Pior do que o mal
Capítulo 3
O ambiente no Tokyo Rooftop Bar era carregado de sofisticação e o odor almiscarado misturado com o de uísque. A melodia suave do jazz no fundo envolvia o espaço à medida que a noite estava apenas começando. Uma porta de vidro se abriu, revelando um grupo de pessoas que adentrava o local, não estavam juntas, mas chegavam de forma constante. A maioria delas, porém, também não estavam sozinhas; cada indivíduo parecia trazer consigo uma aura de sigilo, acompanhados por seguranças discretos ou mulheres elegantes.
Ogata e Mei Mei, da mesa, observavam atentamente a entrada daquele grupo, seus olhares aguçados captavam cada detalhe.
— Quer outra bebida? - indagou o homem.
Suas mentes afiadas estavam em sintonia com o objetivo da missão imposta por Satoro Gojo. O convite para bebida era obviamente mais do que isso.
Ogata se levantou da cadeira e Mei-Mei o acompanhou, pareando seus passos para ficar lado a lado com ele.
Ogata, com seu terno impecável, deixou escapar um comentário sutil para Mei Mei:
— Parece que pelo menos um quinto do PIB mundial decidiu fazer uma visita a este bar.
— Dinheiro, poder e influência, todos reunidos sob um mesmo teto. É uma ótima oportunidade para investimentos. - com seu vestido preto que realçava sua elegância e sensualidade, respondeu com um sorriso enigmático.
Enquanto guiavam seus passos para o bar, ambos identificaram um indivíduo conhecido pela mídia. O homem de meia idade se destacava entre a multidão, talvez por ter seu rosto estampado nos veículos de comunicação ou por ter nome e foto divulgados por Gojo.
Os instintos da dupla se alertaram. O homem que acabara de entrar com seus diversos seguranças era Li Wei Long. Wei Long é CEO de uma renomada empresa de petróleo chinesa, SinoEnergy Dynamics Corporation, e seu rosto ficou estampado nos noticiários recentemente devido a um escândalo empresarial que abalou as estruturas da empresa que ainda comanda.
De alguma maneira não bem divulada, o conglomerado entrou em recuperação judicial, e Li Wei Long teve que enfrentar críticas intensas por sua gestão questionável. O escândalo não apenas levou a empresa a uma situação financeira delicada, mas também deixou os credores insatisfeitos, gerando desconfiança no mercado.
Enquanto Li Wei Long adentrava o bar, sua presença não passava despercebida. Os olhares se voltavam para ele, alguns reconhecendo o rosto marcado pelas polêmicas nos jornais. Ele se movia com uma certa altivez, apesar da controvérsia que o cercava. Ele parecia gostar das atenções.
— Pois não senhora. - o atendente aproximou-se da dupla enquanto limpava um copo.
— Outro Dry Martini. - ela sequer olhou o rapaz que tocava o bar enquanto pedia.
— E pro senhor?
— O mesmo que ela.
Wei Long em sua trajetória cumprimentou com apertos de mão firmes outros dois empresários chineses que o receberam no canto do salão. Esses homens eram do ramo de tecnologia, representando uma empresa líder em inovações eletrônicas e inteligência artificial na China. Mas após as cordiais saudações, ele seguiu em direção a uma mesa onde um empresário americano, Robert Thompson, o aguardava.
Thompson era dono de uma renomada empresa de produção de chips e microchips com sede nos Estados Unidos. Calvo e de terno branco, sua expressão não conservava a tensão da famigerada crise do silício que todos parecem dizer. Talvez não fosse para tanto.
Wei Long aproximou-se de Thompson com um aceno de cabeça respeitoso e estendeu a mão para um aperto de maneira formal.
— Sr. Thompson, é um prazer encontrá-lo aqui. Não nos vemos desde Londres no ano passado. - disse ele, mantendo uma expressão neutra, apesar da turbulência recente nos negócios.
Thompson retribuiu o aperto de mão, observando atentamente o homem cujo rosto já se tornara familiar nos noticiários.
— O prazer é meu, Long. E estamos entre amigos, apenas Robert por favor. Espero que o leilão seja produtivo.
Os dois líderes empresariais tomaram seus lugares na mesa, imersos na atmosfera local. Notava-se que a estrutura para o leilão estava sendo finalizada. Havia um púlpito sobre o tablado e algumas vitrines móveis.
— Qual dos itens lhe interessa Robert? Não veio pelo Portinari, veio? Os italianos não deixarão que o leve.
— Imagino, entre alguns objetos, acho que todos vieram pela bala da Manchúria, não é?
— Então seremos rivais nesses lances.
A misteriosa bala que atraiu a atenção de Li Wei Long, Robert Thompson e outros empresários chineses e americanos remontava a um evento histórico nem tão distante dos tempos atuais. A bala era proveniente de um fuzil antigo, um Arisaka Type 30, fabricado no ano de 1897. Este fuzil foi uma peça rara e notável, utilizado por soldados japoneses durante a Guerra Russo-Japonesa.
A história desse projétil estava enraizado na história do antigo capitão japonês, Hiroshi Kurogane. Ele fora um herói condecorado, conhecido por suas habilidades táticas e coragem no campo de batalha. Contudo, sua morte havia sido envolta em mistério e especulações. Acredita-se que Hiroshi Kurogane tenha sido morto por um atirador habilidoso durante a guerra, e essa bala específica, uma relíquia daquela época, era a única pista tangível de sua morte.
Diversos colecionadores e endinheirados estavam interessados na bala, acreditando que poderia fornecer informações cruciais sobre os eventos que cercaram a morte do capitão Kurogane. Além disso, havia rumores de que a bala teria propriedades místicas, amplificando ainda mais a atração que ela exercia sobre aqueles presentes no Tokyo Rooftop Bar.
O encontro daqueles empresários no bar nunca foi para negócios, embora isso possa ocorrer em segundo plano. Cada um deles tinham ambições em possuir aquela espécie de relicário e conspiravam em meio ao luxo e à sofisticação da noite.
— Vou para área do leilão. - comentou Ogata deixando o copo ainda meio cheio.
— Nos encontramos lá, preciso fazer uma ligação.
Mei-Mei afastou-se um pouco, frente a enorme vidraça na janela, ela observava a cidade noturna até que sua atenção fosse atendida.
— Cheque o preço das ações da SinoEnergy Dynamics Corporation.
Ficou em silêncio por alguns segundos, sem saber que outro par de olhos a devorava por uma segunda vez.
— Somente isso? Compre metade do disponível assim que o mercado abrir. Pela manhã eu vou ser dona de trinta por cento dessa empresa.
A ligação se encerrou e com o leilão se aproximando do início ela logo voltou para lá. Seus passos foram interrompidos, porém, pelo mesmo ocidental de antes. Qual era seu nome mesmo? John? Malcolm?
O homem parecia ainda remoer a conversa de antes.
— Então estava acompanhada. O que ele tem que eu não tenho? Nossos ternos são da mesma marca, meu relógio é mais caro...
Ele não pôde interromper suas palavras. Mei-Mei diminuiu o espaço entre eles, esticando o braço para alçar o copo sobre o balcão. Bebeu do copo do homem, provando um uísque caro, e aguado. Ele deveria estar enrolando com aquilo desde que chegou.
— Existem tubarões e peixinhos neste mundo, John, e se você não sabe qual deles você é, então você não é um tubarão. E eu não nado com peixes de aquário. - não tinham absolutamente nada, mas ela achou divertido importunar aquele homem novamente.
Houve silêncio entre eles, e então o jazz também parou. O leilão estava para começar.
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