Planetarium

Nunca atrapalhe o jantar.


A lua que sempre brilhava tão bonita hoje parecia brilhar em um tom vermelho forte. Talvez fossem seus raios iluminando o sangue de Freya que agora tinha uma lâmina que rasgava sua garganta, empunhada por um membro da polícia militar. A mulher já sem vida, não segurava mais seu peso, indo ao chão ao meio dos gritos e choro desesperado de sua filha Anya.

— Mamãe? Mamãe, por favor! – A pequena garota ao se soltar de um dos militares correu até o corpo de sua mãe, abraçando-o. Passava suas mãozinhas sobre o rosto de Freya esperando alguma reação, mas nada acontecia. Neste instante teve seu corpo levantado por grandes braços que agora a afastavam do cadáver de sua mãe, levando-a para um grande salão. Seus gritos ecoavam por todos os corredores do castelo, enquanto engasgava-se com seu próprio choro.

Ao ser solta viu o rosto de seu pai sem expressão, apenas observando a situação sentada em seu maldito trono.

— Papai! A mamãe...ela...eles... – Virou-se para os soldados agressivamente recebendo um forte tapa no rosto. Sentiu a dor espalhando-se pelo local, levantando-se imediatamente com ainda mais raiva.

— Você viu bem a sua mãe? É isso o que acontece com quem fala demais. Se uma palavra sair da sua boca, a sua garganta é a próxima. – O homem alto que havia matado sua mãe disse.

— Ou talvez seja a sua. – Anya pronunciou baixinho. Seu cabelo ruivo foi puxado violentamente e mais uma tapa foi desferido em seu rosto. Naquele momento ela era apenas mais uma criança que teve sua infância roubada. Não pelos titãs. Seus inimigos eram outros. Foi naquele momento que seu coração se partiu pela primeira vez. Naquele momento só conseguia lembrar-se de sua mãe acariciando seus cabelos em uma tarde de verão cantando alguma canção sobre o mundo além das muralhas.

— Não se preocupe criança. – O rei (e pai) de Anya pronunciou. Mas em seu coração, a garota sabia que algo havia mudado.

Dias atuais

Naquele dia Anya deixava de ser uma menina, deixou sua vida de realeza para trás e se inscreveu para se tornar umas das guerreiras nas tropas que ajudavam a humanidade a resistir aos titãs. Ouvia os cochichos ao seu redor, todos reconheciam o rosto da princesa. Ou a grande maioria. Sua postura era diferente, sua aura e sua notável beleza. Seus fios espessos ruivos caíam como cascata sobre as costas, seu rosto era branco como a neve e tinha grandes olhos de íris azuis tão claras que lembravam o gelo. O general berrava com os outros recrutas, era o dia da apresentação dos novatos. Sua voz estridente chegava cada vez mais perto. Ao passar por Anya, não gritou, apenas encarou-a por longos minutos.

— Princesa... O que faz por aqui? – Ele pronunciou baixinho.

— Fé. Fé em mim mesma. – Após a resposta firme de Anya, o general apenas continuou seu caminho.

Não conseguia manter aquela postura rancorosa por muito tempo, apesar de todo o sofrimento, a garota ainda tinha amor à humanidade e não conseguia esconder isso. Levava consigo um colar de estrela que havia ganhado de sua mãe para que não se esquecesse de que foi criada por uma mulher bondosa que acreditava no melhor das pessoas. Durante o jantar, nunca se sentiu tão pequena e solitária. Todos ao redor tinham suas mesas cheias, conversavam e riam alto, às vezes cochichavam e a olhavam por um tempo, mas ninguém se aproximava.

— Não acha que esse seu cabelo cumprido vai te atrapalhar nos treinos? Você não vive mais no castelo. – Uma voz masculina pronunciou, enquanto seu dono sentava-se a frente da princesa. Ele tinha cabelos loiros e íris acinzentadas, seu rosto era bonito e bem delineado apesar de alguns cortes visíveis.

— E você quem é para se preocupar com meu cabelo? – Anya disse grosseiramente. Esperava que alguém puxasse papo mas não era bem isso que esperava.

— Sou Klaus. Então o que dizem é verdade? Você é mesmo a princesa? – Indagou curioso, se aproximando mais.

— E porque se importam com isso? Não sou diferente de ninguém daqui.

— Como disse? – Klaus riu um pouco mais alto do que deveria, chamando a atenção de todos – Você cresceu com o bom e o melhor enquanto muito de nós passávamos necessidade.

O garoto parecia mais exaltado agora, mas algo o fez parar. Uma sombra atrás de Anya.

— o jantar não é o momento para discussões. – O homem mais velho disse, atirando o prato de Klaus longe, assustando o resto dos recrutas. Anya se encolheu, tentando espiar o rosto de quem tinha a salvado daquele momento constrangedor. Ele não era muito alto, seus cabelos eram curtos e negros, seus olhos se mantinham semicerrados e suas íris eram de um tom azul maçante e era possível ver olheiras. Ele colocava muito medo no resto das pessoas sendo tão jovem. Ou talvez só aparentasse ser.

Klaus se encolheu, saindo da mesa lentamente indo até uma mesa ao fundo, totalmente assustado.

"Oh meu Deus, ele é bonito. Anya esse não é o tipo de coisa para se pensar agora! Você não é mais uma princesa procurando um par ideal." A garota afastou seus pensamentos e quando se deu conta aquele homem não estava mais lá.

— Você não tem culpa! – Uma garota se sentou ao seu lado.

— Culpa do que?

— De ser filha do rei, oras. Nós não escolhemos nossos pais, mas escolhemos nossos destinos e você... Bom, você escolheu estar aqui. – Ela sorriu docemente. Anya não conseguiu conter e deu o sorriso mais sincero em tantos anos. Logo algumas meninas juntaram-se junto a princesa no jantar.

— Quem era aquele homem? – Ao meio da conversa Anya perguntou inocentemente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.