Physalis

Controvérsias


~Peeta~

Meio hesitante bato na porta, leva apenas alguns segundos para que seja aberta, uma Greasy Sae aflita é quem me recebe. Tenho mal pressentimento.

— Boa noite Greasy – Cumprimento.

— Ah Peeta! – Ela exclama – Que bom que veio, preciso de sua ajuda.

— Pode pedir – Digo.

— Katniss ainda não voltou para casa.

Essas palavras fazem meu coração palpitar, já se passava das 8:00 p.m. Ela não tem o costume de ficar tanto tempo fora, a não ser que algo esteja errado.

— Ela deve está na casa de Haymitch – Tento tranquiliza- la. Mas acho muito improvável.

— Já liguei pra ele, disse que a viu no início da tarde – Ela parece ainda mais aflita – Já ia te ligar quando apareceu.

Então ela deve estar na floresta, não restam muitas opções. Meu corpo gela, alguma coisa estava errado, espero que ela esteja bem.

— Não se preocupe – Digo, extremamente preocupado – Vamos encontrá-la.

Antes que eu pense qualquer coisa Greasy exclama – Graças a Deus! – Eu a vejo entrando na aldeia dos vitoriosos. Aparentemente estava tudo bem.

~Katniss~

Acordo sobressaltada, confusa, leva um tempo até entender que havia dormido sobre o túmulo de Prim. A floresta escura anunciava que a noite havia chegado, tateio em busca do meu arco e levanto meio cambaleante. Precisava me situar, a floresta a noite era perigosa até para mim. Pisco várias vezes até me acostumar com a escuridão e me direciono para a cerca, não deve estar muito distante. Com alguns tropeções e leves arranhões nas mãos chego até a divisa do distrito, atravesso a cerca sem nenhum problema. Greasy Sae deve está louca agora. Meu pensamento se confirma quando vejo ela e Peeta em frente minha casa.

Hesito por um instante, meses já haviam se passado desde a última vez que o vi, não sabia o quê esperar, nem o quê falar, nosso último encontro tinha sido desastroso. O que ele deve está pensando agora? Sua expressão era de alívio assim como a de Greasy Sae. Continuo meu trajeto.

— Katniss! – Greasy exclama aliviada – Onde estava a essa hora menina? Assim me mata do coração.

— Na floresta – respondo somente.

— Mas isso é hora de estar na floresta, que perigo – Greasy parece aborrecida – Nem um bilhete de aviso, nada. Se algo te acontece menina – Ela me repreende.

— Ela sabe se cuidar Greasy – Peeta se faz presente na conversa – O que é uma floresta comparado a uma guerra?

— Boa noite Peeta – Digo

— Boa noite – Ele diz

Entreolhamo-nos por um instante, ele parece diferente, mas ainda parece ele. Meu coração aperta um pouco, fico sem saber o que fazer a seguir.

— Vamos entrar meninos – É Greasy quem nos tira do transe – Eu fiz um jantar maravilhoso, você janta conosco Peeta?

— Na verdade – ele pigarreia – Vim perguntar se tinham fermento para pão, eu já jantei obrigado.

Então era isso, ele não estava ali por mim. Meu coração se aperta mais, não consigo entender o porquê, mas eu queria um abraço dele agora.

— Ah certo – Greasy parece decepcionada assim como eu – Vou vê.

Ela entra e ficamos parados sem olhar um para o outro, miro o chão sem saber se devia fazer alguma coisa, meus olhos lacrimejam. Não, não agora.

— Está tudo bem? – Ele pergunta.

— Sim – Respondo. Não, minha consciência grita.

— Suas mãos estão machucadas – Ele observa.

— Não foi nada – Digo – É difícil andar pela floresta a noite.

— Achei que nada fosse difícil para Katniss Everdeen – Ele pronuncia meu nome de forma amarga, aquilo me dói o peito.

Ficamos em silêncio mais um instante.

— Desculpa – Balbucio de repente.

— Desculpa por que? – Ele parece confuso.

Desculpa pelo quê Katniss, minha consciência questiona. Desculpa por tudo, tudo que te fiz sofrer.

— Pela última vez que nos vimos – Digo.

— Tá tudo bem, esqueci isso.

— Não Peeta, eu sinto muito – Olho em seus olhos – Não deveria ter dito nada daquilo.

— Tá tudo bem – Seu tom de voz continua amargo – Não me importo mais.

É como um soco no meu estômago, ofego involuntariamente.

— Diga a Greasy que não precisa mais, eu me viro – Ele parte de repente.

Meu coração fica desconsolado, não deveria terminar assim. Ele não é mais como antes, minha consciência diz. E nem vai ser.

~Peeta~

Rumo para casa sem olhar para trás, minha respiração é ofegante e meu coração palpita no peito, acredito estar próximo de mais um flashback. Malditos, o quê fizeram comigo? Entro e tranco a porta, minha cabeça gira e um sentimento de raiva me toma por completo. Quem ela pensa que é? Me tratando como um qualquer, não se importa com meus sentimentos. Eu disse que ela é uma pessoa má Peeta, você não me ouviu. Uma voz diz em minha cabeça. Não, de novo não. Por favor eu imploro. Sinto o veneno correr em minhas veias, tomando meu cérebro e todo meu corpo arde. Eu avisei que ela ia te queimar, ouço as risadas vindo de toda parte, não sei quem são, eles zombam de mim. Continuo ardendo em chamas e ninguém me ajuda. Você vai morrer Peeta, a voz continua. Não adianta pedir socorro, ninguém irá me ajudar, eles estão ali para me verem queimar.

A sensação continua por um tempo interminável e a voz em minha cabeça persiste. Vai morrer Peeta a menos que mate ela, matar Katniss Everdeen? Nunca! Prefiro queimar até a morte. Mesmo depois de tudo Peeta, tudo que ela fez, tudo que tirou de você, a voz insisti, Ela merece morrer! Não, não, é só uma ilusão. Nada disso é real, repito mentalmente. Mas parece muito real.

Acordo abruptamente, minha cabeça dói tanto que minha visão embaça. Preciso levantar do chão, nem sei quando apaguei, mas lembro com clareza o Flashback. Meu corpo todo dói e minha pele parece sensível como queimadura de sol. Levanto devagar me apoiando no sofá e me deito nele, estou cansado demais para ir a qualquer lugar.

Fazia algum tempo desde meu último Flashback e não havia sido tão terrível como esse, não tenho certeza do que desencadeou, mas tenho algumas ideias. Primeiro, vê-la depois de todo esse tempo cobraria seu preço. Segundo, ouvi-la se desculpando pelo último encontro, não esperava por aquilo. Achei que nunca tocaríamos nesse assunto, eu mesmo havia decidido deixar pra lá, mas ela não.