Tão longe quanto o esperado, era a localização de Shansa, apesar de fazerem pausas curtas para dar água aos cavalos e se alimentarem, o grupo de piratas chegaram ao fim da aurora em seu destino, ou o que parecia ser apenas um local de vegetação densa. Após descerem da carruagem, Moira colocou as mãos na cintura intrigada.

— Tem certeza que existe alguém vivendo aqui?

— Ela é uma bruxa senhorita, não esperava que tivesse uma casa cercada com flores e fumaça saindo da chaminé não é? — Retrucou Barbossa.

— Não, mas é que… — De repente a semideusa se sentiu trêmula, e uma sensação estranha percorreu seu corpo. Porém preferiu manter discrição.

— Senhor Wilson, à frente — Hector ordenou.

O homem assustado se negou com a cabeça, deixando Sparrow atento.

— Não seja covarde homem! Você nos contou sobre a bruxa, então você tem que fazer as honras — Scrum argumentou ansioso.

— Eu não queria ter vindo nessas malditas terras, já estamos condenados só de chegarmos até aqui, essa mulher é má, as histórias contam que…

— Vai ou morre, escolha rápido porque tempo é uma coisa que não temos — Barbossa apontou sua pistola para o homem.

O pirata surpreendeu a todos quando se ajoelhou de braços abertos perante ao seu capitão.

— Morrer por suas mãos será menos doloroso senhor.

— Já chega disso, ela vai — Jack apontou para Moira.

— Perdão? — Os olhos dela quase saltaram sobre o capitão.

— Ser filha de uma deusa deve dar a você maiores chances do que para nós.

— É só uma suposição!

— Deveras, mas ainda é mais do que temos — Ele sorriu.

— Você é um...um... maldito!

— O Sparrow está certo, a menina vai — Concluiu o capitão do Vingança. — E quanto a esse rato imundo — Pegou sua espada e apunhalou o ombro e a perna do homem — Viverá, mas só se conseguir sobreviver. — Enquanto o homem agonizava na frente de todos, a atenção do superior voltou-se a Moira — O que estamos esperando?

Brodbeck fitou Jack uma última vez e começou a caminhar, ouvindo o homem ferido gritar para a jovem mulher não ir. Quando ela pensou em voltar atrás, o som do tiro dado em Wilson ecoou em seus ouvidos.

Barbossa sabia muito mais do que queria compartilhar, isso estava claro. E Sparrow a fim de livrar sua pele, jogou Moira na berlinda, e por mais irritada que estivesse com aquilo, sabia que ele tinha razão, uma vez que tinha conhecimento que a garota tinha seus poderes e caso necessário teria que usá-los, mesmo contra relutância.

Caminharam sob a mata fechada e de pouca luz solar, até a entrada de uma caverna, onde presumiram que seria o covil de Shansa. E após respirar fundo, Brodbeck seguiu adiante sozinha.

Havia uma porta feita de galhos secos, cobertos com folhas murchas, não se parecia dar segurança alguma a quem morava ali. Mas após uma voz calma e desconhecida lhe dizer "entre", ela viu que a passagem tinha o peso desproporcional, era como se fosse um portão de ferro. Usou bastante força mas consegui mover a porta e por fim adentrar na caverna.

Muitas velas brancas acesas com grandes chamas, morcegos no alto parecendo observar quem entrava, relíquias, prata, ouro, ossos humanos, cobras, sapos, ratos, chifres, muitos livros e porções, por fim em um pequeno altar, uma vela ao lado de um crânio, no entanto, sua chama era negra. Esse era o resumo do que os olhos de Brodbeck puderam captar.

Não via a presença da tal bruxa, mas sentia em sua pele o calor energético e macabro de Shansa. Um vento suave soprou sobre seu pescoço, a fazendo se virar bruscamente para trás, e assim ficar frente a frente com a mulher.

Ela tinha um sorriso obscuro nos lábios, em seu rosto desenhos em listas vermelhas, não havia um único fio de cabelo em sua cabeça e sua vestimenta era simples e em tom alaranjado, finalizado por uma capa com vários símbolos desconhecidos estampados.

— B-boa tarde, eu sou… — A moça Iniciou mas foi logo interrompida.

— Sei quem você é, quem foi e muito provavelmente quem será Nirina Jones.

— Se sabe quem sou também sabe o trouxe-me até aqui.

— Não… existem vários motivos pequena semideusa, precisa me dizer qual deles é o mais importante.

Moira fitou um canto qualquer, enquanto instintivamente recuou um passo, aquela misteriosa mulher a intimidava.

— O preço para cruzar a minha porta é muito alto, por isso pense bem no que realmente a trouxe até aqui.

— N-não sei a que se refere, meu objetivo é encontrar Elizabeth Turner, é por isso que vim.

Shansa sorriu, revelando seus apodrecidos dentes, passou pela jovem e de maneira rápida puxou a mão direita dela, circulando a palma com a enorme unha de seu dedo indicador.

— A mentira, consciência, o mar aprisionado pela inocência, o colar a muito levado, um amor corrompido, ah, o pardal

A semideusa puxou sua mão de volta sentindo-se ser encurralada em uma masmorra interna. Mas antes de retrucar, a bruxa pegou um dos seus "bichinhos" e jogou dentro de um caldeirão e uma grande cortina de fumaça abraçou a caverna.

— Elizabeth Turner?

— Sim, ela foi a última pirata a ser nomeada rei da corte da irmandade, precisamos dela para novamente reuni-los e impedir que Nassau caia como Del Noble.

A bruxa novamente se aproximou.

— Vocês precisam ou eles precisam? Seu poder estar aí, tudo que precisa é se libertar e tudo será resolvido…

— Ser Nirina não está como opção, e então, pode nos ajudar?

Shansa suspirou em falso cansaço, e estalou os dedos frente aos olhos da moça, que sentiu uma corrente gélida percorrer o seu corpo, dando arrepios em seguida.

— O que foi isso?



— Como eu pensei, imune ao meu feitiço de liberação… Então só me resta viver com a incerteza sobre seus verdadeiros desejos — A mulher sorriu. — Sente-se.



Shansa apontou para uma cadeira de madeira velha, rodeada de aranhas, e mesmo receosa, a semideusa fez como a mulher pediu. Aquele lugar era estranho, o ar era pesado e a bruxa misteriosa, porém nada daquilo era importante desde que concluísse seu objetivo ali.



Ela rodeou a cadeira dizendo algumas palavras em um dialeto que Brodbeck jamais havia escutado. Alguns vultos começaram a ser vistos por ela a fazendo piscar algumas vezes para ter certeza se estava realmente presenciando aquilo, foi então que de repente um silêncio e logo Shansa ficou frente a moça com algo que chamou a atenção.

A chama da vela que a bruxa segurava era preta, totalmente incomum. Ela se abaixou até a semideusa com um sorriso e disse:

— Concentre-se na chama e então assopre-a, e assim terá sua resposta.

Não tinha qualquer crença que aquele rito iria dar indícios do paradeiro de sua amiga, mas sem maiores opções, fixou seu olhar naquela chama escura a sua frente e então a assoprou.

"Que assim seja semideusa…"



X

A brisa leve tocava-lhe a pele como chuva de pétalas de flores, os cabelos soltos voavam suavemente, brilhando com os raios solares que o iluminavam. Um sorriso meigo formou-se nos lábios e então finalmente abriu os olhos, e tudo que via não pareceria ter qualquer sentido.



Um lugar calmo, não muito longe de uma baía, próximo a um farol, grama, árvores e flores, e logo mais a frente uma fumaça que aparentemente saia da chaminé de uma pequena casa. Brodbeck caminhava pelo lugar um tanto confusa, poderia sugerir estar sonhando, mas tudo ali parecia muito real. Se abaixou para pegar uma flor e sentir seu perfume, quando então algo veio a sua mente.



— Shansa! — Exclamou — O que está acontecendo?! Onde estão todos?!



— Moira! — A mulher abriu um sorriso e correu para abraçar a outra — Oh meu Deus, como estou feliz em vê-la! Como me encontrou?



— Elizabeth? — A pirata correspondeu ao abraço emocionada. Era muito bom para ambas, saber que estavam vivas, diante de dias tão conturbados. Brodbeck ainda estava confusa com tudo, mas tinha certeza que estava com a amiga em seus braços. — Eu...



— Deixa eu olhar você — A loira partiu o contato, analisando a mais nova de cima a baixo — Está linda.



— Lizzie, só se passaram dois anos — sorriu — E você sim está ótima — Elizabeth trajava roupas simples de camponesa, estava com parte do cabelo preso em um coque frouxo, enquanto a outra parte descia em seus ombros. Era claro que seguiu um destino oposto à pirataria. — O que fez nos últimos anos?



— Não se pode fazer muito quando se é uma pirata fugitiva — Ambas sorriram — Venha entre, vamos tomar um chá.



A residência de Turner era humilde e bem organizada, poucos móveis, alguns quadros pendurados nas paredes e uma espada emoldurada, que estava sob a parede da lareira. Moira imaginou que a espada fosse a mesma que Elizabeth usava em suas aventuras.

A jovem foi guiada até a cozinha, onde a anfitriã prepararia um bom chá de hortelã. Se sentou em uma cadeira próximo a mesa de quatro lugares, estava ansiosa para saber tudo que a outra teria para lhe contar.



— Não consigo acreditar que está aqui, e vestida assim. Pensei que voltaria para Port Royal após a batalha.



— Eu voltei, passei os últimos anos com a minha família, mas quando se tem sangue pirata não importa para onde você vá, o mar está sempre pronto para te trazer de volta — Sorriu — Mas e você, depois que nos despedimos?



— Tudo aconteceu como tinha que ser, ao entardecer do dia que nós deu, Will me deixou em uma praia e partiu. Então eu segui em frente — Elizabeth mostrou-se pouco animada ao se recordar da despedida de seu amado capitão — Onde está o Jack ou o Daniel?



— Como? — A semideusa se assustou com a mudança repentina de assunto.



— Não está sozinha aqui Moira, retornou ao mar por algum propósito, e a conheço o suficiente para saber que um dos dois está por trás disso — Sorriu.



— Bem… a última vez que vi o Sparrow, ele estava me aguardando voltar de uma conversa com uma mulher misteriosa, e Daniel… este deve estar me procurando pelos sete mares, mas dessa vez para me matar…

— O que?! Do que está se referindo? — A esposa de Turner ficou assustada com a declaração que ouviu. E sabia que para as coisas chegarem aquele nível, algo muito ruim havia acontecido.



— Olha Elizabeth eu adoraria partilhar com você tudo que houve, mas acho que não temos tempo para isso, sinto muito. Vamos direto ao ponto, Lizzie precisamos de você, preciso que volte aos mares para a nova reunião da corte da irmandade em Nassau. Como rei é o seu dever decidir o que faremos, tem que honrar o código — Moira parecia aflita.



— Ainda não está claro para mim o que está realmente acontecendo — Turner propôs, fazendo com que a amiga lhe contasse sobre os motivos da nova reunião — Eu não posso Moira, desisti da pirataria a dois anos e nada me fará voltar. Entendo pelo que estão passando mas...mas eu não posso mais.

— Você é Rei, não pode simplesmente fugir disso! — Exclamou a mais nova em puro nervoso.

— Você é uma semideusa e tenta fugir disso, não há diferença Jones!

— Eu não estou a frente de uma decisão tão importante! O que o mundo fez a você? Onde está a Elizabeth Swan, a filha do governador que enfrentou um navio amaldiçoado por amor, a mulher que viajou aos confins da terra duas vezes para salvar seus amigos? A Rei capaz de guiar o destino pirata como ninguém?!

— Ela não existe mais!

— Por que?!

— Mamãe?...

Naquele instante as duas cessaram a discussão, a doce voz vinda de um pequeno menino as deixaram surpresas. Ele tinha os cabelos dourados e olhos escuros, observava as mulheres um pouco assustado com a discussão que ouviu, pois era jovem demais para entender o que estava havendo.

— Ei, está tudo bem hm? — Elizabeth seguiu até o menino e carinhosamente o pegou no colo, depositando um beijo em seu rosto — Está com fome? — Ela sorriu.

Moira estava estática frente a eles, jamais imaginou que algo assim poderia acontecer, mas por fim entendeu os motivos que levaram a amiga a abandonar a vida no mar.

— E-ele é ?...

— Sim, ele é o meu filho, meu e de Will…

Brodbeck não pode conter as lágrimas de alegria. O amor de Elizabeth e William havia gerando uma bela criança. Ela se aproximou dos dois com um sorriso meigo para ele, enquanto a criança apenas observava a desconhecida curioso.

— Compreende agora?... Não posso arriscar a minha vida, quando já não vivo por mim. Henry é tudo que tenho, a segurança dele é o mais importante.

— Oh meu Deus me perdoe, eu não fazia ideia… — A moça passou os dedos sobre o rosto do menino, ainda estava emocionada.

— Tudo bem, desde que esse seja o nosso segredo.

— Não contarei a ninguém sobre ele, jamais colocarei a vida de vocês em perigo, é uma promessa...



Elizabeth colocou o pequeno Turner no chão e pediu para que ele a esperasse no quarto, e sem questionar, o menino olhou mais uma vez para a mulher estranha em sua casa e depois seguiu o pedido de sua mãe, novamente deixando as duas a sós.

— Bem, eu não sei exatamente o que vai acontecer agora, mas não posso mais ficar — Brodbeck suspirou pesadamente. — Mesmo sem a côrte, ainda há uma guerra a travar, infelizmente não temos como evitá-la.

Turner segurou as mãos da amiga e a fitou.

— Confio em você Moira e faça-os confiar também, eu sou apenas uma mulher que foi parte de um plano de um pirata com um excelente talento para trapaça. Já você, você é parte daquilo que eles mais amam e temem, mostre a cada um, aliados e inimigos, o que é ser o mar em terra. E quando tudo isso acabar, venha nos visitar, garanto que o Henry irá adorar ouvir suas aventuras — A esposa do pirata sorriu.

— Elizabeth...— Moira abraçou bem forte a ex-pirata, feliz por ter aquele momento e determinada com todo o incentivo que a amiga lhe dara — Obrigada…



X



Um vento forte tomou conta da caverna de Shansa, derrubando algumas coisas das paredes e prateleiras, no instante em que a chama negra se acendeu novamente, Brodbeck abriu seus grandes e belos olhos azuis e toda a ventania cessou.

Ofegante e confusa, ela olhou em volta, reconhecendo o local e a mulher que tinha um leve sorriso nos lábios.

— Foi real?

— Me diga você.

A bruxa apontou para o colo da moça, a fazendo olhar em seguida e notar que em suas pernas estava a flor que havia pego pouco antes de Elizabeth aparecer.



— E-eu… eu nem consigo descrever, isso é impressionante… — Ela olhava a flor com um brilho no olhar.



— Minha parte está feita, então espero que entenda que terá que cumprir a sua pequena semideusa.

— Que seria?...

— Sangue, esse é o único pagamento pelos meus serviços.



A pirata sentiu uma palpitação maior em seu coração, como se seu corpo ficasse alerta a algo que não podia ver. Ela se levantou a fim de finalizar aquela audiência.

— Vai haver uma guerra,muito sangue será derramado, então terá seu pagamento.

Shansa sorriu e se aproximando da garota.

— Não lhe contaram não é mesmo? Não se perguntou por que esse lugar é tão vazio? Por que com um poder tão grandioso como o meu, todos preferem sumcumbir ao sofrimento ao invés de cruzar a minha porta?



— Agora que mencionou...no entanto, infelizmente não tenho tempo para ficar criando suposições, preciso ir, e obrigada…



Dado o assunto por encerrado Brodbeck partiu sem ao menos notar o sorriso vitorioso nos lábios da bruxa, seu único objetivo naquele momento era voltar ao centro de Nassau e fazer o que devia ser feito, mesmo que custasse seu anonimato.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.