— Ah, qual é?! – ela me deu um empurrãozinho leve – Qualquer mulher no condado de Davidson daria pra esse homem.

— Bom, a genética foi muito generosa com ele – sempre fui péssima com elogios – E sim, é um gato.

Depois disso a voz prepotente do Sheriff ecoou pelo recinto, falava e seu olhar corria pela arquibancada, então seu olhar encontrou o meu, reconheceu-me, eu senti isso. Seu olhar não fixou-me no meu por mais de três segundos, tempo suficiente para me fazer suar as mãos.

Eu não fazia ideia do que ele falava ali para os adolescentes inconsequentes – como se eu não fosse uma também. Porém, minha admiração foi interrompida por Rose.

— Opa, limpa essa baba aqui – ela brincou passando os dedos no canto de meus lábios, afastei sua mão.

— Abobada – sorri.

— Sei que vocês adolescentes se encantam pelo errado, pelo incerto, mas pressa ao volante não leva ninguém a nada, chegarão lá do mesmo modo… ou talvez não – exclamou o Sheriff, nesse exato momento ele olhou pra mim.

Tá bom, já entendi, foi uma indireta bem direta!

O vi dar um sorriso quase imperceptível de canto de boca. Sei que esse sorriso foi pra mim e me senti estúpida por ficar contente com isso.

Isso poderia não parecer tão surreal se ele não fosse um Sheriff e eu não fosse menor de idade. Mas por que estou pensando nisso? Até parece que eu chamaria a atenção de um homem como ele, tudo bem que muitos velhacos amigos de meu pai já tentaram algo comigo, mas foi diferente, eles eram velhos safados, agora já o Sheriff Jake não, ele é um homem bem aparentado – e deve saber disso – deve ter no máximo uns trinta e cinco anos. Nem sei o motivo pelo qual divago sobre isso.

Menei minha cabeça e tentei me concentrar no que os oficiais diziam. “Não use drogas, não se deixe envolver”. Coisas que entrariam pelos nossos ouvidos e sairiam pelo outro.

— Isso aqui tá um saco – resmungou Rose bufando – É sempre assim todo verão. Eles vem aqui, falam e falam. Acham que damos a miníma – ela deu de ombros fazendo bico – Nos entregam esses panfletos idiotas e nós fingimos que seguiremos as regras.

— Um ato típico de nós adolescentes – complementei.

Ela olhou rapidamente para os lados e puxou-me rápido.

— Vem, vamos dar o fora daqui.

Ela me puxou tão depressa pelo braço que quase caí, saímos apressadas do auditório não nos importando com os olhares alheios, corremos pelos corredores segurando nossas mochilas.

— A diretora estava lá, sua louca – a empurrei brincando.

Ela deu de ombros e enrugou o nariz.

— Dane-se. Agora vem comigo, uns amigos meus estão me esperando lá fora.

Saímos do colégio e logo adentramos o estacionamento amplo e bem arejado do colégio. De longe avistei um pequeno grupo, deveria ter dois rapazes e duas garotas encostados numa caminhonete preta reluzente.

Chegamos perto deles, Rose logo os cumprimentou amigavelmente. Todos pararam para me encarar.

— Galera, essa é minha mais nova amiga; Carmen – apontou pra mim e logo após para eles, dei um pequeno aceno a todos – Esse é Nick, essas são Kate e Elen, e esse aqui, todo esquisitão é o Brad.

— Olá – disse a todos, porém meu olhar estava fixo em Brad.

— Carne fresca na cidade? – indagou o alto com tatuagens.

Os outros riram.

— Ela veio de Nova York – disse Rose acendendo um cigarro, Brad fez o mesmo.

Ele levantou as sobrancelhas.

— Uma coisinha fofa assim somente podia ser de fora – havia um tom cômico em sua exclamação.

— Posso te garantir que de fofa não tenho nada – me aproximei pegando o cigarro dos lábios do garoto, ele sorriu torto.

Não nego, senti-me atraída pelo garoto tatuado, ele irradiava magnetismo, uma aura perigosa e atraente saía de seu ser, e isso me atraiu mais do que o inferno em chamas. Poderia parecer errado, mas como meu cérebro trabalhava de modo invertido, senti-me certa em fazer isso.

Devolvi seu cigarro colocando o mesmo em seus lábios finos, rocei meus dedos em seus lábios. Todos pareciam estar alheios ao nosso contato visual, estávamos bem perto um do outro agora. Isso poderia parecer estranho, Brad era magnético.

Ele sorriu, eu retribuí.

Nossa troca de olhares foi interrompida pelos alunos que começaram a sair do colégio. Logo Rose começou uma conversa, falava sobre uma festa e eu estava convidada.

Me encostei na caminhonete ao lado de Brad e fiquei a observar o movimento, logo ele já me dava um cigarro, qual eu fumava calmamente, depois disso já conversávamos coisas aleatórias. Brad se aproximava e eu percebia, eu não me afastava, era uma sensação boa flertar.

No exato momento que Brad fez-me rir, avistei aqueles olhos azuis penetrantes. Sheriff Jake. Ele havia saído de dentro do colégio, andava calmo por entre os carros, ele vinha em nossa direção. Seu olhar estava conectado ao meu, logo após isso abaixei meus olhos, o homem passou por nós encarando Brad… Bom, isso poderia ser normal, já que Brad já não estudava mais – tinha vinte e dois anos – e estava aqui no colégio, também era conhecido na cidade por não ser boa coisa.

O Sheriff entrou em seu carro de oficial e partiu, fiquei a observar seu carro se afastando. Por que sentia-me atraída por aqueles olhos azuis? Franzi o cenho e encarei o chão.

— Carmen? Tá surda? – era a voz de Rose.

— Ah sim, que foi?

— Perguntei se você vai na festa que vai rolar na casa do Nick.

Minha mente clareou.

— Claro, vou sim.

Rose sorriu.

— É isso aí, garota!

Sorri e dei o último trago no cigarro. Sinto que as coisas ficariam realmente perigosas por aqui. Olhei ao meu redor, meu mais novo grupo social. Sim, as coisas ficariam sérias.

— Uma festinha nunca machuca ninguém, não é?