Jake

“Estou aqui. Cadê você?”. Mandei uma mensagem para Carmen.

Ela havia me mandado uma mensagem pedindo-me para vir até o Parque Central. Era um lugar extremamente arborizado. Várias árvores e arbustos eram vistos, agora todos cobertos pelo orvalho. O sereno da noite era forte, o tempo era frio e a lua pálida iluminava o local.

Caminhei calmo até onde ela disse que estaria, nenhuma alma viva era vista. Carmen era louca e eu era ainda mais louco em aceitar vir vê-la. Eu simplesmente não consigo ficar longe de minha garotinha.

— Oi paizinho.

A voz de Carmen soou atrás de mim. Virei-me para encará-la, sorria maliciosa.

— Você é louca, Carmen – me aproximei dela.

— Estava com saudade, queria vê-lo – ela colou seu corpo ao meu me abraçando – Estive pensando tanto em você e estou cansada de pensar – seus lábios procuraram os meus.

Afundei meus dedos em seus cabelos, apertei-a mais contra mim. Seu beijo tinha gosto de licor, minha pequena esteve bebendo. Por isso sua atitude tão entregue, Carmen mudava de personalidade ao beber.

Separei nossos lábios e fiquei a acariciar seu rosto.

— Esteve a beber, não foi? – indaguei-a.

Ela sorriu abertamente.

— Ah, só um pouquinho. Sabe, se eu penso demais eu bebo – ela colocou suas mãos por dentro de minha camisa, seus dedos brincavam – E eu estive pensando demais em você.

Sorri de canto.

— Não me provoque.

— Eu? O provocando? Quando eu desejo algo, logo já pego, sem enrolações – ela arqueou as sobrancelhas encarando-me de modo fatal.

— E o que está desejando no momento? – apertei mais seu corpo contra o meu. Muita roupa nos separava, isso era péssimo.

— Hum, eu não sei muito bem… – ela se desvencilhou de meu abraço e se afastou – Me divertir um pouco seria bom.

Encarei a pequena um tanto distante de mim, vestia apenas um vestido vermelho e um casaco nesse tempo gelado. Ela não parecia estar com frio, havia bebido, mas ainda estava em si, apenas um tanto mais solta. Chamou-me aqui no ímpeto de ficar comigo, agiu de modo espontâneo. Minha pequena era louca, sorri para ela.

— Carmen, o que está fazendo? – ela tirava seu casaco, depois descalçou seus sapatos.

Olhou-me sorrindo.

— Quero ver se você me pega. Já!

E saiu correndo como uma criança afobada.

— Venha, Jake! Corra atrás de mim! – gritou correndo.

Fiquei um momento sem reação, porém Carmen começou a gritar loucamente.

Ah! Socorro! Me pegue grande lobo mau! Socorro!

Saí correndo na penumbra do parque atrás de minha garotinha inconsequente. Ela não podia ficar gritando que nem uma louca por aí, alguém poderia ouvir. Porra! Corri um pouco e nada dela, deveria ter parado e se escondido em alguma árvore.

— Carmen, pare com isso! – gritei sério.

Vi um vulto a minha esquerda e saí correndo atrás. Escutei risos e passos rápidos.

— Me pegue enquanto ainda estou quente! – gritou ao longe, ela ria.

— Quando eu te pegar Carmen, eu vou… – parei onde estava, transpirando.

Carmen apareceu por entre as árvores sorrindo, seu peito subia e descia. Descalça, os cabelos longos soltos, as bochechas vermelhas, parecia uma ninfeta.

— Vai o quê, paizinho?

— Sem brincadeiras, Carmen. Venha! Vamos embora daqui. Alguém pode nos ver.

— Não! Vamos nos divertir. Você o lobo mau e eu chapeuzinho vermelho. Não! Melhor, eu Lolita e você Humbert? O que acha? – ela riu alto.

Meneei minha cabeça negativamente. Carmen às vezes parecia totalmente fora de controle. Já sabia seu ponto fraco, a bebida, a manteria longe disso.

Umedeci meus lábios e suspirei a olhando.

— Vamos, minha pequena, vamos pra casa. Te levo para sua casa ou a minha, você escolhe.

Ela entristeceu a face e fez biquinho. Se aproximava por entre o gramado, chegou perto de mim, levantou o olhar para encarar-me.

— Quero ficar com você, aqui. Agora. O Céu é um lugar na terra com você.

Pulou em meu pescoço enroscando seus braços ao redor. Retribuí ao beijo urgente de minha pequena. Eu não conseguia negar nada a Carmen.

Era delicioso tocá-la, era delicada e leve. Sua aura era dócil, estar com Carmen significava estar bem, estar com ela significava estar pecando. Dane-se.

A subi em meu colo, passando suas pernas ao meu redor. Foda-se tudo. Ela me enlouquecia, ela me excitava mais que qualquer outra mulher, mais que qualquer outra coisa.

Carmen levava-me a loucura, eu cometia coisas impensadas, quando via, já havia feito. Ela tinha um tipo de veneno doce e eu estava um tanto viciado se assim posso dizer.

Interrompemos o beijo, a mantive em meu colo.

— Você fuma cigarros de menta, não é? É tão gostoso – ela lambia os próprios lábios, depois lambeu os meus – Eu realmente acho que deveríamos ir.

— É isso que estou falando, Carmen – a desci de meu colo.

Ela riu maliciosa.

— Você entendeu errado. Eu disse irmos embora para sua casa – ela deu ênfase no final da frase.

Sorri de canto para minha garotinha insana.

— Carmen, você vai acabar comigo.

Acariciava os cabelos de minha pequena que estava deitada ao meu lado, agarrada a mim. Seu corpo quente e pecaminoso se colava mais ao meu. Estar deitado com ela em minha cama era a paz, estar com Carmen significava paz interior.

Simplesmente não entendia as coisas que ela me trazia, esses sentimentos. Era muito para decifrar, mas de uma coisa eu tinha certeza, não queria deixá-la ir.

Não faço ideia do que se passa na cabeça de minha garotinha, mas posso quase ouvir seus pensamentos. A mente de Carmen estava trabalhando, estava pensativa.

— Por que você nunca se casou?

Franzi meu cenho com a pergunta. Mas o quê? Ela se sentou e me encarou, seus olhos pediam por uma resposta.

— Bom, eu não sei bem, coisas aconteceram… Ah, Carmen, quer mesmo falar disso?

— Sim, me fale. Eu não entendo – ela meneou a cabeça e comprimiu os olhos – Você nunca teve ninguém? Tipo, sério?

Suspirei. Falar disso era complicado, ainda mais com Carmen, porém mentir para minha pequena estava fora de cogitação, até porque não havia motivos para mentiras.

— Eu quase me casei uma vez, estava tudo certo; casamento, local, festa, convidados, o noivado… Mas, aconteceu uma fatalidade, um acidente de carro, bom, ela morreu. Foi a sete anos atrás.

A face de Carmen era de piedade, seus lábios chamativos estavam comprimidos.

— Eu não sabia. Isso é péssimo, Jake, sinto muito.

Dei de ombros.

— Não havia nada a ser feito.

— Como ela se chamava? Como ela era?

— Se chamava Ester. Ah, ela era alta, loira, tinha olhos castanhos. Ela era… bom, ela era ela.

— Você a amava – disse Carmen numa afirmação.

No ímpeto respondi:

— Sim, a amava.

— E você estaria com ela ainda… se ela não tivesse morrido – outra afirmação.

Desviei meu olhar do de Carmen, fitei o teto por um segundo, voltei meu olhar para ela dizendo:

— Sim, estaria.

Minha garotinha voltou a deitar-se ao meu lado abraçando-me forte.

— Não quero mais falar disso – murmurou a pequena.

Ri pelo nariz e aconcheguei mais minha amada.

— Como quiser, pequena Carmen.

Três dias depois

Era uma final tarde fria e nublada, quase nenhuma alma viva nas ruas, tomava um café quente no interior de meu carro policial estacionado, assusto-me quando abrem a porta do carro num rompante, o filho da mãe fecha a porta e se acomoda presunçoso.

Encaro a figura ao meu lado, enfureço-me.

— Que porra é essa? Quer morrer, desgraçado? – ele riu debochado – Vaza do meu carro.

— Ah, qual é Jake?! Eu te ajudo e é assim que me retribui? Cadê minha grana?

Ri de sua pretensiosidade, odiava essa compostura ridícula.

— Quando cheguei no local não tinha mais ninguém, tinha sumido tudo. Sem mercadoria apreendida, sem ganhos para você, sinto muito – proferi não dando a mínima.

— Isso é injusto. Arrisquei meu pescoço com essa merda.

Dei de ombros.

— Não te obriguei a nada. Agora se manda daqui.

Sua feição se enfureceu.

— Você é um tremendo filho da puta – ele me encarou com ódio – Quero estar lá pra ver o dia que descobrirem sua verdadeira face.

Ri de sua afirmação.

— Está me ameaçando, filhote de rato?

— Se soubessem o que você anda fazendo por aí…

Me aproximei dele com raiva, segurei seu colarinho.

— Por acaso sabe de alguma coisa? Espero que não! Então fique de bico calado que será melhor pra você – o empurrei – Agora some daqui.

— Eu vou voltar. Você me deve uma, quero minha grana.

Me estressei, abri a porta do carro e o empurrei pra fora.

— Some, Bradley. Some!

Ele me encarou raivoso pela última vez e sumiu. Ri do garoto.

Bradley era um dos meus menores problemas, mas o filho da mãe sabia demais. Sentia que o imbecil me traria problemas, simplesmente não o suportava. Bradley era uma pedra no meu sapato, pedra que às vezes me era útil. É um ótimo bode espiatorio, me ajuda com alguns esquemas, porém não é confiável, está apenas atrás de dinheiro fácil para uso de drogas ilícitas.

Porém, tinha outra coisa: Carmen. Ele sentia atração pela minha pequena, isso era óbvio, bem evidente. Não gosto nem de pensar que eles já tiveram algo. Merda. Isso é o bastante pra mim, ela não chegará mais perto dele se depender de mim. Ela não pode e não vai.

Carmen é minha.