Petrion, o Dovahkin

Capítulo 2 - A tempestade negra e faminta


O dia ensolarado de primavera estava para acabar. Quando Liand terminou mais uma de suas músicas, eu me deitei e olhei para o céu. Uma grande massa de nuvens negras, escuras como a noite, surgia sobre uma colina próxima. Ouvi Mandis dizer:

–Aaaah... Por quê? Não pode começar a chover agora!

–Calma, eu cuido disso. – Respondi. – Lok... VAHKOOR!

Enquanto o som do Thu’um cruzava os céus, suas ondas empurravam para longe as nuvens que ameaçavam nosso dia.

–Viu? Molez... – A frase morreu em minha garganta enquanto as nuvens que eu tinha acabado de expulsar retornavam tão rápido como se foram.

–Petrion, não devia ter funcionado?

–Não entendi! Essas nuvens deviam ter sumido!

–Essas nuvens não são normais. – Disse Kadon, arregalando os olhos – Temos que ir. Agora!

E nós corremos. Enquanto nos afastávamos dos morros, percebemos que as nuvens não estavam apenas nos céus: elas também se arrastavam pelas planícies, cobrindo tudo em seu caminho. Nós precisávamos chegar a Miden, minha cidade natal, mas a névoa se aproximava rapidamente e nós não conseguiríamos chegar na cidade a tempo sem ajuda de cavalos. Então tive uma ideia.

–Todos, deem as mãos! – Formamos uma corrente com Shara de um lado e Liand do outro. Certifiquei-me de que estavam todos prontos, invoquei o poder dos dragões dentro de mim e gritei – Wuld... NAHKEST! – Fomos lançados em frente na velocidade do som quando as palavras deixaram minha boca, nos aproximando rapidamente da cidade. A Voz nos deixou próximos aos portões da cidade, onde um guarda surpreso falou:

–Alto! Por que a pressa, cidadão?

–Não há tempo, mande todas as pessoas para casa!

–Ei, ei, acalme-se, quem você pensa que é para dar ordens?!

–Por acaso eu sou a pessoa que sabe o que vai acontecer. – Disse Kadon – Mas não preciso ser um gênio para saber que aquilo – E apontou para o horizonte – não pode ser bom!

–O que? – E ele olhou para onde Kadon apontava. Sua boca pendeu aberta e então ele gritou para os guardas que estavam no alto dos muros – SOEM O ALARME! EMERGÊNCIA! CHAMEM O CAPITÃO! TOQUE DE RECOLHER IMEDIATO E OBRIGATÓRIO! Vocês! Todos vocês! Procurem abrigo! – A última parte foi dirigida a nós.

Os sinos badalavam alto pela cidade, anunciando o perigo iminente e as pessoas corriam desesperadamente pelas ruas. O violento e incessante fluxo de pessoas acabou por separar nosso grupo. Quando olhei a minha volta, estava sendo seguido apenas por Pladius, Izidor e Shara. Não estávamos encontrando nenhum lugar seguro, todos os prédios estavam sendo fechados, mas Pladius falou:

–Vamos para o subsolo! Estou acostumado a andar pelos esgotos, podemos ficar lá por um tempo e depois voltar para checar!

Começamos a descer por um bueiro quando vimos as nuvens negras começando a invadir a cidade, engolindo tudo e todos em seu caminho. Sharah foi a última a descer pelo buraco, mas a meio caminho ela parou e gritou:

–NÃÃÃÃÃÃÃÃO!

Justo quando a escuridão faminta estava prestes a nos alcançar, Pladius puxou-a para dentro e fechou o buraco. De repente uma onda de ar gélido passou por nós e então caímos no escuro nada da inconsciência. Durante meu sono forçado eu, de alguma forma, fui capaz de ver outro mundo. A partir de agora vou contar separadamente a história do que se passa comigo e do que se passa em outra dimensão, O Reino das Sombras, para onde aparentemente todas as formas de vida pensantes da Terra (Orcs, anões, humanos, elfos...) foi levada.