Naquela tarde quando tudo parecia tranquilo. Sparrow se viu sóbrio demais para aquele dia, então notando que sua garrafa de rum estava vazia, desceu até a adega afim de ver se sobrara alguma garrafa intacta após a batalha.

Quando abriu a porta carregando consigo uma vela, se deparou com a garota sentada no breu em um canto qualquer, abraçada aos joelhos. Assim que ela ouviu o sons de passos fitou a porta para ver quem estava prestes a entrar.

— Então você está aí… — Disse o pirata, dando pouca importância ao fato. Colocou a vela em cima de um barril e começou a procurar pela bebida favorita, mas sem sucesso.

Ela notou a procura do outro, e logo mostrou que em suas mãos estava a única garrafa que restara.

— Não tem muito, me desculpe.

— Mas ainda tem, é o que importa — Jack sorriu.Recebeu a garrafa e se sentou ao lado da moça.

Após a degustação da bebida, ambos se fitaram por alguns instantes, até a garota resolver por fim às dúvidas do capitão. Primeiro contou a ele sobre a ligação do rapaz com a família Brodbeck, e de como aquilo havia os afetado. Jack apenas a observava atentamente.

— É isso que eu chamo de uma coincidência infeliz. — Expôs.

— E como deve imaginar, isso não é tudo. Há dois anos na Baía das Lamentações, quando eu o matei… tudo que eu queria era trazê-lo de volta. Então Calipso me deu a oportunidade de reparar o meu erro, e eu o fiz. Dando ao corpo na Baía parte da minha vida e do meu poder. — Jack passou o rum para ela, que deu um longo gole. Aquela bebida já não parecia ser tão ruim como antes — Mas para aquilo que mais se deseja, sempre há um preço a ser pago no final. Foi isso que ela me disse...mas eu não me importava, desde que estivesse Daniel de volta…

— Qual foi o seu preço?

— Os meus poderes, a cada vez que eu o usar, menos tempo Daniel terá de vida — Ela suspirou. Jack notou que suas mãos estavam trêmulas, revelando o quanto estava abalada— Eu o mato aos poucos…

— Por isso evitou o quanto pode no caminho para Kingston. Isso explica muita coisa. Mas você não queria ser semideusa, seu amado Daniel estava de volta, o que deu errado? — Sparrow sentia-se a um passo da verdade.

— Nós não podemos ficar juntos, se tivermos qualquer contato mais íntimo, ainda que um beijo, todo o poder de semi-deusa retornará a mim e ele não resistirá.

— E é aí onde o comodoro Marshall entra na história… Suponho que Daniel não saiba nada disso.— Jack novamente se deliciava da bebida amarga.

— Não. James sabe que eu o trouxe de volta, mas não das escolhas que tive que tomar para isso… Ele acredita que aceitei o pedido de casamento de Marshall por não amá-lo, por sermos irmãos de certa forma e por ele não ser capaz de me fazer esquecer alguns sentimentos que … — Brodbeck se interrompeu — Que não deveriam existir — Fitou o homem a seu lado — Por isso foi embora de Port Royal.

A moça se levantou e escorou-se em uma das vigas de madeira.

— Sem lutar pelo que queria? Isso só reforça o que digo a respeito dos piratas de hoje em dia — O capitão fez uma expressão desgostosa e bebeu o último gole de rum.

— Não exatamente, ele também teve suas escolhas. Em algum momento em meio a tudo que passamos na Baía das Lamentações, Smee fez uma oferta a Daniel para se tornar o capitão do Carmen. Então ele tinha duas opções, ficar em Port Royal e lutar por mim na esperança de vitória ou aceitar o convite de Brook e por fim se tornar um pirata de uma vez por todas...

— Então eu te mostrei o Carmen De La Rosa preso dentro de uma garrafa, tornando assim seu possível interesse de retorno aos mares fervorosamente atraente — Jack sorriu ao tirar suas conclusões.

Moira não replicou. Compreendia naquele instante que para Jack, sua busca pelo colar era apenas um pretexto para voltar aos mares e descobrir o paradeiro de Daniel ou vingança contra o que Edward Teach supostamente teria feito ao rapaz. No entanto, se Barba Negra foi realmente morto por Sparrow, como disse o capitão do Jolly Rogers, só lhe restava a primeira opção. Mas o fato era que tudo aquilo havia sido apenas um acaso em meio ao seu verdadeiro objetivo.

Afim de encerrar a conversa, ela apenas rumou para a saída.

— Se chegarmos ao ponto alto, decisivo, controverso a tudo que evitou, estará pronta para fazer o que for necessário? Porque tão certo quanto tudo que virmos até agora, o capitãozinho virá atrás de nós.— Jack pergunta por fim.

Moira parou de caminhar e após alguns instantes fitou o pirata que permanecia sentado despreocupadamente. Ela não havia pensando sobre isso, em como as atitudes do Capitão Gancho poderia a obrigar a tomar a maior decisão de sua vida, e aquilo a assustava.

— Você faz muitas perguntas para alguém que também me deve respostas — Brodbeck rapidamente virou a situação a seu favor — Sei que trocou o Pérola pelo Carmem na noite em Tortuga, eu deveria ter desconfiado que tentaria algo. Mas o fato é que novamente está de posse do seu navio e mesmo assim continua em uma aventura que desde o início deixou claro que não o agrada. Por quê?

Sparrow sorriu e se levantou, deixando para trás a garrafa de rum agora vazia.

— Acha mesmo que eu deixaria uma dama aventurar-se pelos mares sozinha, com tão pouca experiência?

— Há menos que ela tenha algo que você queira? Acho — Moira retrucou. Notando que o pirata estava muito próximo de si.

— Nós dois sabemos que o que tem é a incerteza de que ao fim dessa jornada poderá me ajudar a trazer o Pérola e os outros navios de volta a ativa. Então senhorita, a cada segundo dessa aventura, torna-se mais claro para mim que um dos meus objetivos terá que ser adiado.

— E-e qual seria o outro?

A proximidade de ambos acelerava o coração da garota, ela tentava desviar sua atenção mentalmente, mas era inútil, ela queria, parte dela queria aquilo…

Ter o capitão assim tão perto, em um momento de sua fragilidade parecia a desculpa perfeita para entregasse aquele desejo que vivia em seu ser muito antes do que ela poderia imaginar, sem sentir-se culpada por estar novamente magoando a Daniel, mesmo que em segredo.

Jack tinha sede de tomar aqueles lábios para si novamente. As lembranças do beijo no passado ainda pairavam a mente do pirata incansavelmente, e aquele era o momento certo. Ao mesmo tempo o capitão se amaldiçoava por sentir-se tão atraído pela moça. O homem ao longo de sua vida nos mares viveu as mais diversas aventuras amorosas, até quando se relacionou com Angélica e acreditou que ali seria o limite de seu interesse por alguém. Agora sentia-se enganado. Claro que ele não se deixaria levar por aquela sensação que segundo ele, jamais teria tanto valor quanto seu amado mar. O que Sparrow se esquecera é que Moira era o mar ou parte dele…

Brodbeck fechou os olhos quando o capitão se aproximou ainda mais para finalmente rouba-lhe um beijo.

De repente barulhos e uma movimentação incomum fizeram o pirata e a moça se afastarem assustados.

— A-acho que sei do que se trata— A jovem sorriu.

Na sequência, ambos correram para se juntarem aos outros, chegaram ao convés e se depararam com os homens boquiabertos. Uns estavam com medo, enquanto outros agradeciam aos deuses a oportunidade de presenciarem algo tão divino.

Em volta do navio, suas partes giravam no ar como se não houvesse gravidade, e em seguida se encaixavam no mesmo lugar que estavam anteriormente. Assim, mais uma vez o majestoso Úrsula se restaurava diante de todos. Brodbeck e Sparrow se entreolharam com meio sorrisos.

— Então esse é o segredo do Úrsula… — Jack comentou. Pois até aquele momento ainda era uma dúvida para ele e seu imediato, o verdadeiro propósito do navio.

— Me deem uma surra e me levem para a mamãe! Jack, piratas mais gananciosos de todos os mares jamais sonhariam com um terço da maravilha que é um navio como este.— Disse Gibbs eufórico.

— Há algum tempo atrás, coisas assim não passavam de lendas bobas ou contos de livros para mim. — Brodbeck expressou.

— A realidade depende apenas do que você acredita amor — Jack respondeu sorrindo e ela retribuiu o gesto.

— Capitão Sparrow, senhorita… — O pirata se aproximou — Em nome de todos agradeço por nos libertar daquele maldito inferno. Estávamos condenados e agora livres graças a vocês — Agradeceu sincero. — Mas, eu gostaria que considerassem meu pedido. Preciso voltar a Nassau, meu capitão está lá e…

— Espere, quem é o senhor mesmo? — Moira perguntou

— Ah mil perdões. Eu me chamo Augustus Henderson

— E seu capitão?...

— Ninguém! Um pobre diabo prestes a abandonar a vida no mar para cuidar da esposa caolha e sem os braços — Jack interviu. Não queria que a jovem soubesse de quem se tratava. No entanto ela revirou os olhos e novamente fitou o marujo esperando pela resposta a sua pergunta.

—Jack Rackham.

— Jack Rackham está em Nassau?!

— Sim, é o que presumo senhorita.

— Nada disso. Te damos um bote, água e comida e você rema até lá, ou pode acenar para qualquer outro navio e então barganhar uma passagem. Simples — Jack respondeu. Tendo o olhar de Moira voltado para si.

— Jack! Espera deixa eu adivinhar, algumas inimizades no porto? — Moira questionou revirando os olhos

— Digamos que dá última vez que estive em Nassau situações inoportunas me levaram a uma fuga rápida sem direto a volta — O pirata sorrir amarelo.

— Nassau é um porto pirata, há uma chance de Barbossa estar lá, além do mais se não estou enganada, o porto está na mesma rota que estamos seguindo…

— Você não me dá escolhas — O pirata disse contrariado.

Moira sorriu contente para ele e deu as novas ordens para os marujos. Nassau seria sua próxima parada.