Playing Dangerous

Sadness is a Blessing


Surpreendi-me ao acordar numa cama desconhecida, porém o aroma do local lembrava-me Jake. Sim, Jake. Eu até mesmo já reconhecia seu cheiro.

A cama toda cheirava a ele, o ambiente todo. Vou parecer meio louca se eu disser que cheirei seu travesseiro? Não me contive.

Comprimi meus olhos e tentei lembrar o que havia acontecido. Como vim parar aqui? Lembro-me de sair com as garotas e depois de beber muito… E bom, agora estou aqui. Estou vestida, então quer dizer que nada rolou entre nós, o que é bom, não gostaria de ter algo com Jake e não lembrar-me de nada depois. Mas espere, como eu vim parar aqui? É inexplicável. A não ser que eu tenha caído de bêbada na rua e ele tenha me resgatado.

— Vejo que acordou – Jake apareceu na porta.

E meu Deus! Eu poderia ter uma síncope por apenas observá-lo sem camisa, a pele clara parecia implorar por toques, desviei meu olhar.

Sentei-me na cama e franzi o cenho.

— Como eu vim parar aqui? Estamos na sua casa? – indaguei confusa, ele riu.

— Sim, estamos.

— Como? Eu não entendo… Eu não lembro.

— Te encontrei ontem de madrugada, estava bêbada. A trouxe pra cá.

Ele foi até seu guarda-roupa e vestiu uma regata branca.

— Meu Deus! Meus avós devem estar pirando uma hora dessas! – me apavorei.

— Mandei uma mensagem pra eles do seu celular enquanto você dormia. Disse que dormiria na casa de uma amiga – disse ele calmo.

Franzi meu cenho.

— Meu celular tem senha – exclamei e peguei o mesmo, verifiquei as mensagens. Ele havia mesmo mandado! Espantei-me.

Jake deu de ombros.

— Celular com senha não é nada pra mim, Carmen. A coisa mais banal do mundo. Desbloqueio um em dois segundos.

Minha boca se tornou um “o”.

— Eu não permiti que fizesse isso. É invasão de privacidade.

— Está querendo me esconder alguma coisa? Espero que não. Além do que se não fosse isso, eu teria que estar fingindo te procurar uma hora dessas. Porque você sabe, se algo acontecer a você, seus avós virão diretamente a mim.

Pensei por um segundo. Sim, ele foi sensato. Porém mesmo assim, odiei dele ter mexido em meu celular.

— Entendi – abaixei meu olhar.

O homem suspirou e disse:

— Bom, fiz café da manhã – se afastou em direção a porta, eu ainda estava sentada em sua cama – Depois tenho que levá-la embora. Ah, e tem uma escova de dentes na pia do banheiro pra você – saiu pela porta.

Tá bom, Carmen! Respira. Um, dois, três. Eu estou na casa do Jake. Dormi na mesma cama que ele, quem trouxe-me pra cá porque eu estava bêbada e se eu tivesse falado alguma besteira? E se alguém nos viu? Isso foi arriscado. Droga.

Levantei devagar e fui até a suíte do quarto. Fiz minha higiene depois calcei meu tênis, peguei meu casaco e desci as escadas.

Jake já estava arrumado para ir trabalhar, tomava café e lia um jornal. Senti-me estranhamente familiarizada com a cena. Sentei-me na pequena mesa próxima a janela, ele encarou-me e sorriu, retribuí.

Era estranhamente bom fazer isso. Acordar e vê-lo, estar entre seus lençóis e sentir seu cheiro. Vê-lo sorrir logo de manhã e claro, vê-lo sem camisa. Sorri e peguei uma torrada.

— Que foi? – indagou-me sorrindo.

— Nada. É só que, tipo, eu e você, aqui – dei de ombros – Isso é novo pra mim.

— Digamos que pra mim também. Tudo com você é novo pra mim, Carmen.

Sorri e baixei meu olhar. Havia coisas que Jake falava que me deixavam fora de ar. Poderia até mesmo dizer que ele estava mentindo ou brincando comigo, mas eu via a verdade em seu olhar.

Logo após tivemos que partir, ele teria de ir trabalhar e eu teria que ir pra casa.

Sua residência era bem afastada da cidade, não tinha vizinhos, era somente sua casa e uma extensa quantidade de árvores.

Adentramos o subúrbio e abaixei-me no assento. Poderia soar engraçado se não fosse perigoso. Jake estacionou seu carro a uma quadra de minha casa. Olhei ao redor para ver se ninguém a vista estava e o beijei rápido. Saí do carro, ele deu partida e se foi.

Sorria enquanto caminhava em direção a minha casa. Poderia parecer bobo, mas senti-me cuidada e amada por ele. Senti algo florescer em meu interior. Seria meu coração se descongelando? Apenas sorri mais uma vez.

— Ai meu Deus, olha quem está aqui – disse-me Marina virando os olhos desgostosa – Pensei que ele tivesse se ligado.

Olhei para frente no estacionamento e lá estava Bradley encostado em sua caminhonete. Estava sozinho dessa vez. Nossos olhares se cruzaram e eu entendi, ele estava aqui por minha causa.

Suspirei.

— Vou falar com ele.

— O quê? – exclamou Marina aturdida – Depois daquele dia achei que…

— Preciso fazer isso – a interrompi e comecei a andar em direção ao garoto.

Não faço ideia do porque estou fazendo isso. Sei que Jake mandou-me ficar longe dele, porém eu o havia magoado naquele dia e simplesmente não o dei a chance de se expressar. A culpa me remoeu. Bradley havia sido tão bom comigo.

— Sabia que viria até mim – disse-me ele. Parei a sua frente.

— Vim te pedir desculpas pelo outro dia, já faz tempo, eu sei, mas tarde é melhor do que nunca.

Ele assentiu com a feição impassiva.

— Só queria saber o que te fiz que te despertou tanto ódio.

Suspirei e mudei o peso de uma perna para outra.

— Nada. É que tipo, meus avós descobriram sobre vocês, sabe? Eles mandaram-me manter distância – menti – Disseram-me que vocês não eram boas companhias. Eles ameaçaram mandar-me para um colégio interno.

Desde quando eu virei essa mentirosa nata?

Bradley pareceu ficar espantado, mas depois sua feição pareceu ficar raivosa. Ódio se via ali.

— Foi aquele Sheriff de merda que te dedurou, não foi?

Minha respiração travou.

— Sim – menti mais uma vez.

— Idiota – sussurrou, mas ouvi.

— Eu só queria te esclarecer isso. Desculpe-me se te magoei ou sei lá…

O rapaz sorriu de canto de boca meneando a cabeça.

— Não se preocupe, Carmen. Eu sou inquebrável.

Dei risada de sua afirmação.

— Bom, agora preciso ir, Brad – ia virando-me quando Bradley segura meu braço.

— Podemos voltar a ser que nem antes. Podemos dar um jeito, nos encontrarmos escondidos, todos fazem isso.

Meneei negativamente.

— Melhor não, Bradley. Melhor não…

— Por quê?

Fiquei sem palavras.

— Ah, eu não sei, mas considere-me sua amiga. Estarei aqui sempre que quiser, somente não posso mais ficar com você… que nem antes.

Vi a feição do rapaz entristecer. Meu coração deu uma pequena derretida pelo garoto, pois o mesmo aparentava ter afeição por minha pessoa. Não esperava magoá-lo assim.

— Tudo bem – ele me soltou.

— Até mais, Brad – disse e deixei-o.

Eu andava em direção ao meu carro e sentia o olhar dele em minhas costas. Posso mesmo dizer que sentia a tristeza dele. Era essa pequena tristeza, era minha felicidade transformando as dos outros em tristeza.

Meu pai costumava dizer que a tristeza era uma bênção. Guardei isso pra mim. A tristeza é uma bênção, pois o que seria da felicidade se os momentos tristes não fossem vividos?