A luz do dia caiu sobre a portuária Nassau, e como o esperado as ruas já estavam bem movimentadas. Algumas tavernas nem se quer ainda haviam encerrado o expediente, enquanto outras estavam por iniciar, no porto piratas preparavam-se para partir, e outros apontavam no horizonte. Nada incomum desde que a ilha foi tomada por piratas.

Sparrow caminhava atento como se procurasse por algo ou alguém, sempre escondendo-se de outros piratas aos quais não tinha um passado de boas recordações. Passou por uma pequena ponte e ouviu um ronco que conhecia a muitas luas, olhou para baixo e se deparou com Gibbs, jogado às moscas.

— Miserável! Arrancarei suas entranhas com meu florete! — Esbravejou Joshamee ao se acordado com um balde de água. — Não se acorda um homem que dorme!

— Pode tentar mas não pode me superar — Jack retrucou com semblante vitorioso.

— Jack! — O imediato exclamou em surpresa ao reconhecer a voz de seu superior.

— O homem que o acorda espera que o que acordou lhe dê uma explicação significativa para essa indisciplina enquanto estamos a procura de um tesouro.

— Desculpe capitão, a tripulação e eu procuramos pelo senhor e a senhorita Brodbeck, mas como não os encontramos decidimos esperar e bem, creio que foi uma boa ideia — O velho sorriu meio constrangido, enquanto Jack desistia de argumentar afinal concordava com o raciocínio do subordinado. — E Moira onde está?

— Em algum lugar da cidade em martírio pelo seu amor pecaminoso de uma mão só. Já estou ficando farto de piratas incompletos — Resmungou se referindo a Daniel e Barbossa.

Nesse meio tempo, o Capitão e o imediato caminhavam a fim de encontrar o restante da tripulação. Conversavam assuntos aleatórios e até mesmo sem sentido algum, algo típico de Jack.

— E é por isso que eu, o capitão Jack Sparrow…

— Então você é o famoso Jack Sparrow? — Um timbre arrastado chamou a atenção de ambos.

O homem tinha estatura média, cabelos emaranhados e barba por fazer, roupas encardidas e um tanto rasgadas. Sparrow mostrou-se atônito por instantes, porém logo mudou as aparências.

— Não, ele é o capitão Jack Sparrow — Apontou para Joshamee. — Eu só estava o ajudando com seu mais novo discurso — sorriu — Se nos der licença… vamos capitão.

Gibbs é Jack deram as costas para o pirata enquanto torciam para que conseguissem escapar sem maiores tumultos.

— Esse não seria um bom momento para corrermos? — O imediato sussurrou para seu capitão.

— Não roube meus pensamentos Gibbs — Ele também sussurrou.

— É engraçado porque… — O pirata os fizeram cessar seus passos — Você é exatamente igual a essa imagem — Ele abriu o papel, revelando assim um cartaz de procurado.

Sparrow seguiu até ele e se abaixou olhando o cartaz bem de perto.

— É, não conheço. Talvez seja um primo distante que aprecia minha elegância e os grandes feitos do capitão então resolveu lançar-se na pirataria com essas referências — Indagou cínico.

Para a surpresa do capitão do Pérola e seu imediato, o homem pareceu ter acreditado em tamanha tolice, porém fora algo que jamais teriam a certeza, pois antes que ele pudesse dizer algo, um tiro de pistola acertou seus tímpanos em cheio, e tudo que puderam fazer foi presenciá-lo ir de encontro ao chão. E a pergunta não verbalizada estava pronta para ganhar uma resposta em alto e bom som que pouco agradaria Jack.

— Um homem que facilmente é ludibriado por você não merece estar na minha tripulação — A voz grave fez Jack arregalar os olhos em espanto, e ao mesmo tempo procurar onde ele estava.

De um pequeno beco próximo da onde estavam era possível ouvir uma risada tranquila, o que só os deixavam ainda mais receosos. Gibbs e Jack até pensaram em correr, mas notaram que já estavam cercados.

— O que faremos capitão?! — Joshamee havia sacado sua espada, enquanto o outro ainda fitava o beco.

Cabelos revoltos e negros, botas e calças pretas, camisa bordô e sobretudo vermelho, assim estava o homem que caminhava lentamente em direção aos outros. Em uma mão sua pistola e na outra um charuto.

— Quando me contaram achei que fosse mentira…

— E pode continuar sendo, você se vira enquanto eu e meu caro colega partimos, assim quando virar novamente tudo não passará de um equívoco, savvy? — Sparrow tentou esquivar-se da situação que se encontrava, mesmo sabendo que sería inútil.

Ele ficou frente a frente a Jack, tragou seu charuto e em seguida jogou a fumaça no rosto do mesmo, que imediatamente fez uma careta de reprovação.

— Já nem consigo me lembrar quantos anos se passaram desde a sua traição Sparrow, mas uma coisa posso garantir; O seu legado chegou ao fim — O pirata gargalhou e sua tripulação riu na sequência — Homens!

— Maldição… — Expressou Sparrow quando ouviu o som de duas pistolas sendo engatilhadas e apontadas para sua cabeça.

Ao notar que o capitão de dreads já esperava por sua morte, o outro riu exageradamente e assim chamando sua atenção.

— Não vou matá-lo Jack, a morte para você seria como encontrar uma arca de ouro — Explicou.

— E o que o faria desfrutar melhor dessa sua vingança do que me ver morto?

— Logo irá descobrir — Concluiu — Tragam esse verme — Ele ordenou, dando alguns passos a frente.

— E esse outro capitão? O que faremos? — Um pirata com parte do rosto deformada encarava Joshamee.

— Deixe-o ir, será divertido quando ele junto a tripulação de Sparrow vir atrás de nós na esperança de salvar seu velho capitão — Por fim, o homem continuou a andar.

Gibbs foi solto e empurrado contra uma poça de lama junto a alguns porcos. O bando saiu às gargalhadas e naquele instante o velho imediato não sabia se havia sido um milagre ou o começo de grandes infortúnios ter sido poupado por aquele homem cujo a fama era destaque em plena maldade. Ele conhecia a história em que resultou a captura de Jack naquele momento, então podia deduzir que seu capitão estava com sérios problemas.

— Pelos Deuses! Preciso avisar a Moira — Ele se levantou coberto de lama e apressou o passo a fim de encontrar a garota.

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Os olhos da semideusa clamavam por repouso, mas os pensamentos conturbados em sua cabeça a impediram de adormecer ainda que por minutos. Passou a noite a observar a movimentação da cidade do alto da torre de uma igreja no centro da Nassau, ela estava abandonada e de certo fora uma boa escolha.

Os raios de sol daquela manhã tocavam-lhe os cabelos castanhos, dando a eles um brilho dourado. Moira suspirou ao se recordar do quanto seu irmão Alec dizia gostar de vê-la sob a luz da manhã e do entardecer, pois nelas a moça simplesmente ganhava a beleza dos Deuses segundo ele. Ela estava com saudades, almejava por notícias de sua família, até mesmo gostaria de saber como seu ex noivo Comodoro Marshall estava se sentindo desde que foi abandonado por ela.

Mas então procurou cessar seus pensamentos pois tinha muito o que fazer naquele dia, e começaria procurando por seus companheiros do Ursula. Ainda na torre, avistou Graham passar e o gritou chamando assim sua atenção.

— Bom dia capitã — cumprimentou o homem. — Parece abatida.

— Bom dia Graham. Preciso da localização do resto do bando, sabe onde podemos encontrá-los? — A moça respondeu desviando o assunto.

— B-bem, para ser sincero não os vejo desde o início da madrugada.

— Nesse caso, vamos.

Sem mais delongas, Moira e o marujo seguiram a procura dos piratas pela cidade. O trajeto todo foi regado ao silêncio, Graham pouco entendeu o que houvera noite passada durante a audiência com Rackham, e tão pouco tinha coragem de perguntar. Apenas concluiu que Moira não era quem dizia ser e que ela tinha uma história com James Hook, isso o preocupava e outra questão surgia em sua mente, uma que não podia ser ignorada.

— Senhora, estive pensando… A tripulação do demônio tem criado tantos problemas, matou nossos companheiros e ainda sim não os condenamos quando tivemos a chance, me pergunto se fizemos a coisa certa — Graham estava apreensivo ao abordar o assunto.

— O que teme?

— De uma revanche capitã, Gancho virá atrás de nós e talvez não teremos a mesma sorte.

— Não se preocupe com isso Graham, está certo em dizer que ele virá atrás de nós, no entanto, ele desconhece nossa localização, poderíamos estar em qualquer lugar mapeado deste mundo. James pode levar anos, ou uma vida inteira para isso — Brodbeck sorriu e foi retribuída pelo mesmo gesto.

Aquelas palavras não foram o suficiente para sanar seu temor, mas o pirata preferiu não seguir adiante com o assunto.

Após mais algum tempo de caminhada, adentraram a uma taverna onde encontraram uma considerável parte da tripulação que ainda festejavam, batendo suas canecas rudemente em brindes. Moira revirou os olhos e deu seu primeiro passo em direção aos marujos.

— Graham, Brodbeck! — Exclamou o velho interrompendo-os

— Senhor Gibbs… — Moira olhou de cima a baixo o pirata a sua frente surpresa e tapando o nariz na sequência — A higiene pirata é escassa eu sei, mas estamos em terra, deveria tomar um banho.

— Não tenho tempo para isso, Jack foi capturado, precisamos de um plano antes que seja tarde! — Joshamee estava ofegante como se houvesse fugido de algo ou alguém.

— Quem está com o capitão Sparrow? — Graham perguntou em expectativa.

— Joshua Kidd, mais conhecido como capitão Kidd.

Moira e Graham se entreolharam pois na noite anterior ouviram algumas histórias sobre Kidd é que tão pouco queriam cruzar o caminho desse homem. Mas Jack já havia feito as honras, não dando a tripulação melhores opções.

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A escuridão daquele lugar não a surpreendia, nem tão pouco o odor de putrefação que o ambiente exalava. O barulho das correntes se chocando ao casco do navio indicava que o mar estava agitado, como se estivesse esperando uma tempestade, mas dentre uma fresta na madeira, ela pode ver que o céu estava límpido, com apenas estrelas decorando o grande véu azul que cobria os mares.

Não fazia sentido toda aquela agitação nas águas salgadas, sua experiências nos mares a fez ser uma excelente navegadora e por isso se encontrava em frustração toda vez que sua mente a lembrava de como fora parar naquela situação.

Ouviu um burburinho se aproximando, então afastou-se das barras de ferro que a prendia. Uma luz apareceu e junto a ela um homem, aquele maldito homem cruel.

— E então? O que está achando da minha hospedagem? — Ele colocou a lanterna em um prego na parede e se aproximou da cela.

— Tão repulsiva quanto você — Ela respondeu fria, e ele riu

— Pensei que pudéssemos dialogar, mas pelo visto a senhorita continua irredutível. Deveria ser um tanto grata afinal salvei a sua vida.

— Eu era prisioneira lá, sou prisioneira aqui, não creio que algo tenha mudado em meu destino a ponto de tal gratidão.

— A vida não importa para você?

— Muito mais do que para você, eu vi tudo que o senhor e sua tripulação fez aqueles homens,não era um saque, aquilo era desejo por sangue, desespero, humilhação...Sempre acreditei que as coisas que ouvia eram apenas histórias fantasiosas mas, a tripulação do demônio é muito pior que as histórias.

Uma gargalhada se alastrou pelo local, e o capitão pirata começou a caminhar lentamente.

— Então para a senhorita eu sou um demônio?... É uma boa maneira de me identificar, mas e você? Como se chama? E o que fazia na prisão daquele miserável navio? — Ele parou e apoiou uma das mãos na grade e o gancho em outra grade.

Ela fitou o gancho que substituía a mão do pirata e novamente voltou sua atenção a ele.

— Para que todo esse interesse em saber quem sou e por que estava presa naquele navio? Pelo que notei o senhor não é do tipo que tem compaixão, então minha história será apenas mais uma.— Retrucou.

— Está bem, como quiser senhorita — O capitão se afastou da cela, pegando a lanterna novamente, como se estivesse dando aquele assunto por encerrado — Gostaria que soubesse que não venho a prisão do meu navio, pois quando mando alguém para cá pouco me importa o que irá acontecer depois. Até agora somente Smee e eu estivemos aqui, vamos ver o que vai acontecer agora que liberarei toda a tripulação para uma visita a sua cela, ah, e mencionei que faz algum tempo que eles não sentem um bom cheiro de mulher?

— Angélica! Meu nome é Angelica Teach e se me prometer que não irá deixá-los se aproximarem de mim conto tudo que queira saber. Temos um acordo? — A pirata estava assustada, e se viu encurralada diante de tal ameaça.

— Teach...