O sol ainda não havia chegado à metade do céu quando o comandante da marinha de Port Royal iniciou o julgamento das piratas do Dama de Ferro. Marie Ann escutava das celas com o coração partido a execução de suas companheiras. Só restava ela e mais cinco, dessas Jane estava inclusa juntamente com as irmãs Diana e Daiana. Joanna e Carmen choravam compulsivamente segurando as barras da cela clamando em vão por piedade. Jane e sua capitã se recusavam a entregar-se ao medo e a derrota, mantendo o mesmo olhar corajoso diante da situação final que se encontravam.
— Ouvi dizer que quem morre em terra não merece ser levado pelo guardião dos mares... – Diana conversava com sua irmã, tentando manter a calma e acalmar Daiana.
— Conversa fiada... Somos piratas. – Daiana reclamou. Diana brincava com os pingentes grudados no cabelo da irmã.
— Talvez tenha razão... Anos no mar não pode terminar em vão – Diana completou, e sua irmã sorriu com piedade. Ambas tentavam acalmar uma a outra, porém no interior estavam apavoradas.
Joanna parecia irritada com o comportamento das gêmeas, e por um instante largou as barras da cela para reclamar com as duas.
— Parem com esse show patético de aceitação. Estão-se tão acolhidas da morte que deveriam ter afundado com o navio. – Indagou a ruiva com rispidez.
— Patético? Não somos nós que estamos debruçadas na grade implorando clemência. – Daiana retrucou. Era a mais audaciosa das irmãs.
— Pelo menos não estou declarando fantasias sobre o além... Acham mesmo que o Holandês Voador existe? – Joanna se aproximou da gêmea, que se levantou para ficar a altura da discussão.
— Estou certa que existe. Vá implorar para ser empregada do rei e nos deixe em paz! – Daiana alterou a voz, mas Joanna não recuou.
— Se eu estivesse com minha espada agora poderia lhe furar o...
— Calem-se as duas – Marie tomou à dianteira. – Em um momento como este as madames vão discutir por tolices? Francamente...
A voz da Capitã fez com que as piratas se olhassem com desdém, mas a discussão cessou com cada uma indo para o seu canto. Assim que a calma se estabeleceu um guarda chegou balançando as chaves.

— As senhoritas tem um encontro inadiável com a forca, seria uma pena que se atrasassem... – Disse o homem com um sorriso irônico nos lábios. Marie sentiu seu estomago revirar e Jane segurou com força a mão da morena. O guarda começou a destrancar a cela quando um estrondo alto pôde ser ouvido vindo de fora. Marie reconhecia aquele som, tinha experiência com canhões. Não perdeu tempo e debruçou-se na janela e pode ver um navio de velas negras atacando o porto.
— Estão invadindo... – Disse pra si mesma sentindo a esperança voltar, Jane foi junto a Capitã.
— Quem? – Tentou ver o que Marie via.
— Piratas.

Jack Sparrow chegava de bote até o píer com alguns bucaneiros enquanto Gibbis comandava do Pérola Negra o ataque ao porto; Haviam cinco botes cheio de piratas se aproximando e os homens de Port Royal já organizava o ataque. Entretanto o Capitão e seus homens tinham a vantagem dos canhões que destruía a cidade e as pessoas sem cessar.
O desembarque foi agitado, o tinir das espadas podiam ser ouvidos a baixo dos gritos de batalha dos homens. Alguns apostavam em pistolas, mas preferiam uma luta corpo a corpo por diversão.
O Capitão mostrava experiência no manejo da espada, assim como rapidez de movimentos e capacidade de sair da confusão sem ser notado. Logo os piratas já haviam dominado toda a praia de Port Royal e seguiam para o centro da cidade decidido a saquear e matar o que virem pela frente. Jack Sparrow se separou do bando de ladrões e seguiu para a prisão. Mais homens da companhia chegavam e a batalha ficou um tanto sanguinária. Os piratas não pensavam duas vezes antes de cravar suas espadas nos adversários.

O guarda que estava nas celas saiu correndo para ajudar seus homens na batalha e Marie ficou presa com suas companheiras enquanto os piratas invadiam.
— Temos que sair daqui... Eles vieram para saquear e depois vão embora, não temos muito tempo – Jane dizia com urgência, sabia que ninguém as iria resgatar. Mas Marie não estava tão certa disso, ela conhecia aquele navio e o seu Capitão.
Mal pensou a respeito e barulho de passos pode ser ouvido nos corredores. Todas exceto Marie se debruçaram nas grades para ver quem vinha.
Jack parou na frente das grades com uma expressão curiosa, mas depois sorriu.
— Ora vejam só... Digam-me o que fizeram para estar ai, pra que eu faça o mesmo – Disse com malicia na voz, mas de um jeito divertido. O rosto das piratas se iluminou e puderam sorrir de verdade.
— Por favor, nos tire daqui... – Carmen implorou com as mãos, com a voz suplicante.
— Desculpem... Não tenho tempo. – O Capitão voltou a andar na direção que veio.
— Espere... O que veio fazer aqui se não nos soltar? – Joanna gritou – Não há nada nas celas que possa lhe servir de pilhagem.
Jack parou, e voltou de ré encarando as mulheres.
— Tem razão... Procurava algo ou alguém especifico. Mas vejo que me equivoquei sobre sua localizaç...
— Esta certo disso Jack? – A voz de Marie surgiu do fundo da cela. A morena suspeitava que ele fosse.

O Capitão espiou por entre as aberturas da grade e as mulheres deram visão para a Capitã, que o encarava com ar sério. Jack sorriu e se aproximou da grade.
— Olá querida... Há muitos ventos não a vejo – Disse com a voz cheia de charme. Mas Marie permaneceu rude. O Capitão continuou. – Tem algo com você que me pertence...
— Será mesmo? Vamos ver... – Marie começou a procurar em seus bolsos alguma coisa, e suas companheiras observavam aquela cena confusa. Enfim a Capitã tirou uma bussola preta da bota direita – Ah... Aqui esta. – Sorriu para o capitão.
Ele esticou o braço para dentro da cela.
— Minha intuição diz que você não será uma boa garota... E vai me persuadir com isto.
— Você é esperto Jack... – Sorriu Marie.
— Deveria haver um Capitão em algum lugar dessa frase – Fez uma careta e começou a abrir a cela como aprendeu com Will Turner anos antes, mas Marie segurou a grade.
— Não tão já... Tenho alguns termos. – Encarou os olhos do marujo.
— Suponho que sair da cela já fosse o termo. – Ele resmungou.
— Preciso de um espaço com sua tripulação ate recuperar o meu navio – Ela estava séria, mas Jack sorriu não levando a serio.
— Desculpe senhorita... Mas no momento não estou contratando.
— Então nós morremos você vai embora sem sua bussola e jamais encontrará aquela maldita ilha... Até quando vai fugir? Amanhã pode ser você aqui dentro. – Ela arqueou uma sobrancelha com uma expressão irônica. Jack revirou os olhos e olhou pela janela gradeada. Seus homens já estavam com problemas e ele saberia que logo seriam rendidos se não retornassem.
— Quais são seus termos? – Respondeu o capitão relutante.
Marie Ann sorriu vitoriosa.
— Eu e as garotas navegaremos com você até recuperar o Dama sob a proteção de parola, nem pense em nos largar em uma ilha ou se aproveitar de nossa presença. – A Capitã estava certa de sua proposta, e sabia que o Capitão não iria recusar. Ele demorou um tempo para responder, mas acabou cedendo.
— Feito. – Deu um aperto de mão na morena e abriu as grades.

O trajeto até os botes foi conturbado, Marie e suas mulheres tiveram que lutar para garantir sua vida até o píer. Não foi um problema visto que eram experientes em batalhas corpo a corpo e Jane tinha um conhecimento excepcional sobre espadas, já que era filha de ferreiros. Subiram nos botes e remaram até o Pérola que já os aguardava para partir.
Os bucaneiros que conseguiram chegar até o navio foram salvos, mas aqueles retardatários foram deixados para trás sem cerimonia. Os piratas seguiam a risca essa parte do código.

Já a bordo Jack ficou pensativo sobre o que Marie havia dito: Não vai encontrar aquela maldita ilha... Então ela sabia sobre a ilha e sobre o encanto. O que mais ela poderia saber?

Gibbis pôs se a reclamar assim que viu as cinco mulheres a bordo, o marujo tradicionalista supersticioso não concordava com a ideia de navegar com mulheres.
— Capitão, temo que nossas hospedes nos tragam infortúnios. – Reclamou baixo para Sparrow.
Esse por sua vez nunca dava ouvidos para as indagações do seu contramestre.
— Senhor Gibbis, sem elas aqui não poderíamos achar um meio de estar lá onde deveríamos se não tivéssemos que passar por aqui. – Falou o capitão distraidamente, e Joshamee fez uma expressão de duvida. Continuou – Nossas visitantes são breves.
Marie escutou parte da conversa e quis se defender.
— Marujo, eu tinha uma tripulação de trinta mulheres... Sou Capitã de um navio bem conhecido pelos homens do mar. Sorte nada tem a ver com isso.
— Perdão... Mas onde esta seu navio agora? – Jack falou antes que Gibbis pudesse responder. A Capitã abriu a boca para rebater, mas se conteve assim que percebeu a provocação do homem. Revirou os olhos e Jack deu um sorriso divertido. Saiu de perto deles e se juntou a suas companheiras na beirada do convés. Jack rumou para o timão a fim de se afastar o máximo de Port Royal antes que decidissem mandar navios para enfrenta-los.

O Pérola Negra como muitos sabiam era o navio mais rápido dos sete mares, depois de naufragar pela primeira vez quando Jack fazia parte da marinha real foi trazido do fundo com a habilidade excêntrica de navegar com potência. Então se afastar não foi um desafio, e logo os piratas já estavam distantes do porto real.

Uma vez em alto mar, Sparrow se encarregou de tentar recuperar sua bussola e descobrir o que mais a morena sabia sobre a ilha que ele procurava.

Ao cair da noite os tripulantes do Pérola descansavam em suas redes na parte inferior do navio onde ficavam os canhões. Diana e Daiana dormiam na cabine do capitão juntamente com Joanna e Carmen, depois de discutirem que não se deitariam no meio dos bucaneiros Jack cedeu o quarto a fim de evitar muita falação. Apenas por aquela noite.
Gibbis estava no controle do timão e contava pela milésima vez uma de suas histórias duvidosas para Cotton, mesmo sabendo que o pobre coitado não poderia responder.

Marie Ann estava na beirada do convés tomando uma garrafa de rum, parecia distraída no horizonte e não ouviu o capitão se aproximar.
— Terei que trancar o deposito... – Surpreendeu Jack a moça, que se virou para ele – Ou vamos ficar sem rum antes do próximo saque.
— Pelas minhas contas isso não paga nem metade do que você me deve – Respondeu ela com desdém voltando a olhar para o horizonte. Ele deu a volta se pondo à frente da morena.
– E pelas minhas contas eu não tenho debito algum com a senhorita. Salvei sua vida, você que me deve. – Respondeu de maneira divertida.
— Salvou minha vida depois de coloca-la em risco? Isso não te deixa no posto de herói. – Retrucou a Capitã.
— Devolva a minha bussola e eu te arrumo um olho de vidro. Estaremos quites – Sorriu.
— Nada feito. Vera sua bussola quando eu tiver o meu navio. – Ela permaneceu séria.
— Isso não fazia parte do acordo – Ele fez uma careta.
— Ficar cega também não. – Ela sorriu e deixou o capitão a sós com o rum, mas antes de entrar na cabine ela lhe deu uma ultima olhada. – Aproposito, obrigado pela hospitalidade.
Ele lhe fez uma reverencia e assim que ela entrou ele tomou um gole de rum e olhou para o horizonte.

Não havia conseguido sua bussola, nem informações. Conseguiu apenas uma lembrança antiga onde uma moça perdera um olho pondo-se na frente da espada que furaria seu coração.