Poderia se espernear, chorar pelo tempo que quisesse e até mesmo implorar em seu último suspiro para Mama, mas Emma nunca conseguiria fugir daquela fazenda. Toda e qualquer tentativa de manter sua família viva e unida não foi o suficiente e, por mais que se esforçasse, não conseguiria superar Isabella sendo apenas uma criança tão nova e inocente. Nem mesmo com a ajuda de Norman e Ray poderiam ser mais espertos que ela: a matriarca da casa sempre estaria um passo à frente de todos eles.

A perna quebrada — a maior dor que já sentiu sendo causada pela mulher que por tanto tempo amou e se espelhou — e a trágica notícia do envio de Norman haviam anunciado seu fim de jogo. Estavam totalmente contra o relógio e haviam perdido. O amigo tão querido havia partido para nunca mais voltar, se tornando outro de seus irmãos que morreu prematuramente para se tornar a refeição de um demônio que pouco a pouco despedaçava aquela família.

Emma sempre se orgulhou de sua própria determinação e força de vontade; todos os dias, desde o envio do Norman, a garota se perguntava para onde elas tinham ido quando mais precisava delas. Sabia, mais do que tudo, que seus irmãos mais novos ainda dependiam dela, mas manter aquela família unida era algo que a garota detestava admitir ser impossível. Qualquer esforço seria em vão, então não perderia seu tempo. O máximo que poderia fazer seria aproveitar o resto de sua curta vida que ainda teria pela frente e tentar manter, pelo maior tempo possível, um sorriso no rosto de seus irmãos e irmãs.

Isso também era impossível; algumas vezes, porém, ela ainda tentava se mostrar inabalada quando questionada pelas demais crianças sobre seu estado tão deprimente. Algumas tentavam animá-la de todas as formas possíveis, achando que se tratava apenas de sua perna quebrada ou saudade de Norman. Bom, elas não estavam totalmente erradas: essa última parte realmente a deixava no chão. Claro que mais nenhuma delas além do Ray, Don e Gilda podiam compreendê-la e entender a extensão desse problema, e ela estava feliz pelos demais não estarem em um estado tão deplorável quanto o dela.

Sua única chance de poder viver era evidentemente óbvia, mas só de se lembrar da proposta feita por Isabella, a ruiva sentia fortes náuseas. Preferia ser devorada viva pelos demônios a criar crianças para o abate e passaria por aquele portão sem hesitar se isso significasse que morreria sem carregar essa culpa.

Mas, no fundo, Emma ria de si mesma com o pensamento hipócrita, a ironia da situação despedaçando sua consciência pesada. Já carregava a culpa por não ter conseguido tirar Norman daquela fazenda enquanto ainda tinha tempo e de não ter condição para fazer o mesmo pelos demais irmãos, não poderia se considerar inocente sabendo que tantas mortes foram causadas pela sua ignorância e incapacidade de ajudar a própria família. Já havia perdido inúmeras noites de sono chorando desolada, o cansaço era grande demais para conseguir acompanhar a energia dos mais novos, mas Emma insistia em fazê-lo e se torturava constantemente com isso.

Cada rosto inocente, cada criança que fazia um teste que determinava o tempo que ainda teria para viver, bastou apenas um dia para que Emma se afastasse completamente disso e nunca mais pudesse voltar. Era estranho como um estúpido coelho de pelúcia havia sido a marretada que destruiu sua infância alegremente ignorante. Ela sentiu saudade disso, mas também era algo inalcançável para a jovem antes tão cheia de vida. Com o pouco tempo de vida que ainda lhe restava, o único pensamento feliz que mantinha Emma consciente era acreditar que logo poderia se reencontrar com Norman, Conny e todos os outros e, com sorte, ter o seu não merecido perdão.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.