Petrion, o Dovahkin

Capítulo 6 - A Biblioteca


A bibiblioteca de Miden é conhecida em toda Merulia por possuir o maior acervo de livros sobre artes, história, geografia e tecnologia dos humanos, além de um razoável banco de dados sobre outras espécies civilizadas. Infelizmente a maior parte dos livros que dizem respeito à magia estão armazenados na grande biblioteca de Dainema, a quilômetros de distância, onde a Antiga Sociedade dos Feiticeiros estabeleceu sua base. De qualquer forma, não tínhamos tempo para ir tão longe e uma viagem dessa em nossa atual condição seria muito perigosa. As informações na biblioteca TINHAM que ser suficientes.

Entrando no velho prédio nos deparamos com enormes prateleiras cheias de livros desgastados, pergaminhos e algumas publicações mais novas e bem conservadas. Todas as luminárias estavam apagadas, então nossa visão se limitava ao que era iluminado pelo sol (É muito estranho como o sol negro funciona, não faz nenhum sentido para nós). Acendemos algumas lanternas de chamas azuis, para podermos procurar mais profundamente nos corredores escuros. Mesmo que a seção sobre magia não fosse muito vasta, ainda era grande o suficiente para tornar nosso trabalho difícil como procurar uma agulha no palheiro.

Decidimos que uma busca separada seria melhor e cada um de nós pegou uma parte da seção. Em minha busca encontrei detalhes de diversos tipos de magia, desde controle do tempo para melhorar plantações, até os mais poderosos feitiços de destruição. Dos mais simples manuais de magia, até encantamentos lendários, que poderiam distorcer o tempo e espaço em maneiras que eu não poderia sequer começar a entender. Comecei a me sentir cansado. Diferentemente do mundo normal, a escuridão exercia uma pressão desconfortante, muito maior que o simples medo do escuro. Parecia impossível encontrar algo útil ali.

De repente, uma pequena esfera luminosa apareceu na minha frente. Era uma luz tão tênue, que me perguntei se não estaria alucinando. Ela começou a se mover, como que me convidando a segui-la e eu não tinha encontrado nada que prestasse até então. Resolvi segui-la. Ela parou em um certo ponto da prateleira, iluminando um livro de capa dura, de cor verde-perolado. Tirei-o da prateleira e li seu título escrito na língua dos Dovah:

“Vokun Ahrk Jun: Tien Luft Se Osos Lein”

“Luz e Sombras: Duas faces do mesmo mundo.”

–Heh. Interessante. Parece que alguma coisa queria que eu encontrasse esse livro. De qualquer forma tenho assuntos mais importantes pra resolver agora. Vamos ver o que esse carinha tem pra me mostrar.

Índice

I ----------------------- Mundo da Luz

II ---------------------- Reino das Sombras

III ---------------- A ligação entre os Mundos

IV ---------------- Semelhanças e Diferenças

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Atrativo como poderia ser, eu resisti à tentação de ler o livro inteiro e descobrir mais sobre o estranho mundo em que estava e pulei para o capítulo 3. Estranhamente, por mais viva que a chama de minha lanterna estivesse, ela não produzia luz suficiente para que eu pudesse ler aquelas pequenas palavras. Esse pensamento fez um calafrio percorrer minha espinha e eu tive um péssimo pressentimento quanto a isso. Eu não sei dizer o que eu estava sentindo naquele momento, só sabia que precisava sair dali o mais rápido possível. A meio caminho da saída da biblioteca, me lembrei que meus amigos ainda estavam espalhados pelos corredores escuros do prédio, procurando por um livro que eu já tinha achado.

Comecei a correr entre as altas estantes, com suor frio escorrendo pelo meu pescoço, meus olhos arregalados e sem me atrever a chama-los em voz alta. Virando em um corredor trombei com Pladius, caindo um para cada lado.

–Mas que... Tá maluco? O que você tá fazendo?

–N-nós temos que sair daqui. Agora!

–O que? Por que?

–Eu... Eu não sei, eu só... Olha, algo me diz que alguma coisa ruim vai acontecer se não sairmos rápido desse lugar. Vamos achar as garotas. E fique em silêncio...

–Sério? Eu sou um maldito ladrão; é meu trabalho ser silencioso. (¬,¬) Idiota...

Percorremos os corredores em ziguezague procurando. O fato de estarmos usando luz negra não ajudava nem um pouco. Então ouvimos o som de algo pesado caindo. Após uma troca de olhares tensos, corremos para o local do som. Lá encontramos Shara sentada no chão, com vários livros abertos a sua volta, tirando a poeira da capa de um livro enorme, que provavelmente foi a origem do som. Ela nos olhou surpresa e disse:

–Hmmm... Desculpa garotos, aquele livro me pareceu tão interessante e depois eu peguei aquele e outro e...

–Tudo bem – eu a interrompi – eu achei o que precisamos.

–Sério? E o que descobriu?

–Depois falamos, temos que achar Izidor e sair daqui o mais rápido possível.

–Claro, mas por que a pressa?

–Não temos tempo, depressa!

Não demorou para que a encontrássemos. Após virarmos algumas esquinas uma lâmina afiada veio em direção ao meu pescoço e parou a milímetros de distância.

–Pare bem a... Ah, é você. O que foi? Eu podia ter te matado sabia?

–É, obrigado por não fazer isso. Temos que sair, já peguei o que precisamos. – “Por Talos, ela é a última. Isso estava ficando repetitivo.”

–Certo, vamos.

E então ela caiu de cara no chão. Nós estaríamos todos rindo (bem, ela provavelmente não) se ela não estivesse com a perna presa por... uma Sombra. A Sombra Viva começou a puxa-la para a escuridão e minhas veias gelaram. A pressão do escuro estava aumentando, tínhamos que sair dali.

–Shara, jogue uma bola de fogo naquela direção!

–Mas os livros vão queimar!

–Nossas vidas são mais importantes, faça!

Ela lançou seu feitiço e a esfera mágica explodiu no que parecia ser nada, mas onde sabíamos estar um monstro. Shara suspirou com alívio, pois nenhum livro tinha sido danificado. A criatura afrouxou o aperto em Izidor e deu um rugido ensurdecedor.

–VÃO!

Pladius pegou Shara pelo braço e a puxou para a porta da frente. Eu fiquei e fui checar Izzy. O aperto da criatura havia lhe quebrado o tornozelo, ela não conseguiria andar, que dirá correr, mas eu tinha um plano.

–Vamos sair daqui.

Joguei seu braço envolta do meu pescoço e a fiz se apoiar no pé bom. Eu podia ouvir a Sombra se arrastando, próxima, a minha volta, fora da minha vista. “Muito bem, vamos pegar um atalho.” Me virei na direção da porta da frente e me preparei. Juntei as palavras certas na minha mente e gritei:

–Feim... ZIIGRON!

Então eu corri em uma prateleira... E bati. Forte. De novo no chão, Izidor gritou:

–Que porra você acha que está fazendo? Tá cego?!

–Não entendi. Devíamos ter atravessado tudo! – E então eu percebi. Eu provavelmente não tinha recuperado a energia que eu tinha gasto no meu último Thu’um, então o poder dos dragões não era mais uma opção.

–Ótimo plano Dovahnuz, qual é a próxima ideia brilhante? Bater com a cabeça na parede até sangrar?

–Corta essa, andando!

Eu a levantei de novo e começamos a “correr” para a saída. “Espero que os outros já tenham saído.” Na metade do caminho as estantes começaram a cair como dominós e bloquearam nosso caminho.

–Vik nii! E agora?

–Tem uma porta lateral por ali. – Ela apontou a direção.

Continuamos a correr e olhei por cima do ombro apenas para ver livros e luminárias serem engolidos por uma sombra sólida. Apertei o passo. Outro rugido. O chão começou a tremer e podia-se ouvir pedaços de pedra caindo do teto ao chão. Agora eu já podia ver a porta, mas o peso no meu lado esquerdo estava me atrasando. Joguei Izidor nas costas e me forcei ao máximo, sentindo sua respiração pesada na minha nuca. A alguns passos da porta um enorme bloco de pedra caiu e a onda de choque nos arremessou para fora junto a uma nuvem de fumaça.

Ofegando e tossindo, eu finalmente pude parar para recupera o fôlego. A minha direita Pladius e Shara vinham se aproximando. A minha esquerda, Izidor estava deitada de costas, respirando lenta e profundamente.

–Duas vezes no mesmo dia? Está ficando repetitivo salvar o seu pescoço Izzy! – Eu disse ás gargalhadas.

Ela não respondeu. Não era necessário. Ela simplesmente me encarou de forma tão furiosa que eu pude ler em seus olhos: “Mais uma palavra e eu JURO QUE TE MATO.” E por um segundo pensei ter visto em seus olhos uma imagem dela segurando minha cabeça como um troféu. E com isso, desmaiei em um doce sono ouvindo ao longe: “Sério? Depois disso tudo ele simplesmente apaga com esse sorriso cretino na cara?”