Tendo, a todo custo, se livrado da aspirante a atriz, ele agora acertaria as contas com a grande Martha Rodgers.

Castle afasta-se da porta e dá passos largos em direção à escada.

— Mamãe! – sem perceber, Castle falou mais alto do que planejara, quase gritando e logo arrependeu-se.

Ele tinha certeza que ela estaria no andar superior do loft, observando de longe cada segundo da cena patética elaborada e dirigida por ela própria.

Como Martha não apareceu, Castle a chamou novamente – Mamãe! Sei que você está aí em cima assistindo a tudo.

Já que pretendia encontrar a mãe, Castle pisou no primeiro degrau da escada. Ele estava chateado!

Castle ouviu passos e desistiu de subir a escada.

— Belíssima esta moça! No entanto, está reprovada no teste! – Como excelente atriz que era, Martha Rodgers fez sua entrada triunfal.

Ao descer elegantemente os degraus da escada, Martha Rodgeres quase flutuava e, como se tivesse proferindo um texto de Shakespeare, ela, perspicaz, empostava a voz ao fazer a análise da apresentação da sua aluna e se portava como se não tivesse nenhuma importância aquela cena embaraçosa que fizera o filho passar.

Richard Castle continuava em silêncio apreciando a apresentação de sua mãe que seguia fazendo a análise crítica acerca da performance da jovem aluna – Pareceu-me muito preparada... Mas vejo que eu me enganei... Na verdade, foi uma decepção... Ela é uma péssima atriz! Ainda tem muito a apareder.

— Sério, mamãe! – apesar de esperar pacientemente sua mãe descer lentamente a escada, Castlte estava indignado com a cara de pau dela.

Martha passou por ele e, de forma bem teatral, parou ao lado direito do piano numa pose previamente ensaiada e o filho a seguiu, mas ainda permanecia calado, a espera que sua mãe falasse alguma coisa e ela assim o fez.

— Seríssimo! – Martha mantinha-se impassível ao erguer o olhar para seu filho – Você pode nem acreditar, querido, mas eu repassei a cena diversas vezes com ela.

— Claro que eu acredito. O que eu não acredito é que você ainda não se deu conta de que mais uma vez me fez fazer papel de bobo diante de uma aluna sua, mamãe! – Castle a repreendeu.

— Ah, criança! Não seja tão rigoroso com a mamãe... – Martha falou de forma doce, quase musical, como forma de apelo emocional – Eu só queria que você se interessasse por esta linda moça.

Só que o Castle não caiu na armadilha sentimental da mãe – Mas eu já te disse dezenas de vezes que meus envolvimentos com mulheres e minhas escolhas românticas só dizem respeito a mim. Eu te respeito e te amo muito, mamãe, mas esse assunto não te pertence.

— Oh, meu querido! Você é meu único filho e eu te amo tanto! – Ela continuava a apelação sentimental – E eu não gosto de te ver tão melancólico porque a Katherine não corresponde ao amor que você sente por ela.

Castle torceu a boca, impaciente, mas precisava se conter, pois amava e respeitava muito sua mãe.

— No dia em que eu precisar que você traga uma aluna sua para me animar ou sei lá mais o que, eu te aviso... Mas já te adianto que nunca precisarei.

— Quanta injustiça! – Martha se fez de vítima de forma bem teatral e o alertou – Não se esqueça que foi eu que te apresentei a Meredith...

— E veja no que deu... Um divórcio constrangedor, muito sofrimento e chateação para mim e uma pensão milionária.

— Além de uma filha maravilhosa que é a luz de sua vida. – Martha completou o raciocínio do filho, tentando comovê-lo.

— Não desconverse, mamãe. Você não vai atenuar a situação ao envolver a Alexis nisso. Estou falando sobre mulheres que você insiste em me arranjar, mesmo sem eu te pedir.

— Eu tive a melhor das intenções.

— De boas intenções o inferno tá cheio, né... – ele se excedera.

— Não seja indelicado com sua mãe...

— Desculpe! Eu me excedi!

— Filho, qual o crime que eu cometi ao tentar te apresentar o amor?

Castle nem respondeu a esta indagação burlesca e até ficou com vontade de rir, tamanho o disparate do comentário, mas não o fez.

Demonstrando procurar paciência para enfrentar aquela situação recorrente, Castle usa os mesmos argumentos das outras vezes – Mamãe, eu te amo e sei que você quer o melhor para mim. Claro que eu acredito nisso. No entanto, mais uma vez eu te imploro que não se comporte como alcoviteira. Não lhe fica bem. Nunca mais prepare suas alunas para estas cenas grotescas...

— Ah, querido! – Martha demonstra lamentar o pedido do filho – Qual a mãe que não quer ver seu filho feliz com uma mulher que retribui o amor...

— Hey, mamãe! Mas não é assim que se resolve isso. Estamos no século XXI e não nos séculos passados, onde as famílias se encarregavam em conseguir matrimônio para seus filhos e filhas.

O silencio se faz até que o Castle se lembra de esclarecer algo muito importante e, com uma voz doce, porém firme, ele informa – E quanto a Alexis, mamãe, minha filha é resultado da criação que eu dei para ela... Muito amor, respeito, limites, carinho, dedicação e presença. E foi ótimo que há três anos você veio morar com a gente para poder suprir um pouco a presença materna que ela nunca teve.

Reconhecendo que sua neta fora muito bem-criada por seu filho, Martha confirmou o que o ele mencionara – Realmente, filho, você criou a Alexis sozinho e mesmo assim foi o melhor pai que Alexis poderia ter. Ela é um encanto! Parabéns! Você fez um ótimo trabalho!

— E por falar na Alexis, ela já telefonou? – ele indagou curioso, pois ele havia autorizado que ela dormisse na casa de Jéssica Harter, uma amiga do colégio.

— Sim, disse que está tudo bem e que vão assistir vários filmes esta noite.

— Ótimo! Fico feliz que ela tenha boas amizades.

Com o objetivo de acalmar a situação e continuar aquela conversa num clima mais ameno, Castle serve duas taças de vinho e vai até a mãe.

Antes de começarem a falar, ele entrega uma taça a ela e fazem um brinde – Saúde, mamãe!

— Saúde, querido!

— Mamãe, apesar de não gostar de suas ideias estapafúrdias de arranjar uma namorada para mim, eu te entendo.

— Então... - Ela ia interrompê-lo, mas ele pediu para esperar que ele terminasse de falar.

— Mas preciso que você veja o meu lado, mamãe... Eu amo a Beckett e estou tentando fazer com que ela perceba o amor que sinto por ela e que não sou mais aquele mulherengo de antes. Quero provar que eu mudei... Mudei por vários motivos... Mudei por amor, mudei por ela, mudei por Alexis e, claro, mudei por mim mesmo porque quero e preciso ser um homem melhor... Uma pessoa melhor.

— Que lindo, filho! Sabe, meu querido, desde o início eu percebi os olhares apaixonados que a Katerine lançava para você e notava também que ela ficava encabulada na sua presença, quando o assunto não era trabalho, e, por conta disso, eu até era da opinião que ela te amava e que tinha medo de aceitar o seu amor, mas percebo que fiz uma análise equivocada. As mães também se enganam... A Katherine não quer enxergar ou mesmo se entregar ao amor verdadeiro, pois está fechada dentro de uma concha... Como se tivesse construído uma muralha ao redor dela, querido e não vê um palmo diante do nariz. Eu já notei que quando ela namora, você até já deve ter percebido também, são com homens que não têm nada a ver com ela... Homens que não a valorizam.

— Mamãe, agradeço, de coração, sua opinião, que, na verdade, são válidas, mas eu já sou bastante crescidinho para fazer sozinho tais análises e preciso continuar tentando chegar ao coração da Beckett. Saberei achar um caminho. Pode acreditar que eu vou conseguir.

— Se você diz... – Martha torceu a boca, indicando que tentaria aceitar a decisão do filho.

Castle olhou para a mesa posta e, na tentativa de descontrair o ambiente, exagerou ao aspirar o aroma do jantar e, em seguida, deu um largo sorriso.

— Mudando de assunto... Que tal aproveitarmos o jantar que você encomendou ao Cheff, eihm, mamãe.

— Ah, que maravilha!! – Martha respondeu cantarolando, como tinha costume, parecendo animada – Pensei que iríamos desperdiçar essa gostosura.

— Ainda bem que você não inventou de você mesma preparar o jantar, mamãe... – ele a provocou e deu uma boa gargalhada, pois era de conhecimento de todos que Martha não tinha dotes culinários.

— Rá-rá-rá... Estou morrendo de rir... – Martha usou de sarcasmo, no entanto, ela própria não se aguentou e sorriu – Tudo bem... Mas saiba que contratei o Cheff Pierre Morrice...

Castle quase engasgou ao ouvir o nome do famoso cheff francês, portador de centenas de títulos internacionais de melhor Cheff, dono de um dos melhores restaurantes da cidade e que cobrava muito caro para preparar jantar nas residências dos ricos e famosos.

— Você fez o que?

— Contratei o Cheff Pierre Morrice...

— Deve ter custado uma pequena fortuna... – Castle se queixou.

— Usei seu cartão de crédito...

Ao ouvir aquela informação, Castle engoliu em seco, mas não deixou aquilo estragar a noite.

— Então, vamos aproveitar!

Ambos se servem das deliciosas iguarias preparadas pelo Cheff Pierre Morrice e ao se sentarem à mesa, Martha, muito animada, como sempre, começou a discorrer o cardápio principal e a sobremesa.

A noite seguiu animada e, como ambos se amavam e tinham corações maravilhosos, a conversa fluía com muita facilidade e os risos surgiam com frequência, não mais mencionando assuntos relacionados a vida amorosa do Castle.

Após o jantar, Martha se ofereceu para lavar a louça e arrumar tudo e o Castle foi para sua suíte com um projeto excelente martelando sua cabeça.

Ele tomou um banho delicioso enquanto arrumava algumas ideias que surgiram na sua mente fértil e se preparou para sair a fim de colocar seu plano em ação.

Olhou-se no espelho e gostou do que viu.

Quando Castle passou pela sala para se dirigir à porta da rua, o aroma do seu perfume chamou a atenção de Martha que, naquele momento, finalizava as tarefas domésticas na cozinha – Hey, filho! Que beleza! Huumm! Vejo que você vai sair... Não sabia que tinha compromisso... Você está deslumbrante e muito cheiroso!

— Obrigada, mamãe! – Ele foi até ela e deu-lhe um beijo estalado na testa.

— Esse compromisso é profissional ou... – ela indagou, cheia de malícia, já querendo se intrometer.

Castle já abria a porta da rua, mas girou o corpo a fim de ficar de frente para a mãe – Como eu já te disse anteriormente, mamãe...

— Já sei! – ela o interrompeu com uma doce gargalhada – Este assunto não me pertence.

Castle deu uma piscada de olho para a mãe e, em seguida ela fez um lindo comentário para o filho – Quisquer que sejamos os erros que cometi na vida, criei um homem bom.

Castle foi até ele e a abraçou apertado e deu um beijo na face.

— Te amo, mamãe!

— Também te amo, filho!

Sorridentes, despediram-se.

Continua...